Papai Vai ao Zoológico

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Capítulo I.II

Os jantares de ação de graças nos últimos dezesseis anos foram mais calmos do que eu esperaria. Ele nunca reclamava, mas percebi que seus filhos eram um pouco mais influenciados pela mãe. Tim ansiava por convidar pessoas para todo e qualquer evento. As festas da Terça-Feira Gorda, as festas de Quatro de Julho e as festas de Ano Novo não eram tão anormais, mas ele queria dar o mesmo tratamento para o Natal e o Dia de Ação de Graças. Tim era basicamente do tipo "quanto mais, melhor." Mas outras influências venciam. Ele era forçado a passar os feriados com a família, e somente com a família.

Um ano, no decorrer de uma conversa natural, Anders perguntou a Tim algo do tipo: "ei, se você cresceu em San Diego, por que você não acabou se tornando um garoto típico da cidade?" Tim sorriu e mastigou seu comida mais rápido para que pudesse responder. Ele disse, assim que pôde, que ele quase foi um "rato da cidade." Ele disse que esteve muito perto. Mas então ele nos contou com entusiasmo a história de sua primeira viagem ao Zoológico de San Diego, quando ele era muito, muito pequeno.

Conforme meu pai ficou mais velho, ele começou a ter uma relação de amor e ódio com zoológicos. De certa forma, tenho certeza de que é por isso que ele administrou o Abrigo da forma como ele o fez, que ele se transformou no que é agora. Tim nunca ira a um zoológico até os oito anos. Você acharia que alguém como meu pai poderia muito bem ter nascido em um, mas ele surpreendentemente demorou bastante para sequer visitar.


* * * * *


Ele nos disse que estava apaixonado pela cidade inicialmente. Que Elliot mais tarde disse a ele sobre como ele apontaria para todos os prédios altos e perguntaria sobre eles. Uma história particularmente engraçada era que Tim praticava seu conhecimento de cores apontando para os carros passando e gritando "azul !", "vermelho !", "amarelo !" Tim até tinha algumas lembranças de pedir para pegar o metrô — um lugar que ele passou a odiar mais tarde na vida. No jardim de infância, foi pedido que eles desenhassem a casa dos seus sonhos, e ele lembrava que a dele ficava no subúrbio. Um lugar que ele detestava ainda mais do que metrôs, na época dessa conversa.

Então, o que mudou foi que ele chegou em casa da escola um dia com um papel nas mãos, uma permissão informando que seu professor, o Sr. Benson, estava planejando uma viagem de campo. Tim sempre teve uma queda por animais, por ter crescido com uma veterinária como mãe e um taxidermista como pai, sem mencionar Hank, seu tio honorário, falando com ele sobre insetos e outras criaturas o tempo todo, mas isso parecia fora deste mundo para ele. A mente do papai disparava quando ele pensava em todos os animais estranhos e maravilhosos que ele vira na loja do vovô ou nos livros do Hank.

Veados, ursos, chimpanzés, hipopótamos, talvez até alguns leões e tigres ?

As possibilidades eram infinitas.

Embora eu não possa dizer com certeza se o pequeno Tim estava vibrando positivamente de empolgação ou não, gosto de pensar que ele teve que ser amarrado quando soube que o Vovô Elliot assinou o formulário da viagem de campo. Tim sempre foi fácil de ficar animado. Só de pensar em como ele deve ter estado durante a espera entre a emissão da permissão e o dia em que ele finalmente foi, já me sinto um pouco mal por seus pais.

Então, um jovem Tim Wilson, os olhos maravilhados, entrou no Zoológico de San Diego em uma manhã fatídica. Ele ouviu o trombetear distante de elefantes, o cantar de pássaros e os gritos de macacos enquanto ele passava sob os arcos. Como você pode imaginar, ele foi um dos primeiros a disparar zoológico adentro quando o Sr. Benson dispensou todos.

Lembro dele nos dizendo que o primeiro lugar que ele foi foi o cercado dos primatas.

Tim achava que macacos eram simplesmente hilários. Ele achava que eles pareciam engraçados, ele achava que eles faziam barulhos engraçados, ele achava que eles andavam engraçado. Quando menino, ele achava que o fato de alguns deles terem bundas coloridas era simplesmente a melhor coisa do mundo. Então, usando o sistema de camaradagem, ele e um amigo correram para admirar o quão ridículos eram os macacos.

As primeiras belezas que eles encontraram foram os gorilas. Eles eram grandes e pareciam descolados. Para um morador da cidade como Tim, era um sonho. Claro, era ensinado nas escolas que eles eram reais, mas você nunca achava que eles realmente existiam até que você os visse. Nenhum detalhe do livro ilustrado sobre o quão forte um gorila realmente é - nada pode prepará-lo para seu tamanho, ou seu cabelo áspero, ou os grunhidos que eles soltam de vez em quando. Essas são coisas que você simplesmente tem que experimentar por si mesmo, ou nunca as compreenderá.

