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No Escuro escrito por Greyve, traduzido por
L200.
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Talvez eu não consiga.
Adrian ficou tenso em preparação para a picada inevitável da bala.
Exceto que ela não veio.
A bala congelou na metade do caminho até sua cabeça. Angel, não sendo um estranho a combate anômalo, seguiu com várias outras rodadas, cada uma das quais decidiu desistir na metade do caminho. Ele franziu a testa, largando a arma.
"Vesper não mencionou que você também era anormal."
Ele não é.
O pensamento invadiu a consciência de Adrian e Angel quando um braço se estendeu das sombras, seguido pela figura despenteada de Mamba. Sangue negro pulsava em suas veias e seu olho frio e sem piscar não expunha nenhuma emoção.
Angel ergueu uma sobrancelha, entretido.
Mamba continuou sua aproximação silenciosa antes de lançar abruptamente a munição suspensa para trás. Incontáveis asas brancas se abriram atrás de Angel, queimando em uma tempestade branca brilhante.
Ele também era anormal. Adrian não sabia muito sobre a Diretiva de Agentes Especiais além do fato de que ela existia e envolvia agentes paranormais. Na academia, qualquer um que exibisse o menor indício de uma propriedade anômala era imediatamente varrido pela administração. Quando eles ressurgiam — se eles o fizessem — seria como um agente da Coalizão.
Eles tinham domesticado essa força da natureza, ele percebeu.
Angel balançou várias asas para frente, enviando uma onda de pinhões afiados na direção de Mamba. O telecinético caolho puxou uma lixeira próxima à sua frente para bloquear o ataque antes de enviar a massa perfurada por penas de volta para Angel, que prontamente bateu todas as suas asas para empurrar a lixeira para trás com um violento vendaval.
Garter disse pra você ir embora, Ross.
Mamba dirigiu uma enxurrada de sucata e tubos para Angel. Olhando para o lugar de onde Mamba tinha arrancado sua munição improvisada, Adrian avistou um acesso a um dos numerosos pilares que sustentavam a cidade alta. Era uma saída, certamente, mas Mamba não tinha chance contra a máquina de matar que pairava sobre ele.
Ele olhou para trás. Angel absorveu perfeitamente todos os projéteis de Mamba em sua tempestade de asas, forçando Mamba a cair para trás. Ele desesperadamente tentava bloquear a chuva infinita de penas de Angel, mas para cada uma que ele desviasse com sucesso, dezenas de outras tomariam seu lugar. Seu arsenal também não se esgotaria tão cedo, a julgar pelas centenas de asas enlouquecidas atrás dele.
Finalmente, Angel conseguiu arranhar o ombro de seu oponente, enviando toxinas agonizantes por todo o corpo do telecinético. De alguma forma, o rosto de Mamba permanecia sem expressão, mas seu olho se voltou para Adrian.
Dentro da coluna. Encontre Babel. Converse lá, insistia Mamba.
Adrian parou por um momento percebendo que não havia nada que ele pudesse fazer para ajudar Mamba. E se ele não conseguisse escapar vivo, o telecinético teria sofrido por nada.
Gente o bastante sofreu em minhas mãos.
Ele se permitiu uma última olhada enquanto corria em direção ao pilar alto. A expressão no rosto de Angel mudou de entretida para nojo quando ele começou a perceber que seu oponente sem voz nunca cantaria para ele em gritos dolorosos. Mamba caiu contra uma pilha de caixas empilhadas, indo desesperadamente para a cobertura. Seu único olho estava tenso com o veneno excruciante que fluía em seu sangue, até que ele finalmente agarrou um frasco carmesim de rubedo.
Vá.
Adrian sentiu o fogo de mil sóis negros em suas costas quando o explosivo alquímico improvisado de Mamba detonou, e então houve silêncio.
Adrian segurava firmemente a estrutura de metal que percorria todo o comprimento do poço de quilômetros de altura. Ele percebeu que já estava descendo há uma hora, mas não havia como saber com certeza. Normalmente, quando ele ficava sozinho com seus pensamentos, o tempo passava muito mais devagar.
Apertando a perna entre duas vigas, ele formou uma espécie de joelheira lateral, dando-se um momento para enxugar o suor frio que escorria de sua testa. A câmara inteira zumbia com máquinas distantes, pulsando com uma presença oca. Os Servos das Nornas de Silício enterraram os corações pulsantes de seus deuses de silício bem abaixo da superfície, e esses pilares eram as veias da cidade viva.
