Invasão
"… e então, quinze minutos depois, a Equipe de Assalto criou uma abertura e entrou," concluiu Bullfrog. "E foi isso."
"Foi mesmo?" perguntou a mulher de suéter azul.
O homem olhou para a xícara de café em suas mãos por um longo e silencioso momento.
"Agente," disse a mulher. "Quero você e sua equipe de volta aqui amanhã de manhã para outra sessão de depoimentos. Até lá, estarei retirando vocês da escala de serviço ativo."
"Se você achar que é necessário."
"Eu acho. E agente?"
"Sim?"
A mulher de suéter azul suspirou. "Tente descansar um pouco."
Bullfrog dirigiu direto para casa em seu apartamento após o interrogatório, subindo as escadas cansado com sua mochila sobre um ombro. Ele destrancou a porta e entrou, para se encontrar cercado pela luz de velas. O cheiro de perfume estava impregnado no ar, permeado por sons calmos de música jazz suave.
Havia uma mulher ruiva linda e diminuta sentada no sofá. Fox sorriu para ele enquanto estendia os braços sobre a cabeça. "Ei, grandalhão!" disse ela, atrevida, andando vagarosamente e segurando a gravata dele. "Fiquei com a semana de folga, então pensei em fazer uma surpresa para você!"
Ela estendeu a mão e o beijou carinhosamente.
Bullfrog sentiu a bile subir. Ele a empurrou de lado, correu para o banheiro e vomitou no vaso sanitário.
"… desculpe," disse ele mais tarde, depois que Fox apagou todas as velas, acendeu as luzes e vestiu roupas mais confortáveis.
"Desculpas aceitas," disse a líder da equipe de Assalto, "desde que você me diga o que diabos está acontecendo, Bull."
"Não quero falar sobre isso," insistiu Bullfrog. "É relacionado ao trabalho. Autorizações de segurança e tudo mais. Base da confidencialidade."
"Bull," disse Fox severamente. "Sou eu. Kate. Tenho a mesma autorização de segurança que você tem. E considerando que voei doze horas da Irlanda, sem falar em me depilar e me aparar para esta noite… acho que tenho o direito de saber."
"Kate…"
"E mais do que isso, Jerry… parece que você tem uma necessidade séria de contar," disse Fox, pegando sua xícara de chá e tomando um gole. "Então fale."
Houve um longo momento de silêncio antes que Bullfrog falasse novamente. "Você sabe que acabei de voltar do campo, certo?"
"Ontem, sim. Alguma operação no centro? Não ouvi os detalhes, mas o cara da recepção me disse que sua equipe teve problemas. Por isso achei que você precisaria de um pouco de ânimo."
"Sim. No centro," murmurou Bullfrog. "Hotel de luxo. Lugar chique. Recebemos a ligação assim que o PALISADE interrompeu uma ligação de emergência muito estranha do concierge. Eles nos mobilizaram, nos colocaram em trajes de isolamento e nos enviaram. A primeira coisa que aconteceu foi que esse velho gordo veio atrás de mim com um guarda-sol… "
"Jesus Cristo!" gritou Bullfrog quando o veterano investiu contra ele com a pesada mobília de piscina. "Se acalme! Nós somos os mocinhos!"
"Saia de perto de mim, seu comunista desgraçado!" o velho banguela gritou. Ele continuou a tentar bater descontroladamente com o guarda-sol neles, seu pau enrugado balançando suavemente para frente e para trás a cada ataque. "Você nunca vai me levar vivo, Ivan!"
"Skunkboy, pegue ele!" gritou Bullfrog.
"Vá se foder! Faça você isso! Não vou agarrar aquele cara!"
Kitten calmamente caminhou até o velho nu, pegou o guarda-sol com uma das mãos e casualmente estendeu a mão para socá-lo no queixo, com força.
"Jesus, Kitten! Você poderia ter matado ele!"
Kitten olhou para o velho nu inconsciente em seus braços, verificou em busca de puslso e encolheu os ombros. "Ele vai viver."
"Me pergunto o que diabos foi isso?" perguntou Skunkboy.
"Talvez ele tenha tido uma noite ruim no bingo," brincou Bullfrog.
A equipe parou de rir assim que encontraram o salão principal.
"Bullfrog?"
"Sim?"
"Esse é o inferno?"
"Se não for, é o mais próximo que podemos chegar," disse Bullfrog com uma carranca. Ele se abaixou e passou os dedos pelos olhos do homem nu deitado no chão do salão. Sua pele havia sido arrancada de cada centímetro de seu corpo e fixada no tapete com lápis afiados. Um pênis e testículos decepados estavam próximos à cabeça. O ferimento de bala no meio da testa não estava lá quando a equipe entrou na sala: Bullfrog o fez no momento em que percebeu que o homem ainda estava vivo (além de remover a genitália decepada do homem de sua boca).
"Skunkboy, análise de toxinas?"
"Nada que eu possa ver." O jovem balançava a varinha de amostragem no ar e estudava a leitura em sua tela. "Nada de psicoativos. Muita adrenalina, sangue, merda, urina, saliva… isso é esperado, dado o que estamos vendo aqui."
Bullfrog olhou para o resto da sala de conferências. O lugar inteiro estava cheio deles: centenas, senão milhares, de homens, mulheres e crianças em trajes de férias de cores vivas tombados na morte. Aqui, um jovem tinha agarrado uma jovem loira pelo pescoço e estrangulado ela até a morte antes de ser esfaqueado nas costas por outra mulher com um canivete, que estava deitada no chão sem vida olhando para o nada, seus olhos vidrados na morte, a bainha de sua saia manchada com merda e urina. Lá, uma mulher de quarenta anos deu um soco no rosto de um homem de cabelos grisalhos antes de quebrar sua cabeça com um liquidificador de bar. Ali, um menino estava encolhido no canto da sala. Seu braço decepado em seu colo.
"Bem, se não é uma toxina… Spider, análise taumatológica?"
"Tendendo a um Plano sólido, intensidade em torno de cem kilocaspers… tonalidade Safira, textura Apertado," relatou Spider. "Não tenho certeza se isso é por causa do grande número de pessoas mortas por aqui, ou o que causou isso. Só para garantir, eu recomendo que todos nós nos mantenhamos de bico fechado. Só no caso de isso acabar sendo cognitivo ou memético."
"Sem discussão aí. Kitten? Você tem estado quieta," disse Bullfrog.
"… Eu digo para sairmos e queimarmos este lugar," disse Kitten secamente. Ela olhou para um jovem caído em um canto com os braços e as pernas estourados, verificou se tinha pulso, e então, casual e friamente colocou uma bala em sua cabeça. "É a única maneira de ter certeza."
"Seria melhor se só fizéssemos isso. Não há jeito algum que qualquer nível de limpeza a vapor torne esses tapetes higiênicos," ressaltou Skunkboy. "Você sabe o que dizem sobre o cheiro de cadáveres." Ele moveu seu peso no tapete encharcado. O tapete fez barulhos molhados sob seus pés.
"Então são dois votos para queimar o prédio. Spider? Sua opinião?"
"Espere um segundo." Disse Spider. Ela olhava para a tela de computador, engolindo em seco, enquanto brincava com o monitor. "Bull? Eu, uh… estou recebendo um monte de assinaturas VERITAS da suíte da cobertura no último andar," disse ela. "Parece que podemos ter um bando de civis ou reféns escondidos lá."
"Certo. Bora lá resgatá-los," disse Bullfrog. "Encontre um jeito de anular o elevador e bora entrar naquela suíte de cobertura."
"Ei, Bull?" perguntou Skunkboy no elevador.
"Hm?"
"Este lugar não recebe muitos turistas japoneses?"
