Nechayeva emergiu de um painel de utilidades em um beco congelado após uma caminhada de trinta minutos pelos corredores de serviço subterrâneos. Ela reconheceu seu entorno como uma subestação de energia próxima. Ela foi recebida pelo som de sirenes à distância. Ela manteve a pistola em mãos, baixa e tão fora de vista quanto possível enquanto caminhava até a borda de uma cerca próxima, tomando cuidado para pisar nos trechos de solo descoberto entre os pequenos montes de neve. Ela espiou na esquina, buscando o terceiro poste no lado esquerdo da rua. Ela procurava a marca de giz branco.
Ela não estava lá.
Seu xingamento deixou seus lábios como uma trilha nítida de vapor branco no ar frio de inverno. A entrega estava comprometida. Alguém no comando havia tomado a decisão de abandonar a outra parte da operação para assegurar o sítio seguro da GRU-P. As sirenes eram a consequência do fracasso da operação? De qualquer maneira, não haveria equipe de extração. Nenhum lugar para deixar os documentos. Ninguém esperando para levar SCP-1041 e os frutos de três anos de pesquisa das mãos de Zherdev.
Um caminhão passou em alta velocidade, deixando um rastro de lama suja enquanto dez oficiais de segurança, rifles em mãos, se dirigiam para o que quer que tivesse causado a perturbação. Uma perturbação que ocorreu nas proximidades do ponto de entrega, se as sirenes fossem alguma indicação. Ela se lembrou do informativo em Novosibirsk. Este setor da Crocóvia era uma área restrita, sob jurisdição do Exército Vermelho. Os protocolos de segurança significariam que pelo menos três outros caminhões estariam a caminho de um alarme como esse. Os planos B e C também pareciam ter sido arruinados.
Retomando seus passos, ela recuou para o corredor de serviço. Possibilidades e permutações da situação provável se embaralhavam em sua mente. Os planejadores em casa haviam tecido as várias fontes de inteligência em uma tapeçaria de cenas divergentes, todas com potencial para ocorrer durante a missão. Chernikov e sua delegação da GRU-P certamente viriam pessoalmente ao Sítio-7, mas provavelmente não antes de sua operação ser concluída. A probabilidade de um encontro direto entre ela e qualquer hostil foi avaliada como sendo de 15%. A missão teria sido descartada aos 20%.
Acreditava-se que a Fundação estava ocupada demais limpando os Estados Unidos para montar qualquer tipo de ação ofensiva na Europa Oriental. A probabilidade de intervenção de sua parte foi projetada em 25%, maior do que os planejadores normalmente colocariam por causa do tom desesperado do telegrama interceptado de seus ativos em Varsóvia. Rumores, no entanto, persistiam de que a GRU-P teve um desertor no mês passado. Uma chamada rápida com os escritórios de campo em Washington, Londres, Pequim e na Cidade do Cabo não resultou em nada. O desertor de Zherdev provavelmente era imaginário. Ou estava morto. Mas se ele não fosse nem imaginário, nem estivesse morto, então só havia um outro lugar onde ele poderia estar. Os planejadores, com muita irritação, recusaram-se a descartar a possibilidade de uma missão da Fundação na Cracóvia ocorrendo na mesma janela de tempo de sua operação.
Não importa o quanto Petrov tenha treinado a equipe de planejamento para tirá-los do habitual, essas suposições se baseavam em histórias de missões anteriores, inteligência confirmada, modelos estatísticos de última geração, teoria dos jogos. Racionalidade. Nechayeva e o resto dos agentes de campo da KGB que lidavam com esse tipo de coisa estavam bem familiarizados com o quão frágeis essas suposições podiam ser.
Nechayeva se acalmou e ouviu o ternor das sirenes ao longe e permitiu que os ecos dos caminhões e dos megafones inundassem sua percepção. O ar frio, fresco mas não cortante, acariciava seu rosto. Ela respirou fundo, discernindo um leve cheiro de escapamento de caminhão através da camada metálica enjoativa de ozônio que emanava das bobinas de aço firmemente enroladas da estação de energia próxima. Cobre?
Não fazia sentido voltar ao Sítio sem um plano de fuga. A essa altura, até mesmo um plano ruim teria que servir. Mas ela precisava saber mais. Apenas a GRU-P ou a Fundação estariam causando qualquer tipo de comoção agora. Qual seria; negociações ou balas? Nenhuma outra resposta poderia vir antes desta.
Ela teria que ir para o ponto de entrega, de qualquer maneira.
