Em 7 de Julho de 1988, contrariamente ao fervor político em crescimento nos meses que precederam a promulgação da nova Constituição do país, a movimentação rotineira das ruas de Brasília não sugeriria que um evento paranormal estava a ponto de ocorrer.
Alheio aos debates, às comissões e subcomissões, este não envolvia constituintes, mas a visita diplomática de um rei oriundo de uma civilização avançada. Esse acontecimento não seria divulgado nos jornais ou transmitido na televisão, pois se daria longe dos olhares curiosos do público. E, mesmo que os cidadãos de Brasília permanecessem alheios a esta despedida, a cidade pulsava com uma energia diferente, uma sensação de que algo extraordinário estava prestes a se desdobrar.
O local para tal evento incomum foi o Palácio do Itamaraty, sede do Ministério dos Negócios Exteriores do Brasil. O cenário, onde de maneira sigilosa, o rei Delbáeth II foi recebido pelo governo do Brasil e por figuras discretas da sociedade Brasileira em um jantar poucas semanas após o incidente do Croco-Lula em Hy-Brazil.
Ao assumir o trono, Delbáeth II herdou todos os bens do reino, incluindo um jogo misterioso que seu tio jogava. Com a ausência dos conselheiros do reino, o jogo passou a guiar suas decisões sobre Hy-Brazil. Ninguém naquele jantar sabia, mas a missão do jogo, fortalecer laços com outros povos, e construir alianças com países que reconhecem sua existência foi o que motivou a visita de Delbáeth II ao Brasil.
Após um breve momento de descontração, a atmosfera no Salão nobre do Palácio do Itamaraty era de respeito e elegância. Ali estavam membros do governo brasileiro e da Ordem da Torre e do Valor, além dos militares de alta patente representantes da Superintendência Brasileira do Paranormal.
Alguns minutos depois, todos foram encaminhados até sala Brasília, onde uma longa mesa requintadamente decorada se estendia, coberta por toalhas de linho, prata reluzente e cristais cintilantes. Cada lugar era um estudo de sofisticação discreta, com cartões elegantes indicando os convidados de honra.
No centro da mesa, José Sarney, o Presidente do Brasil. Do seu lado, Delbáeth II, o recém coroado rei de Hy-Brazil, que observava os participantes com olhos atentos, analisando cada gesto e palavras cuidadosamente.
José Sarney, levantou-se, projetando sua sombra na mesa, e assim que todos na sala fizeram silêncio, ele lançou um olhar sobre os presentes, e começou seu discurso oficial.
CONFIDENCIAL |
Presidência da República
Secretaria de Comunicação da Presidência
Departamento de discursos PresidenciaisDISCURSO N° 047
BRASÍLIA 07/07/1988
Excelentíssimos senhores e senhoras, damos início a este solene momento, registrado nas páginas indeléveis da nossa nação a honrosa visita ilustre do monarca Delbáeth II, Rei de Hy-Brazil.
Nosso estimado país encontra-se na iminência de um novo amanhecer, prestes a implementar sua renovada constituição, buscando reatar nossa tradição democrática após um interregno excepcional.
Enquanto antecipamos a chegada de um futuro auspicioso, Delbáeth II prepara-se para a árdua tarefa de restaurar seu próprio reino. Assim, encontramo-nos em uma intersecção histórica, em que passado, presente e futuro estão profundamente interconectados.
A luta incansável de sua majestade Delbáeth II para a restauração de sua terra, se mescla com nosso aspiração coletiva e meu grande entusiasmo por uma democracia mais sólida e inclusiva. A Ilha de Hy-Brazil, um fascínio para nossos antigos marítimos, serviu de inspiração para as explorações que fundamentaram a nação que diligentemente construímos.
A presença de sua majestade entre nós é como um lembrete da resiliência do nosso povo, e do espírito inquebrantável da nossa nação. Assim como nossos antepassados que navegaram mares desconhecidos impulsionados pelas lendas de Hy-Brazil, nós também velejamos rumo a um futuro promissor, trazendo conosco a determinação em lutar por liberdade e justiça.
