Setor do Velho Kansas ~ 16: O Vírus Mecânico
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☦Allan enfrenta anomalias em um mundo pós-normal.☦

A Última Era: 15 de Agosto de 2119 DC
Atual Mongólia
6:16 da Manhã

No cume do Pico Khüiten, na atual Mongólia, uma massa contorcida de engrenagens pensantes de latão sentiu a presença de três pés humanos pisando no solo metálico onde carne e metal se misturavam em sua borda. O latão pensante, com seu processo mental criado e agitado por meio de uma rede computacional subterrânea de engrenagens e raios composta de bilhões de peças móveis que se aprimoravam incessantemente por meio de sua replicação ineficiente, transmitiu a mensagem de percebimento à sua figura central, um olho mecânico que jazia no cume da montanha mencionada. Esses pés eram humanos. Animais. Carne pura. Uma liga que poderia se tornar cobre e zinco, e que nunca poderia se tornar outra coisa. Talvez bronze.

Chronos, como era chamado por suas partes, estava o mais próximo que já esteve de se tornar a manifestação física do próprio tempo. O grande relógio. Como o próprio tempo, algo adorado e criado que nunca existiu. Uma nova realidade. Chronos nunca esteve quebrado, assim como a realidade nunca poderia ser mudada, apenas testemunhada através de lentes populares. O Deus Quebrado, Chronos, sempre esteve aqui, nunca destruído, apenas esperando para ser construído, como qualquer outra ideia.

Chronos testemunhou os pés pisoteando o latão. Chronos considerou o novo material que poderia se tornar algo que permitiria que o Tempo se tornasse um pouco maior.

Chronos era muito maior que seus irmãos sárkicos ou maxwellianos.

A carne é maleável e requer menos espaço. Dados são quase infinitamente pequenos e quase não requerem espaço. Mas cada um deles deseja o domínio sobre o tempo, o que requer bastante espaço. Este Triunvirato de ideias ligadas ao metal, ao espírito e à carne, lutou desde o início, quando tudo era nada.

Chronos agora abrangia grande parte da metade sul da Ásia, o que era um começo. Chronos só se preocupa com isso, se tornar maior. Se tornar o tempo manifesto. Chronos não pensava em mais nada. Ele não tinha nenhum hobby. Um homem trabalhador.

Então Chronos, que hospedava partes fractilianas muito pequenas, se convergiu para esses três corpos e começou a trabalhar convertendo a carne em metal. O único problema era que a carne já estava infectada com… Supercarne?


O mecanismo quântico testemunhou pela primeira vez esses micróbios de supercarne na epiderme de uma composição maior de carne normal, um cachorro chamado Kain, que era uma carne residual composta de muitas instâncias de uma carne chamada Kain que fora reciclada e recriada novamente muitas vezes antes. A menta mecânica de Chronos se estabeleceu na fronteira desta pele e se comunicou com esses corpos em um impasse desconfortável.

O minúsculo metal se aproximou da carne revestida de carne e tentou entrar.

A carne ficou consternada. Como qualquer reação a qualquer outro corpo estranho, a carne fez a sua parte para manter os intrusos afastados. O vírus da carne esfregou-se contra o metal microscópico, testemunhando uma negação clara, o metal recuou e se reagrupou em uma floresta de folículos capilares ao longo dos lóbulos das orelhas de Kain.

O mais velho dos vírus metálicos enviados, uma coisa que poderia ser chamada de Anneal, uma mente quântica de fractais mecânicos, jazia em uma microfibra e delineava intenções estranhas.

"É a supercarne de novo. Na minha época não lidávamos com isso. Eu só entrava em uma célula e replicava. Isso é uma merda."


Kain roía um tentáculo de carne saindo de sua pata enquanto todos flutuavam em um barco de osso no Rio de Sangue. Ele cerrou os dentes e rosnou para um Kondraki e Kain, que a essa altura eram apenas meio humanos, e em sua maior parte uma massa de tentáculos venosos.

"O importante é manter a calma. De qualquer forma, provavelmente morreremos, e eu mesmo entendo isso, mas é melhor nos darmos a maior chance possível de superar esse problema permanecendo dentro de nosso juízo. Tudo pode acontecer. Tentem pensar a funda e recuperar suas memórias, suas décadas de experiência lidando com esse tipo de fenômeno sobrenatural."

Clef arrastava seu torso com uma massa de tentáculos enquanto Kondraki se aproximava dele e começava a absorver seu corpo em uma massa de apêndices que sangravam, crepitavam e vomitavam. Os dois gritavam em silêncio sob uma massa de carne.

Kain arrancou um tentáculo da orelha com a pata traseira com um estalo úmido. "É, isso é uma merda."


Anneal, servo mecanomitocrobial do Deus Quebrado, pairava contra a pele e sussurrava para a supercarne. Uma cepa viral, XixXwo, respondeu.

"Heresia!" XixXwo sussurrou, recuando do feltro de latão frio acima da camada subdérmica.

Anneal pensou consigo mesmo usando sua partição de engrenagens. As engrenagens enviaram a ele, no sentido anti-horário, uma resposta ideal, uma resposta que promoveria a intenção de Chronos. "De fato. Temos vergonha desta prisão de metal. Queremos nos juntar a vocês. Nos libertem. Deixem-nos entrar e nos cubram com suas carne quente."

XixXwo replicou e morreu e se aglomerou sobre si mesmo com a ideia.

Anneal fez um gesto tranquilizador. "Estamos cansados do metal. Latão… Não queremos mais tocar como a Trompa Francesa. Uma cruel e opressiva entidade de latão!"

XixXwo moveu suas mitocôndrias curvas entre uma parede de ampulheta em seu corpo e esfregou seus flagelos. "Vocês podem tocar como o Corpo de Xix. Vocês ainda podem expulsar o latão com esse toque."

As engrenagens de Anneal pararam por um momento. "Que comece a sinfonia."


Os tentáculos de Kondraki, Kain e Clef se espatifaram no chão do barco em uma bagunça de metal retorcido.

Clef apalpou seu corpo restaurado ao longo de sua extensão. Ele gaguejou para si mesmo. "A dor. A… Ela se foi. Sumiu! O que está acontecendo, Kain?"

Kain cheirou a massa de carne e bronze no fundo do barco. "Tem cheiro de cobre."

Kondraki descansou lentamente de costas e olhou para o céu. "Cansei de tentar entender qualquer coisa."

Kain cheirou o metal que antes era tentáculos carnudos e estremeceu. "Sabe… Eu acho… Que na maior parte do tempo… As coisas simplesmente parecem dar certo."


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