Money8

Escuridão, sem peso, sem som. Júnior reapareceu, mas imediatamente notou algo errado com seus pés. Eles não sentiam nada. Ao mesmo tempo, ele piscou. Não havia nada no horizonte ou em qualquer lugar. Ele estava preso em algum lugar, onde até a lei da gravidade parava.

"ARGH! Algo está errado com esta maldita máquina. Ela vive cuspindo valores aleatórios. Espere aí mesmo, os sensores precisam de tempo para se orientar." Duchamp parecia irritado.

"Tudo bem. Não há muito aqui, mas parece um pouco assustador." Júnior tentou andar para frente, mas ao mover as pernas em posição de caminhada, isso só fez com que todo o seu corpo virasse, fazendo com que ele flutuasse sem rumo à mercê de seu centro de massa.

Ele estendeu os braços em uma tentativa de agarrar algo, qualquer coisa. Mas, obviamente, não havia nada. Ele balançava os braços como um pássaro enquanto girava a cabeça, mas, novamente, o mundo estava vazio.

"Onde estou exatamente?"

"Hmm…é estranho você não ver ninguém. Teller, você sabe, aquele velho do outro lado do corredor, pesquisou este lugar ano passado. Estou lendo o relatório dele agora e deveria haver trilhões de seres ou algo assim, altamente desenvolvidos, sabe, semelhante à superpopulação e…"

Duchamp continuou falando e Júnior desistiu de tentar se movimentar. Ele só ficou parado ouvindo — seu corpo estático no vácuo, sentindo-se grato por tudo o que tinha que fazer era esperar que Duchamp consertasse o transportador. A gravidade zero parecia estranhamente reconfortante.

"Quem é você?" Júnior sentiu um hálito quente enquanto alguém sussurrava em seu ouvido.

Ele se estremeceu e golpeou contra a presença repentina, mas apenas espaço vazio encontrou seus membros se debatendo.

"De que universo você é? Não daqui, certo?" A voz estava na frente de Júnior agora. Ela era clara, melódica, zombeteira.

Júnior virou a cabeça novamente. Seus olhos olharam para um personagem ridículo, direto da ficção. Um ser humanoide andrógino estava a apenas alguns centímetros de distância dele. Ele parecia estar coberto por um exoesqueleto denso e metálico com a parte superior da cabeça usando uma viseira, semelhante um óculos de realidade virtual. Atrás da viseira havia cabelos compridos expostos que desciam até os ombros.

Sob o exoesqueleto de aço, ele vestia um terno branco puro que contrastava fortemente com o vazio.

Júnior apertou os olhos e viu um padrão minúsculo cobrindo todo o traje. Centenas, talvez milhares de insígnias SCP se movendo e pulando de um pequeno pedaço de tecido para outro. Olhar por mais de um momento deixava Júnior tonto.

Ele estava sobre um hoverboard com um lado levantado. De forma semelhante a um desenho animado, suas pernas estavam paradas enquanto sua cabeça se movia e traçava um contorno sobre o corpo de Júnior enquanto o cutucava e vasculhava.

Júnior empurrou contra o corpo da entidade. Mas ela reapareceu alguns metros para trás assim que suas mãos estavam prestes a tocá-la.

"Por que tão nervoso?" Disse a entidade enquanto inclinava a cabeça para a esquerda e segurava o queixo.

"Você é aquele que está pulando entre realidades, quando você sabe que isso é restrito." A entidade começou a bater o dedo em sua grande viseira.

"MERDA!" Gritou Duchamp.

"Argh. Esses caras são loucos pra caralho. Vigias…Eles são super difíceis de lidar. Vou tentar tirar você daí o mais rápido possível. Responda às perguntas dele honestamente e não seja antagônico."

A entidade removeu o headset e empurrou o cabelo para trás para que não flutuasse por todo o lugar.

"Eu consigo te ouvir. Seja lá quem estiver falando com meu amigo aqui." A entidade abriu os olhos e Júnior engoliu em seco. No lugar das pupilas estavam emblemas SCP.

"A Fundação SCP Multiversal não é maluca, seu idiota. E todos os vigias são especialmente treinados." A entidade desapareceu e reapareceu com o braço em volta de Júnior, que não desmaiou apenas por causa dos efeitos secundários da poção.

Ele percebeu que a entidade não tinha dentes, mas falava sem ceceio.

"O meu nome é Max. Não precisa me contar o seu. Agora, o que você está fazendo aqui?" Disse ela com uma voz sedutora. Ela se movia enquanto falava em gestos absurdos e exagerados.

"Estamos perseguindo um ladrão." Pronunciou Júnior com cautela.

"E daí? Eu teria cuidado disso para você. Afinal, seu universo tem contato conosco. Olhe ao redor, esses pobres tolos queriam deixar sua própria realidade assim como você. Olhe para eles agora. ESPERA! Hah! Você não pode, eles se foram."

"Só estou seguindo as instruções do meu chefe. Seu nome é Raphael Duchamp." Júnior foi bastante rápido com sua resposta.

Max desapareceu e reapareceu novamente, colocando os cotovelos em cima da cabeça de Júnior.

"Vejo que você não é um mascote leal. Hmmm…" Max se separou de Júnior. Sua cabeça torceu e girou 180°. Ele a virou de novo e de novo e sua cabeça torceu em várias direções.

"Uau! Você parecia assim como qualquer outro pesquisador para mim. Mas parece que você é especial."

Max piscou e então olhou diretamente para você. Ele acenou com a mão para o espaço.

"Olá! Prazer em conhecê-lo! É a minha primeira vez em um desses, então eu não tenho palavras preparadas!" Max não estava falando com Duchamp nem com Júnior.

"Estou te falando, a maioria desses superiores multiversais são psicóticos pra porra. Me dê mais alguns segundos, essa coisa está quase terminando de reconfigurar." Júnior sabia que Duchamp estava perturbado por seu tom pouco característico.

Max desapareceu novamente e agora estava encostado nas costas de Júnior.

"Eu acho que gosto de você. Não vou te comer desta vez, mas talvez quando essa festa toda com aquele cara acabar—" Max estava apontando para você.

"Então eu passo para visitar." Júnior não conseguia compreender o que Max estava dizendo. Ele estava confuso desde o início da conversa, mas seus instintos diziam-lhe para ficar parado e calar a boca.

"Tchau!" gritou Max. Júnior desapareceu assim que seu transportador finalmente se ligou novamente.

Seguir o Júnior?

ou

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