Aqui estamos. Enviarei uma resposta quando a poeira baixar. Espero que você tenha um plano B, porque estou honestamente esperando que vá tudo por água abaixo e pegue fogo.
Sua preocupação está registrada, mas acho que você descobrirá que temos mais vantagem do que imagina. Boa sorte.
Enquanto eles esperavam sozinhos em um estacionamento perto de uma trilha para Forest Park, Sasha Merlo simplesmente observou a chuva leve de novembro ao redor deles e colocou o celular de volta no bolso. Seu cabelo moreno estava enfiado sob um pequeno gorro enquanto ela respirava fundo. Do outro lado do estacionamento, Daniel Navarro terminava um cigarro. Uma vez que estivessem no Sítio-64, não haveria mais fumo, então ele estava se certificando de aproveitar esta última oportunidade. Eventualmente, o homem esguio se aproximou, levando alguns momentos para ver a chuva cair com Merlo antes de finalmente falar.
"Então…" começou ele. "E aqueles SCPs?"
Merlo imediatamente deu um soco no braço dele.
"Ei," disse Navarro com uma risada enquanto saltava para trás, esfregando o braço com a mão livre. "Isso é um pouco extremo, você não acha?"
Merlo sacudiu a cabeça.
"Quatro anos," disse ela. "Você poderia pelo menso ter me mandado um e-mail. 'Ei Sasha, só avisando, eu não estou morto ou tive minha memória apagada.'"
"O que posso dizer," ele encolheu os ombros. "A nova força-tarefa tem me sobrecarregado. Esta é a primeira vez que volto ao Oregon desde 2014.”
"Viu, isso também me incomoda," Merlo retrucou, "eu ofereci a você um lugar na Gamma-13 pelo menos quatro vezes, e cada vez você disse: 'FTMs são para caretas.' E, mesmo assim, aqui está você como um Bibliógrafo. Sério, que porra é essa?"
"Eles colocaram um saco na minha cabeça," respondeu Navarro com um sorriso malicioso. "Claramente eles me queriam mais. Tente sequestro da próxima vez."
Merlo soltou um suspiro frustrado e voltou-se para a chuva. Ela conseguiu manter uma carranca por mais alguns momentos antes dela se transformar em um pequeno sorriso.
"Eles realmente colocaram um saco na sua cabeça?"
"Claro."
Os dois agentes soltaram uma breve risada antes de virarem para a trilha de manutenção que levava para o oeste na floresta. A meia milha, eles encontrariam outra trilha que levaria a uma das entradas do Sítio-64.
"Acha que o Holman vai morder?" Perguntou Navarro. Os pensamentos de Merlo então se voltaram para a pasta em sua mochila, detalhando o plano intricado que Phineas havia compartilhado com eles em Forte Charles.
"Duvido," suspirou Merlo. "Mas no momento ele é o único que concordaria em se encontrar comigo, quanto mais outro esquema para capturar o Anderson. O Holman é nossa única chance, por pior que seja. Só espero que o incidente com o Saker-13 seja suficiente para mostrar a ele que Phineas está disposto a cooperar."
"Digo, o quer mais ele poderia pedir? Dois congressistas mortos?"
"Com a nossa sorte, provavelmente."
Diretor de Sítio Edgar Holman olhava para a pasta em silêncio. Navarro e Merlo estavam sentados diante dele, cada um permanecendo imóvel nas duas cadeiras que ele mantinha em frente à sua mesa. Enquanto ele continuava a ler, Merlo examinava Holman. Os anos não foram gentis, como o desgaste de mais de duas décadas no comando de uma instalação da Fundação finalmente começou a mostrar. Seu cabelo penteado para trás, outrora preto, estava começando a mostrar mechas grisalhas. Merlo tinha bastante dificuldade em lidar com a FTM que lhe fora designada. Ela não podia começar a imaginar como alguém conseguia dormir quando se era responsável por um sítio inteiro.
Eventualmente, Holman tirou os óculos de leitura e fechou a pasta. Ele olhou para os dois agentes antes de dar uma pequena risada.
"Eu não sei o que me impressiona mais, o fato de você ter me trazido esse pequeno esquema ou o fato de ter feito isso com Dan Navarro na cola como se isso fosse ajudar," disse ele. Ele então sacudiu a cabeça. "Nós jamais obteríamos aprovação para algo assim, Sasha."
"Mas o que você acha?" Perguntou Merlo.
"Não importa o que eu acho," respondeu Holman. "Eu poderia estar convencido de que este plano era um presente de Deus para a Fundação e ainda não obteríamos aprovação, assistência do Phineas à parte. Eles só estão reunindo a Gamma-13 para invadir pontos conhecidos do Anderson. Sem armadilhas de isca, especialmente aquelas dependentes de Pessoas de Interesse conhecidas."