"O que você é, a porra de um racista? Peça desculpas à Spider."
"Merda, desculpe, Spider, não é isso. É só que… bem, este lugar recebe muitos turistas japoneses nesta época do ano, certo?"
"Acho que sim. O registro de hóspedes tinha muitos Tanakas e Kims, sim."
"Mas metade dos caras mortos naquele salão não eram, certo?" aponto Skunkboy. "Na verdade, acho que a maioria deles eram brancos, negros ou hispânicos. Não é um pouco estranho?"
Bullfrog franziu a testa enquanto esfregava o queixo de forma pensativa. A luva reforçada de seu traje iso fazia um tilintar forte e metálico contra o painel frontal de seu traje. "Spider?"
"Sim?"
"Me mostre aquela leitura de radição de aspecto de novo."
Spider passou o tablet para o seu líder de equipe, que inclinou a cabeça para o lado por um momento e olhou para o padrão de cores e linhas na tela. De repente, Bullfrog praguejou, largou o computador e abriu o circuito de comunicação.
"Central, aqui é a Sparkplug!" ele praticamente gritou em seu microfone. "Estamos indo sem armas e atacando a suíte da cobertura! Caso Bixby, repito, Caso Bixby!"
"Cacete!" gritou Skunkboy. Ele se atrapalhou com seu rifle enquanto tentava enfiar a munição na câmara. "Puta merda!"
"Meus deuses," sussurrou Spider. Ela começou a vasculhar seu cinto tático.
Houve um ding! alegre, e as portas do elevador se abriram para…
Os foguetes de sinalização explodiam no alto, iluminando toda a selva em forte luz branca. Jeremiah sentiu um nó frio e forte na boca do estômago ao ver os vietnamitas em seus pijamas negros rastejando pelo arame.
"CARTER!" gritou seu tenente. "Levante aquela Ponto Sessenta!"
Ele se atrapalhou recarregando sua metralhadora, eventualmente conseguindo travar e recarregar a arma. Ele se ergueu até a borda da trincheira e abriu fogo, gritando de terror e raiva. A arma gritava e espalhava latão e aço quente por toda a lama vermelha da selva enquanto os clarões do cano iluminavam a noite.
Ele podia ver os vietnamitas caindo, podia vê-los morrendo e queria rir com a visão. "Tomem essa, seus chinocas de merda!" gritou ele. "VENHAM TOMAR, SEUS JAPINHAS DE MERDA!"
Ele viu o segundo conjunto de foguetes de sinalização subirem e viu seu tenenete se erguer das trincheiras, a pistola erguida sobre a cabeça, o rosto de barba grisalha contorcido de fúria. "AVANÇAR!" o tenente estava gritando. "Nós os colocamos em retirada! Peguem eles! Metam chumbo neles! Matem aqueles filhos da puta!"
Jeremiah se levantou e gritou de triunfo enquanto continuava a disparar sua metralhadora do quadril. Ele podia ver seus irmãos fuzileiros subindo das trincheiras, cortando a porra dos vietcongues como trigo com uma foice. O ferrolho da metralhadora bateu para trás assim que a munição se esgotou: ele entregou a arma ao atirador e tirou a .45 de seu cinto. Ele atirou na massa de desgraçados vestidos de preto em fuga, a fúria crescendo em seu coração. Como eles ousam! Como eles ousam arrastar o garotinho da mamãe Carter para fora de sua casa e levá-lo para a porra desta selva fedorenta? Como eles ousam?
Um dos japinhas estava gritando com ele. Ele colocou duas em seu peito e a pistola travou com uma câmara vazia. Ele podia ver mais dois de seus homens segurando a porra do chinês no chão. Ele pensou em recarregar sua pistola, mas levaria muito tempo. Ele bateu no rosto do filho da puta com o cabo da arma, arrancando aquele chapéu de palha idiota da cara dele, ficando surpreso ao ver que o chinoca desgraçado era uma mulher. Vadia desgraçada. Puta vietcongue da porra.
Ele se lembrou do pobre Hawkins. Bom garoto. Tinha acabado de fazer 18. Contratou uma prostituta para seu aniversário de dezoito. Prostituta trouxe uma granada para o tanque onde eles foderam, deixou ela para trás. Estourou a porra das tripas dele por todo o interior do veículo. Garoto bom da porra. Cara bacana, todo mundo gostava dele e ele morreu no meio da porra de uma rua em Saigon porque queria molhar o pau pela primeira vez. Porra de desperdício. Putas japinhas do caralho. Ele pegaria essa vadia por ele. Ele faria isso pelo Hawkins.
Ele podia sentir os outros japinhas tentando puxá-lo. Ele lutou contra eles e continuou socando a porra da puta na cara. Ele estava gritando, ele podia ver os hematomas surgindo… e então ela bateu algo em seu rosto, e ele pôde ver que era algum tipo de pé de coelho preso a uma corrente…
E então Bullfrog se viu deitado no chão da suíte da cobertura, agarrando Spider pela garganta. Seu rosto estava coberto de sangue e hematomas, e sua mão esquerda estava agarrada no pé de coelho da corrente que ela sempre usava em seu pescoço.
E Bullfrog gritou ainda mais alto.
Houve um grito repentino de alarme, e ele se virou para ver Kitten, fria, metódica e violentamente agarrando um homem velho de cabelos grisalhos camuflado pelo rosto e batendo sua cabeça contra uma bancada de granito. Seu rosto era uma máscara de fúria enquanto ela transformava a cabeça do homem em polpa.
Bullfrog olhou em volta em silêncio para a sala ensanguentada, para os homens, mulheres e crianças deitados em pilhas quebrados e ensanguentados no tapete, para os buracos de bala crivando as paredes e fazendo teias no vidro, para sua companheira de equipe quebrada, machucada e ensanguentada, e para o pente vazio de sua arma.
Pareceu-lhe que seria uma boa ideia simplesmente ir embora.
E assim ele o fez. Foram necessários quatro homens grandes para carregá-lo para fora da sala.
"… meu deus," sussurrou Fox. O chá dela havia esfriado com ela sentada no canto, assistindo Bullfrog contar sua história.
"É," disse o homem. Ele riu amargamente. "Minha equipe está uma bagunça. Spider está no hospital com as duas maçãs do rosto quebradas e uma caralhada de dentes quebrados. Ela tem sorte de estar viva. Kitten… enlouqueceu. Simplesmente continuou batendo o cara contra a bancada. Não havia mais nada da cabeça dele no final. Tiveram que sedá-la. O único que parecia ter passado bem por essa era o Skunkboy… pelo menos, foi o que pensei antes dele tentar me dar um soco no rosto."
"Lance deu um soco em você?"
"Me xingou também," admitiu Bullfrog. "Usou todo palavrão que sabia. Disse que quase fiz com que todos fosse mortos. E o problema é que ele estava certo."
"Bull…"
"Não. Não me interrompa, Kate. Eu estraguei tudo." O homem bateu com o punho na palma da mão aberta. "Perfil racial entre os alvos. Isso significava que o que quer que estava fazendo aquilo estava filtrando por raça. Isso implica agência. Controlador sapiente, não um efeito autônomo. E tinha o padrão VERITAS."
"Bull…"
"Eu deveria ter verificado o padrão antes de termos entrado naquele maldito elevador," continuou Bullfrog. "A Spider é uma novata. Ela não tem a experiência em ler assinaturas de VERITAS que tenho… que o Beagle tinha! Ela mal está na equipe há um ano! Ela não sabe como identificador um dobrador de mentes. Se eu soubesse que tinha um lá em cima, nunca teríamos entrado naquele maldito elevador!"
