O Voo do Falcão

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14 de Novembro, 2018
Edifício Federal de Moses Howard, Três Portlands

Há duas versões da Unidade de Incidentes Incomuns.

Tem a versão publicamente reconhecida, os caçadores de OVNIs do FBI, a piada vergonhosa do Departamento, onde os paspalhos e rejeitados da aplicação da lei federal se acumulam, fora do caminho, onde não podem causar nenhum dano.

Essa versão existe apenas para ocultar a existência da outra UIU, o Departamento de Justiça das sombras responsável por todo o sistema de justiça americano por trás da Máscara, encarregado de implementar e fazer cumprir toda a parapolítica do Conselho de Segurança Doméstica. Esta UIU também caça OVNIs — e prende os alienígenas que os voam, os processa e os aprisiona em uma instalação de segurança super máxima inescapável projetada para conter deuses hostis. Esta UIU é encarregada de policiar e proteger o maior enclave paranormal do Hemisfério Ocidental. Esta UIU lida diretamente com uma classe paracriminosa composta de supervilões e monstros, e o faz sob as restrições legais do devido processo legal e habeas corpus — restrições sob as quais organizações como a Fundação fraquejam.

Esta UIU é uma força a ser reconhecida. E agora, no momento em que o juiz Jelen termina de assinar o mandado de prisão, todo o poder dessa força foi apontado para um único homem: Vincent Anderson.

Kenneth Spencer examinava as tropas reunidas. Era um destacamento completo da EOOM, os melhores magos de batalha e médiuns de combate que a Unidade tinha à sua disposição, todos equipados e carregados para enfrentar um dos deuses mais desagradáveis. Em seus sobretudos pretos e máscaras de gás de rosto inteiro, eles pareciam mais tropas de choque da Primeira Guerra Mundial do que agentes federais prestes a executar um mandado. Mas as máscaras de gás tinham lentes de filtragem de riscos cognitivos colocadas sobre os olhos, e os sobretudos estavam repletos de minúsculos sigilos de proteção e encantamentos escritos em enoquiano, costurados no tecido antibalístico com fio de prata — e nas costas, as letras 'FBI' estavam estampadas sobre o símbolo do Olho da Providência.

"Tudo isso por um homem?" perguntou ele.

A líder da Equipe de Operações Ocultas Móvel, pelo menos para esta prisão, era Jesse Davis, uma maga de guerra veterana especializada em evocações elétricas. Ela carregava uma espingarda carregada com rodadas Quebra-Feitiços, que também serviam como condutores para alguns dos feitiços mais cruéis em seu repertório.

"Tudo isso pelo Anderson," disse ela. "Ele é um dos magos mais poderosos do planeta, e seu talento bruto está aprimorado por implantes cibernéticos feitos por ele próprio. Eles estão preparando a cela velha do desgraçado nazista para segurá-lo."

"Primeiro temos que pegá-lo. Os Skippers vêm tentando fazer isso há quase uma década." Robin Thorne não era um membro regular da EOOM, e não optou pelo equipamento de combate completo que os outros bruxos estavam vestindo, mas ela colocara um dos sobretudos por cima de seu traje e roupas habituais.

Davis riu, o som ecoando levemente sob sua máscara de gás. "Bem, eu agradeço a oportunidade de superá-los. Teria deixado sua mãe orgulhosa."

Thorne fez uma cara. "É." Ela olhou para baixo, ostensivamente, para checar novamente sua pistola "Vamos fazer isso."

"Certo." Davis virou-se para se dirigir a sua equipe.

"Certo pessoal, vocês todos conhecem o alvo. O próprio Jesus Elétrico, Vincent fodendo Anderson. Não há espaço para erros nesta missão. Sabemos pela Agente Especial Thorne que o edifício modificado significativamente a partir da planta baixa arquivada com a cidade, então estejam prontos para qualquer coisa — pelo que sabemos, ele poderia ter um mecha da Estátua da Liberdade em tamanho real lá. Com sorte, ele vem em silêncio, mas se ele não vier, estaremos lutando para abrir caminho através de um verdadeiro exército de robôs. Fogo não adianta, e gelo só vai atrasá-lo um pouco, então vamos depender muito de choques — Martins, Baxter, isso significa que vocês estarão na frente. Alguma pergunta?"

