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Capítulo I.XIV
"Senhora, você está ciente de que está indo para Boring?"
"Mas que tipo de pergunta é essa. Sim, estou totalmente ciente."
Eu estava estacionada ao lado de uma estrada pavimentada, mas não particularmente conservada, em algum lugar no Oregon. Eu não costumava ser fácil de irritar — será que eu sequer parei para alguma coisa além de gasolina desde que saí de San Diego?"
"Alguma razão em particular para você estar indo para lá?"
"Olha, você precisa de licença e registro? Eu posso tomar uma multa por excesso de velocidade, tenho estado um pouco impaciente e isso pode ter se manifestado como aceleração."
O policial fez uma pausa. Tentei ler sua expressão, mas achei estranhamente difícil. Ele era um homem comum, nada extraordinário, mas algo nele é impossível de expressar de forma escrita. Isso só me impressionou mesmo depois do fato, quando tentei descrevê-lo para as pessoas, mas no momento isso mal foi registrado.
"Sim, licença e registro, por favor."
Eu, obedientemente, tirei minha licença do bolso e a entreguei ao policial, e então estava buscando o registro do meu porta-luvas quando:
"Faeowynn Wilson?"
"Sim?"
"Relação com Tim Wilson?"
"Uh — sim, na verdade."
"Esquece," ele me devolveu minha licença, "tenha uma boa viagem."
"O que—" mas ele já tinha começado a ir embora. Inclinei-me para fora da janela para gritar com ele: "Mas por que fui parada?"
Ele acenou indiferentemente com a mão para mim sem se virar, entrou em seu carro-patrulha e fez uma curva em U para ir embora. Eu o assisti até ele sair de vista em uma curva, e então fechei minha janela. Huh, uau, pensei comigo mesma. A polícia aqui é mesmo tão estranha quanto Tim disse. Bom saber.
E então eu voltei para a estrada, e quase esqueci que a coisa toda aconteceu.
* * * * *
Não sei se há uma maneira perfeita de descrever o quão surpreendente foi quando finalmente vi o edifício da Soluções Silvestres do Wilson. Qualquer que seja o consenso sobre o tamanho de um abrigo de vida selvagem normalmente, o edifício verde-abacate e hortelã era muitas vezes maior do que isso. Dizer que ele era imponente seria errado — ele tinha uma estética em geral bastante acolhedora. O estilo das paredes eu quase chamaria de mexicano; aquela mesma textura, apenas se fosse verde, mas a cara de pueblo daqueles ângulos arredondados de noventa graus e telhados planos e sem telhas. Ele ficava no topo de uma colina arborizada não insignificante, visivelmente escondida atrás de uma área mais residencial, tornando-se não apenas um edifício anormalmente grande, mas também normalmente isolado — como um escritório de centro enfiado onde quer que tinha espaço para ele. Num relance superficial, contei dois andares, mas ele se estendia tanto para os lados que o Pentágono me veio à mente.
Entrei no estacionamento de terra, que de alguma forma tinha postes de luz, mas não asfalto, e fiquei parada no meu carro estacionado por um momento simplesmente para apreciar o que havia sido construído aqui. Diante de tal estrutura, a última coisa que me vinha à mente era "sem fins lucrativos". Que empresário astuto era Tim para ter feito algo tão grande de algo por natureza tão pequeno? Eles claramente tinham dinheiro de sobra — a placa pronunciando alto e claro Soluções Silvestres do Wilson parecia metal de múltiplas camadas, com letras marrom-chocolate e um design de folhas verde-esbranquiçadas atrás. Se eu fosse um cidadão desta cidade que doasse para o Abrigo, teria que me perguntar para onde estava indo meu dinheiro, para ser bem franca.
Sai do carro e percorri um pequeno caminho de pedra que levava à entrada, notando outra estrada que saía do estacionamento e ia para os fundos. Presumi que dita rua seria usada para carregar e descarregar animais e enviar quaisquer veículos que eles tivessem.