"Jerry…"
"DAI!" gritou Bullfrog. "Eu, o maldito IDIOTA, decidi invadir a porra daquela sala com QUATRO caras de Avaliação! No momento em que percebi que estávamos entrando no covil da porra de um dobrador de mentes, eu devia ter parado a porra do elevador: batido na parada de emergência, ligado e mandado uma Equipe de Assalto… mas não! Eu tinha de INVADIR! E mandei nós quatro entrarmos para nos tornarmos os brinquedos daquele maldito psicopata!"
Fox apertou sua caneca com mais força enquanto o discurso de Bullfrog continuava. "E a COISA MAIS FODIDA?" concluiu o homem. "Ainda mais fodida do que isso… aquele desgraçado doente me usando para quase matar minha própria companheira? A coisa mais fodida é que no final, a porra daquela novata salvou nossos traseiros! Se ela não tivesse pego sua proteção… se ela não tivesse quebrado o efeito sobre mim e os outros, nós teríamos nos matado exatamente como aqueles pobres desgraçados no salão principal! Meu deus!"
Bullfrog caiu no sofá e enterrou o rosto nas mãos, soltando um grito alto de frustração, abafado por suas próprias mãos.
Fox se sentou e colocou o braço em volta dos ombros dele. O homem se encolheu… então se acomodou e descansou a cabeça em seu peito. Demorou um longo tempo para sua respiração finalmente desacelerar.
"Jerry?"
"Sim?"
"Se lembra do que você me disse depois da operação no Alasca?"
"Não é a mesma coisa."
"É exatamente a mesma coisa, Jerry," disse Fox. "E eu vou te dizer a mesma coisa que você me disse."
"Você está todo fodido," Fox continuou. "E com razão. E você vai ficar fodido por um tempo. Merdas como essa não vão embora rápido. Pedaços disso nunca vão embora. Mas as bordas ásperas e dentadas… ela vão se suavizar. Vamos te ajudar a fazer isso. E no final… essa merda não vai te afetar tanto. Ainda vai doer… mas você será capaz de aguentar."
Bullfrog balançou a cabeça em silêncio enquanto esfregava a testa, olhando para o nada. Mas seus ombros não estavam tão tensos e seus olhos não estavam tão assombrados. Já era algo, pelo menos.
"Você deveria dormir um pouco," disse Fox. "Se eu conheço a Coalizão, eles vão querer você para uma terapia bem cedo."
"Oito da manhã," admitiu Bullfrog. "Terapia o dia todo e interrogatório com a equipe."
"Tudo bem," disse Fox. "Pronto para ir pra cama?"
"… não. Mas vou tentar."
Pós-Mortem
O paciente expressa problemas para dormir desde o incidente e relatou vários incidentes de pesadelos e flashbacks do evento. Terapia constante tem sido eficaz no alívio desses sintomas, mas
Angela Schowalter olhou para a tela por um momento, seus dedos batendo suavemente contra o teclado, antes de finalmente digitar a próxima frase.
O paciente expressa problemas para dormir desde o incidente e relatou vários incidentes de pesadelos e flashbacks do evento. Terapia constante tem sido eficaz no alívio desses sintomas, mas o paciente permanece abaixo dos parâmetros esperados. É minha recomendação que o Agente não volte ao serviço ativo com os outros membros do esquadrão enquanto se aguarda futura reabilitação psicológica.
Angela recostou-se na cadeira e ficou olhando para a tela por mais um longo tempo, antes de excluir o que acabara de escrever e digitar:
O paciente expressa problemas para dormir desde o incidente e relatou vários incidentes de pesadelos e flashbacks do evento. Terapia constante tem sido eficaz no alívio desses sintomas, mas o paciente permanece abaixo dos parâmetros esperados. É minha recomendação que o Agente seja submetido a terapia de redação de memória.
Ela esfregou a testa com as duas mãos e suspirou profundamente, antes de pegar seu copo d'água e tomar um grande gole.
O paciente expressa problemas para dormir desde o incidente e relatou vários incidentes de pesadelos e flashbacks do evento. Terapia constante tem sido eficaz no alívio desses sintomas, mas o paciente permanece abaixo dos parâmetros esperados. Como o paciente é parte fundamental de sua unidade, é minha recomendação que a unidade seja dissolvida e seus membros destacados para outras unidades enquanto se aguarda recuperação total.
"Recuperação Total." Parecia bom e simples. Como se isso fosse possível.
O paciente expressa problemas para dormir desde o incidente e relatou vários incidentes de pesadelos e flashbacks do evento. Terapia constante tem sido eficaz no alívio desses sintomas, mas o paciente permanece abaixo dos parâmetros esperados. Solicito permissão para sugerir terapia de redação de memória para toda a unidade, a fim de retornar a unidade à eficácia total.
Angela sacudiu a cabeça novamente. Preciso de mais dados. Não posso decidir o destino de uma pessoa com base no que tenho.
> O paciente expressou dificuldade para dormir desde o incidente e relatou vários incidentes de pesadelos e flashbacks do evento. Terapia constante tem sido eficaz no alívio desses sintomas, mas o paciente permanece abaixo dos parâmetros esperados. Avaliação adicional é necessária.
Angela verificou novamente o formulário, assinou-o com sua impressão digital e clicou no botão "Enviar." Sua tela imediatamente começou a exibir um complicado padrão fractal, parecendo um monte de folhas de palmeira balançando sob o oceano. Ela olhou através do risco cognitivo e pegou a senha de quatro dígitos, digitou-a na caixa de texto apropriada e clicou em "Confirmar."
Ela desligou o computador, pegou o copo d'água e se preparou para dormir.
"Agente Fox?"
"Sou eu."
Angela estendeu a mão para a pequena mulher ruiva de capacete e macacão azul. "Angela Schowalter."
"Prazer em conhecê-la," disse Fox. Seu aperto era forte e firme. "Então você quer ver a cena, huh?"
"Achei que poderia ser útil," disse Schowalter. "Ou talvez seja apenas minha curiosidade mórbida."
"Bem, você está com sorte. Eles vão começar a preparar os explosivos amanhã. Nenhum civil será permitido na cena depois disso."
"É a única escolha, então?"
"Já estamos tendo manifestações psíquicas espontâneas. O lugar todo está em um loop de radiação de aspecto gigante. Já tentamos três exorcismos, mas a coisa está embebida na própria estrutura do edifício. Vamos ter que demolir e descontaminar os escombros, pedaço por pedaço. Não que os proprietários se importem exatamente: ninguém quer ficar em um hotel onde um bando de terroristas tomou como refém a lista de hóspedes inteira."
"Então essa é a história de acobertamento que a Divisão de PSIQUE escolheu?"
"Foi o melhor que pudemos fazer em um prazo tão curto." A ruiva passou para Angela um conjunto de equipamento de isolamento, ajudando-a a vestir o macacão reforçado e a máscara. "A história tem buracos maiores do que queijo suíço, mas com sorte ela acaba como uma lenda urbana local."
"Com sorte," concordou Angela. "A propósito, Agente, eu alistei você como a Amante Reconhecida do Agente Bullfrog, mas eu não tenho documentos recíprocos de você. Eles ainda estão a caminho?"
Fox parou no meio de verificar a máscara da Angela. "Não," disse ela secamente. "E ele deveria ter verificado comigo antes de ter feito isso. Acho que o menino e eu precisamos ter uma conversa."
"Então você não está tendo um relacionamento íntimo com o Agente Bullfrog?"
"Defina íntimo," disse Fox, dando mais um puxão na máscara de Angela. "Ele não é feio, e eu não me importo de foder com ele quando temos uma chance. Ele me… bem, ele me… provoca bem na cama. E conversamos sempre que podemos. Eu acho que nós somos amigos também. Mas Amantes?"