"Então é isso? Fim de jogo?"
"Receio que sim," disse Holman com um suspiro. "Esforço valente, mas sem sorte."
Merlo deu um aceno derrotado com a cabeça e se levantou.
"Obrigada pelo seu tempo, senhor," disse ela e foi até a porta. Navarro seguiu atrás. Não demorou muito para que os dois agentes estivessem nos corredores do Sítio-64, lentamente vagando de volta ao escritório de Merlo.
"E agora…" Perguntou Navarro, mantendo-se no ritmo do passo de Merlo.
"Não faço ideia…"
"Tem sempre o meu jeito…" Disse Navarro com uma risada. Merlo riu brevemente e sacudiu a cabeça.
"Eu não tenho o benefício de ser um bruxo, Dan," disse ela. "Se eu seguir com isso sem aprovação, mesmo que bem-sucedida, eles apagariam minha mente e me deixariam nas margens do Willamette. Eu disse ao Phineas que isso seria um tiro no escuro, e quem diria que eu acertaria."
Merlo suspirou enquanto ela pegava o telefone e mandava uma única mensagem.
Sem sorte.
Ela mais uma vez guardou o telefone no bolso e os dois continuaram em silêncio, apenas parando seu passo solene quando ouviram Holman gritando atrás deles. O homem mais velho estava quase correndo, sua respiração pesada com ele finalmente alcançando.
"Senhor?" perguntou Merlo.
"Vocês dois… Laboratório de Materiais Anômalos… agora!" Disse Holman entre suspiros. Eventualmente, ele recuperou o fôlego e soltou um suspiro final. "Houve um desenvolvimento."
Merlo sentiu seu telefone vibrar. Enquanto seguia atrás de Holman, ela discretamente verificou o novo texto.
A poeira ainda não baixou.
O Laboratório de Materiais Anômalos do Sítio-64 era um dos laboratórios mais novos da instalação. Como tal, quando Holman, Merlo e Navarro entraram, foram recebidos com visões e sons de novos brinquedos científicos girando, zumbindo e sendo científicos. Um, punhado de pesquisadores iam de um lado para o outro enquanto cuidavam de seus negócios, conversando animadamente entre si antes de perceberem os três estranhos parados na soleira de seu covil acadêmico.
Um homem magricela em um jaleco com cabelo loiro bagunçado e olhos privados de sono deu um passo à frente. Seus lábios estavam curvados em um sorriso extático, quando ele ofereceu um aperto de mão para Holman.
"Diretor," disse ele em uma voz um pouco monótona, "obrigado por vir até aqui."
"Claro, Conwell,” disse Holman, olhando para os pesquisadores tagarelando ao fundo. "Esses são os agentes Sasha Merlo e Daniel Navarro, você se importaria de dizer a eles o que você me disse no telefone antes?"
Conwell deu aos dois um aceno brusco com a cabeça, seu sorriso desaparecendo brevemente.
"Há quanto tempo, cara de bunda," respondeu Navarro. "O que você tem para nós hoje?"
"Um pendrive foi deixado na minha mesa esta manhã. Dentro havia instruções para sintetizar uma variante estável de SCP-1360-1," disse Conwell. Ele então pegou uma pequena bandeja de uma bancada próxima. Um quadrado do familiar tecido preto e resistente que sempre cobria os androides de Anderson estava lá. Conwell então entregou um pequeno pedaço de papel. "Isto foi encontrado com o pendrive."
Merlo arrancou o papel de suas mãos e o leu avidamente, Navarro lendo por cima do ombro.
Conwell,
Você e Johnson chegaram bem perto de desvendar isso. Sinto que você merecia uma resposta.
Diga aos seus superiores que todas as minhas cartas estão agora na mesa.
Phineas
"Estamos realizando uma grande série de testes," acrescentou Conwell, olhando para Holman. "Mas assim que obtivermos sua aprovação, gostaria de mandar isso para os desenvolvedores de paratecnologia. Coletes auto-reparáveis podem ser uma ferramenta útil. No entanto, acho que vocês estariam mais interessados neste pequeno petisco."
Conwell pegou um pequeno frasco de spray e imediatamente lançou algumas gotas de um líquido desconhecido voando no tecido. Em segundos, as fibras de aramida se transformaram em pó.
"Phineas também forneceu instruções sobre como destruir o tecido. Imagino que isso, se armado, possa ser útil para a Gamma-13, ou qualquer força-tarefa que lide com robôs do Anderson."