Ela novamente ouviu aos sons dos quarteirões da cidade ao ser redor, vazios agora, exceto por soldados. A maior parte da atividade dirigia-se para longe dela, mas através da desordem distante, um barulho parecia estar se aproximando; uma aceleração e zumbido agudos. Uma moto. E, pelo que parece, uma só, provavelmente procurando por civis vagabundos. Era hora de agir.
Nechayeva correu para o portão de acesso da subestação próxima. A cerca ao redor da subestação era sólida o suficiente, mas a porta estava protegida por apenas uma fechadura com ferrolho. O ferrolho parecia sólido, provavelmente sólido demais para os abridores que ela tinha com ela. Então ela contou dez passos de distância do portão, depois um passo para o lado. Ela gentilmente colocou a maleta no chão e, em seguida, sacou a pistola, direcionando sua mira para a fechadura da porta. Com mãos firmes, ela exalou e apertou o gatilho.
Um estalo agudo, seguido quase instantaneamente por um baque surdo quando o projétil ricocheteou e se enterrou na parede a cerca de três metros de distância. Na altura da cabeça. Pegando a maleta novamente, ela inspecionou a fechadura. Quebrado o suficiente. Ela deu um forte chute na porta, abrindo-a. A motocicleta havia parado ao longe com o som de sua pistola, e agora o zumbido do motor se dirigia diretamente para sua posição. A cerca de quatro quarteirões de distância, ela calculou. Rapidamente, ela procurou o painel de controle principal. O conjunto mais proeminente de caixas e luzes estava próximo a uma grande bobina de metal. O calor da bobina havia derretido um círculo na neve caída, deixando um monte proeminente em forma de anel em torno dele. Nichayeva fez uma pausa. Ela então arrancou um pedaço de tecido de seu casaco de civil, envolvendo-o em sua mão direita, apertando com força sua pistola. A motocicleta estava quase lá. Ela se moveu rapidamente.
O soldado desligou o motor da moto. Ele mal conseguia ouvir as vozes abafadas de seu rádio. O comandante distrital ficaria furioso quando descobrisse que o perímetro havia negligenciado esta subestação. Talvez não tenha sido nada. Seu coração parou quando viu a fechadura quebrada e as pegadas. Tinha sido alguma coisa. Melhor resolver isso rapidamente.
Havia um conjunto de pegadas na neve, levando ao interior da subestação. Definitivamente foi um tiro. Mas apenas uma pessoa? Pode ter sido um dos homens do pelotão, brincando depois de beber demais. Nesse caso, seria quem ele trouxesse que tomaria a fúria do Comissário, e não ele por não ter visto um civil no cordão de segurança. Talvez não seria tão ruim, afinal.
Ele cuidadosamente seguiu as pegadas para dentro da subestação. Elas pareciam pequenas para ele. Muito melhor; a última coisa que ele queria era tentar lutar trazendo algum imbecil corpulento e bêbado de volta para a base. Seu rádio, silenciado pelo casaco jogado sobre o alto-falante, exigia algo com raiva. Ele pensou ter ouvido "perímetro" no discurso em algum momento. Merda. Ele se apressou, seguindo os rastros.
O soldado sentiu um calor irradiando em seu rosto enquanto avançava, pequenas pontadas de metal rangendo e gemendo em meio ao emaranhado de cabos e fios, os minúsculos cabelos de seu pescoço se arrepiando como se a corrente da subestação estivesse vazando no ar ao redor dele. Ele chegou a um círculo derretido na neve, o solo descoberto marcando um console de controle. As pegadas acabaram.
"Puta que pariu! Pare de ficar brincando por aí! Temos que voltar!" Ele gritou para ninguém em particular. A cada minuto que passava procurando, o Comissário ficaria cada vez mais furioso. Ambos seriam esfolados se ele ficasse aqui procurando o dia todo. Ele verificou seus arredores com desespero crescente. Seu olhar se fixou.
Uma maleta, deitada contra a borda do círculo de neve, apoiada contra um monte, cerca de cinco metros de distância. Era a única pista para um mistério que ele precisava resolver antes que o rádio queimasse um buraco em seu quadril com sua raiva. Ele cautelosamente se aproximou, cada passo medido e cuidadoso enquanto se agachava, velhos hábitos aprendidos com Mamayev Kurgan entrando em ação agora enquanto ele se movia o mais rápido que podia, sem perturbar um único cascalho ou torrão de terra. Ele manteve alguns passos de distância enquanto suave e silenciosamente desembainhava sua faca de combate, analisando o chão à sua frente em busca de qualquer indício de fios ou manchas suspeitas de terra fresca.
