Protocolo de Exposição Familiar: Revisão 90
Resumo: Humanos, por nossa própria natureza, são criaturas sociais. Nós nos reunimos, encontramos parceiros e formamos famílias. Isso não é menos verdadeiro para os membros da Fundação do que para qualquer outro grupo. Infelizmente, devido à natureza do nosso trabalho, tais relacionamentos criam o potencial para grandes brechas de segurança e, em vários casos, exigiram o uso de amnésticos. Ao conceder aos entes queridos de funcionários específicos da Fundação uma classe especial de autorização de Nível 0, não só se diminui o que poderia ser considerado uma brecha de segurança em potencial, mas também se reduz o uso de amnésticos e, em muitos casos, ajuda a aliviar o estresse físico/sobrecarga mental que o engano constante de entes queridos apresenta sobre funcionários da Fundação…
"Mas, no final das contas, Ed não era só um bom amigo. Ele era uma boa pessoa. Gentil, compassivo e atencioso, ele derramava seu coração e alma não apenas em seu próprio trabalho, mas também em ajudar aqueles com quem trabalhava."
A Diretora de Sítio Sasha Merlo olhava ao redor da multidão para todos os rostos perdidos em pensamentos enquanto ela falava. Ela estava sob um guarda-chuva na chuva de primavera, como parte de um semicírculo de cerca de quatorze homens e mulheres vestidos formalmente que se reuniram no Forrest Park de Portland. No centro do semicírculo estava uma urna de metal simples, dentro da qual estavam os restos mortais do antigo Diretor de Sítio do Sítio-64 da Fundação SCP, Edgar Holman.
Sasha reconhecia a maioria dos rostos ali. Havia o filho e a nora de Edgar: Ted e Karen, seus netos, o Pesquisador Jacob Conwell e sua esposa, Diretora Assistente Clarissa Shaw, um pequeno conjunto de outros Diretores de Sítio antigos e atuais e um representante da filial local da Unidade de Incidentes Incomuns. Ela sempre imaginou que o funeral de Holman seria muito mais grandioso, mas no final, viver uma vida nas sombras tornava seus amigos poucos e distantes entre si.
"Vou sentir sua falta, Ed," Sasha finalmente terminou, lágrimas se formando em seus olhos. "Eu realmente vou."
Ela sentiu seu marido, Gabe, colocar a mão em seu ombro enquanto ela enxugava os olhos e olhou para o filho de Holman com um balançar de cabeça. Todos os outros já haviam dito o que queriam dizer. Ted balançou com a cabeça em resposta e gentilmente pegou a urna e a levou para um buraco pré-cavado. Sem fazer barulho, ele depositou as cinzas de seu pai dentro e plantou uma muda por cima.
Edgar Holman foi colocado para descansar.
A ativação deste protocolo requer o cumprimento dos seguintes critérios:
* Aprovação do Comando do Sítio.
* Aprovação do Representante do Comitê de Ética do Sítio.
* O Funcionário possui, no mínimo, uma Autorização de Nível 2 ou Superior.
* O Funcionário não está servindo ativamente em uma Força-Tarefa Móvel ou projeto semelhante.
* O Funcionário não está atuando ativamente em um projeto que apresente uma anomalia que possua um risco-cognitivo, ou risco memético ou biológico de BSL-3 ou superior.
* O Funcionário foi aprovado nas duas últimas Avaliações Rotineiras de Saúde Mental.
* O Sujeito tem no mínimo 18 anos de idade.Com a aprovação do Comitê de Ética, Diretores de Sítio podem incluir requisitos adicionais para a ativação do protocolo. Sujeitos que sejam ativados por funcionários que atendam a esses requisitos no momento da ativação, mas posteriormente se tornem inelegíveis, por meio de mudança de designação ou outro, não sofrem o risco de revogação de seu status ativo…
"Nunca sei o que dizer dessas coisas," Gabe Merlo murmurava para Sasha enquanto eles compareciam à recepção do funeral.
"Talvez seja melhor assim," respondeu Sasha. "Você não precisa exatamente de uma borboleta social para essas coisas."
Os vários participantes estavam em pequenos grupos, falando em voz baixa entre si. Ocasionalmente, uma pequena risada melancólica se elevava acima do baixo clamor antes de desaparecer tão repentinamente quanto havia surgido.
"Foi um belo discurso o que você fez," continuou Gabe. "É apropriado que você dê a última palavra sobre o Ed."
"O Ed provavelmente teria achado que foi muito sentimental." Sasha sorriu suavemente. "Mas ei, não se pode escolher como as pessoas te elogiam no seu funeral."