Os homens e as mulheres de preto estavam em silêncio.

"Boa. Bora colocar esse filho da puta na Paramax."


14 de Novembro, 2018
Sede Mundial da Anderson Robóticas, Três Portlands

Thorne olhava para o prédio com as pálpebras fechadas, olhando com a visão etérea de um Observador. "Eu não estou vendo ele."

Spencer franziu a testa. "Você tem certeza?"

Ela balançou a cabeça. "O Anderson é um mago com M maiúsculo. Ele produzir mais radiação de aspecto do que uma orgia. Eu mal estou vendo um pontinho."

Davis entrou na conversa pelo rádio de sua posição no lado oposto da Prometheus Plaza. "Mesma coisa aqui. Há alguns Azuis no prédio, mas apenas talentos pequenos."

Thorne abriu os olhos e olhou para Spencer. "Então, o que fazemos? Não podemos esperar por ele para sempre, as pessoas vão começar a notar tantos magos de batalha fazendo nada."

Spencer rolou os ombros em um alongamento. "Vamos chutar o ninho de vespas e ver o que sai."

Ele deu um passo à frente e levou um megafone à boca. "Senhor Anderson!"

O som reverberou pelo Plaza, que rapidamente caiu em silêncio. Eles tinham uma audiência agora.

"Aqui é o Agente Especial Kenneth Spencer da Unidade de Incidentes Incomuns," continuou ele, ignorando a multidão crescente. "Eu tenho um mandado de prisão para você por conspiração sediciosa contra os Estados Unidos, e vinte magos de batalha ansiosos para executá-lo. Esta é sua única chance de se render pacificamente. Qualquer resistência será enfrentada com força letal. Se você não sair do edifício dentro de sessenta segundos, enviarei meus magos para arrastá-lo para fora, e eles vão desmontar seus soldados de metal com o tipo de brutalidade metódica com a qual a polícia de Los Angeles só pode sonhar."

Um murmúrio percorreu a multidão. A UIU estava se posicionando contra o Anderson? Os federais estavam finalmente fazendo isso?

"Legal," Sussurrou Thorne. "Belo jeito de parecer o mocinho, Ken."

"Cinquenta segundos!" Spencer gritou. Ele levantou a mão para cobrir a boca do megafone e virou-se para se dirigir a Thorne. "Nós somos os mocinhos. Isso não significa que temos que ser legais."

Ele se virou para o edifício e voltou a falar ao megafone. "Quarenta segundos! Não teste minha paciência, senhor Anderson."

Thorne sacudiu a cabeça. "Ele não está ali."

"Veremos. Trinta segundos!"

As portas do saguão se abriram e uma figura começou a se aproximar, as mãos levantadas sem entusiasmo até um pouco abaixo do nível do ombro. "Qual o motivo disso?"

Spencer estudou o homem. "Senhor Dillard. Se você me disser onde Anderson está agora, não terei que derrubar seu prédio procurando por ele."

O executivo olhou para ele com desprezo. "Por mais que eu adorasse mentir para você, senhor Spencer, eu realmente não faço ideia. Senhor Anderson saiu de repente. Não sei quando ele voltará."

Spencer balançou a cabeça e então falou em seu rádio: "Davis, entre e vasculhe o prédio. Comece pelo escritório dele. Se alguém te der problemas, prenda. Destrua qualquer robô que tentar impedi-la."

Ele olhou de volta para Isaac. "E o senhor Frostman? Cadê ele?"

Isaac Dillard fez uma cara. "Ele e Anderson tiveram uma briga. Não o vejo há quase dois meses."

"Doutora Contos?"

"Nem ela, nem o filho apareceram para trabalhar a semana toda."

Spencer cruzou os braços. "Senhor Dillard, você sabe onde está qualquer um dos executivos de sua empresa atualmente?"