As portas da frente eram de vidro, floridas com o mesmo padrão de folha branca servindo de guarnição ao longo dos lados, e silhuetas marrons de animais pontilhadas ao redor.
Pressionei minha mão contra o vidro e hesitei por algum bloqueio mental. Mas então, eu empurrei. O saguão era de tamanho mais razoável, eu achava, embora tivesse um número exorbitante do que pareciam troféus de caça, exceto que as placas davam a todos nomes. E eles eram importados? Familiares da América do Norte eram a águia careca, o veado, o urso pardo e a lontra, mas também avistei um avestruz, um macaco-aranha, e aquilo era um elefante-marinho?
"Olá, como posso ajudá-la?"
Minha atenção se voltou para a recepcionista solitária, uma mulher gordinha com cabelos castanhos lisos e um sorriso convidativo (como toda boa recepcionista tem). Caminhei até a mesa e vi que ela tinha uma muleta encostada no balcão, e na verdade estava sentada em uma cadeira bastante alta, apesar da ideia de estar de pé que se pode receber ao entrar pela porta da frente.
"Olá, ham," eu li seu crachá, "Sarah. Sou Faeowynn Wilson, e estou aqui para ver meu pai."
"Ah! Fae! Eu ouvi muito sobre você!"
Eu sorri educadamente. "Tenho certeza que você ouviu."
"O escritório de Tim é para cá." Ela começou a se levantar.
"Ah, não, você pode só apontar, você não precisa, uhh…"
"Não se preocupe, não se preocupe. Eu tenho que andar nela."
"Ah, heh, tudo bem." Ela começou a descer o corredor à minha direita, a esquerda dela, e eu a segui logo atrás, certificando-me de não ultrapassá-la. "Então, o que há com todos os animais no saguão?"
"Esses são nossos 'queridos falecidos', animais que morreram sob nossos cuidados, mas não antes de fazerem um lar em nossos corações. A estrela do show é definitivamente Cobre. Ele vai estar bem no meio do saguão assim que conseguirmos arrumar uma pequena fonte."
"Mas e o, uhh… o avestruz?"
"Ah, Milagre Jr.? O que tem ela?"
Eu fiz uma cara com aquele comentário, mas decidi apenas ignorá-lo. "O que há de tão especial sobre Cobre?"
"Cuidar dele foi meio que um ponto de virada para toda a nossa organização. Nos empurrou mais para o lado do cuidado das coisas do que da captura, recuperação e libertação. Agora somos um hospital e um lar, para aqueles que não podemos soltar. Mas tenho certeza de que você já sabe de tudo isso. Tim nunca te contou sobre Cobre?"
Lembrei-me brevemente daquela conversa que tive com minha mãe e Tim, há mais de meia década. "Tocamos no assunto uma vez. Devo ter esquecido."
"Aham. Ele é o animal mais importante que já tivemos sob nossos cuidados. Bem, aquele lembrado com carinho. Você deve saber de… bem, você sabe." Sarah apontou para a perna direita mutilada. "Na verdade, eu perdi essa perna na mesma explosão que matou Cobre. Cobre morreu, mas parece intocado. Eu vivo, mas tenho muita recuperação a fazer. Felizmente tenho feito amizade com um coelho de cura, Apple, mas ela é uma daqueles que vamos soltar de volta à natureza em breve. Eles na verdade só prolongaram a estadia dela por minha causa. Eu me sinto um pouco má com isso."
Sinais vermelhos estavam disparando para todos os lados. Eu não fazia ideia de qual seria a resposta se eu perguntasse sobre as partes mais malucas da história dela, mas de repente percebi que "cura" deveria significar "terapêutico", e relaxei um pouco. "Que, uh, que explosão?"
"Você não sabe…? O urso polar?"