"Tenho certeza que meu pai teria adorado."
Sasha se virou para ver Ted Holman parado atrás dela, tendo feito as rondas dos outros grupos antes de parar ali.
"Eu sei que adorei," Ted continuou, parando para dar uma risada triste e cansada.
"Sinto muito pela sua perda," Sasha deu-lhe um abraço. "Eu quis dizer cada palavra. Seu pai foi um dos melhores homens que já tive o prazer de conhecer."
"Obrigado," respondeu Ted. "Significa muito ouvir tantas pessoas dizerem isso."
"Claro." Sasha encerrou o abraço e olhou para Karen Holman enquanto ela e os netos de Edgar falavam com outro convidado. "Você tem uma família linda, a propósito; quais são os nomes dos seus filhos?"
"Arthur e Laura," disse Ted com um sorriso. "Gêmeos. Ambos vão para a faculdade no outono."
"Temos uma filha chegando nessa idade," comentou Gabe. "As coisas realmente acontecem rápido, não é?"
"Num piscar de olhos," riu Ted. "É uma pena, porque eles acabaram de chegar ao ponto em que não se importam em sair comigo novamente."
"Falando em filhas, onde está Linda?" perguntou Sasha.
O sorriso de Ted desapareceu.
"Minha irmã e meu pai tiveram uma grande briga quando minha mãe faleceu," explicou ele. "Ela sempre o viu como alguém que colocava o trabalho em primeiro lugar, mesmo quando sua esposa estava no hospício. Ele tentou alcançá-la, mas sem resultados. Gostaria que ela tivesse vindo hoje e ouvido tudo o que vocês disseram sobre ele. Talvez… eu não sei, talvez ela finalmente parasse de ser tão amarga."
"Eu não queria abrir velhas feridas." Sasha franziu a testa. "Sinto muito."
"Tudo bem," disse Ted com um sorriso triste. "Não é culpa sua. Você não sabia."
Ted suspirou e olhou para os outros convidados.
"Melhor eu ir. Obrigado novamente pelas palavras amáveis."
"A qualquer hora," disse Sasha, olhando pensativamente para o chão enquanto Ted ia embora.
Sua mente começou a vagar para sua própria filha, Jessie.
Em nenhum momento funcionários devem se sentir pressionados a ativar um ente querido caso sinta que os benefícios de manter o Protocolo Máscara superem os benefícios da ativação. No caso de uma disputa entre múltiplas partes sobre a possibilidade de ativar um ente querido, a manutenção do Protocolo Máscara tem precedência…
Dois dias depois, Sasha Merlo se via no sofá da sala de estar de seu apartamento, cabelo preso para trás e óculos na cabeça, digitando em seu laptop. Na cadeira ao lado dela estava sentado um jovem de cara desconfortável que Jessie havia apresentado a eles como Desmond. Ocasionalmente, Merlo olhava para ele de soslaio e sorria para si mesma quando ele evitava desajeitadamente seu olhar.
"Estaremos de volta antes da hora de voltar," Jessie Merlo dizia enquanto entrava no outro cômodo, vestindo jeans justos e uma flanela. Como sua mãe, seu cabelo castanho também estava preso para trás.
"Se divirta," respondeu Sasha enquanto observava Desmond correr casualmente para a porta. "Não façam nada que eu não faria."
"É, não," Gabe gritou da cozinha. "Não façam nada que eu não faria."
"Podemos," Jessie disse enquanto revirava os olhos e partia com Desmond logo atrás.
"Aquele garoto está muuuuito intimidado por nós," disse Sasha em voz alta enquanto voltava a digitar em seu computador.
"Eu meio que gostei dele, na verdade," Gabe disse com uma risada, emergindo da cozinha com duas tigelas de refogado. "Parece um garoto decente."
"Veremos…" Sasha guardou seu laptop e aceitou uma tigela com um sorriso. Os dois começaram a comer em silêncio por alguns momentos antes dela soltar: "Eu quero ativar o Protocolo EF90 para a Jessie."
Gabe parou no meio da mordida.
"Você… o quê… por quê?"
"Só… vendo o que aconteceu com Holman e sua filha," Sasha começou, "não consigo aguentar a ideia de que isso aconteça a você ou a mim. Além disso… como Diretora de Sítio, basicamente tenho um alvo na minha cabeça, e para o bem ou para o mal, você e Jessie também têm por associação. De uma forma ou de outra, nosso mundo vai pegá-la. É melhor escolher a opção que requer menos amnésticos. Ela mais do que se qualifica para a autorização."
Gabe suspirou.