"Claro. Eu e Doutor Wilson estamos aqui hoje."

"E, claro, nenhum de vocês saberia nada sobre os esforços de Anderson para se infiltrar no Congresso dos Estados Unidos com Sakers, não é?"

"Perdão?" Isaac realmente teve a decência de parecer surpreso.

"Foi o que pensava." Spencer virou-se para falar em seu rádio novamente. "Fale comigo, Davis."

"Me dê um segundo. Eles não estão resistindo, mas com certeza também não estão cooperando. Vai demorar um pouco para encontrar o escritório dele sem instruções."

"Robôs não têm direitos civis. Seja criativa."

Isaac gaguejou. "Eles são propriedade da empresa! Vocês não podem—"

"Senhor Dillard, o chefe de sua empresa cometeu traição contra os Estados Unidos. A propriedade de sua empresa são sistemas de armas de nível militar." Spencer estreitou os olhos. "Me dê uma razão pela qual eu não deveria fazer minha equipe destruir todos os seus robôs como dispositivos terroristas."

O empresário cerrou os punhos. "Segundo andar. Canto em direção ao centro. É onde fica o escritório dele."

"Obrigado. Davis, você entendeu?"

"Entendi." Alguns segundos de silêncio se passaram. "Certo, estamos no escritório dele. Examinando os sistemas de computador agora. Estou fazendo o Fintan copiar tudo, mas não sei o quanto isso vai nos ajudar — está tudo criptografado, e aposto que apenas o Anderson tem as senhas."

Spencer olhou para Isaac e levantou uma sobrancelha. "Bem?"

"Ela está certa. Nenhum de nós tinha acesso ao sistema pessoal dele."

"Continue copiando de qualquer maneira, Davis. Talvez os técnicos do laboratório consigam decifrar."

"Entendido. Você quer que a gente pegue os registros gerais da empresa também?"

Ainda mantendo os olhos em Isaac, Spencer disse: "Não. A gente volta com outro mandado para isso. O Anderson é esperto o suficiente para manter esse tipo de coisa fora dos registros da empresa."

"Entendido."

Spencer desligou o rádio e voltou toda sua atenção para Isaac. "Senhor Dillard, se você ver o Anderson, se ele entrar em contato com você, se você descobrir qualquer coisa sobre o paradeiro dele — você é obrigado por lei a denunciar. Se não o fizer, você será considerado um cúmplice. Entendido?"

O outro homem olhou com desprezo. "Eu entendo que não fiz nada de errado, e vocês não têm mais nenhuma razão para estar aqui. Peguem o que vocês vieram pegar do escritório do Anderson, e então saiam do meu prédio. Não voltem sem outro mandado."

Spencer assistiu, silenciosamente fervendo, enquanto o atual executivo de mais alto escalão da Anderson Robóticas ia embora.

"Filho da puta," sussurrou ele.

"Talvez encontremos algo quando revistarmos a casa dele," disse Thorne. "Ainda não acabou."

"Sim, acabou." Spencer se virou e chutou a lata de lixo mais próxima com raiva. "Ele sumiu. Provavelmente nunca mais o veremos. Perdemos."

Thorne concordou com tristeza, desejando que ela pudesse discordar. Mas ela estava começando a perceber como deve ser a sensação de ser Sasha Merlo.


15 de Novembro, 2018
Um Edifício em Chamas em Três Portlands

"É o do Frostman," disse Thorne.

"Merda."

Spencer olhava para os restos queimados do que fora a residência de Albert Frostman, também conhecido como Phineas. Os agentes da UIU chegaram ao local pouco após os golens da polícia e os bombeiros, bem a tempo de obter a confirmação de que Phineas havia sido encontrado morto dentro de sua casa destruída.

"A polícia de Três Portlands tem uma testemunha que diz que viu o Anderson saindo do local logo após o incêndio começar. Parece que o Dillard estava dizendo a verdade sobre os dois terem se desentendido."

"Imagina. Se você sabe que está sendo acusado de traição, por que não adicionar um pequeno criminoso e assassinato?" Spencer sacudiu a cabeça. "Isso está ficando fora de controle."

