Autonomia, Parte III
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"Uh, bem, por sorte eu sou um VIP," Trauss diz, não estando preparado para mudar da mentalidade furtiva para a feliz e mentindo pelos cotovelos sobre sua vida na Terra. Ele remove seu capacete e sorri, soltando o zíper e removendo suas luvas. A bola de discoteca se desliga conforme a maioria dos espectadores se viram de volta para suas bebidas e voltam a conversar; seu traje tático está longe de ser a roupa mais estranha em sua linha de visão. Ele anda para o balcão, notando que ele é um de quinze humanos no estabelecimento e torcendo para que ele não tenha perdido a logo da Fundação presente em algum lugar em seu traje.

"Pode confirmar que você chegou com segurança?" Λ pergunta através do alto-falante na bola de aço tampando o piercing na concha na orelha direita.

Trauss não responde enquanto ele se aproxima de Xyreaux. O homem — pessoa? entidade? — tem quase a mesma altura que ele, apesar de mais volumoso e vestindo uma camisa azul com uma gravata preta enfiada nas calças. "Olá. Xyreaux, não é? Meu nome é Cyrus." Ele estende sua mão, sorrindo e fazendo contato visual direto. "Eu vim aqui de um dos clubes do Dark na Terra. Ou melhor, o que resta dele."

"Uh-oh. Eu vou me calar," Λ ele sussurra.

Xyreaux hesita por um segundo antes de aglomerar seus tentáculos em uma corda do tamanho de um braço e apertando sua mão. Sua pele lembra Trauss daquele material macio e emborrachado de que alguns brinquedos na Terra eram feitos: o tipo que ficaria grudento se você não colocasse talco nele, exceto que Xyreaux claramente não precisava de talco. "Bem-vindo. Eu espero que você não tenha tido problemas estacionando sua nave no asteroide. Nós não escolhemos que conectores levavam a que localização, mas a gente trabalhou com o que tínhamos." Ele olha, seus olhos brilhantes sem pálpebras sem fundo. Trauss começa a buscar por uma forma diferente de ler seu rosto.

"Foi bem. Definitivamente tem espaço suficiente lá." Ele se senta no balcão.

"Então, o quê que eu posso fazer por você?" Xyreaux pergunta, os tentáculos pendurados como um bigode curvando-se para cima em simetria. Trauss ainda não consegue ver uma boca abaixo deles, mas aquilo deve ser o equivalente de um sorriso."

Ele abaixa sua voz. "Bem, eu realmente não estou com vontade de beber, a verdade seja dita." Ele se inclina para perto, estremecendo enquanto ele pensa no que falar. "Eu vim aqui porquê eu ouvi as notícias através dos companheiros do Dark que você estava trabalhando em uma forma de… escapar."

Os tentáculos se soltam novamente, batendo silenciosamente enquanto ele fala. Trauss não consegue ver eles como nada além de um bigode guiador agora. "De fato estou, amigo. Se você quiser testá-lo, tem uma renúncia esperando sua assinatura."

Trauss ri. "Parece tentador. Porém não há razão para acelerar as coisas; eu só queria perguntar pra você com antecedência." Ele olha por cima do ombro na tela curvada semiopaca no canto mostrando um locutor humano. A maioria das pessoas ao seu redor também são humanos. "Eu deveria olhar os arredores primeiro, ter uma visão da guerra sob outros pontos de vista antes de tomar qualquer decisão como essa."

"Eu entendo, eu entendo. Relaxe, curta este lugar um pouco. Você realmente não quer uma bebida?"

"Eu acho que vou tomar— eu quero, tipo, cidra de maçã, ou algo assim. Tipo, 12 onças."

"Certo!" Os tentáculos em seu rosto se enrolam novamente, mas ele usa vários de um lado para contar algo para si mesmo enquanto ele procura por um copo. "Têm quinze linguagens e cinco sistemas de medida ocorrendo aqui a qualquer momento, então perdoe a minha lerdeza."

"Tudo bem, meu amigo."

Xyreaux enche o copo com líquido âmbar de uma das dezenas de torneiras embutidas no tijolo vermelho atrás dele e coloca no balcão, a iluminação amarela quente fazendo a parecer muito mais escura do que realmente é. "Por conta da casa. Você percorreu um longo caminho."

"Obrigado, isso é gentil da sua parte." Ele bebe do copo e coloca uma única moeda de SOL metálica na jarra de gorjetas. Xyreaux olha para trás acena a cabeça e torce seu bigode. Se levantando, Trauss anda a passo lento para o canto onde uma emissora de notícias em Inglês está tocando.

"Não foi nem um pouco parecido com o quê você disse que era como no outro lado, mas aparentemente funcionou, porque ninguém está agindo estranho," ele murmura uma vez que ninguém está próximo dele.

