Lembre-se de Seu Dia Negro


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Salisbury, Rodésia, 1973


Era um dia quente e abafado em Salisbury, e o Primeiro-Ministro Ian Douglas Smith não queria ficar em uma sala de reuniões apertada por muito tempo. Ele estava sentado preguiçosamente em sua mesa, as mãos entrelaçadas enquanto observava silenciosamente seus comandantes militares e oficiais de inteligência andando ao fundo.

Havia talvez uma dúzia ou mais de homens em uniformes militares e ternos na sala, todos discutindo o conflito de baixa intensidade que atualmente assolava sua nação. Smith podia ouvir a menção ocasional de "ZANU" e "ZIPRA"—os dissidentes comunistas financiados respectivamente pela China e plos Soviéticos—em suas discussões. Os Terroristas Comunistas, ou "Comunas," como eram chamados, eram apenas um dos muitos problemas enfrentados por sua nação, mas ele simplesmente não aguentava mais ouvir seus homens falarem sobre a porra de comunistas por mais tempo quando eles tinham ameaças mais graves e esotéricas para enfrentar.

Os olhos de Smith então se encontraram com um homem em um uniforme camuflado decorado parado na extremidade oposta da sala—o Tenente-General Peter Walls, comandante das Forças de Segurança da Rodésia. Apenas uma olhada em seu rosto cansado foi suficiente para Smith saber exatamente o que precisava ser dito agora.

"Certo. Vou encerrar esta reunião por enquanto," Smith falou, para o grande desgosto dos oficiais inferiores e homens na sala, que pararam de falar e avaliar seus relatórios. "Tenho outra reunião marcada para este momento, nesta sala. Obrigado a todos por virem, todos vocês estão dispensados."

Eles olharam para ele e para Walls como se algo tivesse sido dito em uma língua alienígena. Smith balançou a mão, como se estivesse sinalizando para eles saírem. "Diga aos homens de fora para entrar ao sair, por favor," acrescentou ele.

Logo, Smith e seu general principal estavam sozinhos. Ele viu que Walls ainda estava olhando atentamente para um grande mapa do país esparramado na mesa central, salpicado de marcações e estatuetas coloridas indicando mobilizações amigas e inimigas. Smith caminhou lentamente até o homem e olhou para o mapa.

Todos sabiam que o mundo estava dividido. Enquanto o Ocidente e o Oriente brigavam com conflitos por procuração, colocando país contra país em seu grande jogo de geopolítica, a Rodésia permanecia uma exceção. O continente africano estava recheado de conflitos gerados pela ganância pessoal de políticos incompetentes e vários fatores externos que influenciavam o processo de descolonização, mas era seu país que permanecia forte diante das adversidades.

Desde a declaração unilateral de independência em 65, o mundo inteiro parecia estar contra o governo de minoria branca da Rodésia, determinado a virar seu modo de vida ao avesso. Eles tinham muito pouca ajuda do mundo externo, exceto por alguns países seletos e outros atores privados, razão pela qual os homens do lado de fora da sala convocando a reunião eram tão importantes para Smith.

"A ZANU está ficando arrogante, senhor." Observou Walls, só agora percebendo que Ian estava olhando por cima de seu ombro. Dado que o homem mais poderoso da Rodésia raramente vinha a essas reuniões militares, era compreensível que ele estivesse um pouco nervoso. "Os, uh, 'empreiteiros' lá fora têm mais a dizer sobre esse assunto, mas… só para você saber, os comunas agora estão trabalhando com você-sabe-quem."

"Grande Zimbábue?" Murmurou Smith. Walls balançou a cabeça. Isso fez com que o Primeiro-Ministro soltasse um sibilo enquanto se virava para a porta, bem na hora de vê-la se abrir. 'Vamos só esperar que nossos reparadores tenham um plano ou bugiganga pra isso."

Dois homens entraram em passo sincronizado: um homem alto em roupas civis e outro em um terno e gravata de aparência cara. O homem mais alto fechou a porta atrás deles e a trancou, antes de se juntar ao seu colega mais bem-vestido perto dos rodesianos.

A sala ficou em silêncio por um momento enquanto todos trocavam alguns olhares um para o outro, antes do homem alto falar primeiro. "Olá."

Smith olhou para eles com uma cara de paisagem. "Qualquer que seja a notícia que a Insurgência do Caos tem para me trazer hoje é melhor que valha o meu tempo" afirmou ele com naturalidade, examinando os dois homens com olhos de julgamento. "Entendo que o Comando Delta esteja com dúvidas sobre se enviar, mas eu preferiria muito mais tê-los aqui pessoalmente do que um representante."

"Primeiro-Ministro Smith, com todo o respeito, nós somos o Comando Delta," o homem de terno gesticulou para si mesmo, depois para seu parceiro. Seu sotaque parecia sugerir que ele era inglês. "Embora, nem todos de nós estejamos aqui. Nós éramos simplesmente os dois mais próximos."

Smith balançou a cabeça. "Ah. Bem, se vocês estão aqui em pessoal, é melhor que vocês tenham alguma notícia do caralho pra me dar, porque eu tenho más notícias que vocês provavelmente já sabem. Acabei de receber uma notícia do meu principal general de que os comunas estão agora cooperando com os terroristas da Grande Zimbábue."

"Grande Zimbábue, os dobradores de realidade hostis…" o americano em roupas civis tinha um sotaque sulista quase estereotípico enquanto começava um monólogo. Ele andou ao redor do mapa no centro da sala. "É exatamente o que parece: um grupo de cerca de uma centena de selvagens tribais que querem reescrever a história para tornar a Rodésia irrelevante. Imagina quanta merda isso daria com os Scippers se isso acontecesse."

Smith batia os dedos na mesa com impaciência enquanto o americano falava. Claro, ele já sabia dessa informação, então ouvir um cowboy reiterá-la dramaticamente foi um pouco irritante.

"Se você terminou, eu gostaria de continuar." Rosnou Smith. "Vocês já estão cientes da minha política com a Fundação SCP. Qualquer grupo que pretenda operar dentro das fronteiras da Rodésia deve vir a mim primeiro. Parece que eles nunca receberam a mensagem… dado que eles têm um punhado de Sítios ativos dentro de nossas fronteiras." Smith fez uma pausa. "Além disso, eles escolheram estudar a Grande Zimbábue, em vez de simplesmente eliminá-la…"

Outra pausa. "Eles são irrelevantes. Não podemos deixar a história rodesiana ser reescrita por esses comunas anômalos."

O americano estremeceu, inalando bruscamente por entre os dentes. "Bem, tecnicamente, eles sempre estiveram aqui… mas decidiram reaparecer no momento mais inoportuno—"

"Eu não ligo." Disse Smith. "A Grande Zimbábue deseja nos apagar com seja lá qual monstruosidade abominável que eles estão construindo perto de Masvingo. Isso não vai contra a declaração de missão da Insurgência, hein? De querer proteger a humanidade do anômalo lutando contra ele com seu próprio arsenal de anomalias?"