"Você não acha que isso é um pouco reacionário?" perguntou ele. "É um clichê dizer isso, mas você sabe com certeza que a ignorância é uma bênção aqui."
"Nós dois concordamos quando nos casamos," Sasha respondeu, "que se tivéssemos filhos, e se qualquer um de nós quisesse ativar o EF90, ativaríamos. Estou fazendo essa jogada. Se algo acontecesse comigo, ou com você, você não gostaria que a Jessie soubesse os sacrifícios que fizemos?"
Gabe balançou a cabeça.
"Claro," ele concordou, "Eu só… eu não quero trazer alguém para o nosso lado da Máscara de forma imprudente. Muito menos nossa filha."
Ele então suspirou.
"Você não nos orientou mal com essas decisões antes… então eu confio em você, mas por favor, antes de seguirmos adiante, você pode pelo menos falar com outras pessoas que ativaram o EF90?"
Sasha balançou a cabeça com um sorriso tímido.
"Eu conheço algumas pessoas…"
Funcionários devem concluir as seguintes etapas antes da conclusão da ativação:
1) Um roteiro para a ativação deve ser preenchido pelo Funcionário.
2) O roteiro de ativação deve ser enviado ao Comando do Sítio para aprovação.
3) Após a aprovação do Comando do Sítio, o roteiro de ativação deve ser enviado ao contato do Comitê de Ética do Sítio.
4) Com a aprovação do contato do Comitê de Ética do Sítio, um requerimento de amnésticos Classe A deve ser adquirido e um curso de treinamento sobre seu uso adequado deve ser concluído.
5) O Funcionário deve ativar o Sujeito de acordo com o roteiro de ativação.
6) Imediatamente após a ativação, um representante do Comitê de Ética deverá fornecer a Orientação EF90, explicando os direitos e restrições da autorização Nível 0.
7) Uma semana após a conclusão da Orientação, o Sujeito ativado será submetido a um exame de saúde mental. Se o Sujeito passar na triagem, a ativação será considerada concluída até que uma renovação seja necessária. No caso de um Sujeito falhar nesta triagem, amnésticos Classe A devem ser usados, de acordo com os procedimentos de Redefinição do protocolo…
Siga minha luz
Siga meu comando
Nunca me escute
Nunca me escute
Caia ao meu lado
Eu só precisava ver
Nunca me escute
Nunca me escute
O som da música atravessava a porta do escritório quando a Diretora de Sítio Sasha Merlo enfiou a cabeça no Escritório do Investigador Principal do Laboratório de Materiais Anômalos do Sítio-64. Lá, um homem desengonçado com cabelo loiro bagunçado digitiva em seu teclado, cantarolando junto com a melodia. Sasha o observou por alguns momentos antes de limpar a garganta. O homem deu um salto, percebendo que estava sendo observado, e rapidamente desligou o iPod próximo.
"Diretora Merlo," disse ele, levantando-se da cadeira. "Desculpe por isso, não vi você entrar. Se você está aqui para ver os resultados dos feromônios do 2849, vou precisar de mais alguns dias para…"
"Conwell," Sasha ergueu a mão enquanto falava. "Não estou aqui para nada disso, relaxe. Você sempre cumpre seus prazos."
Conwell balançou a cabeça e deu um suspiro relaxado.
"Ah… bem, então, uh, por que você está aqui? Sem ofensa, mas não vemos muitas pessoas dos escritórios administrativos neste subnível."
Sasha não respondeu. Em vez disso, ela entrou no escritório e se aproximou da mesa, pegando uma foto emoldurada de sua superfície. A imagem era de Conwell no que parecia ser uma viagem de mochileiro. Ao lado dele estava uma mulher baixa com longos cabelos ruivos, com um braço em volta de sua cintura. Um adolescente vestido todo de preto, apesar do que parecia ser um clima quente, estava entre eles, ao seu lado estava uma garota pré-adolescente vestida com uma excêntrica coleção de cores brilhantes.
"Como estão Kate e as crianças?" Sasha eventualmente perguntou, colocando a moldura de volta com um sorriso.
"Não posso reclamar," respondeu Conwell, levantando uma sobrancelha. "O Zach está passando por uma fase meio melancólica. A Carrie… não. Mesmo assim, eles são boas crianças… mas não é por isso que você está aqui. Sério, o que foi?"
"Estou planejando ativar a Jessie," Sasha disse com um suspiro. "Eu sei que você fez o mesmo com a Kate, então eu queria te perguntar sobre isso."
"Você vai desmascarar sua filha?" Conwell sacudiu a cabeça. "Por que?"
"Por que você desmascarou a Kate?"
