Os dois agentes estavam sentados lado a lado em um banco, à paisana, aguardando a chegada do contato. O cheiro depois da chuva permeava os Park Blocks.
"Você sente falta?" Perguntou Creed. "De Três Portos?"
"Às vezes," respondeu Ross com um sorriso melancólico. "Tenho muitas lembranças lá."
Ela fez uma pausa.
"Mas ei, estou fazendo a diferença agora. Ajudando a separar os magos bons dos maus."
Creed balançou a cabeça e apertou gentilmente a mão de Ross.
"Se a Fundação quiser sobreviver por mais tempo," começou ele, "ela vai precisar começar a adotar o pragmatismo adotado pelo Sítio-64. Um bastão rígido acabará quebrando sob pressão. Mas não um que seja flexível. Não um que possa se adaptar ao estresse."
"Como se isso fosse acontecer." Ross deu uma risada triste.
Creed encolheu os ombros.
"Ei, ainda podemos sonhar, né?"
Os pensamentos de Beatrice Ross vagavam enquanto ela se sentava sozinha nos Park Blocks de Portland, Oregon. Se recompondo, ela desviou o olhar para as luvas pretas em suas mãos que cobriam um grosso envoltório de bandagens. Ela conseguirá regenerar um pouco do tecido danificado pelo congelamento até agora. Mesmo com magia, havia um limite para a rapidez com que um corpo podia se regenerar com segurança.
Ele voltou os olhos para o tráfego de pedestres e procurou seu contato. Logo, ela detectou uma aura familiar e foi abordada por uma agente andrógina da Unidade de Incidentes Incomuns.
"Você está atrasada." Ross riu.
Robin Thorne franziu a testa.
"É, bem, acontece que o Tolkien estava errado." Ela encolheu os ombros. "De qualquer forma, Gandalf nunca teve que lidar com trânsito."
Ela então se sentou ao lado de Ross no banco.
"Nenhuma contrafrase?" Perguntou Thorne. "Merlo sempre foi uma defensora disso."
"Eu confio mais em um padrão de aura familiar do que naquela porcaria de capa e adaga." Ross encolheu os ombros. "Mas como quiser." Ross limpou a garganta. "Pequenas cortinas se abriram e ouvimos o bater de palmas de mãos pequenas."
"Um homenzinho contaria uma piadinha e arrancaria uma risadinha de todas as pessoas," respondeu Thorne.
A dupla ficou em silêncio por um momento.
"Como você está, Robin?" Perguntou Ross. "Faz algum tempo."
Em vez de responder, Thorne entregou a Ross um envelope sem identificação.
"Alguém avisou o seu cara. Quando chegamos lá, o equipamento estava quebrado, os documentos estavam incinerados e cerca de 30 quilos de Pó de Sessão estavam envidraçados. Eles provavelmente abandonaram o navio pela Backdoor ou pela Grã-Bretanha."
O olhar de Ross caiu na calçada. Ela fechou os olhos e soltou um suspiro pesado.
"Fantástico. Outra pista falsa."
"Eu não disse isso. Verifique o envelope."
Ross balançou a cabeça e cuidadosamente o abriu, examinando o conteúdo. Seus olhos se arregalaram e seu rosto corou.
"Você deve estar de brincadeira comigo."
Dentro havia uma coleção de cerca de sete recibos da Spicy Crust Pizza.
"Gostaria de estar," Thorne suspirou. "Você pensaria que com o quão meticulosos esses caras foram, eles se lembrariam de cuidar do lixo."
Elas então se levantaram e se despediram.
"A bola está do seu lado, Bea. Boa sorte."
Diretor de sítio Edgar Holman examinou os recibos por alguns instantes, um dedo batendo na têmpora enquanto pensava em silêncio. Do outro lado da mesa, a agente Ross estava sentada na ponta da cadeira.
"Senhor?" Perguntou ela. "O que você acha?"
"Acho que você confirmou que esses caras gostam de pizza," respondeu ele e devolveu os recibos para ela. "Isso não é muito para continuar."
"Com todo o respeito, senhor, isso não parece coincidência. Deveríamos-"
"Você já comeu na Spicy Crust, agente Ross?" Interrompeu Holman.
"Não. Receio que não."
"Eu já," continuou ele. "As pizzas são bastante decentes. Acontece que administrar uma operação de fachada é muito mais fácil de acreditar se você for realmente decente em fazer o que afirma estar fazendo. Pelo que você sabe, o fabricante de Pó de Sessão fez dela sua rede preferida. Nem todo mundo do outro lado da Máscara sabe que é uma das nossas fachadas."
Ross balançou a cabeça em entendimento.
"Senhor, este é literalmente o único lugar que resta para onde as migalhas levam. Só me conceda a autorização pra RAISA para que eu possa dar uma olhada rápida. Eu prometo a você, se eu estiver errada, considerarei este caso encerrado. Eu só quero verificar as imagens das câmeras da pizzaria."
Holman esfregou a ponta do nariz e suspirou.