Angela só olhou para a mulher ruiva por um longo tempo.
Fox riu e sacudiu a cabeça. "É, acabei de definir isso, não foi? Vou mandar assim que chegar em casa."
"Por favor, envie," disse Angela antes de pular para a palestra rotineira sobre relacionamentos internos: "A Coalizão não proíbe relacionamentos íntimos internos entre agentes, desde que eles não interfiram na cadeia de comando…"
"… mas vocês exigem que os revelemos, para evitar possíveis conflitos. Sim, eu sei. Acho que não achei que fosse grande coisa. Não é como se eu fosse me casar com ele ou algo assim. Nós somos apenas amigos."
"A gente discute sobre ágape contra eros, storge e philia outra hora," disse Angela, "mas múltiplos encontros sexuais mais a busca ativa de contato se encaixa na definição de Amante. Mesmo assim, você deveria ter essa conversa com ele. Talvez no meu escritório. Não há nenhum regulamento que diga que você deve verificar com alguém antes de listá-lo como um Amante… mas deixar de fazê-lo implica uma perturbadora quebra de confiança."
"É," disse Fox. "Tem acontecido um pouco disso recentemente."
"Se importa de falar sobre isso?"
"Mais tarde, com café," disse Fox. "Agora, eu preciso te mostrar a cena. O suprimento de ar nesses trajes não dura para sempre."
"O contato inicial foi feito neste salão," disse Fox. "Eles fizeram as leituras taumatológicas iniciais e as leituras de toxina aqui. Múltiplos contatos com indivíduos afetados, antes de recuar para a área dos elevadores e subir para a suíte da cobertura."
A enorme sala de conferências estava pontilhada de holofotes e cabos de extensão, iluminando todo o lugar com uma luz branca e nítida. Centenas de pequenas etiquetas numeradas brancas estavam espalhadas por todo o chão, paredes e móveis, cada uma com uma pequena nota escrita à mão e uma pequena fotografia retratando o que havia sido originalmente encontrado naquele local. Angela se aproximou de um cartão e o estudou de perto.
Fragmento de dente e manchas de sangue, análise de DNA pendente.
"Puta merda," sussurrou ela.
"Isso mesmo," bufou Fox. Seus olhos estavam duros e raivosos, através do vidro curvo de seu visor.
"Quantas vítimas?"
"Cerca de quinhentas. Um quarto delas autoinfligidas. As pessoas saiam do transe, percebiam o que tinham feito e piravam. É uma bagunça do caralho."
"Agente…"
"Olha, doutora…"
"Me permita terminar, por favor," interrompeu Angela. "Entendo humor negro. Mas você não precisa se conter perto de mim."
Fox se virou e olhou para uma mancham marrom escura em uma parede. Havia algumas marcas de mãos da mesma cor abaixo dela, do mesmo marrom-avermelhado, bem como uma longa trilha descendo até o chão a partir da mancha inicial.
"Ele riu, sabe. Quando eles inicialmente viram a cena. Parecia ridículo para ele. Ele até contou algumas piadas."
"Eu li os registros de comunicação. Eu sei."
"Ele ainda se sente culpado por isso. Digo, aqui está ele entrando em um cenário de estupro mental em massa, e ele está contando piadas sobre um velho nu obviamente perturbado mentalmente,"
"É uma reação normal. O humor é uma defesa."
"Acho que sim. Só me fez pensar…" Fox cruzou as mãos atrás das costas e olhou para o teto alto da sala de conferências. "Dizem que esses caras Tipo Verdes… eles são mais perigosos quando param de pensar nas pessoas como pessoas, certo? Não fazemos a mesma coisa? Qual é a diferença entre contar piadas para passar por uma missão e transformar pessoas nisso?"
"Uma questão de grau, para início de conversa. Há uma grande diferença entre um tapa brincalhão no braço e um soco no queixo. E até mesmo um soco no queixo pode significar coisas diferentes, vindo de um parceiro de treino, um cônjuge ou um soldado inimigo."
"Talvez." Fox respirou fundo novamente e endireitou os ombros, seu rosto retomando sua máscara levemente sarcástica de sempre. "Pronta para ir ver a suíte da cobertura?"
"Se esse é o próximo lugar aonde vamos, com certeza."
Angela observava a pequena mulher ruiva fingir que levava um rifle ao ombro, curvada em uma postura tática.
"Bull se sente um pouco nervoso na subida. Cerca de dez segundos antes das portas se abrirem, ele ordena uma Invasão," explicava Fox. "Ele e Skunkboy preparam suas armas primeiro. Kitten pega a dela um segundo depois. A única que não prepara a arma é a Spider. Em vez disso, ela agarra seu pé de coelho da sorte."
"O escudo mental?"
"Mais como um fetiche de proteção. Não tenho certeza de como isso funciona. Ela pode te contar mais."
Angela balançava a cabeça em silêncio quando as portas se abriram. A suíte da cobertura era outra massa de cabos de extensão, fontes de luz e pequenos pedaços de cartões brancos numerados, cada um indicando um pouquinho do horror que tinha acontecido aqui.
"Aqui o que aconteceu: Bixby está aqui, em frente ao bar. Ele tem o restante da população asiática do resort alinhada aqui em linhas organizadas. Ele já executou dois deles com uma M1911 com cabo de madrepérola: a mesma que ele carregou na Guerra do Vietnã. Presumimos que ele estava reencenando algum tipo de… evento de sua experiência lá. Bancou um psicopata total… revivendo experiências passadas e alterando as percepções de suas vítimas para bater."
Fox apontou para a parede lotada de balas e voltou para a entrada do elevador.
"A equipe é atingida pelo efeito mental no momento em que eles saem do elevador. O Bixby vê eles e realiza uma mudança de cenário," disse ela. "Skunkboy e Kitten? Eles tomam cobertura aqui e aqui," diz ela, apontando para um par de poltronas viradas no centro da sala. "Bullfrog vai ao chão com essa SAW. A Spider, por outro lado, congela no lugar: achamos que ela estava lutando contra o efeito de compulsão. De acordo com seu equipamento OCULUS, eles permaneceram assim por sessenta segundos.
"Bullfrog quebra primeiro. Setenta segundos após o contato inicial, ele carrega sua arma e começa a metralhar a multidão. Achamos que ele atingiu cerca de seis deles com a rajada inicial. Poucos segundos depois, o OCULUS o grava gritando, e eu cito, 'Tomem essa, seus chinocas de merda, venham tomar, seus japinhas de merda.'"
Ela se deita no tapete e então se ajoelha, fingindo segurar uma arma contra o ombro.
"Bullfrog continua a abrir fogo. O Bixby grita com ele, 'Avançar, nós os colocamos em retirada, peguem eles, metam chumbo neles, matem aqueles filhos da puta.' Bullfrog obedece, se levantando até ficar de joelhos e abrindo fogo, então ficando de pé e avançando sobre os alvos. Achamos que foi quando o resto dos civis morreram."
"O que a Kitten e o Skunkboy estavam fazendo nesse tempo?" perguntou Schowalter.
Eu não disse? Acho que não. A Kitten ficou catatônica neste ponto: ela ainda não está totalmente na ilusão. Acho que ela não se encaixava no perfil certo para o cenário: o subconsciente do Bixby não encaixou ela em um papel ainda. Skunkboy… ele está usando o encosto da poltrona como suporte e disparando tiros precisos na cabeça. Ele foi responsável por cerca de quatro mortes antes da Spider romper a ilusão e libertá-lo com seu pé de coelho da sorte."
Fox fingiu sair do elevador e tocar em alguém com um objeto, então se virou para outra pessoa invisível que estava do outro lado e tocou nela também. "Ela solta Skunkboy e Kitten. Todos os três veem Bullfrog ficando completamente maluco. Eles tentam impedi-lo. Grande erro."