"Porque eu não aguentava mentir diariamente para alguém que só me diz a verdade. Além disso, como esposa do Investigador Principal de um laboratório importante da Fundação, Kate se qualificava para a autorização. E você?"
"Porque, se alguma coisa acontecer comigo e o Gabe, quero que a Jessie ao menos saiba que nós não simplesmente a abandonamos. Eu não quero que ela termine como a filha do Holman."
Conwell balançou a cabeça em compreensão, ele gesticulou para uma cadeira sobressalente na frente de sua mesa e voltou para seu assento.
"Você já perguntou a alguém sobre isso antes de mim?"
"Liguei pro Ralph do 77, e também para algumas outras pessoas daqui do sítio."
"Então você deve saber que a coisa não é simples," suspirou Conwell. "Muitas pessoas não aceitam bem serem desmascaradas. Falei com a Kate logo depois de voltar da licença em que o Holman me enviou. Ao saber que eu tinha mentido para ela essencialmente nos primeiros sete anos de nosso casamento, ela me deu um soco no rosto, quebrou meu nariz, pegou as crianças e foi embora. Não a vi de novo por quatro dias. Achei que precisaria de amnésticos. Eventualmente, no entanto, ela ligou e nos encontramos em um café, e as coisas foram lentamente remendadas de lá."
Conwell fez uma pausa para uma risada melancólica.
"Trazer as pessoas para este lado da Máscara muda a forma como elas veem o mundo e como elas veem você, para melhor ou para pior. Se o seu plano é aliviar estresse para você e seu marido, isso não vai acontecer. Certamente não vai aliviar estresse para sua filha. Tem um motivo para eles não permitirem que agentes de FTM ativos tenham o EF90 como opção. Tudo o que isso vai fazer é colocar todos vocês no mesmo barco. Mas ei, às vezes isso é exatamente o que você precisa."
"Você se arrepende de fazer isso?" perguntou Sasha. Conwell respondeu sorrindo e sacudindo a cabeça.
"Nem por um segundo."
Ao contrário de funcionários Nível 0 típicos empregados pela Fundação, que normalmente preenchem cargos de escritório, zeladoria, manutenção, assistência médica e administração pequenos dentro de Sítios da Fundação, os direitos e privilégios de funcionários de Nível 0 criados por meio deste protocolo são muito mais restritivos. Aqueles ativados por meio deste protocolo:
* Tem um conhecimento básico do que a Fundação é e faz.
* Tem conhecimento quanto ao cargo do Funcionário que os ativou na Fundação.Revelação adicional além deste nível geralmente não é necessária nem desejada…
Todos os sítios da Fundação contavam com um contato residente do Comitê de Ética. O Sítio-64 não era exceção e, como tal, Sasha se viu no consultório de Dr.ª Lily Campbell, uma mulher pálida com óculos grossos e cabelo loiro curto e encaracolado.
"Bem… esta é certamente uma maneira de derrubar a Máscara," Campbell riu enquanto olhava para a papelada EF90 de Sasha. Uma assinatura do Comitê de Ética era tudo o que restava antes que ela e Gabe pudessem colocar em prática seu plano. "Presumo que você tenha lido todos os materiais necessários?"
"Claro."
"Então você sabe que, uma vez que começarmos isso, não há como voltar atrás ou parar na metade do caminho. No final, sua filha será tecnicamente considerada um funcionário da Nível 0 e estará sujeita a todas as restrições do cargo, ou estará sujeita a amnésticos," Campbell falava. "Você está basicamente no ponto sem volta."
"Entendo."
"Muito bem," Campbell assinou o formulário, deslizando-o de volta com um sorriso. "Boa sorte, Diretora. Me avise quando você planeja ativar. Depois que você terminar, eu ou outro representante do Comitê de Ética precisaremos fazer nosso lengalenga."
"Amanhã," respondeu Sasha. "Por volta das 6 horas. O que, uh, o que exatamente é o lengalenga do Comitê de Ética aqui?"
"Nada divertido, garanto a você," suspirou Campbell. "Vamos explicar por que a Máscara existe em primeiro lugar e as consequências de quebrá-la. Nada deixa as pessoas mais animadas sobre um mundo de horrores sobrenaturais e magia horripilante do que honestidade brutal, o que me lembra…"
Dr.ª Campbell digitou algo rapidamente em seu computador. Alguns momentos depois, a impressora próxima disparou um formulário que ela começou a assinar.
"Requerimento para spray amnéstico Classe A padrão," explicou Campbell. "Você vai precisar disso no caso de dar merda, como tenho certeza que você sabe."
Sasha balançou a cabeça e recolheu o formulário, examinando-o antes de dar um suspiro.
