"Então, hum… esse negócio todo da Anomalia de Hartle parece estar ficando famoso. Acha que eles vão nos mandar para lá?"
"Hartle é científico, não paranormal," disse Bullfrog, enquanto recolocava cuidadosamente a tampa da bateria em uma tela LCD fina de 3 polegadas. "Nós não mexemos com anomalias científicas."
"'Científico' pode se tornar 'paranormal' em um piscar de olhos," ressaltou Fartboy. Ele virou a página de sua revista. "A linha entre o normal e o estranho é confusa, e parece que isso está prestes a virar."
"Bem, então, quando eles nos enviarem, você vai poder dizer 'Eu avisei.' Até lá, concentre-se na missão." Bullfrog acionou um botão na lateral da telinha, balançou a cabeça satisfeito, e então desligou o monitor e o guardou em sua bolsa na mochila.
"Sim, senhor, líder de equipe, senhor, absoloputamente Semper Fi Faça ou Morra no Ar fodendo Garry Owen Quem Se Atreve, Ganha, líder de equipe," murmurava Fartboy, virando a página.
"Atenção," disse Kitten. "Agente e estrelinha chegando."
Bullfrog olhou para a porta do quartel. "Eu não vejo…"
Duas batidas fortes, seguidas pela abertura da porta, deixando entrar uma breve rajada de ar quente do deserto. Dois homens entraram na sala. Um deles era baixo e incrivelmente feio, com um sorriso de gato cheshire e um terno preto caro, mas surrado. O outro homem era alto, com um tórax em tonel e um porte tão militar que o pau no cu dele provavelmente tinha fitas de campanha e uma Estrela de Prata.
"Vocês não saúdam porra?" o militar rosnou.
"Na verdade, não, general," disse o homem de terno sorridente. "Tecnicamente, somos uma organização civil sob o—"
"Civis. Meu deus. Não me lembre. Bando de ovelhas, burocratas e gordos preguiçosos. Você não vai me apresentar?"
"Eu estava chegando lá," disse o homem sorridente. "Equipe Sparkplug, conheça o General Bowe. General Bowe, Equipe Sparkplug é uma de nossas melhores equipes de infiltração e avaliação. Seus nomes reais são confidenciais, é claro, mas você pode chamá-los de Bullfrog, Kitten e Fartboy."
General Bowe franziu a testa para o jovem de cabelos cor de areia sentado com os pés sobre a mesa, folheando uma edição da revista TIME. "Fartboy? Que porra de nome de soldado é Fartboy?"
"Não fui eu que escolhi, general. Eles, hummmm… me deram depois da primeira vez que fui reprovado no curso de perseguição na escola de franco-atiradores," Fartboy admitia timidamente. "Em minha defesa, serviram feijão vermelho e arroz no refeitório na noite anterior."
"Sério? Bem, isso não é ótimo pra caralho?" General Bowe murmurava sarcasticamente. "Bem? Diga a eles as novidades."
A expressão do homem sorridente não mudou de seu sorriso fixo e sem graça. "A missão foi cancelada," disse ele brevemente. "A notícia veio de cima. Não vamos mais avaliar o alvo, vamos atacar ele."
"Porra," rosnou Bullfrog. "Isso era exatamente o que precisávamos. Um ataque às cegas em uma estrutura com segurança. Fantástico pra porra."
"Bem, então, vocês estão com sorte. Vocês não vão atacar, vocês vão ser a supervisão. Os elementos de assalto e segurança de perímetro estão vindo da Caixa de Pandora," disse o homem sorridente.
O silêncio na sala era palpável.
"Senhor?" Disse Bullfrog, lenta e cuidadosamente. "Podemos conversar?"
"Claro, Bull. General, posso ter um momento para falar com minha equipe em privado?"
"À vontade, Diretor. Rapazes."
"A Caixa de Pandora está ativa?" Perguntou Bullfrog, assim que o General saiu da sala.
"Esta será a primeira missão deles," disse o homem sorridente. "Pelo que ouvi do alto, General Bowe está sendo pressionado a justificar seu orçamento: o que não é surpreendente nesta economia. Ele pediu esta, e eles a deram pra ele."
"E o que eles nos deram em troca por invadir nosso território?"
"Não se preocupe com essa parte, Bull. Deixe a Dama Assustadora e seus Doze Servos do Mal se preocuparem com isso."