Devo estar perto do fundo a essa altura, ele tentava se convencer. Sem dúvida, ele já havia descido centenas de metros e sua força estava definitivamente diminuindo. Ele teria que encontrar uma plataforma para descansar antes de sucumbir à exaustão e cair em direção à morte certa.
Pelo menos estarei sozinho. Desde que ele entrou em Eurtec pelos fundos de algum nexus pacato, quase uma semana atrás, Adrian não ousou sequer piscar.
Examinando a área, ele localizou um pequeno nicho onde ele seria capaz de sentar quase confortavelmente. Ele avaliou o salto, então, decidindo rapidamente que não conseguiria, respirou fundo e escalou uma parede de fios antes de se jogar para a beirada. Adrian recuperou o fôlego antes de cair na plataforma de aço frio, enxugando a testa com as mãos que haviam começada a sangrar por se agarrarem com tanta firmeza ao metal enferrujado.
Enferrujado?
Esse poços não foram feitos para ser acessados, nem mesmo pelos Servos das Nornas de Silício. Em todo o seu planejamento cuidadoso, os cuidadores certamente teriam se certificado de que a umidade não invadisse os mecanismos internos de sua cidade, muito menos deixariam que eles acumulassem ferrugem. Claro, os andares inferiores podiam estar um desastre, mas os sistemas das Nornas eram imaculados.
Não estou sozinho.
Ele se sentou e imediatamente analisou os arredores, mas não conseguia distinguir nada além da cortina de sombras. Ele suspirou e respirou fundo. O ar era frio e pútrido, mas sustentaria sua consciência por mais algum tempo — com sorte o suficiente para chegar ao fundo.
Adrian tirou a jaqueta e a amarrou em volta da cintura com força para criar um arnês improvisado, que ele prendeu a vários dos fios esticados que cobriam toda a altura do poço. Definitivamente, seria mais arriscado do que descer escalando a estrutura, mas também seria mais rápido.
Ele deu um bom puxão nos fios antes de segurá-los com firmeza e se pressionar contra a parede. Seria o suficiente para segurar seu peso enquanto descia horizontalmente o poço.
Depois de cerca de um minuto, ele conseguia distinguir o fundo. O túnel não era tão fundo quanto ele pensava, mas fora inundado por um líquido escuro que lembrava petróleo cru, dando a ilusão de um túnel contínuo. Várias formas mutiladas pontilhavam a superfície, mas ele não conseguia distinguir o que eram.
Então o cheiro o pegou, seguido por uma conclusão.
As formas eram cadáveres.
Adrian fechou os olhos e respirou raso. Pressionando firmemente contra a parede, ele percebeu que já tinha visto o líquido antes. A ferida do Mamba infeccionou com algo assim. Ele sabia que era aqui, e ele queria que Adrian soubesse também.
O que mais ele sabia que eu não sei?
Adrian conseguiu cair com segurança em uma beirada alguns metros abaixo dele, pousando rolando. Ele teria ficado aliviado por ter chegado ao fundo se não fosse pelo fato de que todo o seu corpo doía — ele mal conseguia pensar em meio aos vapores nauseantes e pungentes. Ele precisava se libertar do miasma sufocante.
Ele rapidamente localizou uma pequena escotilha, sem dúvida um painel de acesso. Batendo contra a sujeira preta com o ombro, ela se abriu, antes de cair completamente das dobradiças, permitindo que Adrian saísse para as entranhas subterrâneas de Eurtec.
A Cidade Baixa não era tecnicamente parte de Eurtec — o andar mais baixo da cidade era vários andares acima de onde Adrian agora estava. No entanto, a fim de capitalizar no espaço vertical, o subterrâneo foi alocado para qualquer maquinário que não contribuísse diretamente para os sistemas das Nornas. Com o tempo, detritos se acumularam em bolsões entre as máquinas, formando um terreno baldio mecânico etéreo onde torres de concreto se estendiam em direção a um céu negro e luz era uma raridade.
Adrian caiu contra um pilar, finalmente permitindo que o sono o dominasse.
O mundo ao redor dele se transformou em nada, substituído pela escuridão de um útero purulento onde gritos silenciosos ecoavam sob uma noite sem estrelas. Adrian se viu paralisado na mandíbula tenebrosa, vendo com os olhos fechados.
Adrian?