"Nós atualizaremos nossos mapas de acordo. Seu manipulador na Área-11 Orbital envia suas desculpas. Obrigado por improvisar com sucesso."

"Publicidade foi meu negócio," ele diz com um encolher de ombros.

"Entendo. Agora, como você está seguro pelo momento, por favor nos dê de 20 a 30 minutos para que os funcionários da Área-11 Orbital possam se adaptar a estas circunstâncias imprevistas e desenvolvam um novo plano de requisição."

"Com alegria." Ele toma um longo gole de sua bebida e se encosta no pilar atrás do grupo de mesas, assistindo TV. O locutor está falando algo sobre as Doze Estrelas e o envolvimento de planetas da Via Láctea e Andrômeda em ataques que, originalmente, pensava-se ter como alvo apenas os Ortothans. Trauss não se sente educado em nada disso.

"Você está bebendo?"

"Uh, é bem leve, mas sim."

"Bem, não beba muito disso. Este corpo nunca consumiu álcool antes."

Ele não havia pensado nisso, mas parece óbvio agora. "Entendido." Λ não fala novamente. Ele se aproxima da TV.

"…acreditava-se ser um resultado das Doze Estrelas alvejando falhas de sistema ou influência anômala, estes ataques foram recíprocos antes de serem analisados, resultando em uma escalada da violência em todas as partes afetadas-"

"Diga, parceiro, eu te conheço?" um homem usando um boné de beisebol vermelho pergunta enquanto anda até ele. Ele é Americano: branco com cabelo marrom bagunçado e rosto de couro, e um sotaque sulista.

Trauss de fato o conhece: Ele vivia em Wilmington — logo ao lado do Sítio-42 — e causou várias zaragatas sendo o teorista da conspiração 'maluco' local. Nenhuma delas foi notável a longo prazo, mas claramente este homem foi ao espaço de alguma forma, então ele não vai fazer suposições. Quantos anos ele teria a essa altura? 75? "Eu não acho que seja o caso, cara. Eu sou de Los Angeles."

"Aw, merda. Bem, você consegue dizer que eu não sou da costa oeste. Com este uniforme chique você parece tipo uma- tipo a versão careca de um camarada uniformizado que vivia na minha cidade. Se o lugar ainda existe," ele murmura como uma reflexão tardia. "Tenha uma das boas, jovem camarada. Oh, e não beba a água da torneira aqui, digo, puta merda."

Trauss volta para o balcão do bar e se senta ao lado do travesseiro de alguém que foi deixado no balcão. É uma coisa roxa esférica com com protuberâncias difusas por toda parte, e realmente não se encaixa com o resto da decoração caseira, mas elegante do bar. Ele o empurra para o lado, surpreso em sentir que ele é carnudo.

Não é um travesseiro; é uma entidade sapiente com nenhum membro ou orifício que só pode se comunicar apenas através do contato e mover a si mesma e outros objetos pequenos apenas através de telecinesia ou contrações musculares. Ela explica isto para ele diretamente em sua mente através de sua mão esquerda. "Oh, me desculpe," ele sussurra, puxando sua mão.

Ela se aproxima e mexe suas protuberâncias no lado apontando para ele. Ele hesitantemente estica um dedo para fora, assistindo Xyreaux conversando com dois dos guardas do bar e rindo. Seu fone de ouvido faz barulhos conforme uma voz aparece, mudando entre diferentes tons e frases incompreensíveis antes de se estabelecer em uma voz masculina de meia-idade com um sotaque Britânico. "Olá, olá. Meu nome é Ray. Deixe me te contar, é sempre uma maravilha encontrar um humano com um celular ou Bluetooth ou seja lá que merda é essa. Você sabe o quão difícil é fazer vendas apenas misteriosamente comunicando conceitos nas mentes das pessoas? A maioria das pessoas aqui estão bêbadas de qualquer jeito, e realmente não termina bem na maioria dos casos por esta razão."

Ele olha pra Ray. "Uh, sim, faz sentido."

"Faz sim, meu rapaz, realmente faz. De qualquer jeito, hum, deixe me te contar sobre o quê eu estou vendendo. É algo que você também pode vender se você quiser. Você pode chamá-los meio de cosméticos. Você está interessado em vender cosméticos?"

"Eu acho que não, Ray."

"Não mesmo se eu te der meu cartão e te informar que não há pressão-"

"Mmm, não. Não obrigado."

"Ok, justo, justo. Bem, o que lhe trás por estas bandas, então?"

"Eu sou da Terra e eu só queria ver esse lugar, eu acho."

"Mmm, entendo, entendo. Me diga: O quê que você acha dessa guerra?"