"Eu, uhhh… Eu tenho uma preocupação," disse Fartboy, levantando a mão. "Este não é nosso campo de especialização, chefe. Invadir um edifício é um trabalho para equipes de Assalto, não de Avaliação. Não estamos exatamente equipados para isso."
"Estou ciente. General Bowe generosamente se ofereceu para nos emprestar alguns equipamentos de seu arsenal."
"Kitten?" Perguntou Bullfrog.
"Precisaremos de uniformes que combinem com o que o resto deles está vestindo. Armaduras também. Trouxemos nossas armas, mas precisamos de munição," disse Kitten secamente.
"Vocês não trouxeram munição?"
"Eu trouxe um pouco de munição, mas essa era para ser uma missão de avaliação secreta. Se precisássemos começar a atirar, a coisa toda caíria em pedaços, então gastei a maior parte de nossa margem de peso em outras coisas. Como COLLICULUS." Kitten franziu a testa. "Droga. Preciso treinar a equipe de perímetro para configurar os nodos. Algum deles foi treinado com COLLIC?"
"Não que eu saiba, não," disse o homem sorridente.
"Vou pré-calibrar os emissores para eles, então," disse Kitten. "Dessa forma, eles podem só ligá-los e socá-los no lado de fora do edifício alvo. Não vou obter uma imagem tão boa, mas deve ficar bem."
"Por curiosidade, como você estava planejando disfarçar os nodos, afinal?" Perguntou Fartboy.
"Eu não ia. P&D me deu essa perfuratriz robô. Eu ia tunelar sob o edifício a partir dos sistemas de esgoto."
"Ah. Bacana."
"Alguma outra pergunta?" perguntou o homem sorridente.
"Eu quero um resumo completo do plano de ataque e nosso lugar nele," disse Bullfrog.
"O plano de ataque vocês terão que obter do General Bowe ou de um de seus subordinados. Quanto ao seu lugar nele… o mesmo de antes. Infiltrar, observar, avaliar e relatar. Este show é do General Bowe, não nosso. Se tudo correr bem, vocês só vão assistir a missão acontecer e relatar os detalhes para nós."
"E se algo der errado? Perguntou Bullfrog.
"Se algo der errado? Consultem o manual e façam o que acharem melhor. Boa sorte, equipe."
"Isso é foda," suspirou Fartboy uma vez que o homem sorridente saiu da sala.
"Sim, eu sei," disse Bullfrog. "Tudo bem, então. Hora de desfazer a porra das malas. Kitten?"
"Estou cuidando disso. Precisamos do quê?"
"5.56 e 9mm pra você e pra mim. Fartboy?"
"7.62 e .45," disse Fartboy.
"Vou trabalhar nisso." Kitten se virou e rapidamente saiu da sala. Ela sempre fazia as coisas rapidamente se pudesse.
"Sabe," observava Fartboy, "General Bowe obviamente não é um estudante de mitologia." Ele abiru um estojo de rifle surrado e tirou um rifle de precisão fortemente personalizado.
"A coisa da Caixa de Pandora? Se bem me lembro, a caixa continha Esperança, não é?" Bullfrog abriu seu próprio estojo de arma e tirou uma M-4 de dentro, verificando a câmara em busca de munição viva antes de continuar sua inspeção da arma.
"Esperança, claro. Mas também um monte de dor, miséria e sofrimento." Fartboy franzia a testa enquanto limpava uma partícula de poeira da lente da mira de seu rifle com um pano macio. "Eu não sei. Talvez seja só porque eu acho que ele é um cuzão."
"Não, você está certo. General Bowe está se iludindo, e ele está desligado da realidade. Você ouviu a última coisa que ele disse antes de ir embora? Ele nos chamou de 'rapazes.' Até a Kitten."
"Em sua defesa, esse é um erro fácil de cometer."
"Talvez. Ou talvez seja um sinal de pensamento rígido. Fazendo suposições sem verificar os fatos," disse Bullfrog.
"Estamos fodidos, não é?"
"Essa é uma possibilidade distinta, sim."
"Algum dia," suspirou Fartboy, "alguém vai inventar uma armadura que me deixe coçar onde está coçando e vou me casar com ele. Ou ela. Ou com a coisa que a inventar." Ele olhou para Kitten, que estava fazendo uma quantidade ridícula de flexões de barra em um ritmo francamente perturbador. "Isso é inteligente? Quero dizer, e se você se cansar?"