"O Bixby foca na Spider como a grande ameaça… tanto porque ela soltou Skunkboy e Kitten, quanto porque ela é asiática. Ela se encaixa no perfil. Bullfrog acerta Spider duas vezes no peito: a armadura segura, mas ela cai com um esterno fraturado. Skunkboy e Kitten pulam nele: ele derruba eles e agarra a Spider. Bullfrog se volta contra a Spider e a fere gravemente."
O rosto de Fox se contorce em um sorriso triunfante. "Enquanto isso, Kitten faz a coisa certa e corre pro Bixby. Ele tenta interpor Skunkboy, mas Kitten consegue acertá-lo no rosto antes disso acontecer. A dor quebra o resto da ilusão… o que significa que Bullfrog consegue ver o que aconteceu depois. Ou seja, Kitten quebrando a cabeça desse filho da puta como a porra de um melão. ISSO aí!"
Angela solta uma risada baixa.
"E você quer saber algo muito bacana, doutora?" perguntou Fox, sorrindo. "Venha ver isso." Ela leva Angela até o bar no fundo da sala, onde duas luminárias altas haviam sido colocadas ao lado da bancada de granito rachada. "Descobrimos isso quando fizemos a varredura da sala com o VERITAS. Sabe, acontece que quando certos Bixbies, especialmente os psíquicos, passam por um trauma emocional? Suas mentes se separam…"
Ela aperta um botão, banhando todo o bar com uma luz esverdeada nauseante.
Era a imagem fantasmagórica de uma mulher alta e forte batendo a nuca de um homem idoso na bancada de granito. Enquanto Angela observava, a cena se repetia de novo e de novo: O velho gritando ordens enquanto agitava uma pistola velha. Um punho se jogando e acertando-o na mandíbula. O velho levando a mão ao rosto machucado, gritando silenciosamente em alarme. Em seguida, uma mulher alta e forte o agarrando pelos cabelos e dando uma cabeçada poderosa, atordoando-o. Em seguida, alguns segundos curtos de Kitten arrastando o homem até o bar e fria, calma, violenta e metodicamente, esmagando-o contra a bancada de novo e de novo.
"Eu poderia ficar olhando para isso por horas," admitiu Fox. "Só… olhe para isso."
"É certamente… impressionante," admitiu Angela.
"Não é?" riu Fox. "E você sabe qual é a melhor parte? Dizem que parte disso… parte disso é um pouco da própria mente do Bixby… seu próprio ponto de vista… preso em um loop infinito. Revivendo o trauma de novo e de novo. Eu quase desejo que eles não fossem demolir e descontaminar esta coisa. Eu dormiria melhor à noite sabendo que há um pouquinho desse desgraçado constantemente tendo sua cabeça esmagada por toda a eternidade."
"Eu vou te fazer uma série de perguntas," disse Angela enquanto descia no elevador. "E eu vou pedir e exigir que você seja o mais verdadeiro possível."
"Claro. Não tenho nada a esconder," disse Fox.
Angela balançou a cabeça em resposta e fechou os olhos pensativamente. "Ele tem tido problemas para dormir?"
"Às vezes," admitiu Fox. "Ultimamente, ele tem conseguido passar a noite toda sem acordar. Mas ele ainda tem pesadelos."
"Como você sabe?"
"Ele se debate. Faz gemidos. Às vezes, me mantém acordada a noite toda."
"O que você faz nas noites em que ele te mantém acordada?" perguntou Angela.
"Normalmente, eu saio para a varanda e leio um livro ou um arquivo. Posso muito bem trabalhar um pouco."
Angela balançou a cabeça novamente. "Você se ofereceu para ajudar na investigação e descontaminação da cena," disse ela. "Você tem treinamento para isso?"
"Tive alguns anos em uma equipe de Avaliação antes de ser transferida para uma de Assalto. E, na maioria das vezes, só tenho sido só outro par de mãos. Agarrando e ensacando e marcando e tirando fotos."
"Como sua equipe está funcionando na sua ausência?"
"Estamos nos preparando para começar o próximo ciclo de treinamento. Nada grande. Jackal está cuidando dos preparativos e da papelada por mim. Ele já fez isso o suficiente para saber o que está fazendo." Fox balançou a cabeça e respirou fundo novamente. "Na verdade, estive pensando em solicitar uma prorrogação da minha licença."
"Hm?"
"É," disse Fox. "Não há nada de mais acontecendo em casa, e Bull precisa de ajuda."
"Entendo. Próxima pergunta. Você sabe o que é a 'culpa do sobrevivente'?"
"Claro. É o que acontece quando você sente que fez algo de errado por ter passado por algo pelo que outra pessoa não conseguiu. O psiquiatra me falou sobre isso depois que perdi alguns membros de equipe em uma operação malsucedida."
"Entendo," disse Angela. "Uma última pergunta, Agente Fox. Você alguma vez reviveu a experiência traumática de visitar um amigo próximo e ente querido por um fim de semana juntos, só para descobrir que eles sofreram recentemente uma violação mental, espiritual e física?"
O paciente expressa problemas para dormir desde o incidente e relatou vários incidentes de pesadelos e flashbacks do evento. Terapia constante tem sido eficaz no alívio desses sintomas, mas o paciente permanece abaixo dos parâmetros esperados. É minha recomendação que a Equipe de Avaliação 735 "Sparkplug," incluindo o Agente 43856518/735 "Bullfrog," continue em reabilitação psicológica por um período de trinta (30) dias antes de ser autorizada a retornar ao serviço ativo.
Assinado nesta data pela encarregada responsável, Dr.ª Angela Schowalter, Departamento de Recursos Humanos, Divisão PTOLOMEU.
Angela assinou o formulário com sua impressão digital, se autenticou por meio do Captcha de "Trava mental," e enviou o relatório para seus superiores. Ela se recostou na cadeira, tomando outro gole de seu café, antes de clicar no botão "NOVO RELATÓRIO" na tela do computador.
PACIENTE: Agente 42921102/1102, "Fox"
CURRÍCULO DE SERVIÇOS DE CARREIRA: A paciente é uma veterana de longa data da Divisão de FÍSICA, incluindo múltiplas missões tanto de Avaliação quanto de Assalto. A paciente foi condecorada múltiplas vezes por bravura e valor no cumprimento do dever. Avaliações de funcionário citam seu comportamento frio sob fogo e bravura pessoal em combate.
RESUMO DO HISTÓRICO DE CONTATOS: Contato inicial com a paciente feito depois que o Amante Reconhecido da paciente (que recentemente passou por um evento traumático no cumprimento do dever) expressou preocupação com o estado mental e emocional da paciente. O contato inicial foi feito para determinar se as preocupações do Amante Reconhecido eram corretas ou se eram uma tentativa de transferência emocional.
A paciente pediu para encontrar a Encarregada na cena do evento traumático do Amante Reconhecido. A paciente mostrou um afeto intensificado, incluindo desejo excessivo de vingança contra o instigador do evento traumático. A paciente também expressou problemas para dormir (indicando que ela já permaneceu acordada a noite toda em múltiplos locais) e uma relutância em voltar para a sala de estar onde inicialmente ouviu falar do evento (preferência por sentar no pátio para ler, apesar das condições de pouca iluminação). A paciente reconheceu os sentimentos de culpa do sobrevivente e foi capaz de traçar um paralelo entre eventos atuais e os de vários anos atrás (consultar Adendo A: Relatório do Encarregado do Incidente Anterior)
RECOMENDAÇÕES DE TRATAMENTO: A paciente está estável, mas permanece abaixo do normal para operações de campo. Contato foi feito com o segundo em comando da paciente, e arranjos foram feitos para uma licença prolongada não inferior a uma semana, e não superior a trinta (30) dias. A paciente se juntará ao Amante Reconhecido na reabilitação psicológica. Esta encarregada acredita que a presença da Paciente será mutuamente benéfica tanto para o seu tratamento pessoal quanto para o de seu Amante Reconhecido."