De que porra ela está falando, pensei. Parte desse pensamento deve ter aparecido na minha cara, porque ela imediatamente ficou com uma expressão desanimada e se virou para o outro lado. "Hum, aqui é o escritório do Tim." Ela se virou instantaneamente e mancou de volta pelo corredor, em direção à recepção. Certamente, este era o escritório de Tim — uma porta cor de chocolate com o nome dele e tudo mais.
Pensamentos preocupantes passavam pela minha cabeça, mas eles eram evasivos em todos os sentidos. Eles só eram preocupantes porque eu estava preocupada. O primeiro deles era, o que está acontecendo aqui? e o resto que se seguiu foi um fractal, torcendo e discorrendo do primeiro pensamento, se revirando em si mesmos e então elaborando infinitamente. Não havia fim. Nenhuma conclusão. Eu não conseguia pensar em uma única resposta que realmente resolvesse o que eu estava vendo e experimentando.
"Você devia visitá-lo algum dia," mamãe dissera. Foi isso que ela viu? Eu considerava minha mãe uma pessoa bem fundamentada. Este não era um cenário bem fundamentado.
mas, novamente, eu a considerava bem fundamentada, e ela tinha visitado. Ela voltou disso, e eu não notei nada significativamente diferente. Ela estava bem. Eu ficaria bem. E eu precisava falar com Tim. Certo então. Eu respirei fundo. Eu estiquei minhas costas. Coloque a mão na maçaneta e abri a porta.
Dentro havia um escritório, exatamente como eu esperava. Havia uma mesa de madeira natural de formato irregular, altamente polida, mas ainda com todos os anéis e saliências da árvore da qual foi cortada, no meio da sala. Nas paredes havia prateleiras e mais prateleiras, cheias de arquivos e personalidade, como imagens de pessoas que reconheci como minha madrasta Alice e meus meio-irmãos Anders e Robin. A sala era feita dos mesmo verdes que todo o resto do edifício. Eu registrei em minha mente que essa era a paleta de cores do Tim.
Mas não gastei muito tempo absorvendo tudo isso, pois outra coisa chamou minha atenção. Tim estava sentado atrás da mesa; sua placa dourada com seu nome bem em frente a ele, ao lado de um copo cheio de canetas, uma caneca e uma tigela pequena de massa de vidraceiro. Mas à minha esquerda, havia outra pessoa. Um homem, quase militante. A primeira coisa que pensei, depois de considerar seu corte curto, corpo musculoso e uniforme verde camuflado, foi que ele poderia ser um guarda-costas.
Nossos olhos se encontraram. Um guarda-costas? Por quê? Esta parecia a minha segunda oportunidade de fugir. Eu não queria estar lá em primeiro lugar. Eu vim por causa de algum sentimento de obrigação, como se essa conversa que eu teria com Tim fosse totalmente inevitável.
"John, esta é minha uh, minha filha, Faeowynn Wilson. Fae, Capitão John Schut."
John se levantou e estendeu a mão com força em minha direção, que eu apertei timidamente.
"Prazer em conhecê-la," John rosnou de uma forma que me fez questionar sua sinceridade. Ele se sentou de volta, e Tim fez sinal pra que eu me sentasse em frente a ele. Eu aceitei sem falar, minha testa ficando cada vez mais dolorida com esse olhar que eu não conseguia tirar de mim. Esse olhar de que diabos está acontecendo aqui.
"Eu interrompi uma reunião?" Eu soltei, devagar e com cuidado.
"Não, não, ahh, nós dois estamos aqui, por você!"
"Por mim?"
"A-sim," repetiu John, sua voz profunda e poderosa me lembrando de um ator dos anos 60 que eu não conseguia identificar.
"Eu não disse a ninguém que eu estava vindo."
"N-não, você não disse. Exceto para o policial, chegando aqui."
Eu pisquei,. "Você está trabalhando com a polícia?"