"Três dias," disse ele. "Quero informativos regulares sobre qualquer coisa que você encontrar. E no segundo que você encontrar algo que confirme que se trata de uma operação interna, entregaremos pra Corregedoria. Entendido?"
"Sim."
Imagens de CCTV em preto e branco do interior de uma pizzaria se exibiam no monitor do computador na frente da agente Ross enquanto ela terminava sua terceira xícara de café da sala de descanso. Esfregando os olhos, ela suspirou e fez múltiplas anotações. Pausada na tela estava a imagem do fabricante de Pó de Sessão conversando com um jovem desengonçado de óculos grossos por cima de uma havaiana média.
"Quem diabos é você…" Ross sussurrou para si mesmo, depois bateu na tela do computador com sua caneta.
Em cada uma das horas nos recibos que Thorne recuperou, a filmagem provou ser a mesma. O jovem de óculos entrava no restaurante cerca de meia hora antes do fabricante e ia para o banheiro. Uma vez que o fabricante entrava, ele fazia um pedido no balcão e se sentava. O jovem de óculos se juntaria a ele e entregaria um envelope. Eles então comeriam a pizza e partiriam.
Ross suspirou novamente e tamborilou em sua mesa, seu olhar se voltando para o telefone próximo. Ela ainda estava esperando uma resposta da RAISA para descobrir s e seu alvo era um dos funcionários da Spicy Crust Pizza.
"A qualquer momento, pessoal," murmurou Ross.
Ela então voltou sua atenção para o monitor e botou o vídeo para rodar, franzindo a testa quando a imagem permaneceu congelada. A tela então piscou, a gravação de CCTV sendo substituída pelo indicador de desconexão da intranet. A tela piscou novamente e a gravação voltou. No entanto, o fabricante do Pó de Sessão e o jovem de óculos desapareceram.
"Que diabos?"
Ross vasculhou os vários arquivos de vídeo
"Que diabos!"
Em cada um deles seus suspeitos foram apagados.
O telefone então tocou. O número da RAISA apareceu no mostrador. Ross pegou o telefone, segurando com força o plástico preto enquanto falava.
"Por favor, me diga que vocês têm boas notícias."
"Sinto muito, agente Ross," respondeu o técnico da RAISA. "Não temos nenhum registro desse homem trabalhando na fachada da Spicy Crust Pizza, ou de que ele seja funcionário da Fundação"
Ross afundou na cadeira.
"Imaginei que seria esse o caso," disse ela. "Obrigada por tudo."
"Claro. Nos avise se precisar de mais algo."
Ross desligou e olhou para as anotações, depois de volta para a filmagem de CCTV.
"Quem diabos é você?!?"
Agente Ross raramente encontrava um motivo para visitar os escritórios administrativos do Sítio-64 além das visitas ocasionais ao diretor de sítio Holman. No entanto, tempos desesperadores exigiam medidas desesperadas e, por isso, ela se via no Departamento de Contabilidade. Parando em uma parta onde estava escrito "Gabriel Merlo: Contador-chefe", ela olhou por cima do ombro e entrou no escritório além dela.
"Agente Ross?"
Dentro do escritório, um homem de óculos e rosto coberto de barba por fazer estava sentado atrás da mesa central, com uma expressão de leve confusão no rosto enquanto colocava uma caneca de café na mesa. Ross levou um dedo aos lábios dela e atravessou a sala, entregando-lhe um pedaço de papel.
Alguma câmera aqui?
Gabe ergueu uma sobrancelha e sacudiu a cabeça.
"Maravilhoso." Ross suspirou de alívio. "Você tem acesso ao fluxo de caixa pelas fachadas da Fundação? Da Spícy Crust Pizza em particular."
"Ahn, sim." Gabe deu uma risada confusa. "Seria difícil para mim fazer meu trabalho se eu não tivesse. Por que você pergunta?"
"Acho que alguém da Fundação está usando nossa filial em Portland como meio de comprar uma substância anômala de Três Portlands. Quem mais tem acesso a essas informações?"
"O que?" Gabe piscou.
"Quem mais tem acesso a essas informações, Gabe?"
"Digo, bastante gente. Outros contadores, administradores, membros do comitê de ética checando as coisas. Não é exatamente coisa de nível quatro. Você acha que alguém está lavando dinheiro através da Spicy Crust?"
Ross não respondeu. Ela olhou para o nada, uma mão enluvada no queixo enquanto pensava consigo mesma.
"Essas informações são armazenas em backup e, se sim, com que frequência?" Respondeu ela.
"Faço backups regulares da maioria das contas em um disco rígido portátil-"
"Abra um backup da semana passada e compare com o que está atualmente no banco de dados! Aposto que não bate."
"Mas por quê?" Perguntou Gabe. Sua expressão era suplicante. "Agente Ross, quero ajudá-la, mas você precisa se acalmar e me contar o que está acontecendo!"
