REGISTRO DE DOCUMENTO: AAC-020-ADEP-1 a AAC-020-ADEP-3
[Início de registro]
A gravação mostra o interior do que aparenta ser uma sala no prédio administrativo da região. Ao fundo é possível ver a margem da anomalia e a iluminação natural que vem do corpo d'água ao redor. Cinco indivíduos portando ternos completos se encontram lado a lado em frente à câmera, incluindo o líder da organização, conhecido como "Comandante Toledo". É notável um erro na gravação constantemente sobre a face de um dos indivíduos, além de outro possuir uma máscara metálica cobrindo seu rosto.
Girassol: Beleza, tudo certo. Pode falar.
Toledo: Falar o quê?
Girassol: Ah, qualquer coisa. Vamos, você sabe que é importante registrar esses momentos.
Toledo: Tem certeza? Eu… não sei se é uma boa…
Os demais indivíduos ao redor de Toledo tentam o encorajar a concordar com o pedido de Girassol, falando ao mesmo tempo.
Toledo: Tudo bem, tudo bem.
Toledo dá um passo à frente, retirando um cristal esverdeado de seu bolso e segurando-o com as mãos enquanto os demais indivíduos aplaudem.
Toledo: Bom, eu gostaria primeiro de agradecer a todos vocês por me ajudarem a transformar esse sonho em uma realidade. [Ele fecha os olhos e respira fundo.] Tudo… tudo começou quando deixei o Sindicato dos Metalúrgicos que, como vocês sabem… [Toledo gesticula para a câmera] ou pelo menos você sabe, não era exatamente o que eu esperava. Não me entendam mal, o trabalho deles é essencial para a causa, mas… eu sempre preferi a ação direta, sabe?
Toledo se vira e caminha em direção à janela. Os demais indivíduos em cena abrem caminho para sua passagem enquanto a câmera se aproxima.
Toledo: Então, logo mais, eu e a Sol organizamos a sede do sindicato aqui no Rio. Era uma boa fachada, sabe? Pouco a pouco o pessoal foi se juntando, primeiro vieram esses quatro, [Toledo se vira e gesticula para os outros indivíduos ao seu redor] e mais tarde foram vindo dez, trinta, cinquenta… Pessoas como nós, sabe? Ou que pelo menos compartilhavam das mesmas ideias que nós. Eu já tinha tentado outras coisas, também…
Toledo caminha para a direita, olhando para o chão e segurando com firmeza o cristal.
Toledo: Mas acontece que até nos movimentos de luta, tem discriminação, sabe?
Os indivíduos, agora à esquerda da cena, murmuram entre si acenando com suas cabeças em concordância.
Toledo: Enfim, não é difícil achar gente que acredita nas mesmas coisas que você.
Indivíduo Desconhecido #1: A rádio tinha sido uma boa jogada.
Toledo: É… [Toledo ri levemente.] Eu tinha uns amigos que sabiam um pouco de propaganda e tudo mais. Foram essas pequenas coisas que atraíram o pessoal e ajudaram a gente a tornar essa ideia, esse sonho, em uma realidade. E queríamos começar com algo simples, sabe? Mas aí eles vieram nos empurrando com mais e mais força… até o dia que levaram o Joca. Eu não preciso lembrar ninguém aqui, não é? Tem uma foto dele na praça, lá embaixo mesmo. Foi uma covardia, uma brutalidade que eu nunca vi antes… e na nossa frente, ainda por cima, dentro do prédio e…
[Toledo pausa, se virando para a câmera novamente, que agora se posiciona em frente aos demais indivíduos, de forma que apenas Toledo fica em cena.]
Toledo: Enfim, foi aí que decidimos fazer algo. Primeiro foi a… a…
Girassol: [Sussurrando.] A coisa no centro da cidade.
Toledo: Isso. A gente parou um camburão com um pessoal que a gente conhecia da OAB, ajudaram a gente com a fundação da sub-sede, sabe? O pessoal rendeu dois policiais, mataram eles naquela rua mesmo e foram embora. Pode parecer coisa pequena, mas aquilo foi um símbolo, uma marca do que a gente poderia fazer, um sinal de que a gente poderia finalmente revidar!
Os demais indivíduos aplaudem.
Toledo: Depois fomos fazendo uma coisa aqui e ali enquanto pensávamos no projeto maior: o lugar onde eu e todos vocês estamos pisando nesse exato momento. Demorou um tanto, nós sofremos bastante no caminho, mas eventualmente chegamos aqui. Os contatos que eu tinha de Minas foram o essencial para isso, porque conseguiram me dar essa pequena pedra aqui.
Toledo estica os braços em direção à câmera, exibindo o cristal em suas mãos.
Toledo: Eu… acho que é tudo. Estamos aqui agora e é isso que importa. Sem mais opressão, sem mais medo. Essa é a hora de virarmos o jogo. Devemos resistir e ficar unidos, até o final, aconteça o que acontecer! Obrigado.
Toledo guarda o cristal em seu bolso, enquanto os demais indivíduos aplaudem fervorosamente. A câmera é posicionada em alguma estrutura sólida. Girassol entra em cena e abraça Toledo, retornando em pouco tempo para parar a gravação.
[Fim de Registro]
[Início de registro]
A gravação mostra doze indivíduos trabalhando na construção de uma estrutura utilizando partes de pilhas de sucata posicionadas ao fundo, como tábuas de madeira e placas de metal. O local fica na margem do que acredita-se ser a região de armazéns da anomalia. A câmera se aproxima de um indivíduo denominado "Carretel", que porta um uniforme militar sem identificação e se encontra de pé observando a construção. Ele se vira em poucos segundos.
Carretel: Girassol! Bom dia.
Carretel retira seu quepe e o segura em seu peito. É notável que no lugar do olho esquerdo do indivíduo há uma esfera metálica preta.
Girassol: Oi Carretel, como vai?
Carretel: Tudo bem por aqui. Ajudando o pessoal com a obra. E você, anda fazendo o que com isso?
Girassol: O Toledo me pediu para filmar como andam as construções e os campos da praça, para comparar com mais tarde. Aproveitei para fazer uma espécie de anúncio do lugar aqui. O que vocês estão montando aí?
Carretel: Ah, [se virando para a construção] um galpão. Nada muito grande como os outros, acho que alguma coisa de montagem ou algo assim. