O Olho da Águia

Central Aqueles Pinheiros Distorcidos » O Olho da Águia
avaliação: 0+x

|| CENTRAL || O Voo do Falcão »

9 de Novembro, 2018
Um Hotel em Portland, Oregon

"Jesus amado, que bagunça do caralho."

Agente Especial Kenneth Spencer olhava para a sala. Mesas viradas, faixas pisoteadas, bebidas derramadas — todas as marcas de um comício político que deu terrivelmente errado. Meia dúzia de agentes estavam ocupados vasculhando a cena em busca de evidências, procurando por vestígios do anormal ou extraordinário. Ao mesmo tempo, ele sabia, mais meia dúzia estava em processo de interrogatório e fazendo contratos geas com as dezenas de testemunhas. E ainda mais agentes perseguiam as em fuga. Quanto a Spencer e sua parceira, Robin Thorne, eles haviam sido retirados de sua ronda habitual em Três Portlands para conduzir o trabalho de campo para a investigação.

A Unidade estava jogando tudo o que tinha neste caso, e por um bom motivo: Alguém tinha dado um tiro na cabeça do deputado Raymond Caldwell — e ele não só sobreviveu, como se levantou e fugiu do local. Thorne estava atualmente ajudando no esforço para localizá-lo.

O fone de ouvido de Spencer tocou, sinalizando uma chamada recebida.

Ele levou um dedo ao ouvido e tocou no aparelho. "Spencer aqui, pode falar."

"Boas e más notícias, Ken," disse Thorne, pulando uma saudação.

"Vocês encontraram ele?"

"Essa é a boa notícia." Mesmo pelo fone, ele percebeu que Thorne estava fazendo uma cara. "A má notícia é que ele explodiu no segundo em que o encurralamos."

"Ele o quê?" Vários dos outros agentes na sala pararam o que estavam fazendo e olharam para ele com curiosidade. Ele balançou a mão para eles, gesticulando para que continuassem trabalhando.

"Ele explodiu. Algum tipo de mecanismo de autodestruição, eu chuto. A equipe de resposta está coletando os destroços agora." Thorne fez uma pausa. "Pela cara, nosso congressista era definitivamente um androide."

Agora foi a vez de Spencer fazer uma cara. "Você acha—"

"Que foi o Anderson?" Houve um bufo quase imperceptível do outro lado da linha. "Quem mais? Não é como se réplicas robôs humanas fossem algo que você pode comprar numa venda de garagem. Há uma lista bem curta de pessoas que poderiam fazer isso, e o Jesus Elétrico está bem no topo. Finalmente pegamos o desgraçado desta vez."

Ele franziu a testa. "Se estivermos errados, a cidade vai se revoltar."

"Eles podem fazer isso de qualquer maneira."

"Entendi. Mas ainda precisamos ter certeza de que nosso caso é sólido. Não há espaço para erros aqui. Então, como ligamos o ex-congresdróide ao Anderson?"

"Bem." Ela fez uma pausa novamente. "Eu tenho uma ideia. Mas você não vai gostar."

"É a Merlo, não é?"

"Gamma-13 são os únicos fora da empresa que sabem como é o interior de um Saker. Ela me deve um favor, nós a fazemos fazer a análise para nós."

"Você está certa, eu não gosto disso." Ele cerrou os dentes. "Você você não está errada. Vou ligar pro Holman, pedir a ele para que seu pessoal revise os destroços para nós. Mas é isso. Não vamos puxar a Merlo e sua força-tarefa para isso."

"Claro. Eu não estou pedindo para você entregar uma investigação federal para a Fundação. Diabos, pelo que sabemos, eles podem ter sido quem deu o tiro, se eles sabiam que ele era um Saker."

"Não apostaria nisso."

Ela riu. "Tenho que voltar a trabalhar agora. Eu te aviso se encontrarmos alguma pista imediata."

"Também," disse ele. "Spencer desligando." Ele bateu no fone de ouvido novamente, encerrando a chamada.

Ele olhou em volta para a sala, para todos os agentes procurando pistas, e suspirou. Não importava o que fosse ou quantas pessoas eles colocassem no caso, as coisas sempre pareciam encontrar uma maneira de envolver a Fundação, geralmente no momento mais inconveniente possível.

Isso provavelmente era anômalo.


12 de Novembro, 2018
Sítio-64, Oregon

"Ainda não acredito que eles não fazem fins de semana."

