Pássaro Engaiolado Canta

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"Você está atrasado," Francesca Carpenter tomou um gole de uma xícara de café. Um agente à paisana sentou-se à sua frente e suspirou.

"Sabe," disse Agente Lee com naturalidade, "ainda é meia hora de carro para chegar aqui de Portland, mesmo nos melhores tempos."

Francesca encolheu os ombros e gesticulou para o balcão próximo. "Você quer algo pra beber primeiro?"

"Não," respondeu ele. "Sobre o que você queria falar comigo?"

Francesca deslizou uma foto sobre a mesa. O agente pegou e franziu a testa. A fotografia continha a imagem de um sobretudo e botas andando pela rua, completamente cheios de corvos.

"Onde você conseguiu isso?" Disse Agente Lee. Sua testa franziu.

"Isso importa?" Perguntou Francesca.

"Pode apostar que sim!" Sibilou Agente Lee. "Preciso saber que tipo de vazamento agora teremos que cuidar."

"Ralexe, Lee." Francesca sorriu. "Digamos apenas que Sr. Wilson conhecia alguém, que conhecia alguém, que morava em Tillamook por volta de 2011. É uma foto antiga. Sem vazamentos."

Agente Lee sacudiu a cabeça e deslizou a foto de volta. Francesca a colocou de volta em um fichário próximo.

"Não está convencido, né?" disse ela.

"Nem um pouco," disse ele, suspirando. "Mas isso é um assunto para quando eu voltar ao Sítio. O que você e o resto da equipe do Wilson querem?"

"Senti que era óbvio pela foto," disse Francesca. "É uma entidade à base de animais. Segundo o Acordo de Boring, nós lidamos com isso. Estou disposta a apostar que nosso aviário está muito mais equipado para lidar com isso do que a caixa onde vocês a trancaram."

"Essa é a mente de uma pessoa despedaçada em um coletivo de cerca de 30 corvos," respondeu Agente Lee. "Ela não é para você. E mesmo que fosse, o potencial de contaminação cruzada com 3466 ou algo pior é muito alto."

"Eu sei que não temos todos os brinquedos e dispositivos que você e o resto dos Náufragos têm, mas você sabe que não somos idiotas, certo?" Francesca franziu a testa e sacudiu a cabeça. Ela deslizou seu fichário sobre a mesa. "Ouça, só leve isso para seja lá quem estiver encarregado de conter aquela criatura. Mande ele dar uma olhada. Acho que você vai descobrir que cuidamos de cada detalhe possível."

Francesca se levantou e soltou um suspiro.

"Vocês sempre se preocupam sobre segurança, contenção e proteção. Mas vocês os protegem de si mesmos?"

Antes que Agente Lee pudesse responder, a representante da Soluções Silvestres do Wilson se foi.


Aviários frequentemente são lugares barulhentos. Aviários cheios de Corvus brachyrhynchos, como o encontrado na Soluções Silvestres do Wilson, ainda mais. O que tornava esse bando em particular mais alto do que a maioria, no entanto, era que cada corvo dentro era um empresário esperando para acontecer.

Quando Francesca Carpenter passou pelo cercado, a cacofonia de grasnados a chamou, tentando vender-lhe os gravetos e pedras que haviam conseguido pegar da terra em troca de qualquer troco que estivesse em seu bolso. Eventualmente, ela parou e examinou o cercado, numerosos olhos redondos e pretos olhando de volta.

Enquanto ela esperava, o grasnar diminuiu. A multidão de corvos foi para o outro lado do cercado, exceto por um que continuou a olhar para o seu guardião.

Está feito então? uma voz rouca sussurrou no fundo da mente de Francesca.

"A escolha agora é deles," sussurrou ela por sua vez. "Agora temos que torcer para que eles mordam a isca."


Diretor de Sítio Edgar Holman abaixou o dossiê da Soluções Silvestres do Wilson diante dele e suspirou. Ao redor da mesa de conferências estavam sentados outros três. Ele olhou para o documento por alguns momentos, seu dedo indicador batendo em sua têmpora antes de finalmente falar.

"Senhoras e senhores," disse ele, "precisamos tomar uma decisão."

Ele voltou sua atenção par a mulher de meia-idade à sua direita. Ela anotava furiosamente anotações em um pequeno bloco de notas enquanto olhava para sua cópia do dossiê.

"Sophia," disse Holman, tirando a mulher de seu fervo, "contenção é a sua praia. Se entregarmos o 2106, a equipe do Wilson seria capaz de cuidar dele?"

"Do ponto de vista veterinário, certamente," respondeu Sophia Turner. "A unidade de contenção deles teria um tamanho melhor para uma conspiração de corvos do tamanho dos traços um e seria um ambiente mais ideal para os animais do que, no fundo de um bunker. Minha única preocupação seria a proximidade com espécimes de 3466, mas como o Tim apontou, 2106 é Corvus corax, enquanto 3466 é Corvus brachyrhynchos. O único outro ponto de discórdia seria se um surto de 1505 ocorresse, não sei se o Wilson está preparado para abater tantos pássaros. Mas sempre podemos tomar providências."