Um sussurro não dito se deslocava para ele por correntes errantes de mal-estar hipnagógico. Ele queria estender a mão, mas uma sensação de letargia o consumia enquanto ele começava a afundar no abismo negro das águas cimérias.
Por que você está aqui, Adrian?
E então ele percebeu que estava se afogando.
Ele desesperadamente tentou alcançar a superfície, mas encontrava apenas mais bile negra. Uma risada angustiada substituiu o silêncio anterior, entrando em seus olhos, seus ouvidos, seus pulmões, seu coração, e desespero primitivo o dominou. Ele seria consumido e não havia nada que ele pudesse fazer.
A escuridão finalmente chegou a ele. Ela já havia tirado tudo o mais dele — seus pais, seus camaradas, seu único amigo…
E então, por um momento, ele pôde vê-la, mesmo na escuridão. Jaiden jazia pacificamente submersa em uma cápsula branca brilhante, silenciosa e imóvel. Fios substituíram seu cabelo e uma venda cobria seus olhos, mas ele ainda sabia que era ela.
"Jaiden?"
Você não deveria estar aqui, Adrian.
Bile encheu seus pulmões, mas ele ainda não conseguia falar.
"Cadê você?"
Ele sentiu algo puxá-lo para longe dela, para fora da escuridão. Ele agarrava as águas, implorando para que a escuridão lhe desse apenas mais um momento, mas sua única resposta foi uma risada zombeteira. Jaiden sussurrou um último pensamento para ele antes de ser engolida novamente pelas ondas negras ondulantes.
Estou no escuro.
Quando Adrian acordou, ele não estava sozinho. Um homem idoso grotesco com uma mandíbula extremamente proeminente estava sentado ao lado dele, tentando beber de um cantil, mas derramando água em si mesmo, enquanto uma mulher latina coberta de cicatrizes se apoiava em uma lança com ponta de vidro à sua esquerda.
Adrian se virou para encarar o homem por um momento, antes de perceber a dor aguda em seu ombro. Um guaxinim estava enrolando uma bandagem improvisada em torno dele, escondendo a sujeira escura que havia feito um buraco em sua jaqueta. Ele tentou afastar o pequeno mamífero peludo, estremecendo ao fazer força no braço ferido. O guaxinim chiou várias vezes em protesto antes de finalmente pular para o chão.
O homem com a mandíbula malformada falou primeiro com um forte sotaque alemão, com surpreendente clareza. "Me chamou Baron."
Sua boca se contraia enquanto ele murmurava a última palavra.
"Lucia," acrescentou a mulher. "Você consegue ficar de pé?"
Se pressionando contra a parede, ele fez uma careta quando uma dor aguda percorreu seu braço.
"Permita-me." Baron estendeu uma mão esguia de seis dedos, que Adrian inicialmente recusou. Talvez fosse sua aversão pelo anômalo em geral, ou simplesmente porque ele não confiava em estranhos, mas ele continuou se pressionando dolorosamente contra o pilar.
Baron suspirou e colocou seus braços nos ombros de Adrian. Apesar de sua figura deformada, ele tinha uma força surpreendente e colocou Adrian sobre seus pés com facilidade.
O guaxinim ficou em pé nas patas traseiras, ronronando baixinho como se tentasse dizer algo.
"O que o traz a este domínio?" Perguntou Baron.
Adrian semicerrou os olhos para a estranha multidão que o rodeava. "Isso é problema meu."
"Justo," Baron grunhiu em resposta. "Posso pelo menos perguntar seu nome?"
"Glenn Forrester," Respondeu Adrian secamente.
Baron tentou um sorriso fraco, balançando a cabeça. "Certamente, faz bastante tempo desde que vi árvores pela última vez," ele pensava em voz alta.
Adrian não respondeu. Em vez disso, ele olhou para as fileiras de pilares, onde a escuridão parecia zombá-lo como o poço tinha feito antes. Só que essa escuridão inchava e crescia quanto mais ele olhava para ela, engolindo a pouca luz que havia.
A mulher olhou para o poço. "Ele veio do poço negro, mas ele não é um caminhante das sombras,"
"Caminhante das sombras?"
"Criaturas horríveis sem qualquer civilidade," ofereceu Baron. Sua boca se contraiu antes de continuar. "Eles têm um sabor ainda pior,"
Lucia se virou para encarar Adrian. "Como você sobreviveu a queda no poço negro?"
"Eu não cai. Eu desci escalando, de Halfway,"
Baron deu uma risada. "Por que não viajar pela rota do esgoto, como o resto de nós?"