Assinado nesta data pela encarregada responsável, Dr.ª Angela Schowalter, Departamento de Recursos Humanos, Divisão PTOLOMEU.
Raio de Sol
Kitten abriu os olhos e olhou fixamente para o teto de seus aposentos, contando os pontos no ladrilho acústico. Quando ela chegou aos trinta e dois, ela se sentou na beira da cama e esticou os braços sobre a cabeça.
A primeira coisa que ela viu em sua mesa foi seu laptop. Ela apertou a barra de espaço e a tela se iluminou para revelar as palavras "ME ASSISTA PRIMEIRO" escritas em uma fonte gigante de 100 pontos no centro de uma tela preta.
Ah. Aconteceu de novo.
Ela verificou a data no calendário do computador e a comparou com a data que se lembrava da última vez em que foi dormir.
Duas semanas de diferença.
Ela estendeu a mão e tocou na tela. Houve uma breve pausa e o vídeo começou a ser reproduzido.
Na tela, ela podia se ver sentada em sua mesa. Havia um copo d'água e dois comprimidos azuis à sua frente, e um pedaço de papel em sua mão.
A Kitten na tela do computador limpou a garganta, olhou para o pedaço de papel e começou a ler.
"Eu, Agente Tabitha St. Matthews, Número de Série 43857764 barra 735, por meio deste, opto por me submeter à terapia de redação de memória. Fui completamente informada sobre os riscos e perigos que esta terapia pode acarretar. Declaro que estou fazendo esta terapia por vontade própria e que não fui indevidamente coagida a fazê-lo por nenhuma outra parte."
Ela se viu tomando os dois comprimidos, engolindo-os com o copo d'água e estendendo a mão para desligar o gravador de vídeo.
Kitten suspirou. Essa foi qual, a vigésima vez? Isso não pode ser bom para o meu cérebro.
Ela fechou o arquivo de vídeo e abriu a pasta marcada "Relatório de Missão," para descobrir o que ela decidiu que não queria mais lembrar em primeira mão.
Horário de Visita
"Ei, garota," disse Skunkboy com um grande sorriso enquanto entrava na sala "Você está mais bonita."
Spider revirou os olhos e jogou um travesseiro no jovem alto e bonito. Ele riu e o pegou no ar, antes de colocá-lo debaixo do braço. "Sério. Os médicos fizeram um bom trabalho."
"Bom demais. Minhas maçãs do rosto nunca foram tão definidas. E meu rosto era mais gordo antes," suspirou Spider.
"Ei, já que você está consertando o carro, por que não enfeitá-lo um pouco? Trabalhar um pouco na carroceria e no acabamento?" Ele colocou o travesseiro de volta sob a cabeça da amiga e a abraçou gentilmente pelos ombros. "Então, quanto tempo até os médicos deixarem você sair?"
"Eles dizem que posso ir para casa amanhã, na verdade. Depois preciso ir ao ortodontista. Para colocar meus implantes." Ela puxou o lábio inferior, revelando uma linha gengival com três dentes faltando.
"Ai. Isso é… meio desagradável."
"Estava mais desagradável antes de retirarem o que restava," admitiu Spider. "Eu comi por um tubo por uma semana inteira."
Skunkboy se chutou internamento quando um silêncio constrangedor caiu sobre a sala. Claro, lembre ela do cara que socou ela com tanta força que quebrou a mandíbula e as maçãs do rosto dela. Excelente trabalho, idiota.
"… como ele tá?" perguntou Spider.
"Bullfrog? É uma coisa horrível de se perguntar," rosnou Skunkboy. "Ele deveria estar te perguntando isso."
"Ele não apareceu. Além disso, não foi culpa dele. Ele não estava no controle de si mesmo."
"Isso soa muito com o que um namorado abusivo diria—"
"Namorados abusivos não foram literalmente mentalmente controlados por um psicopata de merda," interrompeu Spider friamente. "E se você disser algo sobre Bullfrog assim de novo, estamos acabados."
"Desculpe," disse Skunkboy. Ele se sentou ao lado dela na cama e alisou os lençóis. "Só tenho essa… coisa… sobre caras batendo em garotas."
"Isso é porque você é um cavalheiro," disse Spider.
"… não muito cavalheiro," sorriu Skunkboy. "Digo, eu acabei de olhar dentro da sua camisola agora. Belo sinal, por falar nisso."
Outro silêncio constrangedor desceu sobre a sala. "Ei, Skunkboy?"
"Sim?"
"Tem uma coisa que você deveria saber…"
"Você é trans?"
"Você sabia?"
"Tecnicamente, só o líder da equipe deveria saber sobre o seu arquivo selado. Mas depois que o Bullfrog leu, ele puxou eu e a Kitten e repassamos essa parte juntos. Ele queria ter certeza de que você não teria problemas conosco."
"Ah." disse Spider. Ela abraçou o cobertor mais perto do peito. "O que você decidiu?"
Skunkboy encolheu os ombros. "Que se foda. Você é você. Você faz o trabalho, não nos importamos."
"Ah." Spider riu em voz alta e se deitou de volta na cama, olhando para o teto. "Você quer saber de algo fodido? Quando o Bullfrog veio atrás de mim, achei que estava morta. Eu realmente pensei que ia morrer. E o último pensamento que passou pela minha mente foi… 'Merda. Vou morrer virgem.'"
"Não brinca?"
"Eu concluí a mudança de identidade pouco antes de ser designada para a Sparkplug," explicou Spider. "E tenho estado muito ocupada para relacionamentos desde então."
"Bem, vamos ficar fora de serviço por pelo menos um mês agora, consertando nossas cabeças e corpos," apontou Skunkboy. "Bastante tempo pra você transar."
"… isso foi uma proposição?"
"Quê? Ah, nem pensar!"
"Caramba, obrigada." Spider revirou os olhos.
"O quê? Ah, merda, desculpe. Eu não quis dizer isso assim. Digo… você não fode seus companheiros de equipe. Só uma regra. Coisas ruins acontecem se você fizer isso, e a Coalizão reprime duramente as pessoas que fazem. Mas não há nenhuma regra real contra relacionamentos entre esquadrões ou departamentos. Contanto que você os divulgue abertamente."
"Isso parece um pouco… contraditório."
"É só como a Coalizão faz as coisas." Skunkboy alisou outra ruga do cobertor. "Somos humanos. Humanos vão querer foder. Conter isso leva a problemas maiores do que deixar as pessoas fazerem abertamente. Mas companheiros de equipe fodendo companheiros de equipe… isso causa problemas ainda maiores. Então, foda quem você quiser. Só deixe a PTOLOMEU saber e não foda seus companheiros."
"… acho que faz sentido. De uma forma estranha."
"É o jeito da Coalizão." sorriu Skunkboy. "Então, irmãzinha. Procurando um namorado? Tenho certeza que posso encontrar um homem jovem, bom e saudável para balançar seu mundo a noite toda…"
Ele não se esquivou desta vez quando Spider deu um tapa no rosto dele com o travesseiro.
Não havia muitas pessoas nesta parte da base operacional nesta hora do dia. Skunkboy respirou fundo, ajeitou a gola do uniforme verde e se endireitou ao ouvir passos vindo da esquina.
Ele acenou com a cabeça quando seu líder de equipe entrou no corredor em sua direção. "Bull."