Ele parou, olhando carrancudo para os dois membros do Comando Delta, que apenas cruzaram os braços e ouviram. "Quero saber que progresso a Grande Zimbábue fez em seus esforços na construção de seu dispositivo e como a Insurgência ou minhas forças especiais podem sabotá-lo."

"Bem…" continuou o americano. "Atualmente, ele está quase pela metade. Ultimamente, eles têm usado a ZANU para fazer seu trabalho sujo, coletando materiais e coisas do gênero para montar sua pequena super arma, enquanto permanecem escondidos. Novamente, a Grande Zimbábue é pequena, altamente centralizada, também, então eles não querem desperdiçar seus preciosos homens com tais tarefas."

O americano se mexeu por um momento. "Nós, do Comando Delta, sabemos tanto quanto a Fundação sobre a super arma em si—sendo que não sabemos muito—mas emboscar comboios de suprimentos ocasionalmente guardados por dobradores de realidade é tão difícil quanto parece."

"Minhas forças especiais já lutaram sob probabilidades impossíveis antes," observou Walls. "Como o Primeiro-Ministro disse, simplesmente precisamos da inteligência necessária da Insurgência para emboscar esses comboios e sabotar sua arma."

O americano balançou a cabeça, apresentando alguns documentos dentro de pastas de papel pardo e colocando-os sobre a mesa. "Temos trabalhado nisso."

"Se eu fosse você, eu guardava seus homens para batalhas convencionais…" respondeu o Insurgente inglês, sua voz divagando levemente quando Walls pegou os arquivos. "Ou para defender suas próprias linhas logísticas. É suicídio se envolver em combate direto com dobradores de realidade, então deixe essa tarefa para nós."

Ele abaixou o tom por um momento. "Falando nisso… O Engenheiro recebeu a notícia da existência de uma entidade anômala que os ianques enfrentaram no Vietnã. Acredito que a Grande Zimbábue encontrou uma maneira de trazer a fera para cá, embora ninguém saiba ao certo. Enquanto isso, encarreguei os Escoteiros de Hudson de investigar isso."

"Então, além de lidar com a Grande Zimbábue, temos que lidar com… monstros." Smith suspirou alto, revirando os olhos. "Espero que sua pequena unidade de estimação esteja bem equipada o suficiente para destruir essa ameaça."

O Americano abriu um sorriso. "Os Escoteiros de Hudson estão, com certeza. Assim como a GOC."

Smith soltou um gemido audível.

Uma vez que a GOC estivesse envolvida, teria que haver um nível totalmente novo de negociações e diplomacia. Sabendo da visão negativa da ONU em relação ao seu país, negociar com suas forças anômalas de manutenção da paz seria ainda mais difícil. Ele teria que lidar com uma organização que não só era bem financiada e altamente treinada (como a Fundação), mas também que era um pouco mais intrometida e assertiva em suas demandas, já que a GOC tendia a gostar de fazer as coisas do seu jeito, sem ajuda.

Smith fez uma carranca para os dois membros do Comando Delta. "Não me diga que a Coalizão já está a caminho para destruí-la."

Walls tossiu. Smith se virou para seu general, que suspirou assim que o Primeiro-Ministro pôs os olhos nele. "Eu que chamei eles. A GOC está enviando uma Equipe de Assalto para liquidar a para-ameaça. Eles devem chegar hoje." Walls fez uma pausa. "Senhor… Eu simplesmente não podia enviar mais nenhum de nossos homens para destruí-la—"

"Tudo bem." Murmurou Smith, sabendo que, na verdade não estava tudo bem. "Tudo bem. O que está feito está feito, e eu agradeço pelo que você fez para preservar a vida de nossos homens, Peter. Enquanto isso…" Ele se virou para o americano e o inglês. "Preciso da ajuda da Insurgência para descobrir mais sobre a Grande Zimbábue, Nos mande o máximo de informações que vocês tiverem sobre eles. Se eles realmente são potentes dobradores de realidade, talvez sumir com eles remova qualquer maldição que eles tenham colocado em, nós. Não importa quão bem lutemos, quão eficazes sejam nossas táticas de combate e quantos comunas matamos, ainda tenho a sensação de que estamos travando uma guerra perdida."

"Você terá minha garantia de que as seções de Pesquisa e Militar da Insurgência estarão trabalhando duro nisso," observou o americano.

"Quero encarregar os Escoteiros de Hudson de ajudar a GOC a neutralizar a ameaça atual," continuou Smith. "Faça com que eles se agarrem à GOC como moscas a um cadáver, se for preciso. Não me importo se a GOC não quiser, porque não quero que eles andem por aí sem vigilância."

"Será feito." O inglês gesticulou para si mesmo, "Meu associado e eu atenderemos suas preocupações imediatamente. Quando ordens adicionais vierem do Engenheiro, vocês serão os segundos a ouvi-las."

"Bom," respondeu Smith. "Se vocês não têm mais nada para mim, ou qualquer outra notícia que eu deva saber, vocês estão dispensados.

Ele observou os dois homens partirem e voltou para o mapa. Nada iria ficar em seu caminho. Isto é, desde que Smith conseguisse o que queria. Apesar de todos os embargos e condenações internacionais, ou as incursões dos comunas, ou as ações feitas pela Grande Zimbábue, os rodesianos que lutaram sob seu comando e de Walls estavam empenhados em preservar seu modo de vida e manter a Rodésia como o farol brilhante do desfia e democracia na África.

Muitos deles, incluindo o Smith, estavam preparados para lutar até o amargo fim,e com a Insurgência do Caos ao seu lado, eles pelo menos tinham uma chance na luta.

Só o tempo diria se as contribuições da Insurgência e as chamadas ordens proféticas do Engenheiro se concretizariam.


Ver o sol se pondo no horizonte era uma vista que nunca ficava velha para Jai.

Havia algo em experimentar uma vista tão bonita em um continente antigo como a África que era simplesmente tão surreal para ele. A terra ao seu redor era a mesma até onde a vista alcançava; grama alta cruzava com uma ocasional acácia, toda saturada de um tom alaranjado profundo do sol poente.

Era uma vista que só se podia ter em um cartão postal ou em uma fotografia, mas ali estava ele, experimentando-a pessoalmente.

Jai caminhou em silêncio ao redor do perímetro da base, observando as vistas o máximo que podia. Sua fiel M16 estava pendurada no pescoço, de uma forma não muito diferente de seus dias na selva. Isso tornava essas "patrulhas de lobo solitário" ao redor da base de Hudson ainda mais nostálgicas para ele, pois elas o lembravam dos momentos de silêncio na selva, quando ninguém estava sendo baleado.

Mas, mesmo agora, as memórias de seu tempo lá, boas e ruins, se agarravam a ele como o fedor de maconha que ele não conseguia tirar, apesar dos banhos mais pesados. Mas por que esquecer essas memórias, afinal? O Vietnã, seu interrogatório com Zmiejewski e Watkins e sua conversa com Hudson eram apenas o começo de sua história. Jai havia entrado em um mundo onde a única maneira de sobreviver era abandonar toda a razão e compreensão do mundo que ele conhecia. Ele percebeu que não tinha mais tempo para refletir sobre esse tipo de coisa.