Na presença de Delbáeth II, prestamos tributo à valentia e ao espírito do grande rei Nuada Airgetlám VII, que governou Hy-Brazil com discernimento e amor por 177 anos, e ao recebermos a visita de sua linhagem, é como se sentíssemos a presença contínua e inabalável deste venerável monarca.
Em homenagem ao futuro do Brasil, em honra a Nuada Airgetlám VII do reino de Tuatha Dé Dananne, e em comemoração à ascensão de sua majestade Delbáeth II ao trono de Hy-Brazil, saudamos a herança e o progresso, rogando que o poder divino, e o espírito do antigo rei, nos acompanhe enquanto avançamos rumo ao futuro.
Com reverência, saudamos o rei Delbáeth II e rendemos homenagem ao espírito pacífico de nossas nações. Que a coragem e a resiliência que sempre pautaram nossa história nos acompanhem em nossa jornada, lembrando-nos de que, independentemente da magnitude dos desafios, a vontade inabalável de um povo livre jamais poderá ser subjugada.
Discurso pronunciado por sua excelência,
o presidente do Brasil, José Sarney.
Ao final do discurso, José Sarney levantou seu copo em um brinde, uma celebração histórica em memória ao passado, presente e futuro do Brasil e de Hy-Brazil.
Ao sentar, o presidente Sarney inclinou-se na direção do rei Delbáeth II, com olhos expressando uma combinação de preocupação e curiosidade. "Rei Delbáeth," ele disse, em um tom baixo, mas de forma clara, "Eu lamento profundamente a situação atual de Hy-Brazil, mas me responda, como está sendo lindar com tantas mortes em seu povo?
Delbáeth II o olhou por um momento antes de responder, sua expressão impassível, como se estivesse coletando seus pensamentos. Quando finalmente falou, sua voz ressoou com a confiança de um jovem monarca e com a serenidade de um sábio.
"Presidente Sarney, para nós, a morte não é o fim, é apenas um recomeço. Não é algo que tememos pois é um elemento natural da vida. Aqueles que perderam suas vidas na batalha contra o Croco-Lula não foram derrotados definitivamente. Ao contrário, estão escrevendo uma nova história numa dimensão além do vosso entendimento."
Ele fez uma pausa antes de continuar, seus olhos assumindo uma determinação inabalável. "No entanto, isso não significa que vamos deixar a destruição de nosso lar sem resposta. Por mais que tentem nos eliminar isso sempre será em vão. Não se poder eliminar aquilo que é eterno.
Com o jantar iniciando e a atmosfera na sala de jantar atingindo um clímax emocional, o rei Delbáeth II voltou-se para o presidente José Sarney, que estava sentado ao seu lado. Havia um sorriso amigável no rosto do rei, mas seus olhos brilhavam com uma curiosidade intensa.
"Presidente Sarney," começou Delbáeth II, com um leve sotaque de sua terra natal que dava um tom encantador à sua voz, "Vocês estão prestes a entrar em uma nova era com a promulgação dessa nova Constituição. Como você vê o futuro do Brasil? Acha que essa nova fase será duradoura?"
José Sarney lançou um olhar meditativo ao rei, uma mistura de cautela e franqueza pintando suas feições. "Rei Delbáeth," ele começou, a formalidade em sua voz contrastando com a casualidade de seu sotaque maranhense. "Acredito que o Brasil está em uma encruzilhada crucial. Estamos dando um passo democrático importante, uma chance de igualar os direitos e deveres de todos os cidadãos."
Ele fez uma pausa, olhando para o vinho tinto em seu copo antes de continuar. "No entanto," ele admitiu, "Uma Constituição tão extensa, abrangente, e cheia de mistérios, só o tempo dirá quanto ela vai durar."