Holman balançou a cabeça satisfeito e então olhou para um homem alto e musculoso à sua esquerda. Um emblema do capacete de um soldado empalado em uma lança era visível no ombro esquerdo de seu suéter reto.

"Sua opinião, John?"

"Se ocorrer um surte de 1505 com 2106 em suas mãos, os Náufragos e eu estamos na linha de frente," respondeu John Schut, sacudindo a cabeça. "O mesmo se 2106 fugir. Precisamos pensar em quem estará limpando a bagunça quando, e não se, isso acontecer. SCP-2106 é uma pessoa. Não um animal. Vocês todos parecem esquecer isso. Ele é muito mais inteligente do que Tim Wilson está acostumado a lidar. Além disso, acho que isso abre um precedente ruim. Temos muitas anomalias à base de animais em contenção em todo o mundo. Se eles aprenderem sobre isso, vamos só dar todas a eles? Por mim não, Ed."

Edgar franziu a testa, mas eventualmente começou a balançar lentamente a cabeça em compreensão. Sua cabeça então virou para a outra ponta da mesa onde uma mulher pálida com óculos grossos estava sentada em silêncio.

"Dr.ª Campbell?" Perguntou Holman. "Como isso se resolve do lado do Comitê de Ética?"

"Capitão Schut está certo," começou Dr.ª Lily Campbell, os lábios de Schut se transformando em um sorriso presunçoso com a validação. "SCP-2106-2 é uma pessoa. Presa na mente de pássaros, sim, mas uma pessoa mesmo assim. Ela não consegue se comunicar conosco desde 2011. Nós fizemos isso. As maiores mentes e cientistas do mundo e nós a quebramos. E isso, francamente, é uma grande vergonha. Diabos, anomalias muito mais perigosas do que ela ainda podem se comunicar com a equipe médica."

Dr.ª Campbell examinou o Dossiê da Soluções Silvestres novamente.

"Ficou clara pela análise do Dr. Aeslinger que seu bem-estar mental está profundamente ligado à saúde das aves," continuou ela. "Se mandá-la para a Soluções Silvestres tem um risco limitado em relação à contenção, e muito mais benefícios para a anomalia, vou precisar aconselhá-lo a considerar a oferta do Tim, Ed."

O sorriso de Schut se transformou em uma carranca amarga. Holman balançou a cabeça mais uma vez e olhou para o dossiê outra vez, seu dedo voltando a bater na têmpora. Eventualmente, ele suspirou.

"Acho que já tomei minha decisão então."


"Está feito. Eles estão mandando ela para cá," sussurrou Francesca Carpenter, suas mãos agarradas ao aviária que cercava o bando de SCP-3466 enquanto ela olhava fixamente para um único corvo. A criatura inclinou a cabeça e soltou um alto grasnido.

Excelente! A voz rouca do corvo mais uma vez sussurrou no fundo de sua mente. Espere por nós quando a transferência ocorrer.

"Você não vai matar ninguém, vai?" perguntou ela. Seu olhar se deslocou para o chão.

Não farei tal promessa, minha querida.

Francesca balançou a cabeça e então fechou os olhos.

"E Jessica Bradley? Ela estará segura?"

O corvo soltou outro grasnado.

Isso eu posso prometer.

Francesca soltou um suspiro de alívio. Um pequeno sorriso surgindo em seu rosto enquanto ela erguia os olhos, mas desaparecendo com a mesma rapidez. O corvo se foi.


Transcrição da Câmera do Painel do Veículo de Escolto Nº 3 da FTM Beta-4 ("Os Náufragos")

Estrada Sem Nome
Condado de Clackamas, Oregon, Estados Unidos


<07:40:33> Comboio da FTM Beta-4 transferindo SCP-2106 para a contenção da Soluções Silvestres do Wilson é visível. Veículo de Escolta Nº2 está na frente, seguido pelo Veículo de Transferência de Anomalias Humanoides Nº6, seguido pelo Veículo de Escolta Nº3. Os veículos trafegam por estrada de baixa população do Condado de Clackamas conforme o protocolo.

<07:45:22> Um grande pinheiro cai do céu, esmagando o Veículo de Escolta Nº2. Veículo de Transferência de Anomalias Humanoides Nº6 e Veículo de Escolta Nº3 desviam para evitar mais árvores caindo.

<07:46:45>Um clarão de luz brilhante é observado na cabine do Veículo de Transferência de Anomalias Humanoides Nº6 quando fogo parece engolir o motorista e o passageiro. O veículo sai da estrada e para no mato próximo. O Veículo de Escolta Nº3 para na beirada da estrada. O fogo na cabine do motorista do Veículo de Transferência de Anomalias Humanoides Nº6 se extingue por conta própria.