Embora… ainda havia algo. Algum pensamento persistente perturbando-o no fundo de sua mente, algum sentimento fugaz que simplesmente não o deixava esquecer seu pelotão, ou Cody Parsons, ou mesmo o campo de treinamento. Ele não conseguia se livrar dele, então a próxima melhor opção era simplesmente deixá-lo em paz.

Mas será que isso funcionaria?

O novo uniforme cáqui que ele usava e o rifle que comprou vieram de seus próprios bolsos desde que começou a trabalhar para Hudson. Apesar de como ele carregava sua M16, como ele a personalizou—diabos, mesmo a maneira relaxada com que ele usava seu novo uniforme, tudo era uma lembrança constante de seus dias na selva…

…e essas memórias não iam embora.

"Ei, Perryman!"

Jai parou, virando-se para ver um homem branco de uniforme militar cáqui correndo em sua direção. "Sim?"

O homem apontou de volta para a base com o polegar. "O chefe precisa de você para uma reunião sobre a missão. Bem rápida, pelo que parece."

"Tudo bem." Jai balançou a cabeça. Sem muito mais a dizer, ele passou pelo homem e caminhou sem intercorrências em direção à base.

Aos poucos, a grama e as árvores ao seu redor começaram a se transformas em estradas de terra e caminhos de cascalho, que deram lugar a muros de concreto pré-fabricados e outras fortificações. Um metralhador em uma torre de vigia acenou para Jai enquanto ele passava pelos portões e entrava na base, onde seus ouvidos se encheram de sons de pessoas latindo ordens, homens consertando veículos e outros barulhos gerais.

Ele se aproximou de um grande edifício pré-fabricado central sob a bandeira da Rodésia, onde ele podia ouvir refrãos de guitarra de rock psicodélico vindo de uma caixa de som, seguidos por uma voz familiar de um africâner discutindo algo de maneira explicativa. Ao entrar no edifício e entrar na sala, ele quase mandou um Hudson assustado para o teto quando o homem se virou e o viu.

"Puta merda, Jai, pelo menos se anuncie antes de entrar!" Hudson riu. "Bem-vindo."

Jai só encolheu os ombros enquanto se sentava em uma das cadeiras dobráveis da sala. "Sou quieto, desculpe."

Logo de cara, alguns olhares ao redor da sala confirmavam que havia cerca de seis pessoas presentes, sem contar Hudson, mas havia alguém novo que ele não reconhecia. Uma mulher estava sentada em um dos bancos da frente, de pele bronzeada e cabelos escuros curtos, embora Jai não soubesse dizer que nacionalidade ela era. O uniforme camuflado de "caçadora de patos" que ela usava também era intrigante… talvez um novo recruta?

Além disso, metade das pessoas na sala usavam braçadeiras amarelas, enquanto a outra metade usava braçadeiras vermelhas. O próprio assento de Jai tinha uma braçadeira amarela, ele a pegou e a inspecionou enquanto Hudson continuava falando.

"Certo, então…" Continuou Hudson, apontando para um quadro em que ele estava apresentando, que tinha um mapa preso. "Vou reiterar suas missões uma última vez para o Sr. Perryman. A Equipe Vermelha levará o Unimog e estabelecerá um posto avançado aqui," ele apontou para uma colina no mapa, e então desenhou um círculo maior em torno de sua posição que cobria grande parte do mapa. "Eles vão montar as armas de campo e manter comunicação constante com a Equipe Amarela de lá."

Ele então olhou para Jai, seus olhos travando com os do fuzileiro. "Equipe Amarela… Entendo que esta missão possa ser um pouco… pessoal, para alguns de vocês…" Ele sorriu por um momento, e então se virou para o quadro. "Vocês estarão estabelecendo um movimento para entrar em contato com um Agressor de Grande Escala enquanto se mantém dentro do alcance efetivo da Equipe VERMELHA."

Jai ergueu uma sobrancelha. O que diabos era um 'Agressor de Grande Escala?'

"Acredita-se que o alvo seja uma entidade capaz de manipular à terra. Ela consegue viajar no solo assim como você pode nadar em um lago, ataca distorcendo à terra ao redor…-"

O mundo ao redor de Jai de repente congelou quando Hudson começou a descrever a entidade em detalhes. Ele se levantou da cadeira."

"…credita-se caçar pelo som.-" Hudson parou. "Algum problema, Sr. perryman?"

"Hudson… aquela coisa acabou com meu pelotão inteiro no Vietnã." Jai apontou um dedo para o homem, olhando para ele com indignação. "E agora você a quer morta?"

Hudson ergueu as palmas das mãos de forma exagerada, como se mostrando que suas mãos estavam limpas. "Bem, não fui eu quem ordenou isso, Jai. O Comando e os rodesianos querem ela morta. Por algum golpe de azar, ela veio parar da Ásia para a África. Se você me perguntar, acho que a Grande Zimbábue tem algo a ver com isso."

Ele cruzou os braços atrás das costas e então sorriu. "Além disso, um pouco de vingança não mata ninguém, amigo."

Jai voltou a se sentar, mas antes que pudesse pensar mais sobre a situação, a mulher estranha da frente se virou para ele. "Tem algum rancor contra essa coisa ou algo assim, Jay?"

Jai olhou para ela. "Sim… e é Jai—desculpe, quem é você exatamente?"

"Certo, estamos fugindo do assunto," disse Hudson. "Como vocês escolherem exterminar esta entidade é com vocês, mas eu diria que é melhor pegá-la enquanto estiver tentando comer algo ou alguém. Enquanto isso, Jai, Mira, Darren, nós equipamos o Land Rover com armas pesadas. Sintam-se à vontade para levar alguns de nossos Itens com vocês ao sair. Alguma outra pergunta?"

O "Darren" sentado ao lado de Jai, um homem branco enorme e careca, sacudiu a cabeça. "Só me deixe levar o microondas para esta missão."

Isso era totalmente inacreditável, e Jai estava sem palavras. Ele não tinha palavras para a reunião ou a missão, nenhum pensamento além de raiva e frustração irracionais, então o punho fechado e o rosto franzido transmitiam bem o que ele queria dizer…

…mas talvez Hudson estivesse certo. Talvez vingança fosse exatamente o que ele precisava para tirar essas memórias de sua cabeça. Além disso, que melhor maneira havia de realizar sua vingança do que com pessoas especializadas em destruir essas coisas?

"Não." Jai sacudiu a cabeça e pegou seu rifle. "Estou pronto."

Hudson sorriu, como se Jai se levantar fosse algum tipo de plano dele. "Ótimo. Vá arrasar."

Ladeado por mais ninguém, Jai saiu da sala. Se ele queria vingar Cody Parsons e seu pelotão, ele não podia se dar ao luxo de ter dúvidas agora.

É vencer ou morrer.

