Autonomia, Parte IV
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"E você quer dizer que já tem mais de um ano desde que você experienciou efeitos incontroláveis?"

"Correto."

"Você não experiencia especificamente efeitos incontroláveis de alteração da realidade, mesmo quando fora dos limites desta sala ou longe de uma Âncora da Realidade Scranton ou equipamento relacionado?"

"Não, e eu não experiencio os sintomas de pânico que normalmente sinalizavam o inicio, também."

"E que tal efeitos controláveis? Algum desses?"

Jasper Ramirez pensa por um momento, dedos apertados sob a mesa. "Manipulação localizada da realidade bem limitada, tipo, dentro de um metro do meu corpo."

"Ok, anotado. Nós talvez precisemos juntar mais informações em algum momento, mas visto que seus níveis internos de Hume caíram para um intervalo de 110 a 120, as afirmações parecem razoáveis. Obrigada por seu tempo, SCP-4427." A mulher de terno cinza se levanta e sai, botas de salto alto ressoando no concreto. Ela não fecha a porta atrás de si. Ninguém o faz há vários dias, mas Jasper não tem visto nenhuma das outras anomalias.

Ela se levanta e entra na sua pequena cozinha. Não resta muito além de latas de sopa e refeições congeladas; ela se pergunta quando ou se alguém vai perguntá-la por sua lista de compras. O sítio tem ficado mais e mais vazio nos últimos meses. Ela se vira e sai da sala e da câmara, andando vários metros para a sala de descanso dos funcionários. Ela liga a luz e pega o telefone fixo, respirando constantemente enquanto disca um número da memória.

"Hum, sim, olá? Aqui é a M-Mary," o outro lado tosse. "Oh, me perdoe…"

"Sou eu, Mãe. Jasper."

"Oh meu Deus, querida. Você está bem?"

"Sim. Eles me falaram alguns dias atrás que eles querem me tirar da Terra. Alguma mulher acabou de me entrevistar, provavelmente para isso. Assim que eles se sentirem certos de que eu não vou destruir algo, eu acho."

"Para fora da Terra? Pelo amor de Deus. O quê que tem de errado com a Terra?"

"Uh, você já olhou lá pra fora?" Jasper não o faz há vários dias, mas ela não precisa saber disso.

"Bem, não. Não tem muito para olhar para lá fora, querida…"

"Porquê todo mundo se foi ou ficou maluco porquê eles não conseguem se lembrar de nada. Logo logo toda a infraestrutura automatizada vai falhar também porquê tem ninguém para depurar os robôs do McDonald's ou realizar troca de óleo nos carros autônomos."

"Bem, eu- eu suponho…"

Ela range os dentes. "Olhe, você tem algum lugar aonde ir? Eu não acho que a sociedade vai melhorar daqui. Pode não demorar muito para que a crise alimentar também te afete. Você estaria disposta a vir conosco se eu puder de algum modo convencer eles a isso?"

Ela ignora a questão ou não a processa. "Mas… Mas você quer ir?"

"Não importa. Você tem alguém com muita terra e comida? Algum daqueles amigos malucos da conspiração seus tem um bunker ou merda assim? Eu realmente quero que você tenha um plano para as próximas semanas. Ir para algum lugar onde você estará segura por alguns anos pelo menos, realmente planejar para o pior."

"Oh, Ricky e os garotos se ofereceram para eu dirigir até a fazenda, mas eu preferiria esperar até-"

"Não espere! Não espere, vá para lá agora."

"Se acalme! Nada está acontecendo lá fora."

"Bem, é um ótimo momento para sair, então. E parando para pensar, você odiaria ficar no espaço, tenho certeza. A terra do Ricky é o lugar mais seguro para você."

Ela solta um longo suspiro, zumbindo pelo telefone. "Se eu fizer as malas para o lugar do Ricky e sair hoje à tarde, você vai parar de se preocupar comigo?"

