Morrer em um Oceano de Dinheiro Valeu a Pena
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Em um reino distante, um pesquisador júnior, conhecido por outros como Júnior, morreu enquanto enfiava dinheiro nos bolsos. Enquanto ele estava rindo e nadando no Oceano de Dinheiro, algumas moedas se alojaram em sua garganta.

No mesmo momento da morte embaraçosa deste Júnior, algo mundano estava acontecendo em um universo diferente.

Três perdedores estavam sentados em uma sala de escritório nas cavernas do Sítio-99.

Um estava fazendo aviões de papel. Sua cabeça estava abaixada sobre uma mesa e um olho fechado para ele poder aperfeiçoar a dobra do papel. O segundo era um sujeito bastante rotundo e estava mordiscando um sanduíche de cara escorregadia. O terceiro estava comprando online. Seus olhos abraçavam a tela enquanto ele passava de um Rolex para o outro.

"Hah…quão bacana um desses caras ficaria em mim," ele perguntou sem olhar para cima.

Nenhum dos dois homens respondeu. Eles não se importavam o suficiente para isso.

Depois de algumas horas de perfeccionismo de avião de papel, um almoço anormalmente longo e compras de vitrines de relógios, a porta do escritório se abriu para dar lugar a um homem de aparência jovem usando óculos escuros.

Ele tinha um belo bronzeado e cabelo loiro sujo que estava preso em um rabo de cavalo. Havia um pouco de barba em seu rosto, paradoxalmente ele parecia desgrenhado, mas mantido. Como todo o resto da sala, ele usava um jaleco, mas algo estava um pouco errado. Por baixo do sobretudo branco espreitava uma camisa havaiana e um calção de banho.

"Onde diabos tá todo mundo!?" gritou ele.

"A porra inteira da ala tá vazia. Sem tenentes, sem pesquisadores, nada! Acabei de encontrar um novo animal de estimação e queria mostrar pro Castro." o homem na porta olhou para cada um deles.

Com grande esforço, o comprador online se levantou.

"Errr, boa tarde Vice-Diretor. Um portal para a dimensão do Inferno foi aberto em uma montanha na Turquia. Então, todos os funcionários do departamento foram levados pela Sede Asiática," disse ele com passividade.

"Hum…então o que vocês ainda estão fazendo aqui?"

"Somos pesquisadores juniores, então o chefe nos disse para não tocar em nada e esperar aqui. Houve um alarme e tudo mais. Você não tava aqui?"

"Ahnn, não, na verdade, eu estava ocupado em uma missão." disse o Vice-Diretor enquanto desviava o olhar.

Suas roupas certamente não indicavam nenhuma operação urgente. Ele se virou para o comedor de sanduíches.

"Há uma reunião importante hoje e eu venho até aqui, coloco o meu maldito jaleco, mas a maldita coragem do Castro. Nem mesmo aqui." em vez de lidar com a aridez de uma reunião do conselho, Castro, o diretor de Assuntos Extraversais, decidiu lidar com um lorde demônio.

Ninguém disse nada.

"É nossa reunião anual de orçamento. Se vocês quiserem saber."

Nenhuma resposta ainda.

"Bem, de qualquer forma, um de vocês precisa vir comigo. Acontece que ambos os chefes de departamento precisam aparecer para defender seu caso." o Vice-Diretor suspirou e olhou para baixo. Ele bateu no rosto com as duas mãos e as manteve ali — pensando.

Alguns momentos depois, o Vice-Diretor se levantou.

"Hmm, isso pode, na verdade ser um pouco divertido. E eu tenho um novo amigo também…" o Vice-Diretor continuou enquanto caminhava até o comprador online.

"Tá! Você, perto do computador, venha comigo. Nós vamos fazer você… fingir ser eu," o Vice-Diretor abriu um sorriso enquanto apontava para o Pesquisador Júnior.

"Mas por que, senhor?" em verdade, o comprador online era um vagabundo preguiçoso. Havia uma razão pela qual esses três foram deixados para trás quando todos os outros pesquisadores juniores tiveram a chance de ir em sua primeira missão.

"Você acha que esses dois esquisitos têm cara de Vice-Diretor?" o Vice-Diretor fez um gesto de volta para os outros pesquisadores juniores, que continuaram trabalhando diligentemente em suas tarefas.