***

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O Land Rover estava equipado com duas armas principais: uma metralhadora pesada montada em uma articulação na porta do lado do passageiro e um lançador de mísseis antitanque guiados montado no topo do veículo. Teoricamente, qualquer ameaça convencional que eles enfrentassem poderia ser eliminada com facilidade… sem falar que eles poderiam simplesmente fugir de qualquer coisa perigosa demais para ser destruída.

Apesar de todo o seu poder de fogo, porém, Jai ainda se sentia vulnerável sentado ao ar livre. A razão mais premente era simples: ele sabia que eles não tinham nada poderoso o suficiente para destruir um monstro daquele tamanho. Dai havia a outra razão: isso era algo que podia viajar no solo como se nadava na água.

Assim como um submarino em mar aberto, eles não tinham ideia de onde a coisa estava ou pra onde estava indo. Por tudo que Jai sabia, eles poderiam estar estacionados acima dela esse tempo todo.

Ele examinava tensamente o horizonte através de seus binóculos. Eles ainda tinham um pouco de luz do dia restante, mas não por muito tempo, então eles teriam que ser rápidos com o que quer que estivessem fazendo… senão eles teriam que arriscar dormir aqui e ir atrás da coisa pela manhã.

"De você disse que era mesmo?" Perguntou Darren do nada, suas pernas saindo da janela do passageiro enquanto usava a porta para descansar as pernas.

Jai respondeu sucintamente. "Atlanta."

"Não tô falando com você, garoto," respondeu Darren, gesticulando para Mira. "Tô falando com ela. Ela não falou nada."

Jai olhou para a mulher por um momento, depois voltou a olhar pelo binóculo. A atenção dela também estava fixada em algo distante, talvez um animal nas colinas ou na grama, embora ele não soubesse dizer o que era. Apesar da conversa, os olhos dela permaneciam grudados no horizonte.

"Do norte," respondeu ela. Jai tinha ouvido pessoas de todas as esferas da vida afirmarem que eram "do norte," mas a falta de qualquer sotaque discernível do norte o fazia se perguntar de onde ela era.

Darren bufou, como se não achasse graça. "Como você foi parar nessa?'

"Oferta de emprego."

Darren levantou uma sobrancelha para isso. "Ele é o milico, ela recebeu uma oferta de emprego… cês querem saber como eu me envolvi nessa merda?" Ele fez uma pausa. "Eu deveria estar no corredor da morte, cara. Fui acusado de alguma merda de assassinato cultista, dai algum cara aparentemente trabalhando para os federais me pagou fiança e me botou pra trabalhar nisso. Da última vez que verifiquei, ele ainda é procurado por personificação. 'Roubou o rosto do cara de verdade,' ele me disse."

Darren riu de sua própria história. Ninguém mais estava acreditando, então Jai voltou a olhar pelos—

"Ah, merda." Praguejou Mira, apontando para uma direção que Jai estava olhando. No topo de uma colina à frente deles, ele viu uma pequena nuvem de poeira, como se algum pequeno animal tivesse fugido aleatoriamente.

"O quê?" perguntou Darren, voltando para seu assento.

"Vi um pouco de terra subir, dai uma gineta ou algo assim foi agarrado," explicou Mira. "Ela entrou no chão, indo pro norte, Jai."

Jai imediatamente largou o binóculo, ligou o motor do Land Rover e pisou fundo. Eles saltaram pela savana, deslizando brevemente sobre um monte no chão, antes dele desligar o motor mais uma vez no topo da colina que Mira havia apontado.

Como de costume… eles não viram nada. Nada além de grama, colinas e uma ocasional acácia. Jai suspirou alto e caiu de volta em seu assento.

"Parece que perdemos a coisa. De novo." Darren observou o dolorosamente óbvio. Ele se virou para Jai. "Odeio dizer isso a você, garoto, mas esse seu plano idiota de 'caça lenta?' Não vai funcionar a menos que comecemos a fazer mais barulho para atrai-la."

Antes que Jai tivesse a chance de responder, o rádio portátil no painel ganhou vida. "Hudson para as Equipes Vermelho e Amarelo: Atenção, os Gockies estão chegando."

"Gockies?" Jai ergueu a cabeça para o céu. Como se na eixa, uma sombra apareceu de repente em cima deles quando um grande avião de carga se materializou do nada. O enorme avião a jato cromado sacudiu o chão e seu veículo com o sobrevoo, soltando quatro conjuntos de paraquedas de sua porta de carga traseira aberta, antes de acelerar no horizonte.

Jai viu o avião assumir uma aparência vítrea enquanto fazia isso. Ele piscou novamente—ele sumiu, deixando apenas os quatro objetos que desciam lentamente dos paraquedas no céu, e um par de rastros que pareciam desaparecer abruptamente. "Que diabos?"

"É, essa é a GOC," zombou Mira. "Não se preocupe, Jai. Alta tecnologia é apenas a ponta do iceberg para eles."

Alta tecnologia? Iceberg? Sem falar que, o que era a GOC? "Eu… tá." Ele só sacudiu a cabeça naquele momento. Sem tempo para perguntas. "Descubro isso mais tarde."

"Acha que eles sabem que estamos aqui?" Perguntou Darren, inclinando-se em seu assento, como se estivesse pronto para manejar a metralhadora.

Mira sacudiu a cabeça. "Eles provavelmente acham que somos rodesianos, se fingirmos direito. Jai, dirija até a outra colina, eles pousaram depois dela, dai façam o que eu fizer."

Jai fez o que lhe foi dito, levando o Land Rover por mais uma colina mais perto de onde os paraquedas estavam caindo. Ele e Mira então desceram, deixando para trás um Darren confuso para continuar manejando a metralhadora.

"Então," começou Jai, quebrando seu silêncio enquanto eles desciam a colina para então começar a subir a próxima. "Você vai me dizer quem é a GOC, ou não?"

Mira ainda estava olhando para frente enquanto subia a colina. "A Coalizão Oculta Global," começou ela. "É basicamente o exército secreto de alta tecnologia da ONU. Pense nos capacetes azuis, mas especificamente para lidar com anomalias e pessoas como nós."

"Suponho que eles não são muito amigáveis."

"Depende de como eles se sentem no dia. Eu não gosto deles."

"E aquele avião que desapareceu, hein?"

Mira encolheu os ombros. "Se eu fosse chutar, alguma merda mágica de invisibilidade e abafamento de som. Caso você não tenha percebido… eles estão algumas décadas à frente de todos os outros em termos de tecnologia anômala."

Jai apenas suspirou àquela altura. "Suponho que quanto menos eu souber, melhor."

Mira deu um joinha. "Isso não é uma mentalidade ruim de se ter, Jay."

Ao chegarem ao topo da colina, Jai observou os paraquedas se enrolarem lentamente sobre os quatro objetos agora em solo, ocultando-os da vista. Mas, antes que ele pudesse se aproximar mais, Mira estendeu uma mão na frente dele enquanto sua outra mão mantinha um aperto firme em seu rifle. Ele a viu fazer um sinal de paz de lado. "Dois deles."

Claramente, Jai podia ver duas protuberâncias movendo-se lentamente sob os paraquedas. Ele instintivamente pegou sua M16 da posição pendurada nas costas. "Por que eles só enviaram dois?"