Merlo e Navarro olharam para Holman. Ambos os agentes usavam um sorriso presunçoso. Holman suspirou em resposta.
"Quanto tempo até vocês terminarem os testes preliminares?" perguntou ele.
"Já acabei com todo o nosso cronograma de testes do dia," respondeu Conwell com um sorriso. "Dê-nos um dia ou dois para verificar tudo, e terei o relatório completo em sua mesa."
"Tenha uma cópia pronta para enviar aos desenvolvedores de paratecnologia," respondeu Holman, e então virou-se para seus agentes e gesticulou para o corredor. Merlo vislumbrou os técnicos do laboratório de materiais anômalos correndo de um lado ao outro antes da porta se fechar, deixando o trio sozinho no corredor.
"Eeeeeeentãooo…" disse Merlo, virando-se para Holman com um sorriso. "Phineas nos forneceu um Saker morto, nomes, locais e agora nos armou. Ele claramente quer que Anderson seja derrubado. Se não aceitarmos essa oferta, ele vai encontrar outra pessoa. Esta é a nossa chance, Edgar."
Holmna esfregou a ponte do nariz. Ele então soltou um suspiro exasperado.
"Irei passar isso para meus superiores," disse ele finalmente depois de alguns momentos de silêncio. "Mas sem promessas de que algo vá sair disso. Nosso histórico não é exatamente de primeira linha."
O Diretor se afastou lentamente, dois dedos esfregando sua têmpora direita.
"E pelo amor de tudo que é bom e santo, se comportem," acrescentou ele. "Ou eu juro que vou pessoalmente jogar seus corpos no Willamette."
Muito esperto. Sua aposta funcionou. A Gamma-13 recebeu aprovação para lançar a operação.
Imaginei que isso fosse lubrificar as engrenagens o suficiente para fazer as coisas andarem.
Certo. Então, essa isca que você mencionou…
Dr.ª Contos e seu filho. Duas pessoas que, se capturadas, atrairiam Anderson. Ainda estou em bons termos com eles para que eles concordem em se encontrar comigo. Lá sua equipe pode pegá-los. Deve ser simples.
Só nos diga onde estar, e nós faremos acontecer.
Conforme nosso acordo inicial, eles não devem ser feridos durante qualquer parte desses procedimentos, caso contrário, as identidades de pelo menos cinco de seus agentes nas operações da MC&D serão reveladas.
Achei que você tinha dito que colocou todas as suas cartas na mesa.
Mantive uma na manga.
Agente Clarissa Shaw estava sentada sozinha em um pequeno café no centro de Seattle, o mundo de fora encharcado pela chuva de outono de Washington. Seu longo cabelo loiro estava bem escondido sob uma peruca vermelha. Seus habituais óculos de aros finos substituídos por lentes de contato que mudavam a cor de seus olhos de azul para verde. Enquanto tomava um gole de sua caneca de café, ela olhou para o relógio.
A qualquer segundo agora… pensou ela. A porta do café então se abriu. Shaw escondeu o sorriso atrás da caneca.
Conforme Phineas prometeu, um jovem magro com uma mecha de cabelo loiro encaracolado e óculos grossos entrou, e uma mulher baixa, de meia-idade, com cabelos castanhos na altura dos ombros e olhos azuis fracos o seguiu. Quatro empresários seguindo eles, cada um olhando ao redor da sala em um padrão aparentemente aleatório. Jason Contos e Dr.ª Medea Contos haviam chegado.
Shaw virou a cabeça e coçou a orelha. Um cavalheiro no canto mais distante da sala dobrou seu jornal, enquanto duas mulheres em cantos diferentes fecharam seus laptops. A companhia de seis tinha acabado de se sentar depois de pegar suas bebidas quando Shaw e os outros se levantaram em união jogando várias latas no chão e cobrindo a sala com uma fina nuvem de pó branco. Os quatro empresários tentaram se levantar e sacar pistolas escondidas em suas pessoas, mas rapidamente se desintegraram quando o pó os cobriu. Poças pretas grossas eram tudo o que restava.
Shaw e seus colegas agentes não perderam tempo em sacar suas pistolas, os canos apontados para Jason e Medea. Os dois cientistas ergueram as mãos, Medea tremendo de medo enquanto olhava em volta para os agentes que se aproximavam. Jason manteve uma vigília de ódio.
"Te peguei," disse Shaw com um sorriso furtivo e deu um tapinha no nariz de Jason.
Dr.ª Contos e Jason estão sob nossa custódia. Temos a isca, e Navarro montou a armadilha. Estamos prontos quando você estiver.
