Sem um 1 para o seu 2,
O peso passa para você.
D.C Al Fine está sentada em sua mesa. Ela está aproveitando o breve momento de silêncio antes de receber um telefonema. Ela atende relutantemente, passando a mão sobre a foto de sua família em sua casa no Maine — uma família que ela não vê há 2 anos. A voz do outro lado da linha está rouca, séria e aterrorizada. Ela coloca a mão na ponta do nariz e fecha os olhos com força, esperando que a ligação seja parte de um sonho. Mas o homem na linha continua falando, e Al Fine volta à realidade enquanto ele descreve as 360 baixas que sua mais nova tentativa de extermínio da criatura das montanhas sofreu. Ela não sabe o que dirá ao Secretário-Geral dentro de 3 horas, uma reunião para a qual não consegue nem trazer fotos do alvo. A menos que ela queira que o Secretário-Geral morra em poucos minutos.
D.C Al Fine desliga o telefone. Ela suspira e liga para o chefe da Divisão de FÍSICA. Alguém encontrará uma maneira de matar essa coisa.
D.C Al Fine olha para a placa na parede à sua frente. Ela está no porão de alguma igreja na Inglaterra, cercada por agentes armados e com o gatilho de um explosivo. A evacuação pode ser ouvida nas ruas acima, enquanto os aldeões — todos os quais afirmam nunca terem visto isto antes, impossivelmente — abandonam suas casas, escoltados por agentes que mais tarde os interrogarão interminavelmente. Ela opta por não pensar nisso e volta sua atenção para a placa.
PROPRIEDADE DO
DEPARTAMENTO DE ANORMALIDADE
Milhares de opções passam por sua cabeça, a maioria delas acompanhadas de sinfonias de preocupação e cenários que terminam em guerra aberta. Será que eles são outro grupo que deve ser caçado igual a Mão? Um potencial aliado sob a tênue máscara que eles chamam de "Regularidade"? Alguma terceira coisa secreta e desconhecida? Al Fina considera essas opções, olhando para a placa e tentando não pensar no caixão coberto de ferrugem que eles encontraram dentro da masmorra. Ela tenta não pensar nos gritos que ouviu quando incendiaram a coisa.
Mas, num piscar de olhos, a placa desapareceu. D.C Al Fine dispensa os agentes ao seu redor, observando-os se afastarem para retirar cuidadosamente os explosivos colocados dentro. Isso pode ter sido importante para alguém antes, mas agora se foi.
D.C Al Fine está à frente da Câmara de Conferência da Coalizão, observando os 108 delegados discutirem entre si sobre as mais novas maneiras de economizar e lidar com os monstros "corretamente". Ela examina a sala, observando quem está falando e quais representantes vieram hoje. Mesmo na Coalizão, nenhuma organização tem o direito de desfrutar da companhia uma da outra, e isso nunca foi tão claro como nos últimos anos. Lutando para lidar com as consequências humanitárias da crise dos Kaiju; a altamente contestada reintrodução da SAFIRA; os múltiplos assassinatos fracassados de Mari MacPhaerson; todos na Coalizão sentem que a culpa deveria ser transferida para outra pessoa, e Al Fine muitas vezes assume a responsabilidade. Discussões e argumentos passam, e tudo o que ela pode fazer é sentar e ouvir as pessoas debaterem se ela poderia ocupar o cargo em primeiro lugar.
Hoje, porém, Al Fine percebe algo. Há um lugar vazio na Câmara de Conferências — mas o mais estranho é que não há nenhuma placa identificando quem deveria estar sentado ali. Tudo o que resta é um único círculo vermelho, que ela não se lembra de já ter visto. Ninguém mais na sala parece se importar; ela pega sua lista digital de todos os conselheiros e os conta até um total de 107. Por um instante, ela fica preocupada, mas no seguinte, a preocupação desaparece.