Adrian flexionou a mão. "Eu não tinha opção. Estava fugindo,"
Lucia mudou de posição, segurando a lança de vidro sobre o ombro. "Quase todo mundo aqui embaixo está fugindo de uma coisa ou de outra," ela fez uma pausa. "O quê estava te perseguindo? E ainda estão te procu —"
De repente, o guaxinim correu para perto de Lucia, cutucando-a no tornozelo. Ela ergueu a cabeça assim que uma forma não identificada despencou centenas de metros na escuridão do poço negro.
Baron rosnou e empurrou Adrian para longe do pilar enquanto Lucia erguia sua lança, olhando para a escuridão atrás do painel de acesso. Eles ficaram parados em uma expectativa tensa por alguns segundos tensos.
Uma forma escura trepou para fora do pilar enquanto a substância negra se acumulava na base do pilar. Um braço enorme se esticou primeiro através do painel de acesso, seguido por uma figura em decomposição sem rosto. Soltando um guincho depravado, a criatura atacou Baron.
A figura deformada pegou a garra do caminhante das sombras com o antebraço antes de ser jogada no chão, oferecendo a Lucia a oportunidade de atacar com sua lança. Saltando para cima, ela cortou o pescoço da figura, fazendo com que a entidade cambaleasse para trás. Baron avançou contra o caminhante das sombras, lançando-a de volta para dentro do pilar e por cima da beirada, devolvendo-a ao poço negro.
Ele ofegou por um momento, olhando para o abismo tenebroso. "É melhor partirmos," ele olhou para os outros. "Estávamos no caminho de volta."
Lucia concordou com a cabeça e se virou para Adrian.
"Você pode nos seguir de volta se quiser," ela o informou em um tom que sugeria que ela queria dizer "se quiser sobreviver."
Baron balançou a cabeça e começou a se afastar do pilar, seguido por Lucia e o guaxinim. Eles estavam fora de vista em segundos — a mesma quantidade de tempo que Adrian levou para decidir que não queria enfrentar mais nenhum caminhante das sombras sozinho.
"Aonde vocês estão indo?" ele gritou, correndo o melhor que pôde.
Babel era o único assentamento de verdade em toda a Cidade Baixa. Situada ao redor de uma torre de entulho e lixo, a cidade era iluminada por um único feixe de luz emergindo de um túnel de esgoto no teto. Os moradores locais acreditavam que o assentamento foi inicialmente habitado por um punhado de Servos das Nornas de Silício que ficaram presos sob Eurtec enquanto a cidade era construída. Eles cuidadosamente construíram a torre de nada além de sucata para se aproximar da abertura muito acima deles, na esperança de escapar.
Claro, os fundadores da cidade há muito desapareceram. Os habitantes de Babel consistiam principalmente de exilados e refugiados habitando tendas e alcovas na torre, que escolheram viver aqui, apesar das dificuldades — sobrevivendo para sobreviver.
Quando Adrian se aproximou dos limites de Babel, ele percebeu que uma parede de sucata mal construída havia sido construída ao redor do perímetro do assentamento. Cacos de vidro cintilavam sob a luz ao lado de cadáveres deformados e poças negras.
Lucia percebeu que Adrian estava olhando para a barreira. "As paredes são um tanto novas. Elas mantêm os caminhantes das sombras no lado de fora."
Baron protegeu os olhos quando o trio e o guaxinim entraram na luz. Alguns olhos se viraram para observá-los quando entraram, mas a grande maioria dos colonos estava preocupada com seus próprios negócios, organizando lixo ou morcegos, roedores e outras criaturas estranhas assadas no espeto que Adrian nunca tinha visto antes. Apesar de sua vivacidade, ele podia sentir o cansaço subjacente que pesava sobre os habitantes de Babel.
Logo, eles foram capazes de localizar uma fogueira desocupada. Lucia sussurrou algo para uma senhora indiana próxima antes de recuar assim que uma implosão acendeu uma pequena fogueira. Adrian saltou um pouco, o que levou Baron a rir antes de se sentar ao lado do fogo. Lúcia avisou aos outros que ela ia sair para comprar alguns espetinhos, ao que o guaxinim chilreou alegremente.