Spencer havia passado os últimos dias marcando um, encontro com o diretor do Sítio-64 para ele, Thorne e o saco cheio de peças de robô esperando na garagem de carga do sítio, e sua paciência estava chegando ao fim. Mesmo depois de várias horas de ligações e uma viagem com os olhos vendados na traseira de um sedã desinteressante, os dois agentes acabaram sendo forçados a esperar do lado de fora do escritório de Edgar Holman por uma reunião que ele havia marcado. Isso era um nível de inépcia burocrática que ultrapassava até mesmo o governo dos Estados Unidos.

"É o Dia dos Veteranos," disse Thorne, fingindo estar fascinada por um pôster na parede oposto que dizia: 'Nᴀᴏ Vɪᴀᴊᴇ Pᴏʀ Vɪᴀs — Tᴏᴅᴀs As Vɪsɪᴛᴀs A Tʀᴇs Pᴏʀᴛʟᴀɴᴅs Dᴇᴠᴇᴍ Sᴇʀ Aᴘʀᴏᴠᴀᴅᴀs Pᴇʟᴏ Cᴏɴᴛᴀᴛᴏ Fᴇᴅᴇʀᴀʟ'.

"Certo, então eles trabalham em um feriado federal, mas não aos sábados?"

"Tenho certeza que eles trabalham para emergências."

"Isso não conta como uma emergência?"

"Eles não sabem o que é 'isso'," disse ela, indicando perfeitamente as aspas apenas para entonação. "O que você está bem ciente, ou então você não estaria falando sobre isso eufemisticamente."

Spencer gemeu. "Eu não posso acreditar que você, de todas as pessoas, está dando a eles o benefício da dúvida."

"Alguém tem que bancar o bom policial." Thorne deu de ombros. "Além disso, não estamos falando sobre a Fundação em abstrato, estamos falando sobre Holman e Merlo — pessoas com quem trabalhamos, com quem você trabalhou, múltiplas vezes antes, e que foram nada menos que razoáveis, mesmo quando você deliberadamente ignorava eles."

"Você está sendo excessivamente razoável sobre isso," murmurou ele.

"Você não pode salvar a porra do mundo todo sozinho, Ken." Ela se virou para olhar para o parceiro, inclinando-se para a frente para fazer contato visual. "Em algum momento você tem que aprender a confiar nas pessoas."

"Eu confio nas pessoas," protestou ele. "Eu confio em você."

Thorne abriu a boca para responder, mas foi interrompida pela secretária de Holman.

"Agentes Spencer e Thorne, o diretor receberá vocês agora." Enquanto a secretária falava, a porta do escritório de Holman se abriu e liberou dois agentes da Fundação que Thorne reconheceu como Sasha Merlo e Daniel Navarro. Os dois estavam envolvidos em uma conversa, e se algum deles notou a dupla da UIU, eles não deram sinal.

Enquanto Spencer se dirigia para a porta da sala de espera, Thorne se inclinou e sussurrou para ele: "Esta conversa ainda não acabou."

"Estou ansioso para continuá-la," sussurrou ele de volta.

O interior do escritório de Holman era exatamente o que Spencer esperava de burocratas de nível superior — em sua maior parte papelada em volume, com uma mesa e algumas cadeiras desconfortáveis como as únicas concessões para seus ocupantes humanos. Um tanto anormalmente, folhas de plástico opacas haviam sido colocadas em cima de cada pilha de papéis, presumivelmente para deter qualquer curioso que tivesse aperfeiçoado a arte de ler de cabeça para baixo e de trás para frente.

"Agente Spencer, Agente Thorne," disse Holman, acenando com a cabeça para cada um deles. "Peço desculpas por fazer vocês esperarem, mas receio que não pudesse ser evitado. Por favor, sentem-se." Ele gesticulou para as duas cadeiras na frente de sua mesa.

"Claro, tenho certeza que Merlo tinha alguns negócios urgentes para você." Disse Spencer, sentando-se. Ele olhou Holman nos olhos e levantou uma sobrancelha. "Outra pista sobre o Anderson, talvez?"

O Holman era bom. Sua expressão não mudou nada. Mas sua não-reação cuidadosamente controlada era seu próprio tipo de inferno. Ele manteve contato visual com Spencer por alguns segundos, e então abriu um sorriso frio e sem humor.