"Sim. Dentro da razão."

"Oh, querida. Eu nunca vou parar de perguntar a Deus o porquê disto ter acontecido com você…"

Ela nunca sabe o que falar para isso. "Nós teremos as respostas um dia."

"De fato teremos, querida. Ouça, agora, quando você estará saindo?"

"Vou ver. Tem quase ninguém aqui. Eu continuo me preocupando que eles se esqueceram de mim e que eu vou morrer sozinha aqui embaixo." Ela sente o pulso saltar na garganta e balançar um pouco, as cores de sua visão se distorcendo para comprimentos de onda mais curtos. Ela sacode sua cabeça, cabelo voando. "Mas eu sei que isso não é verdade. Você sabe o quanto eu odeio ficar sozinha." Tons roxos retornam para suas cores normais. Ela relaxa seus ombros. "De qualquer forma. Eu vou superar isso. Não se preocupe comigo."

"Bem, talvez as coisas sejam diferentes lá em cima. Talvez você possa conhecer alguém."

"Mãe. Estou velha. E eu aposto que eu estarei sujeita à porra das mesmas regulações lá em cima de qualquer jeito."

"Olha a boca! E se eu pude conhecer seu padrasto aos meus setenta anos, você deveria se dar tão bem quanto aos seus ciquenta anos! Talvez você irá conhecer alguma pessoa… alienígena… interessante. Imagine só!"

Ela reprime uma risada. "Talvez, Mãe. Talvez."

Tem uma batida na porta. Ela pula, deixando o telefone se soltar. "Oh, uh, eu acho que tem alguém aqui. Eu falo com você assim que eu puder, ok? Não mude seu número. Eu sei que os telefones funcionam lá em cima, mas eu acho que as torres de telefone vão parar de funcionar logo logo então eu vou ser rápida, certo? Assim que eu te der um número novo para mim uma vez que eu chegue lá em cima você deve me ligar do lugar do-"

"Ok, querida. Ok. Nós ficaremos bem, e nunca se esqueça de que eu estou com você e que Deus está com você, ok?"

Ela suspira e olha para o teto. "Sim. Eu, uh, respeito seus sentimentos e eu te amo."

"Também te amo, Jasper."

Ela desliga o telefone e abre a porta. Dois Soldados Estaduais da Carolina do Norte estão esperando no lado de fora. Jasper arregala seus olhos, assustada. "Hum, oi?"

"Jose Ramirez?" o mais alto pergunta. A faixa em seu colete diz A. Brown.

Seu intestino torce. "Jose é meu nome legal mas eu só uso Jasper."

"Entendo. Bem, Sr. Ramirez-"

"E eu não sou um homem. Olhe para mim. Ela fecha o macacão até o pescoço e cruza seus braços por cima de seus peitos. "Olhe, eu não quero te desrespeitar, mas quem caralhos deixou vocês entrarem aqui?"

Brown inclina sua cabeça. "Nós mesmos. Relatórios indicam que você não experiencia efeitos anômalos há mais de 12 meses.

Ah então a senhora de teninho era uma burocrata do governo. Jasper faz uma nota para apenas divulgar coisas para pessoas com a logo da Fundação visível em algum lugar em suas roupas no futuro, embora ela agora suspeite que talvez não tenha a chance de novo. "Sim."

"Bem, sua hora chegou, então. Sem mais contenção." Brown e seu parceiro sem nome olham para ela com expectativa, sorrindo.

"Vocês- o quê?"

"Você está saindo. Você pode ser um civil novamente. Nós temos seu cartão de Segurança Social, todas essas coisas. Venha até a estação."

"Ahah, o quê? Onde eu vou morar?"

Os dois homens olham um para o outro. "Bem, tem abrigos se você não tem planos ou família que possa te ajudar."

Ela aperta os dedos contra a porta, balançando-a levemente. "Eu achei que a Fundação estivesse me levando para a Área-32 Lunar."