"Tensa. Nervosa. Preciso queimar energia ou vou ficar tremendo." Kitten desceu da barra de flexões e passou a fazer flexões no chão. "Posso descansar no caminho."
"Como quiser. E aí, Bull."
"E aí, Fartboy. Kitten. Recebi nossas ordens. Eles querem que fiquemos no helicóptero e forneçamos apoio aéreo de atirador. Já que eles estão esperando pouca ou nenhuma resistência civil, devemos ficar apenas sentados e assistir tudo acontecer." Zombava Bullfrog. "Além disso, o cheque já está no correio, o apoio aéreo está a caminho e só vou apontar o local."
"Deus salve a América, uhul, viva e Molon Labe porra," murmurava Fartboy.
"Isso mesmo. Fartboy, tudo pronto? E você, Kitten? Você está pronta para ir, ou quer correr uma maratona primeiro?"
"Estou pronta, chefe. Vamos." Kitten terminou uma última flexão, limpou as mãos e então pegou sua mochila e um grande estojo de equipamentos.
"Sim. Vamos acabar com isso," disse Fartboy, pegando sua própria mochila e rifle.
Eles estavam atravessando a pista em direção ao helicóptero quando Kitten parou e se virou para um pequeno grupo de homens reunidos em torno de um Black Hawk. "Alto, Escuro e Letal às três horas."
Não era incomum homens andarem sem camisa no calor do deserto. O que era incomum eram as tatuagens vermelhas com bordas irregulares que cobriam cada centímetro do corpo do homem alto de pele morena. Havia uma coleira de aço maciça em volta de seu pescoço e algemas de aço amarradas em suas mãos. Uma dúzia de homens com armadura completa, carregando rifles de assalto, mantinham suas armas apontadas para ele o tempo todo.
O homem alto parou e se virou para encará-los. Fartboy sentiu um arrepio nas estranhas quando seus olhos se encontraram. Olhos de tubarão, pensou ele. Olhos de assassino. Nada atrás deles, exceto morte e guerra.
Então, alguém cutucou o estranho com a boca do rifle e o estranho grupo continuou pela pista até o helicóptero.
"É ele?" Perguntou Kitten.
"Sim," disse Bullfrog. "Sujeito Abel, vulgo Rascal Um. Você viu o vídeo?"
"Sim," disse Kitten. "Impressionante."
"Impressionante, infernos, mas aterrorizante pra caralho. Devíamos estar explodindo aquele cara, não transformando ele em uma arma."
"Explodimos. Nove vezes. Ele vive voltando," ressaltou Bullfrog.
"Fantástico pra porra. E ele é um dos mocinhos."
"Nós também. Cara séria, pessoal."
"CONSIDERANDO TUDO, NÃO ESTÁ INDO TÃO RUIM!" Gritava Bullfrog acima do som dos rotores do helicóptero.
Fartboy balançava a cabeça. Ele estava deitado no chão do helicóptero em um colchão de espuma acolchoado, examinando a cidade ao redor através de sua mira. Com exceção de alguns bisbilhoteiros cautelosamente observando os homens em helicópteros descendo sobre o edifício, as coisas estavam quietas. Ninguém estava sacudindo uma arma ou incitando as multidões à violência. Ele honestamente não estava surpreso. Isso não era Bagdá ou Cabul: as pessoas por aqui não costumavam ver homens armados andando por aí. Elas ainda não tinham aprendido a associar soldados à violência e ao caos.
"COLLIC está ativo," disse Kitten em seu microfone. Ela apertou um botão em seu tablet e observou uma barra de progresso se preencher por alguns segundos. Quando a tela carregou, uma imagem do edifício alvo e do quarteirão ao redor apareceu. Os edifícios em si eram brancos e translúcidos como um fantasma, assim como os objetos inanimados em seu interior. As pessoas apareciam como silhuetas negras cercadas por uma aura de chamas multicoloridas.
Exceto uma: uma silhueta particularmente alta e esguia no helicóptero de ataque chefe, que saltou vinte pés para baixo no telhado do prédio alvo, desdenhando o uso da corda. A aura dessa era de um violeta escuro profundo, tão escuro que era quase preto. A silhueta sacudiu as mãos e um par de lâminas cruéis em forma de gancho apareceu em suas mãos, misturadas com fogo negro.