"Então, F-Fae, olhe, estamos começando de um lugar estranho. Se você tivesse dito a alguém que você estava vindo, poderíamos ter planejado isso um pouco melhor, agora, mas fomos um tanto pegos de surpreso, sabe, e… isso não é um encontro tão… tão elegante quanto eu gostaria, heheh!"
Tim se estremecia o tempo todo, abrindo e fechando o punho sobre o peito. Olhei entre ele e o "Capitão" Schut. Uma coisa não havia mudado; sentia que Tim tinha muitas explicações a dar.
"Certo, então. O que está acontecendo? Me conte."
Tim suspirou. "Bem, não. Contar não vai provar isso pra você. Eu já tentei isso, e você… não acreditou em mim. Embora parte disso seja que algumas das evidências sumiram. É uma longa história, heheh! Ahh… mas, não, você precisa ver, senão você não vai acreditar em mim. Então, poderia…?"
Tim começou a se levantar e olhava suplicante para mim. Eu estava me levantando e seguindo-o porta afora antes que eu pudesse pensar. Schut seguiu logo atrás de mim, enquanto eu caminhava logo atrás de Tim. Do lado de fora, julguei que o edifício seria um extenso labirinto, bem como imaginava que fosse qualquer estabelecimento governamental, mas havia janelas em todos os lugares para onde se virava e placas indicando claramente aonde ir. Estávamos, aparentemente, indo para fora, para os fundos do prédio, para os cercados. Logo saímos e pude ver o edifício do outro lado.
Ele é um grande U, a frente do prédio sendo a parte inferior da letra e, como tal, me encontrei na clareira abraçada em ambos os lados pelos braços do quartel-general; uma clareira cheia de flora decorativa, trilhas sinuosas de terra e pedra, um número esparso de árvores extraordinariamente altas, e por toda parte haviam esses edifícios menores. Os cercados. Uma estrada de terra faz um círculo ao redor de todos eles, com acesso claro e conveniente a cada edifício para carregar e descarregar o que imaginei que seriam animais, ração e equipamentos diversos.
"Você deveria ter visto como isso era antes, o paisagismo necessário foi extraordinário, heheh!" Me perguntei por que Tim disse isso, então percebi que precisava calar a boca. "Não falamos sobre animais desde que você era bem mais nova, porque… você pediu… então eu não sei seus gostos atuais, mas, eu lembro que você gostava muito de pássaros, então vamos ao aviário!"
Enquanto descíamos a trilha, percebi que a clareira não é nem completamente plana, mas um pouco côncava, como se tivessem feito uma cratera da Soluções Silvestres. "O aviário está perto, também, porque — oi, Feather!"
"Olá!" Uma jovem baixinha de cabelo tingido de roxo e muitos piercings estava puxando um rolo de mangueira da traseira de uma van verde menta. "Como você está hoje?"
"Maravilhoso! Esta é minha, ah, filha, F-uh, Faeowynn!"
"Sua o quê!?"
Ela parou o que estava fazendo e veio me cumprimentar. Eu estendi minha mão para um aperto de mão, mas ela se aproximou para um abraço que veio rápido demais para eu pará-lo. "Você finalmente veio visitar! Tim tem falado sobre você vir há anos."
"…Prazer em conhecê-la também, Feather."
"Feather," interveio Tim, "que pássaro Fae deveria ver primeiro?"
"Eu não tenho favoritos e você sabe disso."
"Eu sei, eu sei. Só quero dizer… qual é o mais espetacular? O mais doido?"
"Mais doido?"
"Sim, mais doido."
"Bem, deve ser ninguém menos que Henry."
"Henry?" eu murmurei.
"Henry, sim," Tim cantarolou em aprovação. "Bora ver o Henry então!"
"Certo!"
Começamos então a seguir Feather, que pegou suas chaves e abriu o edifício rotulado 1-5, com a legenda de aviário. Mesmo no primeiro centímetro da porta se abrindo, comecei a ouvir o grasnar, piar e cantar do que parecia ser mil pássaros diferentes.