"A Fundação não tem mais os recursos para cuidar de pessoas não-anômalas. Nós nos certificaremos de por você nos seus pés novamente, não se preocupe. A América ainda está forte, eu prometo. Pronta para sair?"

"Mas eu sou anômala."

"Seus efeitos são controláveis dentro das regulações necessárias para a lei da Carolina do Norte?"

"Eu… acho?"

"Certo, era isso que nosso relatório falava."

"Mas- Onde- Quem está deixando vocês-"

"Nós estamos," Brown explica, mãos abertas com as palmas para fora como se ele estivesse explicando algo para uma criança. "Nós estamos nos deixando, ok? A Carolina do Norte está deixando você. Nós sabemos que você está aqui há muito, muito tempo. Você está um pouco fora do fluxo. Mas estamos legalmente retirando você da custódia da Fundação de uma vez, e você não tem que se preocupar sobre esse tipo de coisa desse momento em diante, certo?"

Ela olha, boquiaberta. "Mas eu não quero isso. A Terra está fodida. E eu vou argumentar com você nisto: especialmente a América."

"Camarada, tem guerra e drama no espaço também, eu posso te prometer isso," o policial mais baixo ri. "Se não mais lá fora do que aqui. Agora venha, vamos indo. Isto não é algo que o estado vai debater, é para o seu próprio bem."

Aquelas últimas cinco palavras são sempre uma apunhalada no peito independente de que uniforme o falante está usando. "Não, não é," ela retorta. "Sempre que alguém fala a porra dessa frase para mim eu sei que tem encrenca. E eu não vou aceitar ordens de alguém que não seja um funcionário da Fundação, ponto."

Os policiais olham um para o outro por um longo segundo. "Bem, certo então… Espere aqui e nós traremos alguém."

"Ótimo."

Ela fecha a porta e espera, andando a passos rítmicos enquanto um minuto passa, e então outro, e então dez. Ela está alcançando a maçaneta para sair quando ouve o som de passos apressados no corredor; um homem não muito mais velho do que Jasper está de pé a uma distância respeitável no outro lado da porta. vestido em uma camiseta branca suja enfiada na calça cinza do uniforme para o qual o Sítio-42 havia trocado na década de 2030. Jasper nunca gostou tanto daqueles quanto dos pretos antigos.

"Oi," ela disse. "Você sabe o quê está acontecendo com os policiais?"

"Oi Jasper." Ele não se introduz. "Sim, desculpe. Então não, você não precisa ir com o estado. Seu nome não deveria estar naquela lista." Seus esparsos cabelos grisalhos ficando encaracolados de suor, os músculos dos braços inchados sob a camisa, apesar da idade. Jasper vê seus olhos vagando enquanto ele continua, desatenta.

"Entendi," ela o segue.

"Certo, uh, como você sabe eles não estão deixando todos os skips nos seguirem lá para cima, sendo por isso que eu e alguns vamos ficar para trás caso nada mude nos próximos meses, mas você é um dos que vai com a gente, Sair daqui, isso é. O antigo Diretor do Sítio-42 Eric Radford citou sua história de comportamento cooperativo e pediu para que nós lhe oferecêssemos uma posição em ou entrada de dados, trabalho em rede, ou gerenciamento de registros como um funcionário Nível-1 Classe-E na Área-11 Orbital, se você quiser."

Ela volta seus olhos para se encontrar com os dele. "O quê?"

"Estou confuso também, confie em mim. Mas nós temos a papelada, então a escolha é sua."

"E-e a minha designação SCP?"

Ele ri. "Digo, você pode usar o mesmo número como seu ID de funcionário se quiser. Duvido que alguém te julgue."

"Não isso, eu quero dizer- seria isso por causa que eu posso controlar meus efeitos agora? Por acaso a 'Fundação espacial' contrata anomalias, é isso mesmo?"