Quando se certificou de que o terreno ao redor da maleta estava limpo, ele colocou o rifle suavemente ao lado dele e se abaixou. Ele rastejou o último metro até a maleta, com cuidado, delicadamente. Ele inclinou a cabeça, examinando a pequena lasca de luz do dia entre a parte inferior da mala e o banco de neve. Nada. Quase limpo.
Ele respirou fundo várias vezes para acalmar os nervos. Melancolicamente, ele trouxe sua faca para frente em sua mão esquerda, não ideal, mas mais adequado para a posição em que seu corpo estava. Gentilmente, muito gentilmente, ele começou a colocar a ponta da lâmina entre a mala e o banco de neve, atento ao menor som de quaisquer molas, rolamentos ou sabe se lá o que rolava na maleta. Ele torceu o pulso ligeiramente, e começou a usar a faca como uma alavanca, movendo a maleta levemente.
Algo bem próximo a ele explodiu do banco de neve, enviando pilhas de neve pelo ar e, por um momento, ele pensou que estava morto, mas a maleta ainda estava intacta. Então ele sentiu um peso bater no meio de suas costas, o choque fazendo com que ele soltasse a faca. Ele virou o pescoço para encontrar uma mulher, coberta de neve, com as mãos envoltas em trapos, apontando uma pistola em seu rosto enquanto ela batia com o joelho em suas costas.
"Como…co-como…" ele gaguejou, ainda não convencido de que não havia sido explodido.
"As chaves. Para sua moto."
Ele balançou a cabeça para a entrada. "Na ignição, eu deixei elas. O que é isso?"
A mulher se levantou e chutou o rifle do soldado, a arma ainda apontada entre seus olhos. Nechayeva não respondeu. Ela pegou a maleta mais uma vez, as mãos congelando, mas não muito dormentes para manter um dedo no gatilho. Ela começou a recuar, para fora da subestação. Os olhos do soldado ainda estavam arregalados de choque com a emboscada. Começou uma nova rodada de profanidades explodindo do rádio em seu lado.
"O que você disse a eles?"
Ele sacudiu a cabeça. "Nada, só que eu estava verificando um tiro, estabelecendo o perímetro."
"O que causou o confinamento?"
"Ninguém sabe, eles não nos contam merda nenhuma. E quem é você, afinal? O que você está fazendo aqui?"
Ela gesticulou com sua pistola para que o soldado se levantasse. Hesitante, cansado, sabendo o que estava por vir, ele obedeceu. Ele lentamente colocou as mãos atrás da cabeça.
"Estamos do mesmo lado, camarada," disse Nechayeva.
Ela baixou a pistola e disparou dois tiros, um em cada um dos joelhos do soldado. Ele gritou e caiu no chão, contorcendo-se de dor, o sangue escorrendo por seus dedos onde ele agarrou suas feridas.
"Agora ninguém pode dizer que você não cumpriu seu dever," disse ela, enquanto guardava a pistola no coldre. "Diga a verdade ao seu comandante. Eles vão resolver tudo eventualmente. Minhas desculpas."
Ela se virou e saiu da subestação, os xingamentos do soldado se arrastando atrás dela. Ela avistou sua moto na entrada. Ela guardou a maleta em um dos alforjes, montou na moto e com um chute ligou o pequeno motor. Em instantes, ela estava fugindo da cena.
Ela percorreu várias ruas secundárias e becos, procurando um ponto de acesso a uma vala de drenagem de concreto que passava atrás do ponto de encontro. Depois de alguns quarteirões, seguindo um tubo corrugado de tempestade de uma fábrica próxima, ela o encontrou. Torcendo o acelerador, ela disparou para a estrada de serviço, abaixando a cabeça para evitar um galho de árvore crescendo ao redor do portão abandonado. Ela imediatamente viajou para o norte pela vala de concreto, desviando para evitar os aglomerados de lama ou detritos que a pontilhavam. Alertar as autoridades locais não era o ideal, mas se a KGB tinha uma vantagem sobre a GRU-P em qualquer lugar, era lidando abertamente com o restante dos militares. Com sorte, tudo isso se provaria mais prejudicial para Zherdev do que para a KGB.
Isso era um problema para mais tarde. Por enquanto, ela estava indo para o ponto de entrega.
« | Parte Quatro | Matryoshka | Parte Seis | »