"Huh," disse Kitten. "Interessante."
"O que é?"
"As espadas. Sempre suspeitamos que elas estivessem vivas de alguma forma. Isso confirma isso."
No telhado, o resto da equipe de assalto havia desembarcado e estava correndo pelo telhado. Dois deles, carregando grandes cargas de arrombamento parecidas com placas, foram afastados por Rascal Um, que simplesmente cortou a porta das dobradiças com suas espadas e a chutou para dentro.
Os minutos seguintes foram como uma sinfonia de carnificina. Homens em pânico, despertados do sono pelo som de helicópteros e tiros, emergiam de suas camas atirando e eram cruelmente abatidos. Auras vitais brilhavam intensamente em dor e terror, e eram rapidamente extintas. Um inimigo particularmente corajoso tentou partir para cima da equipe de assalto com uma faca. Ele acabou atirado para fora de uma janela do terceiro andar em três pedaços.
"Do que o alvo era suspeito, Bull?" Perguntou Fartboy.
"Suspeito de ser um imortal "Tipo Branco". Supõe-se que ele tenha quinhentos anos de idade. Nenhuma outra característica paranormal. Se não fosse por sua política, acho que ninguém daria a mínima."
"Ah. Nesse caso, isso tudo parece um tanto excessivo," pensava Fartboy. Abaixo, um adolescente apavorado com um rifle de assalto foi cortado ao meio por uma cimitarra curva gigante.
"Bastante," disse Kitten suavemente.
"Pandora Um para todas as unidades. O pacote foi assegurado. Repito, o pacote foi assegurado." Na tela de Kitten, seis homens estavam agrupados ao redor de um sétimo, que estava deitado no chão com o rosto para baixo e as mãos sobre a cabeça.
Se alguma coisa for dar errado, pensava Bullfrog, é agora que vai dar.
Uma figura com aura negra entrou na sala, cortou o homem no chão em pedaços e depois cortou os outros seis de forma rápida e metódica.
Odeio estar certo.
"PUTA MERDA! RASCAL UM ESTÁ FORA DE CONTROLE! RASCAL UM ESTÁ—" a voz do soldado aterrorizado em solo foi cortada por um grito de dor e um gorgolejo de sangue.
"APERTE O BOTÃO! APERTE O BOTÃO!"
A figura negra agarrou sua garganta. Um momento depois, todas as janelas nos dois andares inferiores do edifício explodiram em uma chuva de vidro e poeira.
Um momento depois, Rascal Um saiu do edifício. Seu braço esquerdo era uma bagunça mutilada do ombro para baixo. O lado esquerdo de seu corpo estava ensanguentado e despedaçado. Partes dele ainda fumegavam. Mas sua mão direita ainda segurava uma espada de pura escuridão.
As coisas ficaram um pouco malucas depois disso.
"CORRENTE CAÍDA! REPITO, CORRENTE CAÍDA!"
"Ele está fora do edifício! Ele está fora do edifício!"
"Precisamos de uma evacuação médica, agora!"
"Não desça este helicóptero!" Bullfrog gritou em resposta àquele último grito de pânico.
"Vá se foder! Esses são os meus homens lá embaixo!" o piloto gritou de volta.
Abaixo, o primeiro helicóptero que tentava evacuar as vítimas foi cortado ao meio por uma espada arremessada. O piloto parou de discutir e trouxe o helicóptero de volta para cima.
"Me dê seu rádio," disse Bullfrog sinistramente. Ele conectou o fone e mudou para uma frequência que não aparecia no registro de comunicação.
O homem sorridente não estava surpreso quando Bullfrog ligou na frequência segura. Desapontado, talvez. Surpreso, não.
"Você está vendo isso, chefe?"
"Sim," disse o homem sorridente. "General Bowe está um tanto irritado, para dizer o mínimo. Eles estão se preparando para enviar um ataque aéreo. Sua avaliação?"
Uma pausa curta, provavelmente para que Bullfrog pudesse gritar algum palavreado sem que aparecesse no registro oficial. "Chefe, até o reforço aéreo chegar, Abel já estará na cidade propriamente dita. Será necessário um bombardeio de saturação para tirá-lo de lá. Se os americanos bombardearem esta cidade, vai ser ruim. Estamos falando de ruim ao ponto de desestabilização internacional, sem mencionar que Ban-ki vai ficar puto."
"Vocês conseguem, então?"