"Aparentemente sim, de uma maneira limitada. Mas de novo, eu ouvi histórias de funcionários anômalos muito antes de a noção ser tão obviamente contra-intuitiva para a maioria, e eu sei que tem bastantes funcionários não-humanos conforme você se afasta da Terra. Eu acredito que um humano anômalo não seja diferente dado que nenhuma ameaça à segurança seja representada."

Ela tem questões, mas todas elas podem esperar quando só tem duas opções na mesa. Ela já pode sentir seu pulso batendo mais rápido. "Eu vou. Sim. Sim, vamos fazer isso, vamos lá. Me tire da porra desse planeta."

O agente sem nome ri e vai pro lado, gesticulando para que ela siga pelo corredor em frente a ele.


Supervisor de Segurança de Operações da Divisão de Atividades Extra-Solares Eric Radford acha que seu novo título é cerca de quatro palavras muito grande para soar bem assim como Diretor de Sítio o fazia. A Área-11 Orbital também parece muito com uma estação espacial para considerar uma casa; ele continua se lembrando de que ela é uma estação espacial, em adição a ser sua casa, e tem nada que ele possa fazer para mudar isso. Ele caminha deliberadamente pelo corredor em direção à ala de P&D, ainda tentando se acostumar com a gravidade artificial. Depois de mostrar a palma da mão esquerda no scanner de acesso, ele entra e vai direto para o laboratório da Dra. Mallory Wickerford.

"Onde está Wickerford?" ele pergunta a sua equipe de seis jovens pesquisadores do 42, todos os quais estão com expressões de como eles tivessem visto um fantasma. "Jesus, vocês estão bem?" ele murmura.

"Sim senhor," um deles responde com uma risada nervosa. "Eu não posso falar por todos, mas acho que estou um pouco nervosa porque ainda estou me acostumando a tudo…" Ela gira a cadeira do computador da estação para a janela que vai do chão ao teto e foca em uma estrela pulsante na distância. "… Uh, aqui em cima," ela termina.

"Eu me sinto da mesma forma."

"Eu me acostumei bem rápido, não vou mentir," diz a jovem mulher soldando um membro robótico no canto. "Ficar no 42 era entediante. Sem ofensa, Diretor."

"Sem problema." Ele faz uma pausa e se vira para a sua direita. "Uh, Sarah?"

"Oh, desculpe, sim. Dra. Wickerford está em seu escritório."

"Obrigado." Ele não sabe que sala que é, mas ele não quer se fazer de bobo então ele só torce para que seja no final do único corredor na sala. Ele passa por uma mesa com nada além de peças de reposição de androides, fazendo uma careta ao ver uma cabeça humana realista com seus olhos removidos e fios para fora. Ele deveria provavelmente repreendê-los por terem essa bagunça no aberto, mas ele desgosta mais e mais de interferir com os espaços dos outros departamentos quanto mais velho ele fica.

"Olá Mallory," ele diz secamente, batendo em sua porta aberta.

Ela sorri e levanta os olhos da pilha de impressões. "Eu achei que você nunca me visitaria, Eric." Radford vê linhas de código nos monitores de vidro transparentes antes dela empurrá-los de volta para a parede e o computador entrar em modo de espera. Ela se levanta.

"Você não parece um dia mais jovem."

"Não posso falar o mesmo de você, Eric." Ela se inclina em sua mesa. "Se sente."

Ele sorri. "Pare de falar meu nome tanto, Mallory."

"Não, Eric."

Ele entra e fecha a porta. "Você sempre foi tão fria."

"Não cruel." Ela pisca. "Mas sério, me avise se você quiser uma pele nova. Ela pode ser crescida de suas células rapidamente, você sequer verá a diferença! E não seja tão dramático. Só tem algumas meses desde que nos vimos pela última vez."

"Eu realmente não gosto muito dessa merda da era espacial. Sabe como que é."