Delbáeth II arqueou uma sobrancelha, claramente intrigado. "mistérios?" ele perguntou, dando ao presidente a chance de explicar.
Sarney assentiu, seus olhos encontrando os do rei. "artigos que só saberemos o seu real significado quando eles forem necessários. Sendo franco, pouca influência estou tendo sobre esse processo, assim como você, eu cai na presidência por um infortúnio com o líder da minha chapa, e já não vejo a hora disso acabar. "
Ao final do banquete, o salão ficou silencioso. Rei Delbáeth II se levantou, uma figura solene em seu traje de cerimônia, seu rosto iluminado pela luz suave dos lustres. Ele olhou para os presentes, e sua voz preencheu o ambiente com uma gravidade serena.
"Agradeço a todos por esta recepção calorosa e pela generosidade de espírito que encontrei em meu tempo no Brasil. Esta noite é um testemunho da coragem e da amizade que unem nossos mundos, uma prova da força que vem de compartilhar não apenas o júbilo, mas também a adversidade."
Ele fez uma pausa, seus olhos claros varrendo a sala. "O monstro que atacou Hy-Brazil deixou um rastro de destruição e perda que atingiu fortemente o meu coração. Mas enfrentamos adversidades antes, e cada vez emergimos mais fortes, mais resilientes. Agora não será diferente."
Sua voz ganhou intensidade enquanto ele continuava. "Eu não tenho medo do desconhecido, da incerteza do que está por vir, eu tenho fé, uma fé que nos leva através das trevas e nos guia de volta à luz. A mesma fé que impulsionou os bravos cavaleiros da Ordem de Cristo a lutar em defesa de suas crenças e a desbravar os mares com base em histórias como a de Hy-Brazil."
Levantando o copo, Delbáeth II concluiu seu discurso com palavras de esperança. "Então, deixemos que nossa fé nos guie através dos desafios que temos pela frente. Que ela nos dê a força para reconstruir o que foi perdido e a coragem para enfrentar o futuro, não importa o que ele nos reserve. Assim como os cavaleiros de outrora, enfrentamos nosso destino não com medo, mas com determinação e bravura."
Com um último aceno para os convidados, Delbáeth II terminou, "A Hy-Brazil, ao Brasil, e à fé que nos une. Que o futuro nos traga paz e prosperidade, e que nossa coragem nunca vacile na face do desconhecido."
A sala explodiu em aplausos enquanto seu discurso ecoava nas mentes e corações de todos os presentes daquele momento único. o Rei despediu-se dos presentes, e caminhou em direção a sala reservada que solicitou para realizar o ritual de retorno à Hy-Brazil
Os passos de Delbáeth II ecoavam no corredor paralelo a Sala Brasília, ao se aproximar da sala Rio de Janeiro, encontrou com o Grão-mestre da Ordem da Torre e do Valor, que o abordou. "Majestade," disse o Grão-mestre, inclinando-se ligeiramente antes de falar. "Se não for inconveniente, gostaria de cumprimenta-lo particularmente."
Delbáeth II, falou enquanto estendia a mão para o cumprimento: "Claro," respondeu ele, "mas sugiro que não diminuamos o passo, o tempo que tenho disponível para voltar à Hy-Brazil é curto, e se eu perdê-lo, não sei se eu conseguiria voltar antes do próximo dia 07.
O Grão-mestre compreendendo a urgência, começou a falar enquanto caminhavam. “É sobre o Brasil, majestade. Estamos prestes a viver um novo amanhecer, um passo em direção à democracia alinhada aos países ocidentais. Entretanto, tenho observado com certa inquietação a influência de forças estrangeira em nosso território e instituições, como se estivessem atuando em benefício de interesses maléficos a nós.