Outra pausa, um pouco mais longa. "Sim, Chefe. Dê a palavra e nós podemos."
"A palavra está dada. Desligando."
O homem sorridente se levantou e pigarreou. "Cavaleiros!" ele gritou, por cima da algazarra confusa. "Estou tomando controle. Conforme o Artigo 45 da Carta das Nações Unidas, o Acordo Especial entre o Conselho de Segurança da ONU e o governo dos Estados Unidos da América, e o Artigo 9 da Carta da Coalizão Oculta Global, esta é agora uma operação da GOC…"
A primeira coisa que Kitten fez foi tirar a armadura. Pelo que ela viu, ela não parecia adiantar em nada contra a espada negra de Rascal Um, e ela não podia lidar com o peso extra. Ela deixou a maior parte da munição para trás também: se seu plano funcionasse, um cartucho era tudo de que ela precisava. Do contrário, um cartucho extra não ajudaria.
Ela trouxe a faca, no entanto.
Quando o helicóptero desceu a dez pés, ela saltou e atingiu o solo rolando. Bullfrog jogou seu rifle para ela, e ela se virou e correu para o pátio do edifício alvo.
Seu sangue cantava. Essa era uma parte do trabalho que ela não fazia com frequência, mas quando o fazia, era uma alegria absoluta.
Ela começou disparando com seu rifle do quadril no momento em que viu Rascal Um: ela não ligava para acertar, apenas chamar a atenção dele. Ela fez a transição para a pistola enquanto corria e a esvaziou também. Então ela jogou a pistola vazia nele - a qual ele pegou e jogou de volta nela - então ela se esquivou e correu os últimos dez metros.
Toda a sua energia, toda a sua tensão que ela mantinha contida e escondida atrás de sua reserva fria e autocontrole de ferro, explodiu como uma granada.
"Kitten,"1 Bullfrog muitas vezes pensava, era um apelido singularmente inapropriado para uma amazona musculosa e de quase seis pés de altura. "Cheetah," talvez. "Tiger," quem sabe. Mas "Kitten?" Cheirava a sexismo e a uma atitude patriarcal profundamente arraigada que reduzia as mulheres a uma fofura infantil. Ou talvez fosse ironicamente. Ele teria que perguntar a ela sobre isso algum dia.
Ele também odiava como era sempre nos momentos de tensão mais profunda que ele se preocupava com as coisas mais idiotas.
O piloto os deixou no telhado de um edifício próximo. Bullfrog saltou primeiro, carregando o tapete de espuma e o tablet da Kitten. Fartboy seguia atrás, segurando o rifle contra o peito como um bebê. Ele correu até a beirada do telhado e rapidamente definiu sua posição de tiro, então olhou através de sua mira.
E imediatamente franziu a testa. "Jesus, eles estão se movendo rápido."
"Você pode atirar?"
"Uhhhh… não. Não consigo nem mantê-los na mira. Desculpe, Bull."
Valeria a pena dizer à Kitten para ir mais devagar? Não. Pelo que ele podia ver, ela estava com as mãos ocupadas só tentando impedi-lo de eviscerá-la. Nenhuma energia de sobra para responder, e distraí-la agora poderia ser fatal. Ela também estava ficando cansada. Não importava o quão rápida ou durona ela era, ela ainda era humana, e Rascal Um era praticamente um deus: mesmo tendo metade do corpo estourada, ele era mais do que um adversário para ela.
O que significava que ele provavelmente teria que descer e ajudar. Droga.
"Certo, vou descer," suspirou Bullfrog. "Não importa o que aconteça, se você tiver a oportunidade, dispare."
"Não precisa me dizer duas vezes. Boa sorte, Bull."
"Idiota da porra." Bull chutou a porta e começou a descer as escadas, murmurando um breve pedido de desculpas para os civis amedrontados amontoados lá dentro. Se ele estava saindo, refletia ele, ele iria precisar de uma arma maior.
Kitten ia morrer.
Não era culpa dela. Rascal Um só era mais rápido, mais forte e melhor do que ela. Ele não ficava cansado. Ela sim. Ele não sentia dor. Ela sim.
Ela se consolava com o fato de que durara cerca de dois minutos a mais do que qualquer outra pessoa que vira lutar contra ele. Isso era algo, pelo menos.
Isso ia acontecer a qualquer momento. Ela cometeria um erro e então morreria. Era uma merda, mas não havia nada que ela pudesse fazer sobre isso.