Então, é claro, Tim apontou e riu, e foi até os chimpanzés.

Eles eram magros e mais barulhentos. Eles gritavam, eles se balançavam; eles eram ainda melhores do que os gorilas. Eles tinham dentes grandes e assustadores, mas havia uma cerca forte entre Tim e os chimpanzés, e eles não o assustavam nem um pouco. Ele tinha ouvido falar que eles às vezes jogavam cocô, e isso era outra coisa que Tim achava incrivelmente engraçado. Ele apontou, ele riu, ele fez piadas. Próximo.

Tim disse que isso continuou por algum tempo, mas algum tipo de influência estava vindo sobre ele enquanto ele caminhava. Crianças não são conhecidas por suas habilidades introspectivas e pode-se argumentar que elas são mais subconscientes do que conscientes. Como tal, na época, Tim é claro não tinha deia do que estava acontecendo. Mas, olhando para trás, foi assim que ele descreveu.

A cada exibição que passava, havia uma ideia irritante, ideia essa que, mesmo que ele não estivesse lá, havia algum lugar onde esses animais não estavam em jaulas. Algum lugar onde eles vagavam — alguns em selvas densas, alguns em planícies abertas. Alguns em tundras. Alguns em desertos. Alguns animais nadavam nos grandes oceanos, algumas coisas se escondiam nas florestas, outras coisas passavam a maior parte do tempo no ar e migrando. Alguns foram feito para as montanhas. Alguns foram feitos para lagos, rios e riachos. Alguns desapareciam no inverno. Alguns viviam nas calotas polares árticas. Alguns foram feitos para as savanas da África. Alguns viviam nos grandes planaltos ou em desfiladeiros profundos. Alguns foram até mesmo feitos para cavernas.

Mas com o tempo, Tim percebeu que nenhum foi feito para a cidade.

Não havia pássaros que não voavam nas ruas, a menos que você contasse pombos feridos.

Não havia moradores de tocas peludos nas casas, a menos que você contasse os ratos e camundongos.

Não havia animais engordando para o inverno, não havia sapos espalhando seus ovos no fundo de folhas, não havia pássaros do paraíso, não havia criaturas de copas, não havia nada.

Como isso parecia, se passando na mente de uma criança de oito anos, pode ser deixado para a especulação. Provavelmente não brotou tão claramente, mas também não foi inexistente. Cada cercado rendeu menos risadas, menos apontares de dedos e veio com mais admiração, mais olhos arregalados, mais "uau."

Havia algum outro animal com um pescoço tão longo quanto a girafa ?

Havia algum pássaro mais imponente do que a águia careca ?

Havia algum mamífero maior do que um elefante ?

Logo, Tim havia esquecido que estava em uma viagem de campo, o que se torno um problema quando ele perdeu seu companheiro e eles tiveram que ir procurá-lo. Eles o encontraram com o rosto pressionado contra o vidro, olhando para uma enorme píton amarela. Eles praticamente tiveram que arrancá-lo de lá, porque ele não estava indo em paz. Na viagem de ônibus para casa, Tim castigou a todos com fatos de animais. Você sabia que o ornitorrinco é um mamífero que põe ovos ? Você sabia que uma cobra pode deslocar sua mandíbula para comer ? Você sabia que um polvo pode passar por qualquer buraco que não seja menos que seu bico ?

Mas Tim logo percebeu que ninguém mais havia se encantado da mesma forma. Deve ter sido seu passado com animais que o deixou mais inclinado a se deixar levar por eles. Mas isso não passou pela cabeça de Tim na época. Tudo o que ele viu foram pessoas que não entendiam a beleza do mundo ao seu redor — colocando em termos muito mais apropriados para crianças, é claro.

Ele estava desanimado e infeliz.

Quando ele voltou para a escola e foi pego por Elliot, ele perguntou:

"Por que vivemos aqui ?"

Ao que Elliot respondeu:

"Porque eu trabalho aqui."

Mas quando Tim olhou para os prédios, e para as ruas, e para as pontes, e os postes de luz, e os semáforos, e os pontos de ônibus, e os apartamentos, e as calçadas, e as calhas, e as grades, e as tampas dos bueiros, e os cruzamentos, e os cruzamentos, e as placas, e as instalações de arte, e os murais, e as casas, e os gramados perfeitamente sem graça, e a porta da frente, e a entrada, e a sala de estar, e a televisão, e o corredor, e seu quarto, e sua cama… de repente, San Diego não parecia mais tão mágico.




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