Jogo Fechado
avaliação: 0+x
CVrDKCy.png

O tiroteio parou tão repentinamente quanto começou. Uma van sem identificação que havia saído da estrada deserta apresentava vários novos buracos de bala. A porta do motorista se abriu e um corpo saiu. Uma metralhadora caiu no chão e fez-se silêncio.

Os agentes da FTM Tau-51 se aproximaram.

As portas traseiras da van foram cuidadosamente abertas. Espalhadas pela traseira, havia várias caixas estanques. Uma delas havia se aberto, revelando sacos lacrados de um fino pó azul elétrico. O agente chefe, um homem esguio com cabelo loiro curto e barba aparada, entrou e examinou o conteúdo.

"Ross?" O comandante da FTM, Damian Creed, gritou.

A colega do homem, uma mulher com óculos de proteção e cabelos ruivos na altura do pescoço, respondeu avançando. Tirando uma luva, ela colocou a palma da mão estendida sobre o saco. A temperatura na van caiu levemente e sua mão brilhou brevemente com uma luz branca. Ela então virou a cabeça para trás e a balançou.

Pó de Sessão, certamente," respondeu a agente Breatric Ross.

Creed sorriu.

"Certo! Tudo bem, pessoal, vamos limpar isso e mandar de volta para o Sessenta e Quatro. Alguém coloque a Pi-1 na linha. Estamos prontos para a limpeza.

Enquanto os vários membros da Tau-51 se moviam para cumprir suas funções de empacotar o contrabando, Ross permaneceu ao lado de seu comandante.

"O Holman vai querer ser colocado em dia depois dessa."

"Eu sei." Creed murchou.

"Temos mais para mostrar para ele?"

"Só mais 20 quilos de Pó de Sessão."


Embora seu tempo lá sempre fosse escasso, Beatrice Ross desprezava o escritório do diretor do Sítio-64. Apesar de ser um dos maiores escritórios na instalação, ela sempre sentiu como se as paredes estivessem se fechando sobre ela. Ela olhou para Creed de seu lugar em uma das duas grandes cadeiras de frente para a mesa do diretor. Ele parecia bastante calmo, embora segurasse os braços da cadeira com força suficiente para deixar os nós dos dedos brancos.

Diante dos dois, do outro lado da mesa, um homem mais velho com cabelos grisalhos examinava o relatório do caso. Em pouco tempo, ele colocou os documentos cuidadosamente sobre a mesa e então limpou a garganta.

"Então, deixe-me ver se entendi direito." começou o diretor de sítio Holman. "Seis meses, sete apreensões de Pó de Sessão em Portland, e não só não estamos nem perto de encontrar o fabricante, mas também não fazemos ideia de onde é o destino pretendido. Estou mais ou menos correto, Creed?"

Creed suspirou.

"Com todo o respeito, senhor, sabemos que a fonte é Três Portos. Todos que prendemos mais ou menos confirmaram isso. A menos que você queira que eu torne o governo dos EUA nosso inimigo, não podemos ir atrás da fonte nós mesmos."

"O Spencer já teve alguma sorte, então?" Perguntou Holman, batendo vigorosamente nos documentos com o dedo indicador. "Suponho que não, já que você não mencionou isso no relatório."

"A UIU tem algumas pistas," interveio Ross. "Mas o Spencer ainda está tentando obter um mandado. Quem quer que tenha organizado esta operação fez um excelente trabalho cobrindo seus rastros. Até encontrarmos o fabricante, podemos ser forçados a continuar a arrancar os blocos de suas mãos quando os encontramos."

Holman fechou os olhos e esfregou a ponta do nariz.

"Com esse tipo de taxa de sucesso, vocês dois seriam bons candidatos pra Gamma-13."

Holman abriu os olhos e olhou para Ross.

"Há alguma coisa taumatológica para a qual alguém possa usar isso?"

Ross sacudiu a cabeça.

"Eu já investiguei isso. Pelo que eu sei, não há. Mas, novamente, isso está fora da minha especialidade. Seria melhor perguntar a um necromante, mas a Fundação não tem muitos deles na folha de pagamento. Razões bastante óbvias quanto ao motivo."

"Suponho que você não conheça nenhum necromante da sua época na CIETU Portlands, conhece?"

Ross fez uma pausa.

"Ross?" Perguntou Creed, uma sobrancelha levantada. "Você conhece?"