"Creed e eu estamos tentando quebrar uma grande operação paracriminosa atuando em Três Portlands há meses, Gabe," Ross retrucou. "Nunca tivemos uma pista sólida até algumas semanas atrás. Então, do nada, há uma tentativa de assassinato do Creed e de mim por pessoas que sabem que somos skippers e que sou uma taumatologista. Daí, a UIU tenta prender os fabricantes e não só descobrem que os suspeitos foram avisados, mas também encontram uma tonelada de recibos da Spicy Crust. O rastro está apontando para alguém da Fundação, Gabe! Eu só não sei quem ou por quê ainda. Mas se as informações no seu backup não corresponderem ao banco de dados, isso me diz que é alguém com acesso significativo à RAISA e essa é uma lista de suspeitos bem curta. Certamente o suficiente para que a Corregedoria investigue. Então, por favor, Gabe, pegue as informações!"
"Bem, por que você simplesmente não disse isso," disse ele e começou a digitar em seu teclado. Não demorou muito para que o contador franzisse a testa.
"Bem?" Perguntou Ross, se movendo para espiar por cima do ombro dele.
"Não bate. Alguém adulterou esses registros. Isso é ruim, Ross. Muito ruim. Eu deveria ter recebido um alerta sobre esse tipo de edição. O sistema está comprometido."
"Você consegue descobrir quem tem acessado os registros?"
Gabe balançou a cabeça e digitou mais alguns comandos. Uma pequena lista de nomes surgiu. A maioria era contadores ou técnicos da RAISA. Um nome, entretanto, se destacava: Dra. Lindsey Morgan, do Comitê de Ética do Sítio.
"Interessante," Ross sorriu. "Dra. Morgan pergunta com frequência sobre as finanças da Spicy Crust?"
"Ela não pergunta," respondeu Gabe. "Acho que nem a conheci ainda."
"Tivemos um único voto de 'não' do Comitê de Ética do sítio quando Creed e eu propusemos usar uma substância anômala para ajudar em nossa investigação. Quanto você quer apostar que o voto foi dela?"
A tela do computador piscou.
"Fur abeas!"
Gabe e Ross congelaram quando uma voz gutural soou do computador. O dispositivo começou a estalar com eletricidade e as luzes da sala diminuíram.
"Merad! Se afaste dele!" Ross gritou e empurrou Gabe ao chão.
Uma mão feita de eletricidade atravessou o monitor do computador. Ross ergueu o braço direito dela. Cinco dedos estalantes se entrelaçaram com os dela, a força do contato batendo-a contra a parede. Ela soltou um grito forte de dor, a mão ainda firmemente agarrada à dela. A temperatura da sala despencou.
"Desligue ele!" Ross gritou. A eletricidade arqueava para cima e para baixo em seu corpo.
Gabe correu para o pé da mesa, faíscas voando quando ele arrancou o filtro de linha da parede. A criatura emergindo da tela soltou um grito. Um segundo braço emergiu da tela e perfurou Ross em seu abdômen.
Ross uivou de dor, sua mão esquerda agarrando a nova mão enquanto ela segurava com a direita. Gelo começou a crescer sobre ela e ela ficou cianótica, a eletricidade que arqueava para cima e para baixo em seu corpo agora concentrada em seus braços. Com um grito rouco, ela cambaleou para frente, chutando a parede com os pés. As mãos elétricas em seu aperto se contorceram e começaram a s e deformar, depois dispararam de volta para o computador com um estalo ensurdecedor, lançando os eletrônicos fritos para fora da mesa em uma nuvem de fumaça preta.
As luzes da sala se apagaram e foram substituídas em alguns momentos depois pelo brilho vermelho opaco da iluminação de emergência.
"Ross?" Perguntou Gabe, saindo da cobertura, "Você está bem?"
Agente Ross balançou a cabeça e colocou a mão sobre o ferimento em sua barriga. O sangramento imediatamente parou. Ela deu um passo para trás, lutando para se manter encostada na parede enquanto tremia.
"Eu odeio… demônios…" Ela conseguiu dizer. Sua respiração estava visível. "Ei Gabe… acha que posso pegar emprestada…. sua jaqueta? Estou com um pouco… de frio."
Ross caiu no chão.
"Ar merda. Merda. Merda. Merda. Merda."
Gabe atravessou a sala num instante, tirando uma jaqueta da cadeira próxima e enrolando-a no corpo de Ross. O contador procurou seu telefone, abrindo o aplicativo de mensagens e digitando uma mensagem.
sasha ross no meuescritório atcada precisa ajuda médica
Gabe clicou em enviar. Depois voltou sua atenção para a agente abatida.
"O que eu faço?" Pensou ele em voz alta. Ele congelou ao ouvir a porta do escritório se abrir atrás dele.
"Sr. Merlo." A voz era suave e masculina. "Se afaste da agente Ross."
O contador olhou por cima do ombro. Um jovem desengonçado, com óculos de lentes grossas, estava parado na porta, vestindo o macacão da equipe de manutenção do sítio. Ele segurava uma espingarda nas mãos, o cano apontado para o peito de Gabe.
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