"Skunkboy." Os olhos do homem estavam duros como granito, sua mandíbula cerrada com firmeza. "As meninas estão aqui?"
"Sim, elas estão esperando lá dentro. Mas eu queria falar com você em particular, primeiro."
"Ah." Os olhos de Bullfrog se semicerraram.
Skunkboy respirou fundo, nervoso, e seguiu em frente. "Me desculpe por ter dado um soco em você."
"Skunkboy…"
"Não, me deixe acabar. Não foi culpa sua. Aquele desgraçado estava dentro da sua cabeça. Você nunca machucaria nenhum de nós se fosse você. Diabos, se você não tivesse percebido que estávamos entrando no covil de um dobrador de mentes, estaríamos ferrados. Você salvou nossos traseiros."
Bullfrog apenas o encarou impassível, então Skunkboy respirou fundo e continuou. "Olha. Eu te segui até a caralha quatro. E vou continuar te seguindo desde que você me lidere até lá. Porque eu sei que você vai nos tirar de lá… contanto que você continue respirando e de pé, eu sei que tu não vai desistir de nós. Eu estava com medo pra caralho. Mesmo assim não tinha razão para eu ter te socado. Então, é. Desculpe."
Bullfrog só balançou a cabeça em silêncio para isso. Skunkboy suspirou. "Eu só vou… entrar, então."
"Me dê um minuto," disse Bullfrog. "Tem algo que preciso fazer primeiro."
Skunkboy balançou a cabeça e se virou para entrar na sala de conferências. A porta se fechou atrás dele com um clique metálico suave.
Bullfrog ficou parado no corredor por um momento, antes de caminhar até o quadro de avisos. Ele fez um ajuste minucioso no colarinho em seu reflexo e alisou uma mecha de cabelo errante.
Então ele se virou e seguiu seu companheiro de equipe para a sala.
Cicatrizes
Ela não conseguia evitar de passar a língua pelos novos dentes. Mesmo depois de todas essas semanas, os implantes dentários ainda não pareciam naturais em sua boca.
A Spider que ela viu no espelho parecia muito boa, decidiu ela. O vestido negro lisonjeava sua figura muito bem, e as cicatrizes de sua cirurgia reconstrutiva facial sararam bem rápido, um processo auxiliado por certa ajuda mágica. Ela não é superior a usar seus poderes para seu próprio ganho pessoal, de vez em quando.
Ela pegou sua bolsa e verificou pela terceira vez, confirmando que suas chaves, telefone, pé de coelho e pistola não haviam desaparecido magicamente de sua bolsa nos vinte minutos desde que ela olhou dentro.
Mas ela quase a deixou cair quando a campainha por fim tocou. Tomando um último momento para se recompor, ela se olhou no espelho uma última vez, alisou uma ruga do vestido, respirou fundo e abriu a porta.
Ele estava parado na porta, tão bonito quanto em sua fotografia, com o mesmo queixo forte, os mesmo olhos cintilantes e o mesmo sorriso amigável que chamara sua atenção. "Oi," disse o homem. "Você deve ser a Spider?"
"Me chame de Ara por hoje," disse ela, estendendo a mão educadamente. "Vai chamar menos atenção."
"Ara. Bacana. Costumo ser chamado de Flintlock." Ele apertou a mão dela com firmeza, mas gentilmente. "Acho que você pode me chamar de Flint, então?"
"Flint é bom," disse Spider. "Parece um pouco com um personagem de quadrinhos."
"Me chame de Super Homem e eu vou varrer você," riu Flint e então gemeu e esfregou a nuca. "Desculpe. Essa foi péssima."
"Sim, foi," disse Spider. "E só por causa disso, você está pagando pelo jantar."
"Você me feriu profundamente," Flint gemeu e apertou o peito. "Como posso restaurar minha honra perdida?"
Havia um jovem casal no fundo da sala. Eles se pareciam um pouco com sua mãe e seu pai. Ela gritou quando Bullfrog abriu fogo e o pai caiu no chão, agarrando a ferida vermelha que se espalhava em seu peito. A mãe e o filho caíram um momento depois, balas enchendo seu cadáver enquanto perfuravam sua carne e o corpo de seu filho pequeno…
"… só, uh… pagar pelo jantar está bom," disse Spider. Ela sorriu sem jeito, mas respirou fundo e se recompôs. Com sorte, seu acompanhante iria atribuir isso ao nervosismo.
"Então, o que é que você faz?" perguntou Flint, enquanto esperavam seus aperitivos chegarem.
"Eu?" Hummm… Sou de uma equipe de Avaliação," disse Spider. Ela olhou ao redor para o resto dos clientes, então arriscou um pouco mais. "Avaliando situações, aconselhando os superiores sobre cursos de ação… esse tipo de coisa."
"Ah, entendo. Eu, uhhh… sou das Relações Públicas," respondeu Flint. "Mais trabalho de mídia."
"Entendo," disse Spider. "Você ouviu falar do incidente no centro da cidade, cerca de um mês atrás?"
"Sim… foi um inferno explicar aquilo para a mídia. Foi você?"
"… parcialmente. Eu estava na equipe que cuidou daquele caso," disse ela.
Flint balançou a cabeça respeitosamente, as mãos cruzadas sobre a toalha de mesa à sua frente. "Essa foi… difícil," disse Flint com cuidado. "Muitos… mmmm… efeitos colaterais para lidar."
"Não nos disseram exatamente no que estávamos nos metendo," observou Spider. Ela tomou um gole de água gelada: o frio fazendo com que seus implantes dentários doessem um pouco. "Mas improvisamos e lidamos muito bem com isso, eu acho."
"Eu não estava rebaixando vocês. Foi uma situação difícil, sim. O Senhor Bixby pode ser um pé no saco."
"Isso ele pode," ela admitiu.
O garçom apareceu e serviu-lhes as refeições. Ela sentiu uma onda de alegria absoluta ao ver o bife em seu prato. Belo e terno pedaço de filé. O primeiro bife decente que ela tivera desde que foi ao hospital.
"Uau. Tem certeza que consegue comer tudo isso?" perguntou Flint.
"Tenho certeza," disse Spider. "Estive ansiosa por isso há semanas," ela cortou a carne macia, e os sucos rosados fluíram e se misturaram com o creme de milho.
Sua visão desfocou quando ela sentiu o punho bater em seu rosto de novo, com força. Algo quebrou em sua boca e caiu no tapete. Era um dente quebrado pela raiz e coberto com sua própria saliva ensanguentada…
Spider engoliu com força quando a bile subiu. Ela respirou fundo para se acalmar e ergueu a mão para o garçom.
"Sim, senhora?" perguntou o jovem.
"… você poderia trazer isso de volta para mim bem passado?"
"… a madame pediu mal passado, não foi?" perguntou o garçom, preocupado.
"Pedi," disse Spider. "Mas acho que mudei de ideia desta vez."
Depois do jantar, eles deram um passeio pela praia. O sol estava se pondo sobre o oceano. Quase todos tinham pego suas coisas e ido para casa, exceto alguns surfistas da pesada que ainda surfavam nas ondas.
"Então, o que você faz para se divertir?" perguntou Flint.
"Eu? Normalmente leio. Ou jogo no computador. Ou assisto filmes. Ou experimento com magia tradicional," disse ela.
"Não há muita demanda para trabalho tradicional," disse Flint. "Quase todo mundo vai pra Taumatologia Unificada hoje em dia."
"Não uso muito em campo, mas é interessante estudar," explicou Spider. "Os rituais antigos têm uma poesia que muitas vezes falta em operações modernas."
"Hã?"
