Documento 001-O5
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Se você está lendo isso, então parabéns. Um de nós morreu. Algo matou um de nós. Um monstro, talvez, ou um rival da GOC. Ou talvez nos aproximamos demais do fogo, como Aaron. Não de idade, é claro. Nós tomamos conta disso, não tomamos? De qualquer jeito, um da velha guarda se foi. Talvez Jason. Talvez Agnes. Talvez eu. Droga, eu ficaria surpreso se eu não fosse o próximo a morrer. Eu sempre fui o mais prescindível.

Eu vou escrever isso a você embora você seja um ser humano. Será a última vez que alguém lhe fará essa cortesia, então espero que você aprecie.

Seja lá quem você é, o que você fez antes, você devia ser de alto nível quanto foi levado a isso. Você deve ter notado as discrepâncias, as inconsistências. Eu não sei quanto que você já sabe, ou quantas peças você já juntou. O cerne da questão é: As recuperações e obtenções de objetos SCP são ensaiadas, ou inventadas logo de início. Nós nunca “descobrimos” um SCP em toda a história da Fundação.

Eu devo começar do começo. Permita-me que eu lhe conte uma história.

Aaron Siegel era um físico estudando na Cornell em 1891. Ele era de fato um indivíduo talentoso, e se sua vida tivesse seguido um caminho diferente, eu acredito que seu nome estaria lá com Edison, Einstein, e Hawking. Eu o conhecia muito bem. Ele era, e ainda deve ser, o meu irmão.

Ele também era um naturalista amador ávido, e adorava caminhar pelos bosques. Um dia, enquanto visitava a nossa casa de família do condado de Essex, ele se deparou com um caminho de cascalho. Ele decidiu segui-la por um tempo, e percebeu que ela continuava subindo muito mais do que devia. Ela devia ter levado-o acima das colinas próximas. Em vez disso, ele se encontrou onde começou, sem caminhar nem um pé para baixo.

Outro homem teria achado que seus sentidos estavam lhe faltando e sairia do lugar. Aaron, porém, era um homem teimoso. Ele investigou mais. Ele descobriu que o caminho não se conformava com a geometria pura de Euclides. Como Saccheri fez antes dele, ele descobriu algo detestável à natureza das linhas retas.

Ele o estudou. As equações que ele derivou são parte do arquivo que você recebeu. Você as saberá de cor eventualmente. Ele construiu uma pequena cabana próxima como laboratório improvisado. Os seus primeiros experimentos produziram uma chave capaz de abrir qualquer fechadura, agora contida como SCP-005.

Ele trouxe outros. Como seu irmão, eu fui um dos primeiros que ele contatou. Eu era um estudante médico na Harvard no momento. Eu inicialmente pensei que ele estava louco, mas quando ele me mostrou o caminho, a chave, eu precisava aprender mais. Haviam outros conosco, outros amigos e colegas. A maioria deles se foi agora, mas… Nós éramos o núcleo. Nós criamos a Fundação ao redor de nós mesmos.

No começo, era só descoberta, só encontrando as coisas que podíamos fazer. Não tínhamos tantas esperanças, tantos planos. Nós íamos mudar o mundo. Iríamos salvá-lo dele mesmo. Podíamos alimentar os famintos, alojar os sem-teto, curar os doentes e moribundos.

Thomas Carter nos encontrou dinheiro. Nenhum de nós era pobre, mas acabamos com as nossas fortunas rapidamente. Thomas usou suas conexões com a Wall Street e Washington para nos financiar. Ele mostrou a eles o mínimo do que podíamos fazer, e prometeu o céu contra a ameaça de inferno.

Agnes Peterson, a noiva do meu irmão, era a administradora. Nós não sabíamos nada de como conduzir uma organização. Éramos um rebanho de gatos, correndo de um lado pro outro, e ela nos tornou em uma fundação, colocando nós, sonhadores e loucos, no mesmo jugo.