"Bem, aqui vai nada."
"Como eu disse antes," Campbell sorriu. "Boa sorte, Diretora."
Devido à natureza as vezes imprevisível dos civis após a exposição da Máscara de um ente querido, protocolos de 'Redefinição' foram estabelecidos para aqueles considerados inadequados para autorização de Nível 0 após a exposição, ou aqueles que desejam sair por sua própria vontade.
A ativação automática dos Protocolos de Redefinição deve ocorrer durante qualquer uma das seguintes situações:
* Sujeito não passar na avaliação de saúde mental após a conclusão da ativação.
* Sujeito não passar em uma avaliação de saúde mental de renovação e em uma triagem de acompanhamento.Os Protocolos de Redefinição também podem ser usados por solicitação do sujeito durante a ativação, caso o mesmo deseje deixar a autorização. O funcionário que os ativou não pode interferir neste processo…
O dia seguinte chegou e demorou, as horas antes da ativação do EF90 se arrastando em um ritmo glacial. Por fim, porém, a noite chegou e os Merlos sentaram-se para jantar como fariam em qualquer outra noite que não exigisse que Sasha permanecesse no Sítio-64. Foi no meio da refeição que alguém bateu na porta. Sasha e Gabe se entreolharam, a primeira dando um aceno confiante com a cabeça. Era hora do show.
"Eu atendo," disse Gabe, levantando-se e saindo da cozinha em um ritmo acelerado.
"Estamos esperando alguém?" perguntou Jessie, vendo seu pai sair e erguendo uma sobrancelha.
"Vários alguéns," Sasha respondeu com um sorriso.
"… quem?"
"Você vai ter que ver."
Jessie olhou com curiosidade para a porta da frente. Uma série de quatro vozes baixas podia ser ouvida na entrada. Alguns momentos depois, Gabe voltou. Atrás dele estava alguém que Jessie já conhecia: um cavalheiro mal vestido e esguio cujo rosto estava coberto de uma barba por fazer chamado Daniel Navarro, ou tio Dan, como Jessie o chamava de infância. Ele deu a ela um pequeno sorriso enquanto se sentava ao lado dela.
"E eu achando que precisava de um problema com drogas antes da intervenção acontecer," Jessie brincou enquanto olhava para o amigo de seus pais. "O que, uh, o que está acontecendo?"
Todos os olhos se voltaram para Sasha.
"Bem, Jess," começou ela. "Tem algo que seu pai e eu vamos contar a você."
Sasha então puxou seu cartão de identificação da Fundação e o colocou sobre a mesa. Gabe e Daniel fizeram o mesmo, o logotipo familiar da Fundação abaixo do laminado como uma marca.
"Acontece que," Gabe continuou de onde Sasha parou, "podemos não ter contado toda a verdade sobre o que fazíamos na vida nestes últimos 18 anos."
Jessie olhou para os vários distintivos com curiosidade, a testa franzida ao ver os vários títulos.
Agente Especial, Autorização de Nível 3
Contador-Chefe, Autorização de Nível 2
Diretora de Sítio, Autorização de Nível 4
"Todos nós," Sasha continuou, "eu, seu pai e Dan, todos nós trabalhamos para uma organização feita para conter e estudar fenômenos que existem fora do alcance da compreensão científica moderna, ou como os chamamos, anomalias. Pense 'O Segredo da Cabana', mas em vez de usar os monstros para cometer sacrifícios ritualísticos de estudantes universitários a um deus das trevas, nós os contemos para manter as pessoas seguras e buscamos entendê-los em um nível científico."
Jessie examinou o distintivo da mãe por um tempo, absorvendo as palavras antes de finalmente jogá-lo na superfície.
"Então, o quê, vocês são o Arquivo X?" Jessie deu uma risada. "Fox e Dana merlo? Aprecio o quão elaborada é essa piada, mas não entendo qual seria a frase de efeito."
Daniel sufocou uma risada com esse comentário. Gabe e Sasha suspiraram.
"Isso não é uma piada, Jess," Daniel se intrometeu. "Por mais difícil que seja de acreditar, essa merda é tão real quanto pode parecer."
"Certo, vamos dizer que vocês estejam dizendo a verdade," Jessie revirou os olhos. "Por que me contar? Por que agora?"
"Porque você tem 18 anos e finalmente podemos," Gabe suspirou.