"Talvez eu conheça um."


"Sabe, você pode se dar ao luxo de parecer um pouco menos nervoso," sussurrou Ross.

Ela e Creed desceram do bonde sob uma leve chuva de Três Portlands. Os dois agentes, vestidos à paisana, correram pela praça lotada e encharcada em direção à Sombra do Jardim Internacional de Testes de Rosas.

"Eu não sou exatamente minha mãe quando se trata de Três Portos, ok?" Creed sussurrou em resposta. "Aqui não é exatamente território amigável. Desculpe, estou preocupado de que a gente vire uma esquina e seja como a cena do grito no remake dos ladrões de corpos de 1978. Me processe."

Creed parou no meio do caminho e olhou para o destino. Diante dele havia uma encosta pontilhada de arbustos fantasmas. Fileiras e mais fileiras de rosas pretas, ciano, violetas e verdes floresciam. Suas delicadas pétalas brilhavam enquanto a chuva passava por elas.

"Bem legal, né?" Ross sorriu.

"Assombroso é um termo mais preciso."

"Onde mais você esperaria encontrar um necromante?"

Creed riu e balançou a cabeça, e eles voltaram a andar.

"Como você conhece essa pessoa, afinal?"

Ross encolheu os ombros.

"Ex-namorada. Animou um esqueleto que me tirou do chão para que pudéssemos fazer a dança macabra."

"Sério?"

"Não." Ross revirou os olhos. "Ela é uma antiga colega de classe da CIETU. Para ser sincera, não nos dávamos muito bem. Ela considerava a evocação uma magia pop. Todo brilho e nenhuma substância."

"E você acha que ela vai nos ajudar?"

"Se você tiver alguma ideia melhor, sou toda ouvidos."

Ross de repente parou e suspirou. Diante deles, uma mulher de pele escura, com um longo casaco vermelho, estava sob um guarda-chuva, admirando as flores. Em seu ombro, um pássaro esquelético estava empoleirado. Os pontos vermelhos em suas órbitas oculares se viraram e olharam para os agentes que se aproximavam.

"É ela?" Creed perguntou em voz baixa.

"Sim," respondeu Ross, e começou a se aproximar. "Annabelle. Já faz um tempo. Como você está?"

Um sorriso surgiu nos lábios da mulher.

"Beatrice," disse ela suavemente. "Você parece bem. Como a vida têm te tratado? Ainda praticando, eu espero."

"De certa forma. E você?"

"Sempre tem alguém morrendo." Annabelle sorriu. "Quem é seu amigo?"

"Colega de trabalho," Ross respondeu categoricamente. "E o pássaro? É animal de estimação.

O esqueleto inclinou a cabeça e soltou um grasnado alto.

"JAMAIS!"

Annabelle riu.

"Familiar. Chamo ele de Edgar. Promove um pouco os negócios."

"Isso não é um pouco exagerado?"

"Ainda não tive nenhuma reclamação." A necromante encolheu os ombros.

Beatrice olhou para o pássaro por mais alguns instantes e então recuperou a linha de pensamento.

"Se importa de me ajudar um pouco? Tenho um problema e preciso de sua experiência."

"Manda bala, minha querida."

"Você conhece Pó de Sessão?"

O sorriso de Annabelle desapareceu.

"Você é policial?"

"O que? Não-"

"Seu amigo é policial?" Annabelle interrompeu.

Ross piscou.

"Não. Presumo que você já tenha ouvido falar disso então."

"Recebi um ou dois pedidos por um frasco em meu consultório," respondeu a necromante sem rodeios. "Se você estiver procurando um pouco, receio que não possa ajudá-la."

"Não é isso," Ross riu. "Só me responda aqui. Hipoteticamente, se alguém tivesse um monte de pó—caixas, até—ele poderia ser usado como um componente em algum ritual ou encantamento?"

"Sim. Overdose."

"É isso?"

"Você pode falar com os mortos. Essa coisa é basicamente a imortalidade dos pobres, o que mais você precisa que ele faça?" Annabelle encolheu os ombros. "Embora produza um efeito necromântico pequeno, o potencial é tão pequeno que mesmo se você tivesse literalmente uma montanha dele, você ainda não conseguiria levitar uma colher."

"Certo." Ross suspirou. "Achei que seria esse o caso. Obrigada por concordar em nos encontrar. Deveríamos nos encontrar de novo depois."

