O homem acordou com uma forte dor de cabeça e olhou em volta, afastando algumas mechas de cabelo dos olhos no processo. Ele se sentou contra a base de uma árvore decídua alta no meio de uma floresta, uma espessa névoa obscurecendo sua visão além de alguns metros. Ele suspirou ao perceber que o ambiente ao seu redor era inteiramente preto e branco.
"Puta merda…" sussurrou ele para si mesmo ao perceber onde estava, e quão pouco tempo provavelmente tinha antes que algo certamente o encontrasse e comesse por completo o cu dele.
"Ah," disse uma voz masculina próxima. "Você finalmente acordou."
O homem se virou para ver um androide sentado de pernas cruzadas sob uma árvore próxima. O droide segurava vários porta-retratos em suas mãos enquanto seus olhos permaneciam fixos no homem, sem piscar. Várias faixas de sua cobertura externa estavam faltando, parecendo ter sido cuidadosamente cortadas.
"1360…" afirmou o homem.
"Prefiro que você me chame de Hector, Pesquisador Conwell," respondeu o droide bruscamente. Ele se levantou e caminhou em direção ao homem, levando os porta-retratos com ele.
"Então… é assim que sua voz soa…" observou o homem. Enquanto mantinha os olhos fixos no droide, ele verificou sua visão periférica. Uma trilha, um portal, qualquer sinal de uma saída, mas havia apenas mais neblina.
"Impressionado?" perguntou o droide. "Pessoalmente, acho que tenho uma voz maravilhosa. É uma desperdício absoluto mantê-la muda."
"Ela me lembra a do meu filho, um pouco."
O droide balançou a cabeça e olhou para um dos porta-retratos que carregava, então se ajoelhou e o segurou diante do homem. A foto dentro do porta-retratos era algo da mesa do homem, uma imagem dele e de sua família em uma caminhada.
"Quais são os nomes deles?" o droide falou com um tom de curiosidade. "Suponho que esta seja sua esposa, filho e filha?"
"Eles são. Kate, Zach e Carrie, respectiuvamente."
"Vocês todos parecem feliz."
O homem olhou para o chão.
"Nós nunca conseguimos os nomes do seu done de você, Hector," disse ele eventualmente. "Como eram?"
O droide parou de olhar para a foto e encarou o homem por alguns segundos.
"James, e sua filha Sarah."
O droide então ficou em silêncio, olhando para o longe.
"Você disse que os perdeu," o homem terminou o silêncio. "O que aconteceu?"
"Vocês aconteceram," respondeu o droide. "Um de seus agentes matou James quando você me adquiriu. Não sei o que aconteceu com Sarah."
O homem olhou para o chão novamente.
O droide voltou ao silêncio.
"Então… isso vai ser um assassinato vingativo? Eu estaria mentindo se dissesse que não mereci…" o homem riu, voltando seu olhar para o droide com lágrimas nos olhos.
"Deveria ser… Há tantas almas aqui que adorariam rasgá-lo membro por membro…"
"M… mas…"
O droide suspirou e se sentou o lado do homem.
"Mas não me traria nenhuma alegria…" o droide olhou para a foto da família do homem. "Eu fui um dos primeiros droides a encontrar este lugar. Com o quão grande ele era, levou anos até eu encontrar outra alma. Todo esse tempo eu estive sozinho com minha raiva e ódio…"
O droide sacudiu o dedo indicador direito e fez um bisturi aparecer.
"Eu poderia te amarrar e fazer você assistir enquanto eu arranco pedaços de sua carne…"
O homem afundou o mais longe que pôde do droide e sua lâmina, seus olhos observando-a na luz fraca e nebulosa.
"Mas qual é o sentido? Isso não me traria de volta. Isso não me ajudaria a encontrar Sarah. Você só pode se agarrar a essas emoções quentes por um tempo antes de você se cansar por dentro."
O droide suspirou novamente.
"Não vou te matar, Pesquisador Conwell. Isso não me traria paz."
O homem soltou um suspiro profundo.
"Então… por que estou aqui?"
"Erro?" O droide encolheu os ombros. "Quando abrimos a passagem para seu laboratório, fizemos isso com planos de capturar sua colega. Dr.ª Hess. Como você provavelmente sabe, ela era membro do departamento de Pesquisa e Desenvolvimento da Anderson Robóticas. Quando Saker Nº76 reconheceu quem você era, ele sugeriu que eu tivesse permissão para fazer o que queria com você. Achou isso poético."
"Hess está aqui também?" O homem olhou ao redor.
"Ela está. A última vez que eu vi eles estavam levando ela para ser puxada e esquartejada pelos Aplomados."
O homem se encolheu.
"Então, onde isso nos deixa?"
O droide se levantou, olhou para as fotos em suas mãos e encolheu os ombros.
"Não importa," respondeu ele. "Mas vou manter essas fotos."
Ele então apontou para o longe.
"Se você seguir nessa direção por cerca de 2000 metros, você chegará a uma saída que o levará à área que vocês chamam de 'Três Portlands'. Mas eu ando rápido e silenciosamente. Como eu disse, muitas almas aqui adorariam virar você do avesso se tivessem a chance."
O homem se levantou e balançou a cabeça em compreensão. Ele começou a sair, mas parou e se virou de volta. O droide tinha quase desaparecido na névoa.
"Hector?" Ele gritou para o droide.
O droide parou e se virou.
"Sinto muito por tudo o que fiz. Sinto muito por toda a dor."
O droide permaneceu em silêncio por alguns momentos e então desapareceu na neblina.
O homem voltou para sua jornada. Se tivesse cuidado, talvez ele escapasse vivo.