Adrian estudava seus companheiros pelo brilho carmesim da fogueira enquanto esperava Lucia voltar. O guaxinim estava deitado de barriga para baixo, olhando para além do fogo como se estivesse pensando em algo. Ele voltou sua atenção para Baron, cujos olhos negros pequenos refletiam a luz da chama. Ele mexia nas unhas de sua mão de seis dedos com uma mão menor de quatro dedos, que Adrian agora podia ver que estava murcha e pálida. Rugas estremeciam na testa completamente careca de Baron enquanto ele cantarolava uma melodia clássica entre dentes grandes e irregulares.
"Você não é humano, é?" perguntou Adrian.
"Com licença?" Baron ergueu os olhos.
"Sem ofensa, mas você não parece exatamente humano,"
Baron sorriu com tristeza, antes de olhar para baixo. "Meus antepassados eram humanos. Seres humanos obsessivos, egoístas e vis que cometeram pecados indescritíveis, sim, mas não é assim que todos nós somos?"
Adrian não respondeu.
"Eu era uma criança quando minha casa foi arrasada por homens de preto," uma tristeza pesada enchia a voz rouca de Baron. "Eu ainda tenho os desejos às vezes, mas é por essa razão que vim aqui simplesmente para viver — para que eu possa ser o último de minha linhagem."
Ele se virou para olhar Adrian nos olhos. "Essa é minha história. Agora, você pode me contar a sua?"
Adrian olhou para a luz, sabendo que em algum lugar lá em cima estava o mundo em que ele havia nascido.
"Não há muito o que contar," decidiu ele.
Baron franziu a testa. "Bobagem, Forrester. Certamente deve haver uma razão para você ter descido na escuridão."
Jaiden, é claro.
Mas por que?
O que ela significa para ele?
Eles não eram amantes loucamente obcecados, ou mesmo amigos de longa data. Eles não tinham obrigações um com o outro e definitivamente não estavam ligados por sangue. Diabos, ela já poderia estar morta pelo que ele sabia, e ainda assim aqui estava ele, ainda procurando por ela.
"Estou procurando uma luz na escuridão."
Baron exalou profundamente, sacudindo a cabeça. "Você não encontrará nenhuma luz mais brilhante aqui do que aquela acima, Forrester."
Adrian balançou a cabeça, olhando para o fogo até seus olhos começarem a arder.
"Eu não contesto, no entanto," Baron acrescentava com um sorriso, "que a comida tem um gosto melhor no escuro."
Lucia se aproximou deles carregando vários espetinhos em uma das mãos. Ela sorria gentilmente, oferecendo a Adrian um espeto. Olhando para cima, ele percebeu que o cabelo de Lucia estava visivelmente mais curto.
"Você cortou o cabelo?"
Lucia deu uma risadinha. "Tivemos um pequeno desentendimento sobre o preço,"
Baron balançou a cabeça em entendimento. "Ela vende seu corpo," acrescentou ele.
"Ela o quê?"
Lucia deu uma risadinha antes de explicar. "Posso trocar partes separadas do meu corpo como moeda,"
Ela balançou uma mão de quatro dedos para Adrian ver. "Algumas partes valem mais, outras menos, mas tudo vale alguma coisa,"
"Você ainda não me informou pelo que você trocou um dedo," Baron fez beicinho.
Ela sorriu. "Ele me comprou sua amizade, não é?"
Baron parou por um momento, olhando para seus seis dedos, antes de encolher os ombros em concordância. "Pássaros da mesma pena voam juntos,"
Eu não pertenço aqui, Adrian percebeu. Ele não era anômalo em nenhum sentido, e ele não queria ser, também — mesmo que isso significasse que ele tinha uma chance contra os poderes aterrorizantes que dominavam o mundo por trás da Máscara.
A mera existência do anômalo deixava Adrian desconfortável, algo que anos de treinamento com a Coalizão não conseguiram resolver. Eles nunca foram capazes de apagar completamente o trauma que ele acumulou ao longo da vida. Mesmo agora, na presença de Baron e Lucia, ele não se sentia seguro, simplesmente por serem quem eles eram.
"Ei, Glynn?" Lucia interrompeu seus pensamentos. "Eu não gastei um cacho inteiro em carne para você desperdiçá-la."
Com isso, os olhos de Baron brilharam. "Os comerciantes voltaram?"
Lucia balançou a cabeça em silêncio.
"Um momento," ele murmurou, correndo em direção à torre.
Lucia sacudiu a cabeça, suspirando. "Alguma empresa da cidade alta manda gente aqui para trocar bugigangas. Baron é obcecado por colecionar coisas brilhantes," explicou ela.