"É. Por exemplo… muitos dos antigos amuletos de "boa sorte" são derivados de elementos que perturbam o fluxo de EVE. Ferraduras, por exemplo: o ferro era uma comodidade rara naquela época, e materiais ferrosos têm uma influência redutora no fluxo de EVE. Ou pés de coelho." Ela tirou o pé de coelho da bolsa e mostrou para ele. "Coelhos são reprodutores prolíficos. Eles tendem fortemente a Agudo, em termos de aura. Mas você mata um em um cemitério sob a lua escura, e isso equilibra a aura de forma mais Plana."
"Entendo," disse Flint, estendendo a mão e tocando no amuleto levemente com a ponta do dedo. "Mas ele não parece dar muita sorte pro coelho."
"Isso é só o começo da operação. O segundo passo é imbuí-lo com um feitiço perturbador que quebre operações mágicas." Ela colocou o pé de coelho de volta na bolsa e deu um tapa cuidadoso para se certificar de que estava firme no lugar. "Tecnicamente, você pode imbuir um pingente com ele que vai funcionar tão bem quanto, mas eu gosto do simbolismo do pé de coelho."
"Então você gosta de tradição?"
"… mais ou menos," disse Spider. "Acho que gosto do estilo da antiguidade."
Ela enfiou a mão na bolsa novamente e tocou o pé de coelho. As pontas dos dedos descansando contra um amontoado de pelo emaranhado.
Ela sentiu um arrepio percorrer sua espinha.
Eles estavam voltando para casa depois do filme e riam em voz alta. Spider estava encostada nos braços dele e se sentindo muito bem com isso.
"Aquilo deve ser a coisa mais idiota que já vi em anos," disse Flint. "Como diabos alguém assiste essas coisas?"
"Ei, foi você que escolheu… e me fez pagar pelos ingressos também."
"Eu te fiz? Você que insistiu. Para retribuir pelo jantar, se lembra?"
"Se eu soubesse que o filme seria tão ruim, eu teria feito você pagar."
Flint riu em voz alta e colocou o braço em volta dela, dando a ela um aperto suave e experimental. Spider sentiu seu coração aquecer com o contato.
É. Eu posso seguir com isso.
Eles chegaram ao pé da escada e pararam na porta do apartamento.
Flint limpou a garganta e sorriu sem jeito. "Bem. Acho que estamos aqui."
"Sim," disse Spider. "Acho que sim."
Ela ficou na frente dele com expectativa e ficou feliz em vê-lo respirar fundo e endireitar os ombros. Ele se inclinou para frente, os olhos fechados, e ela ergueu o rosto e fechou os olhos também.
Ela sentiu a mão dele tocar seu rosto, afastando um fio de cabelo de seus olhos. As pontas dos dedos dele roçando o lugar onde as maçãs do rosto dela tinham sido quebradas um mês antes.
Ela se encolheu.
Ela o sentiu recuar.
"Sinto muito," disse ela apressadamente, "eu só…"
"Não, não, tudo bem," disse Flint. "Eu não quero que você sinta nenhuma pressão."
"Não é isso, é só que… tenho esses… acho que alguns problemas. Que ainda estou trabalhando."
"Ah," disse Flint. "Você pode me falar sobre eles?"
Spider sacudiu a cabeça e suspirou. "Se você não sabe, acho que não posso te dizer."
"Ah," disse Flint. Ele arrastou os pés um pouco e suspirou. "Entendo."
Spider balançou a cabeça e engoliu em seco. Seus dedos agarrando a parte inferior do vestido com força.
"… acho que vou para casa, então." disse Flint, sorrindo o mais galantemente possível. "Obrigado por uma noite amável, Ara."
"Obrigada, Flint. Sinto muito por isso."
"Não sinta," disse Flint. "Eu não sei pelo que vocês passam nas equipes de Avaliação… não consigo imaginar. Mas, uhhh… eu sei quando um encontro meio que dá errado, e eu prefiro… não insistir agora, sabe. A menos que você realmente queira que eu insista?"
Spider pensou por um momento e então suspirou profundamente, sem responder.
"Foi o que pensei," disse Flint. Ele se inclinou e a beijou na testa.
"Se você decidir que quer um segundo encontro? Me ligue," disse ele.
Ela jogou a bolsa no sofá, tirou o vestido e a calcinha sexy e os jogou no cesto de roupas. Ela vasculhou a gaveta de trás por um momento, encontrou seu pijama de flanela mais velho e confortável e o vestiu.
O Discovery Channel estava exibindo reprises de Survivorman. Ela se sentou no sofá, enrolada em um cobertor quente, e assistiu o canadense calvo ter dificuldades no deserto por algumas horas.
O sono finalmente a venceu assim que o crepúsculo da manhã apareceu através de suas cortinas. Ela dormiu algumas horas antes do despertador tocar e avisar que era hora de acordar.
Ao todo, foi uma boa noite.
"Sledgehammer."
Fox acordou com o som de gritos. Ela rolou para fora do sofá e pegou a pistola na mesa de café em um movimento suave, examinando as portas em busca de ameaças. Quando sua visão clareou, ela percebeu que os gritos vinham do quarto.
Merda.
Ela enfiou a pistola na cintura do short e entrou no quarto. Bullfrog estava se debatendo e gemendo no sono, os lençóis amarrotados e bagunçados ao seu redor. Ele gritava alto com alguma coisa, as mãos se estendendo e batendo em algo no ar na frente de seu rosto.
Fox com muito cuidado colocou a pistola no chão e caminhou, lenta e deliberadamente, para o lado da cama. Com cuidado para não tocá-lo, ela se aproximou e sussurrou uma palavra em seu ouvido.
"Jeremiah."
Seus olhos se abriram e ele soltou um último grito estrangulado de alarme. Suas mãos se agitaram uma última vez, atingindo-a no rosto com força.
"Fidaputa!" gritou Fox. Ela colocou a mão no rosto e saltou da cama.
"… ah." Sussurrou Bullfrog. Ele rolou para fora da cama, com o rosto contrito, e estendeu a mão para ela, recuando no último minuto.
"Estou bem," disse Fox rapidamente. "Você esbarrou em mim enquanto dormia. Cheguei um pouco perto demais. Estou…"
Seu coração se partiu com a expressão em seu rosto.
"Estou bem," ela o acalmou, e então, para ter certeza de que ele entendeu, ela rastejou sob os lençóis com ele e o segurou com força.
Demorou bastante tempo para ele finalmente conseguir dormir de novo e, quando ele dormiu, ele tremeu e estremeceu. Ela colocou os braços em volta da cintura dele e segurou com força, recusando-se a soltá-lo enquanto seus ombros tremiam e lágrimas silenciosas caíam.
Ele finalmente se acalmou e dormiu cerca de meia hora depois.
Ela saiu da cama assim que a respiração dele se acalmou e pegou a pistola do chão. Ela voltou para a sala de estar, se enrolou nos cobertores e ficou olhando para a parede por um bom, bom tempo.
Revisão Trimestral
"701 'Jellybean?'"
"Status nominal."
"722 'Bottlecaps?'"
"Status nominal."
"735 'Sparkplug?'"
"Offline."
"Sério?" perguntou D.C. al Fine. "O que aconteceu?"
"Problema psicológico. Encontro com dobrador de mentes. Azul-Azul, Azul-Verde involuntário. A PTOLOMEU recomenda 30 dias desligada para reabilitação psicológica," disse o Diretor de Recursos Humanos.
"Caramba," murmurou o gerente de Operações de Campo. "Espero que eles superem isso."
"Eles são fortes. Bullfrog é um líder forte, ele os ajudará a superar isso," disse al Fine.
Ela virou a página. "742 'Jericho'."
"Status nominal," disse o Diretor de Recursos Humanos…