"Olá bebês!" Feather cantou para o edifício, ponto em que pensei ter ouvido o piar aumentar. Lá dentro, vi um turbilhão de penas; o edifício é em forma de O, com o centro sendo a maior gaiola de pássaro que eu já vi. Ela cobre mais da metade do andar no nível inferior e, através dela, pude ver que não há só um segundo nível, mas também acesso à gaiola pelo telhado, o que significa que a gaiola em si tinha três andares de altura. Eu nem percebi, nesta primeira visita, que a gaiola é dividida em seções, de modo que os pássaros que podem atacar uns aos outros ou brigar sejam mantidos separados. Na época, eu estava muito impressionada com o tamanho da coisa. Bem, o tamanho e outra coisa.
"Aqueles são kiwis?"
Os andarilhos pequenos, marrons e roliços estavam andando no chão macio e gramado — de aparência tão extremamente natural que não tive escolha a não ser chegar à conclusão de que isso era realmente chão de floresta, e que eles tinham construído o edifício ao redor dele enquanto o deixavam em paz.
"Isso eles são!" Disse Feather. "Embora, como eles não voam e tudo, estamos pensando em movê-los para outro cercado. Acho que… o 18?"
Tim balançou a cabeça. "Mas ainda estamos preparando o cercado para eles. Depois…" Tim devagou.
"Depois que Emma se for, o resto dos kiwis poderão ser mandados para a Nova Zelândia."
"Emma?" Eu perguntei. "Qual deles é Emma?"
"Acho que Henry está esperando," disse Tim impacientemente.
"Ah, uh, claro!" Feather nos fez sinal para segui-la por um lance de escadas, Eu tive que desviar meu olhar de um dos grados holofotes que estavam garantindo que cada nível do cercado parecesse ter luz solar, não importa a hora do dia. No segundo andar, fiquei duplamente surpresa ao descobrir que havia um "anel externo" — o aviário fica bem ao lado de uma das gigantescas sequoias e, usando a árvore como base, foi feita uma passarela ao redor e sobre ela havia mais gaiolas, embora desta vez para pequenos grupos ou pássaros individuais. Contornamos a árvore e, à medida que avançávamos, eu via vários outros espécimes extremamente fora de lugar.
Havia uma cacatua; três periquitos; uma espécie que eu não reconhecia e que só conseguia descrever como "serpentina"; um pelicano; um tucano; alguns morcegos (acho que esses contam); gaivotas; oito ou mais beija-flores; o que pareciam ratos com asas (eu parei aqui, mas Capitão Schut me empurrou para frente); e algumas outras vistas inimagináveis antes de nos depararmos com:
Um pavão.
"Olá, Henry!" Disse Feather gentilmente.
O que era notável não era o pássaro em si. Especialmente depois de ver o resto daquelas espécies exóticas, um pavão era relativamente normal, na verdade. Me lembro de interagir com pavões que eram autorizados a andar livremente em um zoológico uma vez, então eu não só os tinha visto em pessoa, mas também estive nas mesmas trilhas que eles antes. Não, o que chamava a atenção eram seus arredores.
Ele estava se cuidando em um travesseiro de cetim roxo real, humildemente ignorando as belas barras de prata polidas ao redor que brilhavam como se tivessem sido mergulhadas em óleo momentos antes de eu chegar. O chão da gaiola estava incrustado de esmeraldas verdejantes, rubis ardentes, opalas oceânicas e cristais para os quais eu não tinha nome. Olhando mais de perto para as barras mais próximas de mim, percebi que elas não eram simplesmente brilhantes, mas tinham pequenas gravuras tão sutis que pareciam tímidas sobre sua elegância impérvia.
"Por que vocês…"?" Eu comecei, mas não consegui terminar, pois me peguei esfregando as barras para tentar ver se conseguia sentir os entalhes.
"Henry é um belo artista, não é?"
Eu me virei para Feather. "Você está realmente tentando me dizer que um pássaro fez isso?"