Ela cuidadosamente colocou um espetinho na frente do guaxinim. "Aqui está, Lukas,"
"Lukas?" perguntou Adrian.
"Sim. Ele mesmo nos disse. Ou escreveu, eu acho," respondeu Lucia.
"Ele deve ser um guaxinim muito inteligente, então,"
Lucia sacudiu a cabeça. "Ah, ele não é um guaxinim. Ele é um humano em forma de guaxinim."
Adrian piscou. "O que?"
"Simplesmente aconteceu um dia. Ele costumava trabalhar como médico na Fundação — a Fundação Caridosa Manna, eles aparecem de vez em quando — e então um dia ele simplesmente acordou e era um guaxinim."
Adrian balançou a cabeça antes de olhar para seu ombro. A mancha escura havia se espalhado e a própria ferida gotejava com sangue preto. "Então ele sabe o que aconteceu com meu ombro?"
O guaxinim chiou baixinho.
"A substância negra. Ninguém sabe o que é, mas os caminhantes das sombras simplesmente começaram a aparecer um dia, trazendo-a com eles,"
Lucia olhou para o portão, "Nós matamos os caminhantes das sombras com bastante facilidade, mas os poços negros nunca vão embora."
Terminando seu espetinho, Lucia se levantou. "Você tem sorte de termos te encontrado antes dos caminhantes das sombras," ela fez uma pausa. "Assim que o Baron voltar, voltaremos para a tenda para descansar um pouco. Você pode ficar conosco até encontrar um alojamento para si mesmo."
Quando ele caiu no sono, ele se viu na escuridão novamente.
Adrian?
O sussurro ecoou ao seu redor. Estranhamente, mesmo que elas o cercavam, as sombras não o tocavam.
"Jaiden."
Você não deveria estar aqui.
"Estar onde? Babel?'
No escuro.
"O que isso significa, 'no escuro'?"
A escuridão está dentro você e eu estou no escuro.
Seu sussurro se quebrou e o vazio se fechou em torno dele.
Adrian acordou suando frio. Baron roncava alto contra a parede enquanto Lucia estava deitada imóvel no chão e Lukas estava deitado no chão, membros espalhados em todas as direções. O brilho suave do lado de fora entrava por uma abertura no fundo da tenda, convidando Adrian a sair.
Ele respirou fundo o ar frio da Cidade Baixa, indo até a torre. Foram duas noites seguidas que ele sonhou com Jaiden.
A escuridão está dentro de você e eu estou no escuro, ele lembrou. Que útil. A Cidade Baixa inteira estava lotada de escuridão. Isso não significava nada — era apenas sua mente brincando com ele, o delírio nublando seu melhor julgamento. Mas mesmo assim, ele ainda não conseguia afastar a sensação de que algo estava faltando. Ele estremeceu, enviando dor por todo o ombro.
A escuridão está dentro de mim.
Adrian inclinou o ombro, estremecendo. Desfazendo a bandagem com uma mão, ele foi capaz de ver claramente a substância negra se acumulando em seu ombro e corroendo sua carne.
Sua mente se enrolava enquanto ele piscava várias vezes em rápida sucessão, tentando entender seu próprio raciocínio.
Eu a vi em meus sonhos duas noites. Eu tenho essa substância negra em minha ferida há duas noites. Coincidência? Pode ser. Duas peças de quebra-cabeça com um entalhe e uma projeção que não necessariamente se encaixavam.
Esta substância negra foi trazida por "caminhantes das sombras", que vinham de poços negros. Os poços negros estão cheios de cadáveres. Esses dois se projetavam como duas protuberâncias — precisava ter outra peça entre eles.
Um pé após o outro, ele se aproximava da luz no topo da torre. Como que um contrabandista insignificante de rubedo com algumas conexões afortunadas deu de cara com tudo isso?
Como, de fato. O pensamento não convidado perfurou sua consciência, disparado de um cano de uma arma familiar.
Ele olhou para cima. Um magricela telecinético com um lenço enrolado na parte inferior do rosto levitava várias caixas de um andaime suspenso que havia caído pelo buraco no teto. Os olhos de Mamba se encontraram com os de Adrian por um momento, antes de ser interrompido por um indivíduo em um terno escuro imaculado.
Uma empresa da cidade alta, tinha dito Lucia.
E assim, o quebra-cabeça se encaixou. Ele lançou um olhar para as caixas, que, além de vários avisos, estavam marcadas com apenas três letras, que representavam três nomes.
Marshall, Carter e Dark.1