"Ei, pelo menos sabemos que ele ainda está na cidade."

"Por quanto tempo?" Ele sacudiu a cabeça novamente. "A testemunha viu para onde ele estava indo? Devíamos pelo menos tentar fazer uma rede de arrasto nessa direção, talvez tenhamos sorte."

"Para fora pela Bulevar Ondulante, em direção à Periferia."

Spencer balançou a cabeça. "Certo, vamos começar nossa busca perto—"

Ele foi interrompido pelo barulho do rádio da faixa policial. "Todas as unidades, grande perturbação na Academia Tristan abandonada perto da Bulevar Ondulante e da Rua Chata. Múltiplos relatos de tiros, reação de evocação. Parece um duelo de bruxos. Resposta imediata solicitada."

Thorne e Spencer se entreolharam.

"Anderson," disse Spencer.

"Tem que ser," disse Thorne.

Spencer pegou seu rádio. "Todas as unidades, aqui é o Agente Especial Spencer. A perturbação é provavelmente o suspeito Vincent Anderson. O suspeito é altamente perigoso, não enfrentem sem apoio. Eu e Agente Thorne estamos a caminho. Coloquem a EOOM a caminho o mais rápido possível, com qualquer apoio que a polícia de Três Portlands possa dar a eles. Repito, não enfrentem sem magos de batalha."

Ele parou de transmitir e olhou para Thorne. "Bora pegá-lo."

Thorne não respondeu. Eles já estavam correndo pela Bulevar Ondulante o mais rápido que podiam.


15 de Novembro, 2018
Academia Tristan, Três Portlands

Eles chegaram tarde demais.

Eles o perderam por meros minutos — cápsulas de balas estavam esfriando no chão, e a reação residual ainda estava crepitando no ar — mas eles ainda o haviam perdido.

Thorne percorria o edifício metodicamente, absorvendo automaticamente a cena do crime com os movimentos desapegados de um hábito bem praticado. A escola decrépita havia sido palco de violência séria, e muita, mas seja lá quem fosse o responsável havia tomado medidas para destruir as provas úteis — e eles foram minuciosos e eficazes, apesar da pressa óbvia.

Sangue tinha se acumulado e espalhado por múltiplas superfícies, mas ele tinha todo sido seco rapidamente por aplicação rápida de calor extremo, destruindo tanto os marcadores de DNA quanto as ligações de contágio que ele poderia ter produzido. Cartuchos de espingarda vazios e cartuchos de pistola gastos estavam espalhados pelo chão, ainda fedendo a cordite, mas havia tantos deles que ficou claro que alguém havia despejado vários sacos de balas pré-disparadas coletadas em outro lugar para frustrar qualquer análise balística.

Claro, essa era apenas a evidência imediatamente óbvia disponível a partir de uma análise superficial. Era possível — talvez até provável, considerando a janela de tempo — que uma análise forense mais completa revelasse algo que os faxineiros haviam esquecido. Mas Thorne duvidava. Quem quer que esteve aqui e fez isso, eles eram claramente profissionais.

Jesse Davis assobiou apreciativamente. "Caralho. Parece que o Andy realmente irritou alguém."

"Sim, mas quem?" Spencer pegou umas das cápsulas de latão e a pesou com a mão enluvada. "E quem ganhou?"

"Luta interna por poder? Talvez o Frostman tenha feito uma tentativa hostil de tomada?"

"E o quê, o Anderson o derruba com força e depois vem aqui? Por quê?"

"Sakers leais ao Frostman? Eles são perigosos o suficiente para causar esse tanto de dano."

Spencer se agachou ao lado de uma poça de sangue seco, e então sacudiu a cabeça. "Sangue demais para Sakers. E acho que o Anderson teria uma porta traseira para lidar com seus próprios robôs."

"Mercenários humanos então? Protótipos de drones de combate que o Frostman desenvolveu em segredo?" Davis balançou a mão acima de uma linha de sangue cozida na parede. "Talvez o sangue seja uma planta também, como as balas."