Delbáeth II esboçou um sorriso suave. “Grão-mestre, nos últimos anos eu conheci forças que aparentemente regem as nações desse mundo. Tens observado bem, os líderes das nações são meras marionetes manipulados por forças sombrias. Um dos motivos que me trouxe aqui, é o receio de que nem mesmo meu reinado em Hy-Brazil esteja imune a essa ameaça. “
Delbáeth II, olhando para a porta da sala Dom Pedro II a qual eles se aproximavam, ponderou por um momento e falou. “ O mal, é uma força que não é fácil de derrotar, ela está presente em todos os lugares, por vezes até dentro de nós mesmos, enquanto alguns resistem essa força, outros se entregam e passam a servi-la."
Após uma breve pausa em frente a porta da sala Dom Pedro II, o Grão-mestre, com uma expressão confiante falou: “Majestade. nesse momento em que vosso reino encontra-se extremamente fragilizado, reitero o compromisso da nossa Ordem com a fraternidade universal, e me coloco a disposição para prestar o suporte necessário para defesa e reconstrução de Hy-Brazil"
Delbáeth II olhou para o Grão-mestre, com um sorriso no rosto e brilho em seus olhos, fez um gesto com a mão autorizando a entrada do Grão-mestre na sala Sala Dom Pedro II e respondeu. “ Fico feliz em ouvir isso nos momento finais da minha visita nesse país. Nossos povos diferem na cultura e nas crenças, mas ambos são criações do grande arquiteto do universo.
Nesse momento ele sacou um belo relógio de bolso e começou a dar leves toques compassados na parte traseira do objeto, ao tempo que começou a falar. “ Não tema as forças da sombra nem as consequências de suas ações, preocupe-se em olhar para luz, pois é de lá que vem a força que guia os justos em direção à plenitude da vida. "
O Rei Delbáeth II olhou para o artefato, uma criação esplêndida forjada em uma liga de ouro reluzente. O requinte do relógio parecia distorcer o tempo e o espaço ao seu redor, emitindo um zumbido sutil que só podia ser ouvido por aqueles sensíveis ao mundo dos mistérios.
Ele ergueu a mão direita, a palma da sua mão aberta segurava o relógio, seus olhos penetrantes fixos no objeto misterioso. Sua mão esquerda, o rei moveu como que dirigindo uma orquestra invisível, com movimentos sutis, mas cheio de intenção, ele deu sete toques etéreos no ar.
No último toque, o relógio brilhou com uma luz verde esplêndida, pulsando sete vezes como se estivesse vivo. De repente, uma fenda se abriu diante deles, revelando um portal turvo que lembrava um vórtice de energia esmeralda. O portal parecia pulsar em resposta ao ritmo do relógio, produzindo uma melodia cósmica que encheu a sala de uma sensação de expectativa e maravilha.
Delbáeth II voltou-se para o Grão-mestre, um sorriso enigmático brincando em seus lábios. "A partir de hoje", começou ele, sua voz ressoando com autoridade e poder, "um portal se abrirá neste lugar nos 3 dias 07, a partir do mês 07, a cada 7 voltas solares, permitindo um acesso sem precedentes ao nosso reino. "
O Grão-mestre observou, sem falar nada, enquanto Delbáeth II desaparecia através do portal, deixando para trás apenas o zumbido suave do Relógio e o resplendor do portal. Ele podia sentir o peso daquele momento, sabendo que o mundo como ele conhecia provavelmente não seria mais o mesmo.
E enquanto o portal piscava com uma luz radiante e misteriosa, o Grão-mestre foi tomado por um pensamento inquietante. Quais seriam as consequências dessa nova conexão com Hy-Brazil ? Que novas maravilhas aguardavam além do portal?
Com essas perguntas inquietando sua mente, o Grão-mestre olhou para o portal, sabendo que o próximo dia 07 traria respostas, e com isso, talvez novos desafios e aventuras. Em seu coração, ele sabia que o caminho à frente estava repleto de incertezas, mas também de oportunidades. E assim, na quietude da sala, a promessa de um novo amanhecer ecoou, tão misteriosa e instigante quanto o portal que temporariamente fechou a sua frente.