"Com seus pais na posição que estão, eventualmente isso tudo chegaria a você," Sasha adicionou. "Acredite ou não, eu sou meio que um mandachuva para a nossa organização, como minha filha, isso faz de você uma pessoa de interesse. Se algo acontecer conosco, gostaríamos que você conhecesse a realidade das coisas. O tipo de mundo em que realmente vivemos, para que você esteja pronta. Pessoas que vivem em bases militares sabem que sua família faz parte do exército. Mesmo conceito."
Jessie encolheu os ombros.
"Não sei o que dizer a vocês. Desculpe. Não acredito em vocês. A piada não tem graça."
"Trouxemos provas," disse Gabe. "Você quer ver?"
"Eu.. certo…." Jessie suspirou. "Me mostrem o que vocês têm."
Gabe tirou uma moeda do bolso, mostrando os dois lados para Jessie e deslizando-a para ela.
"Vá em frente e jogue a moeda no ar, não sei… dez vezes?" ele instruiu.
Jossie obedeceu. Sua expressão mudando de irritada para perplexa conforme a moeda dava cara cada vez.
"Sempre cai em cara," Gabe comentou. "Para sempre e sempre."
"Então vocês tem uma moeda falsa…" Jessie sacudiu a cabeça. "Isso não é exatamente muita prova."
Sasha respondeu entregando a Jessie um relógio de bolso.
"Experimente isso aqui," disse ela com um sorriso. "Observe que está seis minutos atrasado. Vá em frente e tente ajustá-lo."
Novamente, Jessie fez o que lhe mandaram, dando corda no relógio, apenas para descobrir que ele continuava marcando seis minutos atrasado. Sasha gesticulou para que ela o colocasse na mesa.
"Agora vamos esperar…"
Seis minutos depois, o relógio se ajustou por conta própria. Jessie olhou para o relógio em estado de choque.
"Ele está preso seis minutos no passado," explicou Sasha. "Legal, certo?"
Jessie sacudiu a cabeça.
"Ou só está quebrado…"
Antes que Jessie pudesse terminar, Daniel puxou uma pequena lâmina de barbear do bolso da jaqueta e passou ao longo da palma da mão direita, uma pequena chama azul aparecendo enquanto ele olhava para ela com um sorriso sorrateiro. Ele começou a mexer o fogo mágico entre os dedos antes de permitir que se dissipasse com um estalo monótono. A boca de Jessie caiu aberta de espanto.
"Eu queria fazer isso há muito tempo," explicou Daniel, enquanto colocava rapidamente um curativo no corte em sua palma, "desde que você era uma criancinha, na verdade, mas 'Você não pode mostrar magia a civis, Navarro,' e 'Não queremos amnesticizar nossa filha de cinco anos, Dan.' Mas ei, aqui estamos agora."
"C-como…" Jessie olhou de Daniel para o relógio, para a moeda, para sua mãe e seu pai, então começou o círculo novamente.
"Daniel é o que chamamos de um taumatologista," explicou Sasha. "Ou em termos técnicos, um mago."
"Você acredita em nós agora?" perguntou Gabe.
Jessie ficou em silêncio e então balançou a cabeça. Seu rosto ficando pálido quando um peso invisível de compreensão caiu sobre ela. Ela parecia que ia vomitar.
"On… onde tudo isso me deixa então… eu… eu não sou um…"
"Você agora é um tipo especial do que chamamos de 'funcionário Nível 0'," Sasha respondeu à filha gaguejante. "Basicamente, você sabe como as coisas são, mas ainda é tecnicamente um civil. Há algumas diretrizes que vão te ensinar, mas fora isso, muito pouco mudará."
"Muito pouco mudará?!" Jessie disparou. "Vocês acabaram de me mostrar que minha vida inteira até agora tem sido uma mentira, meu entendimento do mundo está errado e nada vai mudar? E que diabos são essas diretrizes de que você falou?"
"Essas são a Dr.ª Campbell que vai te contar." Jessie pegou a mão da filha apenas para observar quando ela a puxou para longe.
"Quem diabos é Dr.ª Campbell?" A voz de Jessie continuava a aumentar, "Você tem outro amigo espreitando por aqui que vai fazer fogo disparar das mãos, mãe?"
"Ahem…"
Jessie se virou para ver Dr.ª Campbell parada na entrada da cozinha. O contato do Comitê de Ética deu um sorriso entretido e um pequeno aceno de mão.
"Receio que eu não seja tão dotada quanto Agente Navarro nessa frente," disse ela. "Boa noite a todos."
Ela então estendeu um aperto de mão.
"Dr.ª Lily Campbell, Jessie, é um prazer conhecer você. Eu sou um tipo especial de representante da organização da qual todos fazemos parte. Agora que você foi informada sobre o funcionamento do mundo, por assim dizer, preciso falar com você sobre algumas regras básicas. Por favor, venha comigo. Podemos conversar em particular em seu quarto. Posso responder a todas e quaisquer perguntas."