"Estamos cientes, é claro, da atividade federal em torno do evento de campanha do congressista Caldwell na sexta-feira, embora os detalhes sejam escassos — sua equipe fez um trabalho impressionante no controle de informações. Mesmo assim, dificilmente seria necessário um gênio para suspeitar de uma conexão quando vocês entraram em contato algumas horas depois solicitando uma comparação entre os restos de um androide sob sua custódia e os componentes Saker intactos que a Gamma-13 conseguiu recuperar."

O velho diretor de sítio juntou as mãos e as descansou sobre as mesas. "Sasha Merlo não é idiota, embora sua dedicação em capturar o Anderson seja um tanto obstinada às vezes. Ela acredita que ele está envolvido."

Thorne bateu no tornozelo de Spencer com o pé, embora ela houvesse se abstido de dizer 'eu te disse' na frente de Holman. Olhando para o diretor, ela balançou a cabeça e disse: "Somos dois, então."

"Para ser claro," acrescentou Spencer, "não estamos pedindo que vocês se envolvam em nossa investigação sobre o congressista — na verdade, eu pediria respeitosamente que vocês ficassem bem longe disso."

Ele cerrou o maxilar e continuou em um tom menos confrontante: "Agradeceríamos se seus pesquisadores pudessem fazer sua própria análise das partes que recuperamos, só para ver se isso é definitivamente um Saker ou não. Isso é tudo o que precisamos para obter um mandado contra ele."

Holman estava prestes a responder quando seu pager tocou. Ele ofereceu uma cara de desculpas para os dois agentes do FBI antes olhar para baixo para verificar o dispositivo. Um momento depois, ele suspirou e olhou de volta para eles.

"Eu realmente peço desculpas, mas algo acabou de acontecer e vou ter que interromper esta reunião. Claro, estamos mais do que dispostos a oferecer qualquer ajuda, se vocês aceitarem. Falem com minha secretária, ela ajudará vocês a organizar os detalhes da documentação da cadeia de custódia e afins." Ele se levantou, se preparando para conduzi-los para fora.

Spencer abriu a boca, fechou, depois abriu de novo, mas Thorne o interrompeu antes que ele pudesse dizer algo nada diplomático. "Claro, diretor, entendemos que você é um homem ocupado. Não nos deixe ocupar seu tempo."

Ela agarrou o braço de Spencer e se levantou, puxando-o sobre os pés, e então o guiando para fora do escritório. Holman seguiu atrás deles, se desculpando novamente pela interrupção, e então partiu em uma caminhada rápida indo mais fundo no sítio, deixando os dois agentes — um confuso, o outro sem graça — de pé em sua sala de espera.

"Inacreditável." Spencer sacudiu a cabeça. "Inacreditável pra porra. Eles estão fodendo com a gente, você percebe isso?"

Thorne deu-lhe um tapinha no ombro. "Tenho certeza de que Edgar Holman tem coisas mais importantes a fazer do que desperdiçar seu tempo deliberadamente."

"Tipo o quê?"

"Tipo acidentalmente desperdiçar seu tempo. Vamos, nós conseguimos o que queríamos."

A conversa com a secretária de Holman foi breve, e não porque ela saiu no meio dela. Ela já sabia para que eles estavam ali e havia preparado tudo o que precisavam. Levou apenas alguns minutos para finalizar os detalhes da transferência de evidências — manter uma cadeia de custódia contínua ao lidar com uma conspiração clandestina quase legal é muito mais fácil quando essa conspiração é ainda mais obcecada com documentação do que a burocracia federal. Assim que terminaram, ela os dirigiu de volta à garagem do sítio, onde um técnico estaria esperando para recolher os restos do androide.

O homem que se encontrou com eles lá tinha pouco menos de 1,80 metros de altura, com o corpo de um ex-zagueiro que havia perdido peso para caber em um jaleco. Ele se apresentou como Doutor Ferro enquanto apertava a mão de Thorne e — depois de um momento de relutância — Spencer.

Com essa cortesia ritual fora do caminho, Spencer destrancou o porta-malas e verificou a etiqueta no saco de corpo, só para confirmar que não haviam mexido com ele. Então ele e Ferro o colocaram em uma maca próxima.

"Peso decente para essa coisa," comentou Ferro. "Você disse que isso era só um Saker?"

"Um androide, pelo menos," respondeu Thorne. "Esperamos que você possa nos dizer se isso é realmente um Saker."