Em pouco tempo tínhamos uma instalação construída. Mas ainda éramos tão reservados. Embora quiséssemos gritar ao mundo o que tínhamos encontrado, nós estávamos com medo, também, de que isso seria levado de nós. Dissemos a nós mesmos que era só para o interino, até que tivéssemos certeza de nossa posição. Nós os mostraríamos, eventualmente. Mostraríamos a todos.

Fomos cuidadosos, de começo. Fizemos itens pequenos, inofensivos, ou até mesmo úteis. A fonte da juventude. A bola quicante. A estátua da Guerra Civil. Nos tornamos mais confiantes, e começamos a trabalhar com humanos. O homem de concreto. Ele se voluntariou. Ou o homem com o planeta abdominal. Só um vagabundo, mas o tornamos algo especial, não tornamos?

Era tudo tão fácil. Talvez parece absurdo conseguir tantas coisas daquela única e pequena quebra da realidade, mas tudo fluiu, uma descoberta após a outra. Parecia até que estava nos ajudando.

Mas então, as coisas começaram a dar um pouco errado. Enquanto ele brincava com suas equações, Aaron acidentalmente derivou o número perdido. No meu laboratório, eu descobri que fiz a praga zumbi. Mas estávamos muito envolvidos em nossos projetos, então seguimos em frente. Então veio o pesadelo de canos, e a escadaria. Nós sabíamos que precisaríamos de mais ajuda.

Thomas mostrou o que fizemos aos militares. Disse a eles que “encontramos” essas coisas, as descobrimos. Inventamos nomes como “Laboratórios Prometheus,” e “a Insurgência do Caos.” Eles nos deram financiamento, funcionários. Nós construímos, e expandimos. Repetimos a mentira em outros países. Alguns ouviram, alguns não. O suficiente. Nos tornamos uma organização internacional. Trouxemos mais pesquisadores, embora bem poucos já suspeitaram que nós éramos a fonte dos itens que estudavam. Às vezes, arrumaríamos de modo que um objeto fosse “encontrado” por uma equipe de campo, e às vezes nós simplesmente escrevíamos os relatórios. Nós geramos a papelada, e nós éramos a superintendência. Se disséssemos que uma coisa era, ela era. E ainda é.

Ainda haviam problemas, é claro. Jeremy e Thomas levaram um dos nossos experimentos e fugiram com ele, criando o seu clubinho ridículo. Um de nossos pesquisadores se enlouqueceu e começou a louvar máquinas, fugindo com conhecimento o bastante para ser perigoso. Ainda lidamos com o resto desses grupos lascados.

Então os contemos. Os manuseamos. Não podíamos parar, vê? Em vez de nos tornarmos mais cuidadosos, nos tornamos mais ousados. Eu esquartejei um menino e o transformei na Carne Que Odeia.

Haviam motivos. Sempre houve motivos. Duzentos e trinta e um. Nós a criamos, e suas irmãs também. As tomamos de orfanatos, e arrumamos para o que vinha em seguida. E não era acidente. Nós sabíamos o que estávamos fazendo. Já houve uma razão para isso uma vez, mas eu não conseguiria me lembrar. Nenhum de nós lembra, exceto talvez o meu irmão, seja onde, ou o quê, ele é agora.

Nós continuamos movendo em frente. Mesmo depois de Abel, depois da lagoa de sangue, depois daquele maldito réptil, continuamos com o nosso trabalho. O que mais podemos fazer? Nossa única esperança de sobreviver aos eventos que criamos é entender melhor, aprender mais. Estamos nas costas de uma horrível besta, e se tentarmos pular pra fora agora, seremos esmagados por ela. Mas não é isso que me assusta, e não é isso que deve lhe assustar. Nós mantivemos a nossa posição por mais de cem anos.

As coisas com as quais eu realmente me preocupo são as anomalias que não criamos. Não, eu estava dizendo a verdade da primeira vez. Não descobrimos nenhuma delas. Mas algumas delas, não são nosso trabalho. Elas só… apareceram, um dia. Elas estavam em contenção, e tinham sempre estado em contenção. Você não vê? Não estamos mais no controle. Nós nunca estivemos.

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