"Claro, querida."

Ross balançou a cabeça e começou a sair, ficando ao lado de Creed. Antes de chegarem muito longe, eles ouviram Annabelle gritar:

"Beatrice, você não tem uma montanha disso… tem?"


"Adoro uma pista falsa," disse Creed enquanto saíam da Via e voltavam para um beco cheio de lixo em Portland, Oregon. O sol já havia se posto há muito tempo, deixando a área envolta em escuridão. Ross emergiu logo depois, a Via então desapareceu em um graffiti desbotado em uma parede de tijolos próxima que vagamente lembrava uma rosa.

"Eu não diria que foi uma pista falsa," disse Ross encolhendo os ombros. "Pelo menos sabemos que quem está tentando estocar isso só pode usar conforme as instruções."

"Ainda não estamos mais perto de descobrir quem é. Ou por que eles estão estocando para começar."

"Acho que para falar com os mortos," Ross riu.

"Não me diga?" Creed revirou os olhos e deu um pequeno sorriso. "Vamos lá. Vamos pro Secret Crest. Eu pago."

Os dois agentes começaram a voltar para a rua, parando apenas quando três homens com longos casacos escuros surgiram da rua para bloquear seu caminho.

"Bem, isso não é-"

Ross prendeu as palavras quando os três homens sacaram pistolas, os canos apontados diretamente para ela.

"Se abaixe!"

O tempo pareceu desacelerar. Ross se sentiu voar para trás, Creed empurrando-a para trás da cobertura de uma lixeira próxima.

Damian? Pensou ela.

"Matem a maga, rápido!" Um dos agressores gritou. Creed rapidamente sacou sua própria pistola e disparou múltiplos tiros. Um dos agressores caiu.

"Damian?!" Ross sussurrou.

Mais tiros e o som de balas perfurando carne. Seu comandante caiu na calçada, gritando de dor. O sangue lentamente penetrou em suas roupas e começou a se acumular ao seu redor. Passos se aproximaram.

"Pelo amor de deus, peguem a maga!"

"Damian?!?" gritou ela.

Gelo se formou sobre a água parada no beco e a temperatura caiu. Os agressores sobreviventes pararam assim que perceberam que agora podiam ver sua respiração.

"Merda, ela está lançando um feitiço!"

Ross saiu do esconderijo, seu braço direito estalando com eletricidade enquanto apontava a palma d a mão para o chefe dos atacantes. Com um estalo ensurdecedor, um único arco elétrico voou através de um dos homens, fazendo-o cair e ficar imóvel. Quando o agressor restante começou a correr, uma onde de pressão deixou a mão de Ross, lançando-o no ar, onde ele flutuou. A agente sacou sua arma e disparou dois tiros.

O cadáver flutuante caiu na calçada.

"Não, não, não…"

Uma fina camada de gelo se acumulou sobre Ross enquanto ela corria para Creed, uma fina nuvem de ar indicando que ele ainda estava vivo. O sangue ao seu redor congelou e ele estremeceu violentamente com o frio repentino. Sua respiração estava brusca, cada suspiro fazendo-o estremecer de dor. Lágrimas desciam por seu rosto.

Cuidadosamente, Ross colocou sua cabeça no colo dela.

"Seu idiota, você não precisava fazer isso!" Gritou ela.

"Eu seria um péssimo comandante se eu não fizesse," disse ele com uma risada dolorida. "Não sabia que você gostava de tomar tiros."

"Pelo amor de deus, Damain…" Ela sibilou.

"Suponho que você não tenha nenhum truque de mágica que possa fazer?"

Ela balançou a cabeça e colocou a mão em seu peito. A temperatura caiu novamente. Os olhos de Creed começaram a baixar e ele pareceu adormecer. Por todo o corpo, o sangramento parou e as feridas se cauterizaram. Os dedos de Ross começaram a ficar pretos.

"Eles sabiam que você era uma taumatologista," disse ele enquanto perdia a consciência. "Esta foi uma tentativa de assassinato, Bea."

A respiração de Creed se tornou fraca, mas ele não parecia mais sentir dor.

"Aguente… firme… querido…" Ela conseguiu dizer com os dentes rangendo e procurou o telefone.

"911. Qual é a sua emergência?"


Salvo indicação em contrário, o conteúdo desta página é licenciado sob Creative Commons Attribution-ShareAlike 3.0 License