Ela deu um passo para trás um pouco longe demais e perdeu o equilíbrio.
Ele se aproximou para matá-la.
Mas ele parou quando uma longa rajada de uma Arma Automática de Esquadrão preencheu o ar entre eles.
"Ei idiota!" Gritou Bullfrog. "Sua mãe chupa paus de cabra!"
Ele disparou uma segunda rajada da metralhadora leve, apenas para ver Rascal Um acertar as balas no ar com sua espada. Algo sobre isso desencadeou uma memória na mente de Kitten, e ela jogou sua faca nele.
Que Rascal Um imediatamente agarrou no ar.
O que ocupou sua mão boa de modo que ele não pudesse manifestar uma espada.
O que permitiu que a próxima rajada de Bullfrog estourasse suas pernas.
O que foi seguido pelo rifle de Fartboy disparando dez vezes em rápida sucessão, despolpando a cabeça de Abel como um melão.
Só para ter certeza, Kitten tomou o tempo para esmagar a espinha dele em polpa com um bloco de concreto.
Só então ela se permitiu relaxar.
Aquela era uma cabana bem bonita e um lago muito bom, o homem sorridente tinha que admitir. Um lugar perfeito para passar uma semana longe do mundo… ou em exílio auto-imposto, escondendo-se da desgraça pública.
Roupas civis não combinavam com o General Bowe. Seu peito grande e largo parecia triste e vazio sem suas fitas e medalhas. O copo de gelo e vodca ao seu lado completava o quadro trágico.
"Acabei de receber uma mensagem do Secretário de Defesa," disse ele. "O Projeto Pandora acabou. Eles estão cancelando nosso orçamento e liquidando nossos ativos." Ele ergueu a taça em uma saudação irônica. "Filhos da puta."
Liquidar ativos. Um termo tão bonito e limpo para execuções em massa. A Base de Palmdale ia se tornar um abatedouro. O homem sorridente estremeceu internamente com aquela imagem mental. "Isso vai ser difícil para alguns de seus ativos," ressaltou ele. "Abel vem à mente."
"Eles vão cavar um poço gigante e colocar a caixa no fundo de dez mil toneladas de concreto sólido. Desperdício puro," murmurava General Bowe.
"Talvez seja melhor assim," disse o homem sorridente. "Algumas cosias simplesmente não podemos controlar ou destruir… e também não estamos no negócio de armazenas essas coisas."
"Huh." General Bowe tomou um grande gole de sua vodca e olhou fixamente para o pôr do sol. "Falando nisso, eu estava revendo as fitas da operação outro dia."
"Ãhn?" perguntou o homem sorridente.
"Sim. Aquela vadia grande assustadora? Nós medimos uma velocidade de cerca de 80 kmh em sua última corrida. Apenas por alguns segundos, mas isso é quase duas vezes mais rápido do que a porra do Usain Bolt."
"Ah," disse o homem sorridente.
"E aquele garoto loiro com o nome idiota? Ele enfiou um cartucho inteiro na cabeça de um homem a uma distância de 300 jardas. Em cerca de 2 segundos."
"Hm," disse o homem sorridente.
"Se importa de explicar?"
O homem sorridente ficou olhando para o pôr do sol por um longo tempo. Quando o sol finalmente desapareceu atrás das colinas, e apenas o crepúsculo cinza restava, ele finalmente falou. "A pesquisa armamentista tende a se concentrar no exótico. Políticos e generais querem avanços grandes, chamativos e emocionantes. Porta-aviões. Jatos de combate. Tanques. Um guerreiro imortal com espadas mágicas. Mas se você perguntar a um soldado o que ele realmente quer, as respostas serão mais prosaicas. Um rifle melhor que nunca emperra. Um sistema de comunicação que não para de funcionar. Calças que não rasgam."
"… um rifle que nunca erra um tiro certeiro?"
"Mmm."
"Pensei que esse era o tipo de pessoa que vocês deveriam matar."
"Nosso trabalho é proteger a humanidade do paranormal, sim. Mas a linha entre o normal e o paranormal é frequentemente… confusa." O homem sorridente consultou o relógio e se levantou. "Agora, se você me dá licença, eu tenho uma reunião com a NASA. Parece que algo estranho está acontecendo com a Anomalia de Hartle. Boa noite, General."