Ferro balançou a cabeça, e então se inclinou para abrir o saco. Ele fez uma pausa e olhou para Spencer. "Posso?"

"Só se certifique-se de remarcar o saco e documentar quando terminar."

Ferro balançou a cabeça novamente, e então quebrou o lacre da etiqueta de evidências e abriu o zíper do saco, revelando a confusão de circuitos quebrados e liberando um leve cheiro de podridão. Apesar das circunstâncias de sua morte, o androide estava notavelmente bem preservado — a cabeça havia sido reduzida a estilhaços, mas o torso mutilado era reconhecivelmente um torso, os membros ainda estavam praticamente intactos e pedaços de pele queimada e em decomposição ainda se seguravam às partes mecânicas.

Ferro assobiou. "Mataram ele bem. Os Portadores têm uma bela dificuldade para conseguir componentes de Sakers — na maioria das vezes, tudo o que resta é uma poça de gosma. Como vocês conseguiram fazer isso?"

"Fui eu," disse Thorne. "Consegui colocar uma mão nele e acertá-lo com um pequeno feitiço taser — não letal, ainda achávamos que ele podia ser o congressista verdadeiro na hora, e eu só estava tentando derrubá-lo. Isso deveria ter desligado o sistema nervoso dele por um momento, mas ele meio que cambaleou um pouco. E então ele explodiu."

"Você provavelmente causou um curto-circuito no sistema primário de autodestruição, que desencadeou um explosivo secundário." Ele cutucou os destroços com um dedo enluvado. "Localizado na parte superior do tórax, ao que parece. Quão perto você estava na hora?"

"Perto demais. Eu tive sorte, eu já tinha uma proteção ativa e a maioria dos estilhaços não acertou de qualquer maneira."

"Provavelmente um explosivo moldado então, projetado para destruir o cérebro. Uma pena, conseguir ele intacto teria sido um verdadeiro golpe."

"Quando você diz cérebro…" Spencer parou.

"Provavelmente não um cérebro orgânico, não. Até onde sabemos, a pele é o único componente biológico."

"Alguma ideia de onde ela vêm? Essa coisa não está literalmente usando a pele de alguém, não é?"

Ferro empalideceu um pouco, mas sacudiu a cabeça. "Definitivamente não é isso, pelo menos. Meu melhor palpite é que eles crescem a pele por cima da estrutura mecânica em um biorreator, usando uma amostra do DNA do alvo."

Thorne franziu a testa ao ter uma ideia. "As células da pele seriam geneticamente idênticas então, correto?"

"Seria estranho se não fossem."

Ela processou isso por um momento, e então perguntou: "Você se importaria se ficássemos com um pedaço?"

Ferro deu de ombros. "O robô é seu."

Thorne colocou um par de luvas antes de selecionar um pedaço — a mão esquerda, estava inteiramente intacta, salvo um dedo mindinho ausente, e coberta de pele quase intacta — para colocar em uma bolsa de evidências menor, que foi colocada em um dos bolsos incrivelmente espaçosos dentro de seu paletó.

Spencer ergueu uma sobrancelha, mas contra-assinou a transferência de evidências sem fazer a pergunta óbvia.

E então chegou a hora de outra viagem com os olhos vendados na traseira de um sedã sem identificação.


13 de Novembro, 2018
Edifício Federal de Moses Howard, Três Portlands

"Eu devia ter pensado nisso antes," disse Thorne.

Ela espalhou um mapa da América do Norte no chão de uma das celas não utilizadas e estava desenhando um círculo de giz ao redor dele. A mão robótica pendia do teto em um pedaço de barbante, suspensa diretamente sobre o centro do mapa. Uma caneta tinha sido amarrada a um dos dedos.

Spencer havia trabalhado com Thorne tempo suficiente para reconhecer a montagem de um feitiço localizador, mesmo um tão anormal quanto este. "Eu não sei por que você pensou nisso agora. O que faz você pensar que ainda há alguma coisa do Caldwell original para sequer encontrar?"

"Nada, é só um palpite. Mas não custa tentar."

Ela terminou o círculo e começou a desenhar um triângulo adjacente. Seu familiar, um espírito de intelecto ligado à forma semi-espectral de um tordo albino, estava servindo como um marcador guia, ficando parado em cada um dos pontos do triângulo. Thorne havia adquirido seus serviços há cerca de dois anos, mas passou a mantê-lo muito mais próximo no último ano, desde o seu duelo com Dustin — embora ele não teria feito muita diferença lá, já que sua natureza não se prestava para evocações de combate. Ainda assim, Thorne preferia ter a camada extra de segurança, por mais mínima que fosse, e agora ele raramente deixava seu lado, a menos que ela tivesse negócio do outro lado da Máscara.