Antes que Mira pudesse responder, de repente houve um clarão. Jai viu os paraquedas se dissolverem em brasas brilhantes diante de seus olhos, como se tivessem explodido espontaneamente em chamas.

Isso lhes revelou os dois chegados da GOC: havia um homem branco alto, presumivelmente na casa dos 40, ostentando um bigode impressionante e o físico de uma escultura renascentista sob seu uniforme de manga curta sem marca. Havia também uma mulher da idade dele, com o cabelo preso em um rabo de cavalo, revirando uma mochila aos pés. O trevo nuclear impresso em sua regata fez Jai estremecer, mas ele não tinha certeza do porquê.

Jai piscou, virando-se para Mira. "Nós deve-"

"EI!"

Ele olhou de volta para os paraquedas. Antes mesmo que ele tivesse a chance de pegar seu rifle, a mulher já estava a uma curta distância de Jai e Mira, empunhando uma arma que Jai só tinha visto as forças especiais americanas usarem na selva: uma CAR-15. Um par de LAWs pendia de uma tipoia em seu ombro livre.

É. Eles têm mais poder aqui.

"Quem DIABOS são vocês?" Exigiu a mulher, apontando a arma para Jai, depois para Mira.

Jai ergueu as mãos. "Opa, opa, somos-"

"Ei, se acalme, Jackrabbit," disse o homem, subindo a colina para se juntar aos outros. Sua fala foi rápida, rápida demais, até, como se ele estivesse com pressa para pronunciar cada palavra. Apesar disso, Jai de alguma forma sabia o que ele estava dizendo. "Esses são moradores locais. Cê não se lembra disso no informativo?"

Jai viu a mulher olhar para ele por um momento, antes de baixar a arma e recuar. "Hum. Sim. Eu lembro. Pare de falar demais, Roadrunner. Eu fiz as malas conforme isso."

O homem se encolheu por um momento, depois continuou com sua mesma fala rápida de antes. "Desculpe sobre minha parceira, ela é um pouco entusiasma. Ela é a Agente Jackrabbit. Somos a Equipe de Assalto 079, "Cabeças Quentes". Disseram-me que vocês estavam nos esperando."

Jai abriu a boca para falar. Mira falou antes dele. "Estávamos. Estamos com os Escoteiros de Hudson, um destacamento para anomalias da Infantaria Leve da Rodésia."

"Aham. Isso eu tô vendo." Roadrunner concordou, colocando a mão no queixo. "Bem, nos disseram que há um monstro por aí, do tipo AGE. Se importam de nos mostrar onde que ele tá?"

Mira fez um gesto para Jai. Agora no centro das atenções, ele relutantemente deu um passo à frente. "Nós, uh, temos caçado ele nos últimos trinta minutos, e ele está em algum lugar ao norte daqui." Ele então apontou para a savana aberta. "Ele acabou de se esconder agora, e estamos tentando reencontrá-lo."

Ele continuou, levantando um dedo para dar ênfase. "Mesmo que cês estejam aqui para ajudar, não sei se matá-lo é uma opção com nossos armamentos atuais, e temos apoio de artilharia."

Naquele momento, Jai viu jackrabbit bufar, como se o que ela o ouvira dizer fosse uma piada. Ela então colocou algo grande contra seu ombro. Era uma arma grande e quadrada, mas os quatro tubos para foguetes imediatamente revelaram o que era para ele: um lançador de foguetes M202 FLASH. As palavras "JENNY MORTIFERA" estavam escritas na lateral em branco, em negrito, junto com seis marcas de enumeração.

"Eu gostaria de vê-lo tentar," ela zombou.

"Filho, com todo o respeito a você e seus esforços, temos rastreado essa coisa desde que ela apareceu no Vietnã em 69," acrescentou Roadrunner. "Nós sabemos que ela caça usando vibrações, e sabemos que ela pode ser derrotada. Apenas nos mostre onde ela está, e nós vamos cuidar disso, tá?"

Jai piscou. Eles estavam falando sério? Eles eram mesmo tão arrogantes?"

"Eu estava lá," disse ele friamente, enfatizando seu argumento com um dedo apontado para o peito. "Aquela coisa resistiu a tudo o que meu pelotão e até os vietnamitas jogaram nela. Napalm, atilharia, foguetes, tudo."

Roadrunner deu um passo à frente, e então olhou para Jai. "Minhas condolências à sua unidade. Mas repito: nós podemos cuidar disso."

Jai bufou. "Eu não acho que você entende que ela vai matar a todos nós se não formos com cuidado e inteligência. Dar de cara nela não é o jeito."

"…Olha, amigo, entendo que você é, sabe, novo em tudo isso," Jackrabbit começou de repente, um pouco de simpatia em seu tom. "Mas eu não acho que você percebe quem somos. Explodir merdas grandes é meio que nosso trabalho. Eu tenho a porra de um doutorado em engenharia pirotécnica—eu diria que isso me deixa bastante qualificada para cuidar disso."

"Touché." Interveio Mira.

A mente de Jai disparou por um momento, tentando encontrar alguma resposta engenhosa ou algo semelhante, mas as palavras saíram de sua boca mais rápido do que ele pode pensar. "Eu, uh, sei algumas coisas."

Todos, exceto Jackrabbit, riram. Ela estreitou os olhos, obviamente sabendo que ele estava mentindo, mas Jai viu uma emoção adicional por trás de seus olhos: curiosidade. "Você já matou um tipo verde antes, amigo?"

"Não, eu, ahm, assumo que você só atira em um quando não ele não estiver olhando," ele mentiu, sem saber do que ela estava falando. "Não deve ser tão difícil. Além disso, eu me qualifiquei como um atirador especialista nos fuzileiros navais. Dizem que a arma mais mortal do mundo é um fuzileiro e seu rifle."

O queixo de Jackrabbit caiu. Ela imediatamente virou a cabeça por cima do ombro e olhou para seu parceiro, sorrindo descontroladamente. "Roadrunner, esse cara sabe bem." Ela apontou para Jai. "Eu quero ele comigo. Precisamos de um plano primeiro."

"…Eu achou que o plano anterior do Jai era discutível," começou Mira. "O que eu estava pensando—e ele deve concordar comigo sobre isso—é que forçamos a coisa a uma emboscada."

"Certo," disse Jackrabbit, como se entendesse. "Uma vez que vocês atraírem a coisa até nós, enquanto estamos em uma posição bem defendida, tudo o que temos a fazer é simplesmente explodir ela até morrer quando estiver à vista. Se essa coisa for pega entre mim, Roadrunner e sua artilharia, vamos fumá-la."

"Há um longo trecho de terreno aberto cercado por colinas ao leste," acrescentou Jai. "Podemos atraí-la para lá coma artilharia."

"Boa ideia," Roadrunner sorriu. "Mas o que impede ela de simplesmente fugir para o lado e deixar o campo? Nós lemos os dados: ela gosta de correr atrás de alvos em fuga às vezes."