Feather estava prestes a dizer algo, mas Tim a interrompeu: "Minha Lagarta, por favor, permita-me um momento. Há alguma coisa que você ficaria bem em… mudar?"
"Mudar?"
"Seria tão fácil mostrar o que eu quero mostrar, mas você tem que estar disposta a dar um item para Henry. Se você vir um de nós fazendo isso, você vai pensar que é um truque, ou alguma armação. Então, por favor. Tem alguma coisa aí?"
"Calma, você não quer dizer…" Feather levou a mão à boca. "Ela não sabe sobre…?"
Eu olhei para Tim, que tinha casca de sequoia no cabelo, e fiz simulações em minha mente. Mas nenhuma delas foi a lugar nenhum. Na verdade, praticamente o único pensamento coerente que eu conseguia manter era que eu estava tendo problemas para pensar. Então, sem pensar, tirei meu telefone do bolso e arranquei sua capa. "O que eu faço?"
"Seu braço consegue passar pelas barras, só segure a capa dentro da gaiola do Henry."
Não era para você não colocar seus membros dentro das gaiolas de animais? Mas, apesar do pensamento, me encontrei obedecendo. Eu silenciosamente agitei minha capa de telefone ao redor da gaiola ornamentada, confiando — mas será que eu confiava? — que algo inevitavelmente aconteceria. Por um momento, nada aconteceu. Eu me assustei quando senti movimento sob meus dedos.
A capa do telefone escorregou da minha mão quando pulei e caiu no chão da gaiola. Ela era apenas uma capa de telefone preta simples, quase sem nenhum caráter, mas comecei a vê-la mudar diante dos meus olhos. Aquelas mesmas gravuras em espiral nas barras começaram a aparecer em um branco brilhante em toda a sua superfície, e então começara a divergir, espirais menores saindo das espirais maiores, e logo percebi que ela estava fazendo um rosto.
Era meu rosto.
Faeowynn, ou uma caricatura da mesma, olhava para mim de uma obra de arte estilizada exemplar. O processo não levou mais de trinta segundos, e então o pavão começou a se cuidar novamente (eu não tinha percebido que ele estava olhando para a capa até ter parado).
Houve um silêncio enquanto eu simplesmente mantinha contato visual com a fachada, meio que esperando que ela começasse a se mexer e falar. Que eu conseguia me reconhecer naquelas espirais era uma façanha da obra de arte. Às vezes nem me reconheço no espelho. De repente, percebi que meu braço estava perto demais do que ostensivamente havia esculpido um novo padrão na capa do meu telefone. Eu o retrai na velocidade da luz e rapidamente comecei a inspecioná-lo em busca de danos.
"Henry adora espirais!" Feather soltou desajeitadamente. "Mas ele nem sempre faz espirais. Ele não tem sido muito experimental, ultimamente."
"Você nunca mentiu." Meu tom de voz colocava isso entre uma pergunta e uma afirmação. Eu acreditava, mas será que eu acreditava? Será que eu podia acreditar no que estava vendo? Isso era real?
"Não, eu nunca menti."
Olhei para meu pai e senti, pela primeira vez em muito tempo, total honestidade. Uma pureza de caráter. Imediatamente quis me desculpar por ter sido um ser humano racional e pensante, com dúvidas lógicas e perguntas sem resposta. Eu queria voltar no tempo e repassar aquelas conversar, por e-mail ou em pessoa, nas quais eu o havia dispensado ou negado. Parecia tanto tempo perdido, tanta desconfiança mal colocada, que a perplexidade caiu e rapidamente deu lugar à vergonha.
E eu poderia ter. Eu poderia muito bem ter quebrado ali mesmo, mas quando olhei para o Tim, senti como se tivesse engolido um sapo, porque uma mão estava em seu ombro, e atrás dele estava a montanha que era o Capitão John Schut, rangendo os dentes, que para todos os efeitos deveria ter um grande charuto fumegante em sua boca.
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