Thorne ouvia apenas parcialmente os outros agentes enquanto eles entravam no auditório, a atenção capturada pelos tênues restos de um círculo de giz desenhado no palco. Ela subiu na plataforma e então deu alguns passos para trás para estudar a coisa toda.

A geometria do ritual era elaborada, mais elaborada do que qualquer coisa que Thorne já vira fora de pesquisa teórica. Ela também era idiossincrática — havia claras influências e elementos de taumatologia acadêmica, e eles podiam até decifrar parte do simbolismo, mas a maior parte estava claramente na gramática pessoal de um taumaturgo específico. Um taumaturgo muito experiente que havia estudado claramente uma grande multiplicidade de escolas esotéricas do ocultismo.

Ela fechou os olhos para Observar. Qualquer que tenha sido a operação feita, ainda havia reação refletindo pela área — reação significativa, do tipo que causava rachaduras perceptíveis na realidade, não a microrreação residual que poderia durar meses após a abertura de uma Via.

Thorne mal observava há um minuto antes de ver um clarão de EVE que fez com que um modelo em escala 1:24 de um Citroën amarelo se materializasse no palco a poucos metros de distância. Isso tinha que ser pelo menos alguns quilocaspers, provavelmente mais. Isso sugeria que o ritual envolvera uma quantidade impressionante de poder. Ou que quem quer que tenha feito ele não entendia totalmente a geometria envolvida e não foi capaz de controlar toda a reação.

"Você consegue reconstruir as reflexões?" Thorne sussurrou para o familiar empoleirado em seu ombro.

A ilusão de um pássaro piou uma afirmativa.

"Boa. Eu quero saber como foi a cara do clarão de radiação de aspecto inicial. Isso talvez nos diga algo."

Crowe piou curiosamente. Thorne queria uma projeção mental da operação reconstruída?

Ela balançou a cabeça. "Sim, visualize ela. Na verdade, combine nossas Observações, para que tenhamos ela em estéreo. Dois ângulos podem nos dar mais para trabalhar."

O familiar piou novamente, e então voou até as vigas para obter um ângulo de visão diferente.

Eles então esperaram pelo próximo clarão de reação.

Ele veiou, cinquenta e seis segundos depois. Thorne o viu por um breve momento, e então seus sentidos se apagaram — até mesmo o sentido oculto da Observação. Houve a sensação de um dedo gelado descendo por sua espinha, o som penetrante de um apito de trem, e então ela estava observando a reconstrução taúmica de Crowe da cena, apresentada diretamente dentro de sua cabeça.

Thorne podia ver os contornos tênues da sala física, traçados por interações com a aura de fundo. E então, a mais recente explosão de reação apareceu, lançando tudo em um nítido relevo e destacando duas manchas de azul brilhante — a aura de Thorne e a de Crowe, reconstruídas a partir da impressão deixada na aura de fundo. A sala começou a apagar novamente enquanto Crowe tentava a fazer retroceder, apenas para ela ser iluminada novamente pela próxima onda de reação.

Crowe continuava trabalhando para trás, usando cada explosão de reação para reconstruir a anterior e, a partir disso, decodificar o estado instantâneo da sala naquele momento. Os cálculos das reflexões eram precisos apenas como uma ordem mais baixa de aproximação, e a resolução da reconstrução ficava mais confusa à medida que o familiar retrocedia, mas seria boa o suficiente para dizer quantas pessoas estavam na sala quando a operação foi acionada. Ela pode até dar a Thorne uma imagem clara o suficiente de suas auras para identificá-las mais tarde.

Depois de três minutos — três minutos de contato direto com a mente alienígena do familiar, que estava produzindo uma dor de cabeça que piorava rapidamente — Crowe finalmente reconstruiu o clarão inicial de EVE e, com ele, uma imagem etérea da sala no momento preciso de seja lá qual incidente ocorrera.