"Fique à vontade." Ela se senta e coloca um pé de salto alto na mesa, flexionando o tornozelo para ele. "Eu sei que você não está aqui apenas para me falar oi. O que você quer?"

"Nós temos um problema com o Trauss." Seu intestino afunda quando ele fala isso.

"É uma pena o quê aconteceu com ele."

"O que você pode querer dizer com isso?" Ele força uma risada, linhas profundas se formando em seu rosto. O vibrante corpo azul de Netuno aparece na janela atrás dela enquanto a estação gira.

"Você sabe que eu não disfarço, Eric. 51174.edk não é Trauss. Um arquivo ED-K é um arquivo. Apenas um arquivo. Um arquivo que age como uma pessoa, escrito em uma linguagem que age como pensamento." Ela desliza os monitores de volta pela alça e pega o mouse. "Neste caso uma pessoa morta. Além disso tem uma série de coisas sobre ele que o Alto Comando não gostou em nossa primeira cobaia de edição de ED-K++. Pequenos traços inúteis de personalidade que estavam prevenindo ele de ser um agente mais efetivo, mas ainda, eu não consigo imaginar um modelo mais fácil para a geração de funcionários de que o Alto Comando está atrás nessa era do que ele."

"Ok."

Ela faz uma pausa estranhamente cronometrada para beber da garrafa de água em sua mesa. Radford acha que seu conteúdo tem um cheiro mais forte do que água. "Graças aos meus esforços quando ele era mais jovem, é claro. Então, de qualquer jeito, eu deletei os traços em questão," ela continua com uma tosse, "traços que foram especificados na 'Diretiva C-42' providenciada a você diretamente do Alto Comando, pelo que eu saiba. Mas estou me perdendo; você disse que tem um problema? Você precisa de uma nova iteração?"

Ele aperta a ponta do nariz até ficar desconfortável. "Você pode ouvir as palavras que você escolhe quando fala sobre essas coisas, Mallory?"

"Oh, puxe essa cadeira para cá e olhe para isso, Eric," ela diz. "Pare de se apegar a éticas fabricadas e olhe para os fatos. Olhe, este é o arquivo." Ela clica em uma pasta na área de trabalho mais à direita.

"Você e eu fizemos algumas coisas sujas no nosso tempo, mas…" Ele perde a outra metade do pensamente.

"Que versão você quer?"

Ele olha para a lista. Tem 27 delas, todas com data carimbada até o minuto no nome do arquivo e organizadas pela data. "Como tem tantas assim? Ele não transferiu de corpos tantas vezes assim."

"Oh, estas são principalmente versões com as quais mexi antes do Alto Comando decidir em uma. Cada arquivo é composto de cerca de 400,000 caracteres Unicode. Tipicamente cerca de 900 kilobytes cada."

"Isso é- pequeno? Certo?"

"Sim."

"Como isso é possível?"

"Bem, isso é nada além de texto. Como eu disse, ED-K++ e todas as versões anteriores de ED-K usam Unicode. O tamanho do arquivo bate para mim." Ela pressiona ctrl + f e deixa o cursor piscando. "E não estou falando isso só porque eu fui uma dos desenvolvedores originais da linguagem. Aqui, veja por si mesmo. Eu vou executar uma dessas instancias na janela de texto-"

"Não, não. Cristo. Eu não quero ter mensagens instantâneas com a cópia sem corpo de alguém. Só me deixe te contar o que está acontecendo, por favor."

"Certo, certo." Ela se reclina em sua cadeira.

"Seja lá qual versão desse arquivo que você enviou como a versão final… não funcionou tão bem. O manipulador teve que fazer uma sobreposição remota bem rapidamente bem no meio do que seria uma interrogação. Como um cara da Segurança de Operações eu preciso me preocupar sobre isso agora, como você sabe. Como você também sabe, nós o enviamos para pegar alguma tecnologia da MC&D-"

"Eu sei."