Jessie aceitou cautelosamente o aperto de mão e balançou a cabeça. As duas então partiram para o quarto da Jessie, deixando Sasha, Gabe e Daniel sozinhos no posfácio de sua pequena apresentação.
"Acho que isso correu bem," comentou Daniel com uma pequena risada. "Embora vocês precisem de alguns acessórios melhores. Uma moeda estatisticamente presa e um relógio deslocado temporariamente são um pouco chatos."
"Correu bem? Como assim?" perguntou Gabe, levantando uma sobrancelha. "Ela parecia que ia vomitar."
"Sim, mas ela não virou a mesa, ou jogou uma colher na cabeça da Sasha, ou socou você na garganta. Meu ponto é que poderia ter sido muito pior."
"Poderia ter sido muito melhor também…" Sasha suspirou.
"Certamente," Gabe concordou. "Mas temos que lidar com essas coisas à medida que surgem. Dan está certo. Poderia ter sido muito pior e, ei, pelo menos teve algum ceticismo saudável."
A sala ficou em silêncio por alguns momentos antes de Sasha suspirar novamente.
"Vocês querem abrir uma garrafa de vinho ou algo assim?"
Indivíduos ativados por meio deste protocolo são elegíveis para emprego na Fundação, desde que atendam aos requisitos para o cargo de interesse. Treinamento adicional de conflito de interesses deve ser fornecido em casos considerados adequados pelo Comando do Sítio…
Sasha acordou em um pulo com o som de chaves sendo mexidas, seu corpo se levantando enquanto sua mão se estendia para uma arma que ela não carregava mais. parada na porta, congelada no meio do movimento, estava Jessie, uma mochila cheia em seu ombro.
"Então, esta é a sua solução?" suspirou Sasha enquanto e levantava e se aproximava da filha. "Fugir? Você estava ouvindo a Dr.ª Campbell durante a orientação dela, certo? Alguém viria procurar por você. Eu viria procurar por você."
"E daí?" Jessie sibilou de volta. "Seu segredo finalmente foi revelado e agora você vai me ameaçar? Não tenho medo de você, mãe."
"E eu não quero que você tenha," disse Sasha, lentamente sacudindo a cabeça. "Mas há coisas lá fora para se temer. Coisas lá fora das quais eu tenho medo. O objetivo de tudo isso era para que você soubesse sobre elas."
"Para que eu pudesse viver minha vida com medo?" Jessie respondeu em um sussurro duro. "Você já parou para pensar que talvez eu estivesse feliz com as coisas do jeito que elas eram? Que eu não queria esse tipo de fardo ou me prender nessa sua teia de segredos? Você e papai disseram que queriam que eu soubesse das coisas para que se algo acontecesse com vocês dois, eu soubesse o porquê… mas, meu Deus, esse é um motivo muito egoísta, não acham?"
"Contamos a você para que você pudesse continuar sem viver na ignorância e enfrentar o medo," Sasha retrucou. "Nós meditamos sobre este momento desde o dia em que você nasceu, e eu odeio dizer isso a você, querida, mas você está presa em nossa teia há esse tanto de tempo também. Minha posição cria um grande alvo na sua cabeça, e eu não sei sobre você, mas eu pessoalmente gostaria de saber que tal alvo está lá para que eu pudesse tomar medidas para garantir que ninguém o visse!"
As duas mulheres se entreolharam com raiva silenciosa por alguns momentos antes de Sasha sacudir a cabeça de novo e voltar ao sofá.
"Onde diabos você estava sequer indo?" perguntou ela.
"O Desmond está lá fora," respondeu Jessie. "Ele ia me levar à casa da Leanne."
"Vá em frente então."
"O que?" Jessie olhou duas vezes.
"Eu disse que você pode ir," explicou Sasha. "Não vou forçá-la a enfrentar isso se não quiser, Você tem 18 anos. Você pode tomar a decisão sozinha."
Jessie olhou para a mãe e depois para a porta.
"O que aconteceria se eu fosse embora?"
"Você está programada para um exame de saúde mental em um futuro próximo, como disse a Dr.ª Campbell. Se você o perder, você será oficialmente considerada como uma desertora e será rastreada por um agente que a tratará com um composto especial que faria você esquecer as últimas duas semanas. O mesmo para qualquer pessoa com quem você esteve. Depois disso, bem, tudo volta ao normal."
Sasha então ergueu uma pequena lata de spray amnéstico.