Havia três pessoas no palco, duas delas Tipo Azuis. A aura mais brilhante era claramente a de Anderson, que seria reconhecível pela magnitude sozinha. Ela estava cravejada com as listras de raiva mais vibrantes que Thorne já vira em uma aura, tão potentes que ela quase deu um passo para trás, embora a cena estivesse inteiramente em sua mente.

O segundo bruxo tinha uma aura mais fraca, embora ainda fosse bastante brilhante — o suficiente para que Thorne estivesse disposto a classificá-lo como um mago de batalha, embora mais fraco. Havia profundos poços de dor na aura, cobertos por uma gélida sensação de determinação. Quem quer que fosse, ele estava lançando uma das operações mais complexas que Thorne já vira sob um estresse incrível. Ela não conseguia deixar de sentir certa admiração pelo bruxo desconhecido que enfrentou Anderson.

A terceira aura pertencia à Sasha Merlo.

"Robin!"

Thorne abriu os olhos, dissipando a visualização de Crowe. Spencer estava olhando para ela com preocupação.

"Você está bem? Você tinha apagado por completo."

Ela balançou a cabeça, estremecendo levemente quando o movimento agravou sua dor de cabeça. "Sim. Sim. Só estava fazendo um pouco de magia matemática."

"Você conseguiu algo dela?"

Thorne olhou para o local onde Merlo estivera.

Ela sacudiu a cabeça. "Não. Nada útil. É outro beco sem saída."


19 de Novembro, 2018
Lado de Fora do Sítio-64, Oregon

A Agente Sasha Merlo realmente deveria estar prestando mais atenção. A localização do Sítio-64 era confidencial, mas isso não significa que não fosse conhecida por seus inimigos — tanto pessoais quanto profissionais. O próprio Anderson já havia até mesmo violado o Sítio uma vez — embora ele fosse ter dificuldade em fazê-lo novamente, agora que estava dentro de uma de suas celas. A derrota e captura de seu inimigo, depois de todos esses anos, a deixou confiante demais. Então, pela primeira — e última — vez em anos, Sasha Merlo caminhou pela trilha da floresta que ligava a entrada escondida do Sítio ao estacionamento da superfície sem olhar por cima do ombro.

Naturalmente, essa foi a noite que alguém escolheu para emboscá-la.

Merlo estava a talvez uns cem metros de seu carro, bem no meio da brecha de cobertura entre os monitores de segurança do Sítio e as câmeras no estacionamento, quando a figura saiu das sombras na frente dela.

"Sasha. Precisamos conversar."

A mão de Merlo já havia caído em sua arma e ela estava na metade do processo de sacá-la antes de reconhecer a voz. Colocando a arma no coldre novamente o mais indiferentemente possível, ela se aproximou para olhar para a agente federal.

"Thorne? O que você está fazendo aqui?"

Thorne a encarou, o rosto não transmitindo nenhuma emoção. "Me diga que você pelo menos o pegou."

"O que?"

"O Anderson. Ou você quer tentar me dar alguma besteira para explicar por que ele estava tendo um duelo de bruxos com Daniel Navarro na Academia Tristan?"

A mente de Merlo disparou. Será que eles se esqueceram de alguma evidência em sua pressa de evacuar com seu prêmio? Se a UIU descobrisse que eles violaram o Mandato de Hoover, e de forma tão descarada, não havia como dizer como o governo americano reagiria — poderia haver um destacamento da EOOM atacando o Sítio-64 naquele momento para levar o Anderson sob custódia e prender a equipe sênior.

"Quem mais sabe?"

A mão de Thorne correu para dentro de seu paletó, pegando uma arma, e os feitiços defensivos em seus pulsos começaram a brilhar levemente. "Nem pense nisso."

Ela deu um passo para trás. "O queMeu deus, Thorne, não é isso sou eu. Não vou tentar te silenciar. Em primeiro lugar, não tenho ninguém para ajudar a enterrar o corpo." Ela riu, nervosa e sem entusiasmo, mas a feiticeira federal nem sequer esboçou um sorriso para sua tentativa de leviandade.

"Só me diga que vocês pegaram ele," disse Thorne. Sua mão não tinha deixado o paletó.