D.C Al Fine se recosta em seu assento confortável, a ideia de outro conselheiro furioso para lutar contra ela em tudo desaparecendo. Ela não precisa de outra pessoa para agir como se fosse revolucionária.
D.C Al Fine observa a tela com a respiração suspensa, mantendo os braços fechados enquanto observa uma nevasca devastar uma cidade no Oregon. O diretor da Divisão de FÍSICA, com suas palavras quase inaudíveis enquanto ela se concentra nos gritos ouvidos em meio ao frio intenso, desliga o áudio no momento em que o rugido que deu início a tudo volta à vista. Um urso polar, não muito maior do que os do Museu do Central Park, logo adiante, atravessa a cidade. Num piscar de olhos, ele está se arrastando em direção a uma pessoa vestindo uma camisa com apenas a palavra "WILSON" visível. No piscar seguinte, ambos se foram. Al Fine respira fundo e suspira. Atravessando a gritaria e o pânico da sala, ela dá a ordem.
D.C Al Fine diz ao resto da Coalizão para nivelar a cidade. Ela não sabe quem é Wilson, mas ela precisa deixar de se importar. Alguém vai se ferir se eles não matarem aquele urso.
D.C Al Fine toam um gole de café. Ele está extra amargo, apesar de ela juntar os ingredientes e preparar exatamente como sempre faz. Também no início da manhã, os banheiros da sede central da GOC em Nova York pararam de funcionar. Eles têm tido dificuldades com água corrente recentemente. Todos no prédio reclamavam do trânsito de Nova York em um grau nunca visto antes.
D.C Al Fine cospe o café amargo em uma reação instintiva, manchando a pilha de cartas — todas marcadas com K maiúsculo em Times New Roman — recém-colocadas em sua mesa. Ela exclama, em voz alta e com um palavrão impróprio para a Assembleia Geral. Alguém tem que consertar esses aparelhos.
D.C Al Fine acorda em sua cama, o suor escorrendo pela testa, a imagem do homem usando um fedora ainda impressa em sua mente. Ela tem tido pesadelos recentemente e sempre é o mesmo homem. Ela não entende qual é o sentido de tudo isso, cada um desses sonhos termina da mesma forma: o homem olha para ela, a chama de uma "decepção" e o mundo acaba de alguma forma horrível. Fogo, guerra, peste, inundações, tudo isso percorrendo seus sonhos e a dizimando instantaneamente. O homem, porém, permanece imóvel e vivo.
D.C Al Fine olha para o despertador.
2:34
Ela geme, rolando na cama, tentando evitar a imagem do homem, que ela presumiu ser certamente algum tipo de entidade procurando assombrá-la. Ela se lembra de uma conversa que teve anteriormente com alguém da FÍSICA ou de algum outro departamento. Alguém descobriu como matar um sonho e ela pode estar interessada.
D.C Al Fine se vê diante dos destroços de Três Portlands. Ela não consegue desviar o olhar dos edifícios em ruínas, dos trabalhadores humanitários correndo para ajudar as crianças feridas, dos restos flamejantes da CIETU Portlands ao longe. Ela fecha os olhos por um momento, engolindo o arrependimento enquanto as memórias do ataque da Coalizão à Faculdade dos Cervos queimam em suas retinas.
D.C Al Fine racionaliza o que fez e entra no helicóptero. Alguém ia destruir este lugar de um jeito ou de outro.
D.C Al Fine jaz em seu leito de morte, o leve tilintar dos anjos ecoando nos céus distantes acima. Seu quarto de hospital está vazio, sua família e amigos não estão presentes — ou não têm conhecimento — de seu estado. Ela pensa em todas as coisas que conseguiu realizar e tenta ignorar todas as coisas que destruiu. Al Fine se pergunta se é benéfico para a Coalizão que ela está destinada a morrer; talvez uma mudança de liderança ajude.
Imortalidade não é algo que alguém como ela deveria ter mesmo.