A caminhada levava sempre meia hora. Meia hora para lá, meia hora para cá, se visto de fora. Mas parecia sempre mais longa quando ele realmente andava pelo túnel. Parecia como se o tempo estivesse a ser esticado, os seus passos silenciosos a ecoar suavemente pelas milhas sem fim.
Esta noite foi uma caminhada muito, muito longa. Ele conseguia sentir o peso da terra a puxar os seus ombros para baixo. O ar no túnel era gelado, as paredes de concreto macio frígidas ao toque. A única coisa que furava a escuridão era a luz da sua lanterna.
Isto era um lugar muito velho. Muito velho mesmo. Ele não olhava para ele. Para os olhos era apenas um túnel de manutenção, concreto vazio, e ocasionalmente um cano exposto. Havia tempo guardado nas pedras, encharcadas como uma esponja, a encher o lugar e a lentamente gotejar pelas rachas nas paredes e a ferrugem dos canos.
A sua lanterna tremeu. Ele continuou a andar. Tempo passou.
Então, finalmente, já, o arco, onde deveria haver uma porta. Já não havia uma porta. As palavras esculpidas no lintel tinham sido desgastadas à muito tempo. Palavras tinham pouco poder aqui. Ele foi em frente.
Ele chegou ao corredor, mesmo que ele apenas o soubesse pelo ar, e pelo sentimento de paredes a cair nas sombras. Apenas havia escuridão aqui. Ele continuou a andar. Os seus passos não ecoavam.
Formas começaram a mexer-se na sua visão periférica. Luzes fracas piscavam. Um cemitério de monitores de computador partidos e rachados dava uma luz fraca. Nada era mostrado à sua frente. À sua volta ele conseguia ver os traços de cabos sucateados, placas de circuito velhas e torres inúteis. Ele conseguia ouvir sussurros e risos vindos das sombras, e ocasionalmente via a reflexão de um olho. E depois estava o trono.
O grande assento no meio do lixo ruidoso e decadente estava ocupado. Como sempre estava. A forma do rei era alta, fina, sem forma e ainda assim formado, quase como um homem, com uma cara pálida e roupas escuras. Uma cortesia. O rei não usava coroa. O rei não precisava de uma.
À volta do trono estavam os atendentes do rei, à espera, as suas caras sem cara a sorrir para toda a eternidade. Eles viram-se para ver o homem enquanto ele se aproximava do trono, os seus olhos vazios a olhar como se fossem um só.
O homem parou. Fez uma vénia, e endireitou-se.
O rei dobrou-se para baixo, estendendo uma mão com dedos longos e magros. As sombras à sua volta arrastaram-se e cresceram como as raízes de uma árvore nodosa e antiga.
O homem tirou um saco de papel do bolso do seu casaco. De lá, ele colocou vinte e uma pedras na mão magra do rei. A mão do rei fechou, e o rei sentou-se direito outra vez.
O homem podia sair agora. Ele assim o fez. A caminhada de volta pareceu mais curta desta vez. Ele ignorou esse pensamento.
Vinte e uma pedras por vinte e uma crianças que iriam desaparecer pela manhã. Talvez não nesta manhã, talvez não na próxima, mas alguma manhã. Vinte e uma crianças, entregues todos os anos. Essa era o acordo que foi mantido por um tempo muito, muito longo.
Acordos têm de ser mantidos.