Merlo balançou a cabeça, a inquietação crescendo. "Nós pegamos ele."

"O que custou?"

"Demais. Perdemos muita gente. Navarro perdeu uma mão. A Shaw não vai voltar a andar." Ela suspirou e olhou para baixo. "Não me pergunte se valeu a pena."

Thorne já estava sacudindo a cabeça. "Isso te custou mais do que isso, Merlo. A gente tinha pego ele — eu tinha o mandado de prisão nas minhas mãos. Nós o perdemos por uma questão de horas — horas que não teríamos perdido se você e Holman não nos tivessem feito dar voltar. Com a prisão dele, poderíamos fechar a empresa inteira. Em vez disso, o conselho assumiu o controle, não temos o suficiente para implicar nenhum deles e estamos de volta à estaca zero. Além de um monte de assassinatos e incêndios criminosos que provavelmente poderiam ter sido evitados."

Ela deu um passo para trás e abriu os braços, gesticulando para o mundo em geral. Quando ela falou novamente, havia um verdadeiro veneno em sua voz: "Mas ei, pelo menos você pegou ele. A grande Sasha Merlo finalmente conseguiu sua baleia-branca, sozinha, e isso é tudo que importa, né?"

Merlo se encolheu, surpresa com a raiva de Thorne. A repreensão, vinda dela, parecia um tapa na cara. "Que diabos é o seu problema?"

"Você!" Thorne apontou diretamente para ela e deu um passo à frente até o dedo estar a apenas um mero centímetro do rosto de Merlo.

"Você mentiu para mim, você me manipulou. Você invocou o nome da minha falecida mãe para me fazer te ajudar com sua vingança pessoal! O Spencer me avisou para não confiar em você, mas eu continuei me arriscando por você, continuei tentando defendê-la. Eu quebrei a lei. Eu menti para o meu parceiro. Eu pulei da porra de um prédio por você! E então você vai por trás das minhas costas só para conseguir uma vitória pírrica."

"Eu não— não foi isso—"

"Valeu a pena?"

"Thorne—"

"Valeu a pena, Sasha?"

"Eu não sei." Ela respirou fundo e, quando voltou a falar, sua voz endureceu como aço. "Mas eu sei que Vincent Anderson é um dos homens mais perigosos do planeta, um gênio sociopata que não dá a mínima para as leis do homem ou da natureza, que não pode andar livre. Pelo amor de deus, ele tentou assumir o governo dos EUA com robôs!"

Ela deu um passo à frente, se deixando de igual para igual com a agente federal. "Então não me venha com essa besteira hipócrita, você é inteligente demais para isso. Você sabe que ele tinha que ser parado, por qualquer meio, ou então você não teria me ajudado antes. Sinto muito se eu atrapalhei sua operação, mas sua Unidade passou a maior parte da última década fazendo o mesmo comigo — você consegue honestamente me dizer que não teria feito o que eu fiz se estivesse no meu lugar?

Ela olhou para Thorne desafiadoramente, desafiando-a a negar isso.

Thorne olhou para ela nos olhos. "Bem. Acho que é isso então."

"Acho que é."

Thorne se virou, olhando para as sombras da floresta que os cercava. "Vou dizer ao Spencer que vocês capturaram o Anderson enquanto ele tentava fugir de Três Portlands, depois de uma batalha com Albert Frostman pelo controle da empresa. Isso nos permitirá fechar o caso."

"Obrigada."

Thorne sacudiu a cabeça. "Eu não estou fazendo isso por você. Depois disso, terminamos — eu não vou cobrir por você de novo. Se nós pegarmos vocês operando em Três Portlands, eu mesmo vou prender você."

"Você não vai."

Ela olhou para Merlo. "Isso é uma promessa?"

Ela abriu a boca para responder, então sacudiu a cabeça. "Eu gostaria de poder dizer que sinto muito."

"É. Eu também." Thorne saiu da trilha e parou. Sem olhar para trás, ela disse um último adeus:

"Até mais, Skipper."

E então Sasha Merlo estava sozinha.

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