Naquele momento, foi como se uma lâmpada acendesse na cabeça de Jai e Mira. Ambos os insurgentes olharam um para o outro e sorriram, como se nenhuma outra palavra precisasse ser dita, então se voltaram para Roadrunner e Jackrabbit.

"Nós temos uma isca, tá," Mira sorriu, "E ele vai adorar esse plano."


"VocÊ quer que eu o QUE?!"

Darren parou o Land Rover. Ele se virou para Jai e Jackrabbit, o primeiro só olhando para ele enquanto a última tinha um sorriso largo e psicótico no rosto. Seu nariz se enrugou de desgosto enquanto ele processava os detalhes finais do plano.

"Bem… que outras ideias você tem para matar essa coisa, idiota?" Bufou Jackrabbit. "Além disso, quer você concorde ou não, todo mundo está de acordo com esse novo plano." Ela apontou para as colinas à esquerda. "Agora, tudo o que precisamos fazer é esperar Roadrunner e a amiga do Jai terminaram de rastejar até o ponto de emboscada."

Darren colocou a testa no volante enquanto Jackrabbit ria. "Essa merda é ridícula pra porra."

"Ei, pelo menos você tem um jipe, amigo, nós só temos nossos pés!"

"Ele é um LAND ROVER."

Jai ouviu os dois discutindo por um momento, antes de ouvir o rádio no painel estalar novamente. Ele o pegou e ligou, examinando a área pela qual Darren deveria dirigir uma última vez. "Em posição, todos?"

"Estamos aqui," respondeu Roadrunner, levemente sem fôlego. "Em posição."

"Darren, vá." Murmurou Jai, ligando o rádio mais uma vez enquanto Darren continuava dirigindo. "Jai para a Equipe Vermelha, disparem sobre aquela grade de referência que dei a vocês, seguindo para o norte ao longo dessa linha."

Houve uma pausa, antes de uma voz responder: "Equipe Vermelha aqui, câmbio. Aguardem, cinco tiros a caminho."

Jai então ouviu cinco bums ao longe. Darren já estava pisando fundo àquela altura; seu Land Rover deslizava pela savana e saltava sobre colinas gramadas e estradas de terra. Uma nuvem de poeira foi deixada para trás, mas além dela, Jai viu algo mais os perseguindo.

Uma onda, muito parecida com a de uma pedra caindo na água apareceu na colina atrás deles. Dai, a colina começou a se mover atrás deles.

grrrrrrrrrr

"CONTATO, retaguarda, em perseguição!" A boca de Jackrabbit estava aberta em admiração. "Caraaalho—aquele é filho da puta grande! Vamos deixá-lo puto!"

Darren gritou por cima do motor estrondoso do Land Rover. "Calma, o que diabos você tá fazendo?!"

Assobios estridentes ressoaram ao alto quando várias explosões subitamente floresceram no topo da colina em movimento. Embora as árvores e a grama no topo da colina tivessem sido chamuscadas pelas explosões, o monte em si ignorou a artilharia como uma pedra atirada contra um tanque de batalha.

Ele ouviu um clique acima de sua cabeça, seguido por um alto WHOOSH, quando um foguete voou do lançador ATGM montado em cima do veículo. Outra explosão apareceu no monte, então Jai viu o monte parar por um momento. Ele então mudou de direção e começou a perseguir, demolindo tudo em seu caminho enquanto seguia direto para o Land Rover.

"Ou, que porra é essa?!" Gritou Darren. "Isso não fazia parte do seu plano, Jackrabbit!"

"Eu sei!" Ela gargalhou, descendo da torreta. "Eu só queria irritar aquela coisa!"

O coração de Jai estava batendo com força em seu peito. Ele apertou a alça em cima da janela do passageiro com toda a força enquanto Darren continuava dirigindo. Mais à frente e à direita, ele podia ver uma grande colina se aproximando. "Se prepare para pular!"

grrrrrrrr

Darren lutava para manter o Land Rover em linha reta devido ao chão tremendo terrivelmente com o monstro que se aproximava. De repente, ele agarrou algo a seus pés, empurrando o objeto quadrado nos braços de Jai enquanto o olhava diretamente nos olhos. "Só pegue o maldito micro-ondas, Jai! Anda!"

Jackrabbit já tinha saído pelo lado do Land Rover, subindo a colina à direita apesar de estar carregando uma mochila tão grande. Jai a seguiu logo depois, rolando para fora do veículo em movimento e se levantando enquanto começava a subida íngreme.

GRRRRRRR

Suas pernas pareciam estar pegando fogo quando ele chegou no topo da colina. Jai deslizou sobre as costas como um jogador de beisebol correndo para a base. Ele prontamente rolou em uma posição de bruços ao lado de Jackrabbit. A agente da GOC tinha deixado cair a mochila aos pés e já estava pegando um pente de quatro foguetes para seu lançador, que então enfiou em sua traseira.

Ela levou o FLASH ao ombro enquanto se ajoelhava, lentamente mirando no monte que perseguia o Land Rover. "Me dê uma distância, cara…"

Jai deu uma olhada para baixo, fazendo uma estimativa aproximada de sua distância até o alvo. "Cem metros—aquela coisa vai COMER ele!" gritou ele de repente, vendo o monte deformar a terra ao redor do Land Rover em uma forma de tigela invertida. "Vai!"

Jackrabbit soltou o dispositivo de segurança do lançador, e Jai pôde ver uma estranha luz vermelha se acumulando dentro de cada um dos quatro tubos. Ela olhou por cima do ombro para ele. "SAIA DA ZONA DE PERIGO!"

Como se entendesse, Jai se afastou para longe dela. Uma vez a uma distância segura, ele olhou para ela, depois para trás dela, antes de tapar os ouvidos. "ZONA LIMPA!"

WHOOOOSHH WHOOOOSHH

Uma espessa nuvem de poeira foi levantada ao redor deles, quando os dois foguetes foram disparados para baixo. Primeiro veio uma batida ensurdecedora, seguida por um bum ainda mais alto, quando dois pilares de fogo emergiram do flanco do monte vivo. Mais dois foguetes das colinas opostas atingiram o outro lado do monstro—Jai podia ver uma explosão azul expandindo para fora, seguida por uma coluna esbranquiçada de fogo que fez o ar ao redor do alvo brilhar.

O Land Rover fugiu assim que o monte parou, antes de soltar um rugido gutural de dor.

"AE!" Jackrabbit já estava se preparando para disparar novamente quando Jai olhou para ver o que estava acontecendo. Assim que pedaços de terra começaram a se soltar do monte, ele viu pedaços rosados e carnudos expostos, pálidos o suficiente para mostrar a rede de vasos sanguíneos sob a pele.

Ele se encolheu quando Jackrabbit disparou mais dois foguetes no monte. Mais pedaços da terra sendo arrancados quando uma enorme tempestade de fogo irrompeu da colina móvel e um tanto carnuda. Ela então virou a cabeça para ele. "Já que você está sendo inútil pra porra agora, me dê mais alguns foguetes!

Enquanto estendia a mão para a mochila no chão, Jai parou assim que à terra de repente parou de vibrar. Ele lentamente voltou a ficar de joelhos, agarrando o objeto quadrado que Darren lhe dera em uma mão como uma bola de futebol, enquanto um pente de quatro foguetes pendia da outra.