Em um estúdio nos arredores de Três Portlands. um homem velho e careca com uma grande barba branca observava a chuva cair. Ocasionalmente, ele olhava par o telefone, cada vez não havia novas mensagens e seu coração afundava um pouco mais.
"Algo aconteceu," disse Phineas para si mesmo enquanto se virava e se dirigia para a cozinha onde começou a preparar água para o chá. Saker-45 e Saker-32 já deveriam ter aparecido, assim como Douglas Walker e Tessa Kim. Com Jason e Medea agora sob custódia da Fundação, havia muito a fazer antes que o golpe final pudesse ser desferido. Toda ajuda seria necessária.
A chaleira assobiou quando a água começou a ferver. Phineas enfiou a mão na pia transbordante e tirou uma caneca suja na qual colocou vários saquinhos de chá de hortelã. Quando a água assumiu seu tom amarelo-esverdeado claro, Phineas suspirou. Eles tinham acabado de chutar o ninho de vespas.
"Espero que mais ninguém tenha sido pego," disse ele para si mesmo e olhou para o chá.
Shikt
Houve uma forte dor em suas costas. Saindo de seu estômago estava uma lâmina grande e fina. Phineas se sentiu forçado para frente, um poderoso choque elétrico o atingiu, destruindo as funções de seus membros mecânicos. Ele usou os braços para impedi-lo de bater no balcão da cozinha, os dispositivos desligando enquanto travavam no lugar.
"Seu desgraçado…" uma voz metálica disse atrás dele. "Você achou que havia algum lugar que você pudesse se esconder onde eu não fosse eventualmente te encontrar? Você não se lembra de tudo o que fizemos para construir esta empresa? Você não se lembra do que eu fiz?!?"
Phineas tossiu. Ele podia sentir o gosto de sangue em sua boca. Lentamente virando a cabeça, Vincent Anderson entrou em sua vista, sua máscara de tragédia prateada brilhando na luz fraca da sala.
"Ei Vince," disse Phineas com um pequeno sorriso. "Vejo que você finalmente consertou aquele módulo de voz."
"Silêncio…" Sibilou Anderson, torcendo a lâmina e entregando uma nova onda de dor. "Como você pôde fazer isso com Jason e Medea? Der todas as pessoas…"
Anderson parou de falar. Ele enfiou a mão na mochila que carregava e tirou um grande capacete preto coberto de fios, colocando-o cuidadosamente na cabeça de Phineas. O capacete rapidamente começou a zumbi.
"Iniciar."
O velho sentiu uma pontada afiada na base do crânio.
"O que você está fazendo?" Perguntou Phineas. Ele sentia seus membros mecânicos ficarem rígidos enquanto seu eu biológico ficava mais fraco. Mesmo um ciborgue de seu calibre ainda precisava de órgãos internos.
"É um dos aparelhos do Wilson. Cria algum tipo de impressão neural eletrônica ou algo assim." Disse Anderson de maneira trivial. "Eu não sei, o Wilson que fez isso antes de se juntar a nós. A questão é que estou digitalizando suas memórias. Vai levar algumas modificações, mas terei meu amigo de volta. Então pegaremos Jason e Medea e deixaremos essa bagunça para trás."
Anderson parou por alguns momentos.
"E então tudo ficará bem novamente."
Phineas deu uma risada curta antes de tossir uma grande quantidade de sangue.
"Eu estava me perguntando quando chegaríamos a este ponto," disse Phineas enquanto cuspia o fluido vermelho escuro. "Você não pode simplesmente apagar as partes que você não gosta das pessoas, Vince."
"Não me diga o que posso e o que não posso fazer, velho," respondeu Anderson. Houve um som estático. Phineas imaginou que seu velho amigo estaria chorando agora se ainda pudesse. "Vejo você em breve."
Anderson então apontou o dedo indicador direito para a cabeça de Phineas. Houve um clarão brilhante, como um relâmpago. E então Phineas ficou quieto.
Anderson ficou imóvel por alguns momentos, e então lentamente caiu ao chão. Ele tirou a máscara de tragédia e colocou a cabeça nas mãos, balançando lentamente para frente e para trás.
"Está tudo bem…" disse ele para si mesmo. "Eu posso consertar isso. Eu posso consertar tudo. Está tudo bem… está tudo bem…"
Anderson então se levantou e deu um peteleco na máscara de tragédia com o dedo indicador. A expressão da máscara mudou para comédia. Anderson a colocou de volta no rosto e foi até a porta, pegando o telefone de Phineas no caminho. Ele examinou silenciosamente as mensagens e enviou uma resposta.
Pronta ou não, aí vem ele.
Anderson saiu na chuva de Três Portlands e o apartamento de Phineas explodiu em chamas.