Ele passa a mão por seus cabelos. "Bem, ele só não foi complacente com a sobreposição, e isso quase acabou com nosso disfarce. Isto foi após nossos sistemas calcularem mal o ponto de transferência dentro do bar, mas isso é- você não precisa se preocupar sobre esses detalhes. Mas sim, ele não foi complacente com ordens — não por intenção, parece — mas eu esperaria melhor dele, conhecendo ele como eu o conheço. Você pode fazer algo sobre aquela reação subconsciente que preveniu ele de ter uma resposta adaptativa àquela sobreposição remota parcial?"

Mallory chupa os dentes. "Bem, eu posso fazer meu melhor ao percorrer por essas seções pelo o que eu preciso editar, mas um arquivo ED-K não pode emular perfeitamente uma consciência humana, como eu estava discutindo. Imagino que os manipuladores preferiram manter a iteração infratora fora do corpo até novo aviso?"

"Sim."

Ela gira de novo, olhos revirados. "…E o arquivo desapareceu, não? É esse o seu problema?"

"Sim."

"Sabia."

"Mas você tem um backup dele, certo?"

"Claro que eu tenho um backup. Você deveria ter me falado mais cedo. O PII dele terá salvo automaticamente um backup na área de trabalho do computador de engenharia no laboratório imediatamente antes da sobreposição. Eu vou começar a editar ele agora. O manipulador devolveu o corpo?"

"Sim. Sabe, às vezes me pergunto o porque de nós não podermos simplesmente usar o manipulador."

Ela franze seus lábios. "Não é seguro. O manipulador é uma estrutura comportamental totalmente diferente e não é feita para trabalho de campo. Editada de maneiras vastamente diferentes."

Radford acena com a cabeça. "Eu confio em seu julgamento."

"Então tem nada a se preocupar sobre. Eu vou começar uma nova iteração agora mesmo."

Ele pausa, estudando as diferentes cores da luz brilhando por seus óculos e criando pontos brilhantes em suas unhas. "Eu não sei tanto quando eu deveria sobre em relação a isso, mas o que poderia resultar daquele arquivo estar desaparecido?"

"Oh, absolutamente nada. Tem muitas iterações do indivíduo na existência a essa altura para que qualquer tipo de sapiência seja ligada a ele."

Ele levanta uma sobrancelha. "Sério? Isso é… uma ciência exata?"

"Certamente você não se esqueceu de quem você está trabalhando para, Eric."

Ele olha para Netuno, tentando curtir os poucos últimos segundos de rotação. "Todas as centenas de pessoas que morreram com PIIs neles, de quantos deles você editou os scripts ED-K? Você sabe o que eu quero dizer."

"Eu editei ninguém além de Trauss. O Comitê de Éticas — impotente como podem parecer nesse momento da história — só vai aprovar uma coisa dessas em uma base de caso a caso, se lembra? Se você não concorda com essa limitação na minha pesquisa de inteligência artificial, talvez você devesse-"

"Ok, ok. Eu sei do quê eu preciso saber. Eu vou pensar sobre isso." Ele bufa e olha para seu relógio. "Certo. Então você vai começar a editar, eu não vou me preocupar sobre o arquivo desaparecido, sem preocupações, blah, blah. Entendi, entendi," ele termina baixinho. "Caralho estou velho. Olha, eu tenho uma reunião com alguém importante que acabou de sair do 42 na hora certa. Vejo você logo."

"Se cuide, Eric."

"Você também." Ele sai, dando um aceno educado para as mulheres no laboratório enquanto volta para o corredor e vai em direção ao seu escritório. Ele morde seus lábios, mentalmente se preparando para uma reunião estranha pela primeira vez com alguém que ele morou a 200 metros de por duas décadas; as limitações de classe dos funcionários vão colocar o aperto de mão após contratação fora de questão, também.

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