"Seu novo nome é Duchamp. E eu vou ser o Diretor Castro, certo?"

"Sim senhor, Sr. Vice-Diret…" enquanto o Pesquisador Júnior falava, o Vice-Diretor Duchamp se aproximou e colocou o dedo nos lábios do pesquisador.

"Shhh, eu sou o Diretor Castro, se lembra?"

Vice-Diretor Duchamp sorriu e deu uma piscadela, mas ninguém viu. Ele ainda estava usando óculos escuros.


O Diretor de Sítio Gallagher era muito feio. Pelo menos foi o que Duchamp disse ao Pesquisador Júnior em preparação enquanto caminhavam para seu escritório. Ele tinha uma barriga robusta, uma peruca de aparência falsa e um olhar fétido que fazia o estômago do Pesquisador Júnior revirar.

"Diga isso de novo, Diretor Castro, você quer quanto?" o Diretor de Sítio Gallagher inclinou a cabeça para baixo. Seus óculos abaixaram pelo nariz de modo que seus olhos pudessem olhar diretamente para o chefe de departamento. Ele olhou para os dois homens de aparência universitária vestindo ternos profissionais que não combinavam com seu temperamento.

"Isso mesmo, Diretor Gallagher, queremos 55 milhões de dólares. E isso não inclui outras despesas gerais e taxas de manutenção."

Diretor Gallagher tirou os óculos e se levantou da cadeira. Sua estatura baixa acentuava sua redondeza.

"Eu não sei se você entende isso Castro…E você provavelmente não considera quantas vezas você fica nesses seus 'mundos' extras. Mas aqui no mundo real, temos que pensar em custos. E seu orçamento proposto torna o seu departamento um dos mais financiados. Acima até mesmo de infraestrutura crítica como transporte ou a DAIA…"

Ele se arrastou de volta para "Castro" e "Duchamp." O último dos quais parou de prestar atenção desde o início da reunião e começou a sonhar acordado com carros, roupas e relógios sofisticados.

Pelo canto do olho do Pesquisador Júnior, ele viu um indício de movimento. Ele virou a cabeça e apertou os olhos para ver algum farfalhar atrás de um vaso de plantas.

"Você está ouvindo, Vice-Diretor Duchamp?" disse Gallagher.

O verdadeiro Duchamp colocou a mão no ombro do Pesquisador Júnior.

"Ele é um pouco lerdo, não ligue para ele, Diretor Gallagher."

"…Humm, acho que tem alguma coisa ali," o Pesquisador Júnior gaguejou. Enquanto ele falava, algo saltou do canto da sala.

A coisa foi rápida, mas o Pesquisador Júnior foi capaz de distingui-lo enquanto corria pelas paredes.

Era uma criatura pequena, talvez com meio metro de altura. Ela estava vestindo um manto cinza-escuro e, do capuz, emergia um rosto verde contorcido. Orelhas pontudas estavam saindo das órbitas dos ouvidos e um nariz grande, pontudo e dobrado se agitava junto a uma língua bifurcada. Sua pele era verde-floresta e suas bochechas estavam incrustadas com anéis de ouro. Ela carregava uma serapilheira marrom sobre os ombros que estava estampada com alguma insígnia não identificável.

A criatura saltou pela sala, antes de voar pelo ar e arrebatar a peruca do Diretor Gallagher.

"Não!" gritou o Diretor Gallagher. O goblin riu e rastejou até um canto do teto. Seu corpo começou a redemunhar antes de desaparecer completamente. A única coisa que restava era sua risada, que decidiu que ficaria neste plano apenas por um pouquinho mais.

O Pesquisador Júnior estava escondido debaixo da mesa do Diretor do Sítio. Gallagher estava de joelhos. Duchamp ainda estava sentado com um olhar vazio no rosto.

O Diretor de Sítio Gallagher correu para o telefone do escritório, mas assim que o pegou, Duchamp o tirou de sua mão.

"Eu sei o que foi aquilo, Gallagher. Eles são algum tipo de criatura interdimensional que tem perturbado nossos pesquisadores recentemente. Eles são atraídos para nossa realidade quando abrimos buracos nela. Mas não precisa se preocupar com eles, eles sempre pegam bugigangas inofensivas e nada mais."