<07:47:35> Agentes Sung e Gray emergem da parte de trás do Veículo de Transferência de Anomalias Humanoides Nº6. Agentes Lee e Yadav emergem do Veículo de Escolta Nº3.

<07:48:50> Múltiplas figuras humanoides cobertas aparecem no ar ao redor do local do acidente. Cada figura usa uma máscara de bico espelhada idêntica com o emblema de uma mão rodeada por uma serpente na testa. Os agentes da FTM começam a abrir fogo.

<07:49:30> Dois agressores caem no chão e cessam movimento.

<07:50:22> Agente Sung é lançado várias centenas de metros verticalmente no ar e retorna ao solo. Os sinais vitais de Agente Sung cessam.

<07:51:15> Agente Gray é atingido por um raio e cai no chão. Agente Lee recupera o corpo de Agente Gray enquanto o Agente Yadav fornece fogo de cobertura. Um agressor cai no chão e cessa movimento.

<07:52:35> Agente Lee deposita Angete Gray sob o Veículo de Transferência de Anomalias Humanoides Nº6. Agente Lee então retoma o fogo. Um agressor cai no chão e cessa movimento.

<07:53:19> Agente Yadav entra em combustão espontânea. Agente Lee se joga para longe quando a munição de Agente Yadav explode. Os sinais vitais de Agente Yadav cessam.

<07:54:08> Agente Lee é encurralado por quatro agressores em frente às portas de contenção do Veículo de Transferência de Anomalias Humanoides Nº6.


Agente Lee permaneceu em silêncio, sua respiração pesada enquanto o cano de seu rifle girava de um agressor para o outro, seu olhar incapaz de encontrar seus olhos sob as lentes espelhadas de suas máscaras. Um deles deu um passa à frente e estendeu o braço. Lee sentiu seu dedo começar a apertar o gatilho, parando apenas quando um corvo desceu e pousou no braço da figura encapuzada. A fera inclinou a cabeça para o agente e soltou um grasnado curto.

Você não precisa morrer aqui, Agente. Uma voz rouca apareceu no fundo da mente de Lee. Eu gostaria de poder dizer o mesmo para seus colegas. Entregue a Sra. Bradley a nós, e prometo que nenhum mal lhe acontecerá.

"Eu não tenho muita fé nas promessas de pássaros," disse Lee.

O corvo grasnou novamente. Um som distante de risada ecoou na mente de Lee.

Geralmente, uma política sábia. Mas acho que você precisará dar um salto de fé aqui. Esteja você vivo ou morto, Sra. Bradley vem conosco.

Agente Lee se manteve firme. Minutos se passaram em silêncio.

Não pedirei uma segunda vez, o corvo falou mais uma vez.

Lee suspirou, baixou o rifle e se afastou. Ele olhou para o horizonte laranja e amarelo do sol nascente enquanto as figuras encapuzadas trabalhavam na porta. Em instantes, elas a separaram por completo de suas dobradiças e levitavam o pedaço de metal para longe.

Sra. Bradley, disse o corvo. Você está livre agora. Eu recomendo que você vá embora.

De dentro da escuridão do veículo de transporte, uma figura humanoide composta inteiramente de corvos vivos entrou na luz. Ela olhou ao redor e olhou com dezenas de olhos, parando para encarar Agente Lee por alguns momentos. Agente Lee olhando para baixo em resposta. Eventualmente, ela olhou para o nascer do sol. Os corvos que compunham seu corpo soltaram um único e longo grito em uníssono e depois ficaram em silêncio.

"Obrigada," disse SCP-2106-2. Sua voz era como se estivesse prestes a desaparecer.

Um por um, os corvos desapareceram. Cada um voou em uma direção diferente antes de desaparecer de vista.

Uma gaiola dificilmente é um lugar para tais criaturas, disse o corvo a Agente Lee enquanto observava as instâncias de SCP-2106-1 se dispersando. E certamente não é lugar para uma pessoa.

Assim como os outros antes dele, o corvo também voou para longe. Cada uma das figuras encapuzadas tremeluziu e então desapareceu de vista.

Com um suspiro pesado, Agente Lee sentou-se ao lado do veículo de transporte. Ele riu amargamente quando só agora percebeu que seu rádio estava ativo com pedidos de relatório e latindo ordens.

"Múltiplos agentes abatidos," ele finalmente respondeu. "Objeto roubado por um número desconhecido de agressores, múltiplos com capacidades taumatúrgicas. Veículos desabilitados. Aguardando novas ordens."

O agente virou a cabeça mais uma vez para o horizonte. Um único corvo ficou visível por um breve momento, desaparecendo no céu âmbar.

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