Quando Thorne terminou de desenhar o último lado do triângulo, o pássaro abriu o bico e piou algo em celta moderno.

"Não, está tudo bem," respondeu Thorne. "Podemos fazer um rastreio bússola quando chegarmos perto. Se chegarmos perto. Agora se afaste."

O familiar saltou para fora do triângulo enquanto Thorne se posicionava dentro dele. O pássaro voou para o ombro de Spencer, onde inclinou a cabeça de um lado para o outro enquanto olhava para ele com um olhar de astúcia distintivamente não aviário.

"Sim, eu estou te vendo, Crowe."

O nome era um apelido de Spencer, já que Thorne nunca se deu ao trabalho de dar um para o familiar. Ele o cutucou suavemente com o dedo, fazendo com que o pássaro voasse para se empoleirar acima da porta da cela.

Ignorando as travessuras da dupla, Thorne fechou os olhos e concentrou seu desejo, estendendo seus sentidos ocultos para o círculo, o mapa e a mão — e através dos elos de contágio e semelhança que os ligavam ao resto do mundo. Ela tomou fôlego.

"Me mostre."

Por um momento, nada aconteceu. Então, as linhas do círculo brilharam em luz azul-esverdeada, e a mão começou a balançar, de forma pendular, para frente e para trás acima do mapa, antes de parar abruptamente em um ângulo de quinze graus em relação à vertical. Uma gota de tinta brotou da ponta da caneta, e então caiu direto no mapa, deixando um círculo perfeito.

Thorne abriu os olhos e o círculo se apagou. A força que guiava a mão desapareceu e ela voltou para sua posição anterior.

"Encontrou algo?" Perguntou Spencer.

"Talvez." Thorne se agachou para examinar o mapa, e então gemeu. "Isso não pode estar certo."

Crowe piou algo que quase certamente era celta para: "Eu te disse."

Thorne balançou a mão com desdém. "Silêncio. O problema não é a geometria."

"O que aconteceu?" Spencer se aproximou para examinar o mapa por si mesmo. "Parece que está em algum lugar em Portland, Oregon."

Thorne acenou com a mão com desdém. "Chiu. O problema não é a geometria."

"Sim, mas veja onde em Portland."

Spencer apertou os olhos. "Ao sul da Ilha do Governo?" Ele entendeu. "Isso não é—"

"O prédio do FBI? Não dá para dizer com certeza nesta escala, mas tenho quase certeza, sim."

Spencer esfregou as têmporas. "É a Via. Tem que ser."

"Sim. O que significa—"

"Que ele está aqui. Em Três Portos."

"Sim."

Spencer sacudiu a cabeça em descrença. "Nós não temos essa sorte."

"Veremos."

Thorne estalou os dedos, convocando Crowe de volta para se empoleirar na palma de sua mão. Agarrando a mão do robô com a mão livre, ela fechou os olhos novamente e começou a cantarolar em voz baixa.

Depois de um momento, Crowe emitiu um grasnar sem palavras.

"Você consegue?" perguntou Thorne.

O pássaro repetiu o barulho.

"Certo." Thorne abriu os olhos e soltou a mão, depois limpou a própria mão na perna da calça. "Temos uma correção na conexão de contágio. Bora encontrar o verdadeiro Caldwell."

Thorne liderou o caminho de volta ao andar de cima e saiu do prédio. Uma vez que eles estavam do lado de fora, Crowe esticou suas asas fantasmagóricas e saltou no ar. Observando-o flutuar pelo céu aberto, ficou claro para Spencer que o familiar não entendia muito bem o voo — ele batia as asas muito cedo ou muito tarde, e sua trajetória era muito regular, não afetada pelo vento ou pela leve garoa da chuva. Era apenas mais um lembrete de que a criatura apenas parecia um pássaro e era governada mais fortemente pelas leis da taumatologia do que pelas leis da aerodinâmica.

O não-pássaro conduziu os dois agentes pela cidade, seguindo o fio invisível do elo de contágio que Thorne descobrira, levando-os até o verdadeiro Caldwell — ou o que quer que restasse dele — na coisa mais próxima de uma trajetória perfeitamente reta. Depois de quinze longos minutos viajando pela chuva, o familiar pousou no parapeito de uma janela no segundo andar de um prédio de apartamentos perto da Periferia.