Será que eles tinham incapacitado aquilo…? Imobilizado, até? Ele relutantemente ligou seu rádio. "Jai pra a Equipe Vermelha, disparar à vontade, ajustar ao leste da nossa grade de referência—"

GRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRR

O monte de repente mergulhou na terra e ondas explodiram para fora de onde a colina ficava, como uma pedra sendo jogada em um lago. Jai e Jackrabbit foram derrubados pelos tremores que se seguiram enquanto a colina em que estava balançava como uma árvore em uma tempestade.

Jackrabbit se sentou com um olhar surpreso em seu rosto, até mesmo conseguindo rir um pouco, apesar da situação terrível. "Puta merda!"

Ela então apontou para Jai se levantar, latindo para ele em um tom um tanto cantado e um pouco de pânico. "Hora de ir, amigo! Vai, vai, vai, vai, vai, vai, vai—"

Fissuras se abriam no chão enquanto um monte menor se erguia, correndo morro acima em direção a eles com velocidade sem precedentes. Artilharia explosiva o atingiu dos céus, mas ele ignorou quase tudo o que foi lançado nele.

Jai se levantou e correu atrás de uma Jackrabbit já em fuga, que estava gritando para ele "cair fora" o mais alto que podia. Ele ouviu mais barulhos de foguetes enquanto ela ia para a direita; Jackrabbit, então, jogou seu FLASH e, em vez disso, recorreu a atirar no monte com as LAWs descartáveis que ela trouxe.

Apesar disso, o monte continuava perseguindo ele, não importa o quão rápido ele corresse, ou quantos foguetes Jackrabbit disparasse nele. Sua respiração em pânico e as batidas de seu coração encheram seus ouvidos enquanto ele corria o mais rápido que podia, nem mesmo se atrevendo a espiar por cima dos ombros para a morte certa.

Ele então ouviu um assobio agudo acima que foi cortado abruptamente. Jai praguejou e cobriu o rosto.

A árvore próxima a ele explodiu, tirando o ar de seus pulmões e golpeando-o com um calor infernal e pedaços de madeira e terra. O chão abriu caminho para o céu crepuscular e Jai foi arremessado para uma pedra, onde o impulso de sua queda o fez rolar sobre suas costas.

Ele estava de frente para o monte que se aproximava, tinha um zumbido terrível nos ouvidos e não tinha energia para continuar se movendo. Jai contemplou o que fazer em seguida… e então parou, sentindo o objeto quadrado que ele esteve segurando todo esse tempo.

O micro-ondas.

Talvez ainda restasse algum tempo.

Ele estava se movendo mais rápido do que podia pensar. Jai mexeu no micro-ondas, avistando uma confusão incompreensível de fios, circuitos e inscrições dentro dele, que se conectava a um aparelho semelhante a uma lente soldado á porta. O senso comum lhe disse para afastar a lente de seu peito e apontá-la para o monte, enquanto ele apertava desesperadamente os únicos dois botões que não estavam marcados.

10 SEGUNDOS. ALTA POTÊNCIA.

Jai agarrou um par de alças no lado oposto do micro-ondas e ele começou a zumbir e vibrar. Ao fazer isso, Jai vislumbrou outra inscrição menor na parte de trás do micro-ondas que ele aparentemente havia não visto. Ele então imediatamente se arrependeu de ter pegado ele do Darren para começo de conversa…

…quando uma inscrição de um trevo nuclear começou a brilhar.

Ding!

Jai fechou os olhos com força e se preparou para o impacto, bem quando uma onda de rocha e terra o atingiu.

WHOOOOMP

Houve um clarão tão brilhante quanto o sol, mesmo com Jai tendo os olhos fechados com força. Os pelos de seus braços foram instantaneamente chamuscados quando um calor avassalador tomou conta de seu corpo. Ele largou o micro-ondas agora fervente e abriu os olhos, esperando ver a si mesmo na vida após a morte ou em um caixão a seis pés de profundidade.

Em vez disso, ele viu uma grande parede de terra e um buraco ainda maior explodido nela, expondo o céu arroxeado acima.

Jai ficou ali parado por um momento enquanto à terra ao seu redor se movia. Ela oscilou. Ela se mexou novamente. Ele ouviu um grunhido final e fraco vindo do monstro—como uma fera enfurecida em agonia—antes de sua casca terrosa dar lugar a uma pele rosada e cheia de veias cobertas de incontáveis bolhas, contusões e queimaduras.

A formação rochosa ao redor de Jai desmoronou. Em seu lugar ficou um monte carnudo que formava um anel concêntrico ao reder do Jai, cercado por chamas que iluminavam seu corpo. Um cone de terra queimada e brasas aparecera na frente dele; qualquer coisa pega em seu caminho tinha sido totalmente eviscerada ou carbonizada.

Como Davi diante do cadáver de Golias, Jai estava entre os restos flamejantes do monstro. Ele então olhou para si mesmo. A armadura que ele usava estava arruinada, queimaduras e lágrimas cruzavam seu uniforme e corpo.

Apesar de tudo, porém, ali estava ele, triunfante sobre o inimigo e intacto. Ele derrotou o desconhecido e viveu para contar a história. Ele vingou seu pelotão, Cody Parsons, e todos os outros que sofreram sob a ira desse monstro. Ele estava vivo.

Enquanto as chamas ao redor dele se extinguiam, Jai podia ver os outros se aproximando. Um silêncio mortal encheu o ar, tirando o crepitar de pequenas chamas ao seu redor e um vento lento passando pela área. Ninguém falou uma única palavras, mas todos sabiam inatamente o que tinha sido feito.

Ele olhou para o céu; uma estrela vermelha solitária olhava de volta para ele dos céus. Vendo isso, Jai soltou um último suspiro. Uma sensação de alívio percorreu seu corpo e ele finalmente pôs os olhos nos outros.

"Estou vivo."

***

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Em Algum Lugar no Sul da África


Na varanda da frente de uma luxuosa cabana no meio da savana, um homem estava sentado lendo um livro em silêncio. Ao fundo, o sol já havia se posto além das montanhas, e as últimas luzes do dia começavam a pintar os céus com uma mistura fantasmagórica de azuis e roxos.

Embora a escuridão estivesse lentamente se aproximando, o homem sabia inatamente que estava sendo observado. Ele desviou o olhar das páginas por um momento e olhou para a natureza.

"Venha." Falou ele pontual e claramente, com uma voz de barítono que chamava a atenção. Fora das sombras, ele viu outra pessoa se aproximando por um caminho de terra que levava à varanda; era um homem branco de terno cáqui e camisa branca, cheirando levemente a agentes de limpeza. Olhos cinzentos atentos olhavam para ele por trás dos óculos quadrados.

Os dois homens se entreolharam por um momento, como se houvesse uma troca silenciosa a ser dita, antes do homem sentado na varanda abaixar o livro—O Lobo da Estepe de Herman Hesse. Ele o colocou em uma mesa menor ao lado de sua cadeira. "Boa noite, Diretor Stine."