"Se voltar no tempo realmente é o que você quer, eu posso economizar muito tempo e sofrimento para nós duas. Eu tenho um pouco desse composto aqui."
Jessie olhou para a lata com curiosidade, depois se virou e começou a abrir a porta da frente.
"Só…" suspirou Jessie. "Por que vocês não me contaram antes? Por que vocês não confiaram em mim…"
"18 é a idade mínima," disse Sasha tristemente. "Faz bastante tempo que quero te contar. Nós dois."
"Besteira!" respondeu Jessie. "Tenho 18 faz 6 meses já! Vocês dois com certeza estavam com pressa!"
"Certo!" respondeu Sasha. "Quer saber o que aconteceu? Fui ao funeral de um dos meus colegas duas semanas atrás. Lá, vi como a filha dele não apareceu porque ela passou a odiá-lo. Ela o via como um homem que estava mais interessado no trabalho do que na família, embora a realidade da situação seja que ele era aquele que tinha meu trabalho antes de mim! Nunca disse à família dele o que ele fez, e um de seus filhos passou a se ressentir dele por isso, e… eu não conseguia suportar a ideia disso sendo eu e você… Você quer que sua mãe admita que ela é uma mulher egoísta? Tudo bem, Jessie. Aqui está. As pessoas não querem que suas famílias sejam apanhadas neste mundo, Jessie, a menos que realmente precisem dessa ajuda. É uma das coisas mais egoístas que se pode fazer."
Jessie fechou os olhos, a mão ainda na maçaneta da porta com ela congelada por alguns momentos.
"Vejo você e papai em breve," disse ela, e saiu noite adentro.
Sasha observou a porta fechar e soltou um suspiro, colocando a cabeça entre as mãos. Foi então que ela sentiu um braço familiar em seu ombro.
"Devemos ir atrás dela?" perguntou Gabe. "A casa da Leanne não é tão longe."
Sasha sacudiu a cabeça.
"Dê tempo a ela…" murmurou Sasha. "Nós fizemos merda, Gabe. Fizemos muita merda. Eu fiz merda."
"Que família envolvida com a Fundação não faz?" respondeu Gabe, apertando gentilmente seu ombro.
Conclusão: Simplesmente não há escapatória do fato que funcionários da Fundação formarão famílias e, potencialmente, terão filhos. A própria natureza dessas relações normalmente forçaria a tensão do engano constante sobre vários Funcionários da Fundação, resultando em todos os efeitos negativos relacionados à saúde. Como o protocolo acima denota, no entanto, há uma maneira melhor.
Aqueles que vivem em bases militares ao redor do mundo sabem que seus entes queridos estão servindo ao exército. Famílias do FBI, CIA e outros serviços de inteligência geralmente sabem o tipo de segurança que seus entes queridos devem manter. A Fundação não precisa ser diferente neste sentido e pretende economizar cerca de 1,8 milhões de dólares americanos em amnésticos Classe A e 0,6 milhões em amnésticos Classe B anualmente com a ampla implementação deste protocolo.
Existe um ditado popular entre alguns da velha guarda. "Nós morremos no escuro, para que você possa viver na luz." Até certo grau, para funcionários da Fundação, isso é verdade. No entanto, não precisamos necessariamente entrar no escuro sem ajuda…
Quando Sasha Merlo acordou na manhã seguinte, ela ainda estava no sofá, os raios da manhã batendo nela através das persianas com o que parecia ser uma intensidade violenta. Esfregando o sono dos olhos, ela começou a arrastar os pés para a cozinha, onde os sons e cheiros de uma máquina de café a aguardavam.
"Eu não sei sobre você," disse Sasha para a saliência sentada à mesa da cozinha em sua visão periférica, "mas eu mal dormi. Hoje vai ser um inferno no trabalho."
Sasha terminou de servir e preparar sua xícara de café, tomando um gole e se virando para a figura. Quando ela viu que era uma Jessie igualmente sem sono, e não Gabe, ela quase deixou cair sua xícara.
"Você sempre faz café de manhã antes do trabalho…" Jessie disse calmamente. "Achei que você gostaria que outra pessoa fizesse isso para você, para variar."
Sasha imediatamente colocou a caneca na mesa e cruzou a sala, envolvendo a filha em um abraço apertado.
"Sinto muito…" disse Jessie. "Isso foi só… muito para assimilar… e eu estava com medo…"
Sasha não respondeu. Ela manteve o aperto firme em sua filha, enquanto lágrimas começavam a descer sua bochecha. Respirando fundo, ela ouviu Jessie fazer mais um comentário.
"Isso significa que eu também recebo um daqueles crachás de identificação bacanas?"