O prédio em si era de propriedade de uma cooperativa e era mais bem conservado do que a maioria de seus vizinhos periféricos. Como resultados, suas paredes se tornaram uma tela para anartistas concorrentes, que cobriram toda a superfície externa com murais e grafites — e então, quando ficaram sem concreto vazio, começaram a encobrir outras obras, desencadeando uma corrida armamentista anartística de técnicas e métodos que agora tornavam o edifício perigoso de se olhar por mais de alguns segundos por vez.

Eles não encontraram oposição no caminho para dentro e subiram para o segundo andar. Não demorou muito para encontrar a unidade que Crowe havia indicado.

Os dois agentes olharam para a porta. Havia um leve zumbido de hip-hop vindo de dentro do apartamento, e o ar estava cheio de um cheiro inconfundível de gamba.

Spencer bateu na porta.

A música parou.

A porta se abriu para revelar o deputado Raumond Caldwell, de pijama e claramente chapado.

"Senhor Caldwell?" Perguntou Spencer com cautela.

"O quê? Ah, sim, sou eu. Mas eu não uso mais esse nome. Só me chamem de Barry." Ele olhou entre os dois agentes, uma cara rompendo sua expressão descontraída. "Vocês não são da cooperativa habitacional, não é?"

"Não." Spencer não ofereceu mais esclarecimentos, mas isso pareceu ser suficiente para aplacar suas suspeitas, porque a cara desapareceu.

Thorne limpou a garganta. "Senhor, hã, Barry, você, que saiba, já foi membro do Congresso dos Estados Unidos?"

Ele piscou. "Eu acho que não?"

"Você poderia nos dizer o que é que você faz, então?" Perguntou Spencer.

"Eu sei lá. Eu só relaxo. O senhor Anderson paga pelo lugar."

Thorne tossiu para disfarçar a surpresa. "Anderson? Vincent Anderson?"

"Sim, sim. Ele me deixa morar aqui. Às vezes ele passa para ver se eu preciso de algo."

A essa altura, Spencer retirou seu distintivo de sua jaqueta e o ergueu. O outro homem ficou vesgo tentando se concentrar nele. "Barry, eu sou o Agente Especial Kenneth Spencer da Unidade de Incidentes Incomuns, e este é o Agente Especial Robin Thorne."

"Opa, vocês são do governo?"

"Sim, Barry. E é extremamente importante que você venha conosco."

"O que, agora? Por quê?"

"Porque você acabou de confirmar que Vincent Anderson instigou uma conspiração sediciosa contra os Estados Unidos da América, e duvido que ele deixe você continuar morando aqui assim que perceber isso."

"Ah." Levou alguns segundos para que as implicações entrassem em seu cérebro. "Puta merda."

Thorne deu um tapinha no ombro dele. "Não se preocupe, Barry. Você não está preso. Isso é apenas uma precaução. Para mantê-lo seguro."

"Vocês realmente acham que ele vai tentar me matar?"

"Não," disse Spencer. "Nós vamos prendê-lo primeiro."

|| CENTRAL || O Voo do Falcão »

avaliação: 0+x

O Olho da Águia

Escrito por GreenWolf


"Jesus amado, que bagunça do caralho."

Agente Especial Kenneth Spencer olhava para a sala. Mesas viradas, faixas pisoteadas, bebidas derramadas — todas as marcas de um comício político que deu terrivelmente errado. Meia dúzia de agentes estavam ocupados vasculhando a cena em busca de evidências, procurando por vestígios do anormal ou extraordinário. Ao mesmo tempo, ele sabia, mais meia dúzia estava em processo de interrogatório e fazendo contratos geas com as dezenas de testemunhas. E ainda mais agentes perseguiam as em fuga. Quanto a Spencer e sua parceira, Robin Thorne, eles haviam sido retirados de sua ronda habitual em Três Portlands para conduzir o trabalho de campo para a investigação.

A Unidade estava jogando tudo o que tinha neste caso, e por um bom motivo: Alguém tinha dado um tiro na cabeça do deputado Raymond Caldwell — e ele não só sobreviveu, como se levantou e fugiu do local.

Salvo indicação em contrário, o conteúdo desta página é licenciado sob Creative Commons Attribution-ShareAlike 3.0 License