"Boa tarde, senhor." Respondeu Stine educadamente. "Eu vim para lhe dar seu informativo diário. Agente Tanner está ocupado com outras coisas… mas eu estava disponível."

"O Tanner é um bom garoto. Me faz me perguntar a que tipo de missão ele precisaria ser enviado por meus colegas para garantir que ele perdesse seu informativo diário." O homem suspirou, parando para tomar um gole de um copo de rum em cima de um porta-copos ao lado do livro. "Ah, bem. Suponho que eu não tenha te distraído muito de seus deveres. O que você traz a mim hoje?"

Stine revelou uma pasta de papel pardo que carregava e a colocou sobre a mesa. Ele a abriu para seu superior, apresentando uma variedade de documentos notavelmente livres de quaisquer caixas pretas de redação. Uma insígnia caótica em espiral centrada em torno de um ponto vermelho impressa no topo da página.

Fotografias granuladas em preto e branco também estavam anexadas ao dossiê, particularmente uma de um homem grande com uma barba impressionante em uniforme militar. Algumas medalhas presas ao seu uniforme. O homem tomou nota disso e inspecionou as fotografias.

"O mandachuva," começou Stine, colocando o dedo na foto do homem barbudo para dar ênfase. "É ele. Hudson Croix, comandante da unidade de reconhecimento de combate dos Escoteiros de Hudson. No papel, ela é a principal força-tarefa anômala da Rodésia, encarregada de identificar ameaças paranormais e denunciá-las ao comando."

"Ou neutralizá-las," acrescentou o homem, para o que Stine balançou a cabeça. "Eu não acho que preciso de uma explicação sobre por que nosso inimigo público número um está trabalhando com os rodesianos. Isso é uma fachada para suas operações."

"De fato, e considerando os registros de combate dos rodesianos e o atual arsenal de armas anômalas dos Escoteiros, é seguro dizer que eles são alguns dos homens e mulheres mais perigosos do continente no momento." Observou Stine sombriamente. "Ele tem sido bastante difícil de rastrear. Mais recentemente, ele apareceu na época em que o Diretor Simon Márkó foi assassinado."

"Nós o ensinamos bem," disse o homem, "Mas o histórico dele dentro de nossa organização não é importante para mim…" Seus olhos voltaram para as outras fotos. "E eles?"

Stine pegou as duas fotos restantes e as deu para o homem. A primeira era uma foto em preto e branco de uma mulher bronzeado com cabelos pretos curtos, cujo rosto mal era visível na câmera, já que seus cabelos ocultavam grande parte de seu rosto. Seus olhos, no entanto, pareciam estar olhando diretamente para os dele.

"Ela?" Perguntou o homem, um pouco nervoso com a estranheza da foto.

Stine sacudiu a cabeça. "Nadinha. Recruta nova, pelo que parece, embora o Tanner jure que já a viu antes."

"Terei que consultá-lo assim que ele voltar, então. "O homem concordou. Ele então pegou a segunda foto, segurando-a na altura dos olhos.

Um homem negro olhava fixamente para ele, seu uniforme e colete esfarrapados, e seu capacete faltando. Dois homens o cercavam, ambos puxando-o em cada braço, mas seus olhos não podiam ser vistos por trás de seus óculos escuros. Agentes, pelo que parece.

"E ele?" Perguntou o homem, ainda inspecionando a fotografia. Se não fossem por algumas pequenas diferenças, como olhos e estrutura facial, o homem teria imaginado que o soldado para o qual estava olhando era seu filho há muito perdido.

"Seu novo agente misterioso," respondeu Stine friamente. "Eu teria assumido que ele era um ninguém, se o relatório do PENTAGRAMA sobre ele não existisse, é claro."

"O que sabemos sobre ele?'

"Dois desertores do PENTAGRAMA nos entregaram a maior parte do que sabemos sobre ele. Nós os rejeitamos, mas pegamos a informação em troca de não contar aos federais sobre seus dois mais novos desertores," explicou Stine suavemente. "Ele é um ex-fuzileiro naval, atirador experiente. Todos os relatórios e avaliações psicológicas dizem que ele é um bom ouvinte, mas mortalmente quieto."

O homem tomou outro gole de seu rum, fazendo uma pausa enquanto engolia o líquido. "Não gosto de pessoas quietas."

Stine balançou a cabeça, como se concordando. "Acreditamos que ele esteve envolvido em numerosos ataques contra os inimigos anômalos da Rodésia. Para alguém cuja única experiência com o anômalo foi uma emboscada anormal no Vietnã, eu diria que seu histórico atual até agora indica que ele se adaptou muito bem ao novo mundo."

"Então, ele é um curinga."

"Sim."

"Então, você entende o que eu gostaria de fazer com ele."

"Sim.

O homem colocou o copo agora vazio de volta na mesa. Ele vasculhou o conteúdo do dossiê por um momento, encontrando uma foto que retratava Hudson em cima de dois corpos espancados de combatentes rebeldes dentro de uma prisão decrépita. O insurgente estava fazendo um sinal de paz em uma mão, tinha um charuto na boca, enquanto uma adaga ornamentada e brilhante na outra mão pairava sobre os dois prisioneiros. O homem comparou isso a um caçador pronto para esfolar sua caça.

Ele se encolheu com a foto e a colocou de volta na pasta. "A única coisa que eu sempre soube sobre o Hudson é que ele tem alguns parafusos a menos. Eu soube disso no momento em que o vi mentir sobre sua idade para convencer os mercenários no Congo do que ele era bom o suficiente para se juntar a eles. Eu vi isso quando ele desertou e quase me deixou para morrer. E eu definitivamente vi isso aqui, com esta foto."

Ele fez uma pausa, como se para efeito dramático. "Você sabe o que isso significa, Stine?"

"Nein, senhor."

Ele juntou as mãos. "Significa que eu tenho uma chance para finalmente derrubá-lo, para fazer o que meus colegas são covardes demais para fazer. Eu desejo botar o agente misterioso contra ele. Desestabilizar o joguinho da Insurgência aqui por tempo o suficiente para fazê-lo ir para o fundo do poço. Algumas emboscadas estratégicas aqui e ali, e acertar seus Escoteiros onde dói… isso deve ser o suficiente para fazê-lo quebrar…" Sua voz divagou. "…e quando ele quebrar…"

"…o curinga será mandado atrás dele." Terminou Stine. Ele deu um passo para trás, deixando a pasta para o homem guardar. "Vou garantir que as ordens necessárias sejam feitas em seu nome imediatamente."

"Muito bem." O homem pegou seu livro mais uma vez, abrindo onde havia parado. "Isso é tudo que você tinha para mim, Diretor Stine?"

"Ja, Supervisor."

"Entendo. Até mais, Stine, e tome cuidado."

"Igualmente, senhor."

Supervisor Sete observou o homem enigmático enquanto ele se afastava e voltava para a escuridão. Assim que ele se foi, Sete virou para uma nova página, cruzou uma perna sobre a outra e continuou lendo.

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