Os dois homens conversando com Xyreaux sorriem e andam de volta para os fundos. Trauss relaxa seus ombros um pouco. "Eu não vou mentir, eu não sei merda nenhuma sobre ela."

"Bem, as Doze Estrelas realmente não gostam dos Ortothans. Qualquer um de qualquer lado da, er, rede política confirmará isto para você; isso é simplesmente um fato. Mas até recentemente, eles só estavam atacando Ortothans por esta razão. Mas agora eles não estão. Algumas pessoas dizem que é uma falha em sistemas de direcionamento, mas eles atacaram cerca de vinte cidades específicas em planetas específicos em ambas as galáxias. Não parece estranho para você?"

"Sim. Realmente." Trauss torce para que seu "manipulador " ainda-sem-nome que Λ estava falando sobre possa ouvir tudo isto para os registros da Fundação.

Ray fala mais nada. Ter seu dedo encostado em seu corpo está começando a parecer estranho. "Bem, foi bom conversar com você, mas eu tenho que ir para o banheiro." Não era uma mentira.

"Tenha uma boa noite, parceiro!"

Ele solta e vai para o banheiro. Tem apenas um deles, o quê é o oposto do que ele esperaria em qualquer civilização espacial. Ele entra na cabine para ter privacidade e passa 45 segundos tirando a parte de cima de seu traje, ainda se sentindo estranho nesse corpo.

Na pia, os dois homens que falavam com Xyreaux — ou talvez apenas dois homens vestidos da mesma maneira — flanqueiam ele e cruzam seus braços. "Oi. Se importaria se nós lhe perguntássemos algumas questões?"

"De maneira alguma, companheiros. Eu sei que é o padrão."

"Nós apreciamos isso," o mais baixo diz. "Venha conosco, por favor."

"Certo." Fodeu.

"Operações está requisitando acesso. Da Área-11 Orbital. Basta dizer 'sim' de algum jeito na próxima vez que não forneça perguntas para confirmar, e podemos tirar você disso."

Seja lá o que está para acontecer parece terrível, mas ele não tem nenhuma ideia de mentiras acreditáveis, então isto terá de satisfazer.

"No futuro, você pode simplesmente permitir sobreposição remota por padrão e você não precisará fazer isto."

Xyreaux acena seus tentáculos saindo de sua manga. "Não se preocupe com eles. Você voltará em um minuto, certo?"

"Sim."

Seu fone de ouvido bipa duas vezes enquanto os homens o escoltam para a sala dos fundos e pelo corredor. Ele sente uma dor aguda em sua cabeça, sua visão embaçando.

"55174, aqui é seu manipulador na Área-11 Orbital. Você nos chamará apenas de 'Operações'. Não diga nada a eles. eu direi tudo por você. Apenas ande e aja normalmente."

Os homens gesticulam para ele entrar em uma pequena sala lateral com uma mesa de aço e quatro cadeiras.

"Sente-se naquela cadeira mais longe da porta. Aja como se você confiasse neles. Se eu disser para você, pare de mover seu corpo. Se você não puder fazer a troca discretamente, nós iremos te tirar totalmente. Se isto estiver entendido, olhe para a sua direita."

Ele faz isso. Os homens se sentam em frente a ele na mesa. "Olá, Cyrus. Eu espero que você saiba que precisamos fazer isto com todo mundo da Terra que vem aqui. A Terra é principalmente populada por grupos de interesse hostis e indivíduos civis que tem de pouca a nenhuma confiança na Marshall, Carter & Dark. Se você é de fato um cliente leal ou colega, certamente você entenderá nossa extrema necessidade de ter segurança extra."

"Certamente," sua voz disse. Ele sente seu pulso se elevar em surpresa. "Eu posso lhe providenciar com o número de telefone de Jeremiah Westminster, o associado de Dark e contato pessoal meu que me permitiu conhecer o endereço do Salão."

"Isso seria preferível. Um momento enquanto nós pegamos o telefone." O homem mais alto sai da sala, fechando a porta atrás de si.

"Se você não puder se relaxar, eu irei lhe transferir para fora. Só não faça nada deste posto em diante. Nós tomaremos conta do que você faz e falar."

Como caralhos ele deveria não usar seu corpo? Ele se sente entrando em pânico. O outro guarda retorna e coloca um aparelho de meio metro de altura na mesa, ignorando o aparelho portátil conectado a ele e desenrolando um fio da massa de outros semelhantes ao redor da antena. Ele pluga o fio em seu smartphone. "Qual é o número?"

"Suas reações físicas estão comprometendo seu disfarce. 51174, nós iremos transferir você de volta assim que for seguro o fazer."

Ele não tem a chance de terminar seu próximo pensamento.

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