"Por que diabos vocês ainda não os contiveram?!"

"Eles aceleram através dos reinos." disse Duchamp enquanto balançava a mão. Ele continuou.

"Depois essa semana, estávamos planejando solicitar conselhos da Fundação Multiversal para caçá-los."

A careca de Gallagher brilhava na luz forte.

"Havia algo muito importante sobre aquele item que a criatura roubou?" perguntou Duchamp com um tom astuto.

"Basta dizer, eu preciso dele de volta imediatamente. Ele é bastante insubstituível. É possível para vocês pegá-lo de volta agora?"

"Normalmente, sim. Mas, como você sabe, há uma emergência na Turquia e precisamos de todo mundo. Não temos sido capazes de conseguir novos funcionários devido a algumas restrições. Se você me seguir." Duchamp sorriu enquanto continuava.

Gallagher e Duchamp estavam cara a cara.

"Haha! Eu subestimei você, Diretor Castro. Você é um desgra-companheiro astuto." As veias saltavam ao redor da cabeça de Gallagher enquanto ele reprimia sua raiva.

"Acho que podemos chegar a um acordo sobre o orçamento, desde que vocês me devolvam meu item," soltou Gallagher, aceitando a chantagem descarada.

"Claro, senhor, eu colocarei meu melhor homem para cuidar disso. Bem aqui, Vice-Diretor Duchamp," disse Duchamp enquanto apontava para o Pesquisador Júnior ainda encolhido debaixo da mesa.


Na caminhada de volta, os dois passaram por um indivíduo. Uma pesquisadora de cabelos compridos e magra que estava fumando um cachimbo. Ela não olhou para "Duchamp" e "Castro" enquanto passavam. Logo, eles chegaram a um armário bagunçado em um anexo desconhecido.

"Eu não quero fazer isso," choramingou o Pesquisador Júnior. Duchamp estava encaixando sua cabeça no transportador interuniversal; curiosamente, ele parecia um capacete de futebol.

O Departamento de Assunto Extraversais tinha dezenas de bastidores onde velhos experimentos apodreciam.

"Você acha que eu sou como o Gallagher, não é," disse Duchamp sem rodeios enquanto mexia com os solenoides presos aos lados do capacete.

"Obviamente, eu não sou como aquele idiota. Eu sei como recompensar meus subordinados. Você quer um relógio, não é?" O Pesquisador Júnior ergueu a vista com olhos crédulos.

"Eu dei uma olhada naquele outro escritório. Irmão, está tudo bem. Depois que você terminar este pequeno trabalho, você poderá ter tudo o que quiser e muito mais." A ganância do Pesquisador Júnior o dominou e ele ficou em silêncio.

Embora não fosse como ele tivesse como escolher se ia ou não, de qualquer forma Duchamp o persuadiria.

"Certo, tudo parece estar pronto. Aqui, pegue esta máscara também. Esse carinha pode ir a algum lugar sem ar. E pegue este fone também. Eu e você precisamos de comunicação."

O Pesquisador Júnior ponderou, "Você não quer dizer 'Você e eu'?"

"Ora, ora. Não queremos que você banque o espertinho. A propósito, eu não peguei seu nome."

"Meu nome é…," enquanto o Pesquisador Júnior falava, Duchamp o interrompeu.

"Vou só te chamar de…Júnior. É o que diz no seu jaleco de qualquer forma. Primeiro nome 'Júnior,' sobrenome 'Pesquisador.'"

Duchamp levantou-se com um sorriso e se dirigiu para a porta. Ao fazê-lo, o terno que ele usava se transformou. O terno desapareceu e o jaleco, junto com a camisa havaiana e o calção de banho, apareceram em Duchamp.

Enquanto o vice-diretor caminhava até a porta, ele juntou as mãos e passou por uma série de sinais de mão.

Ele abriu a porta e do outro lado havia uma praia branca e cintilante com o sussurro da brisa do mar.

"Boa sorte!" Duchamp entrou e a porta se fechou atrás dele.

Júnior foi até a porta e a abriu. Ele só viu o corredor vazio e degradado do Sítio-99 esperando por ele.

Alguns segundos depois, Júnior sumiu do universo.

Seguir o Júnior?

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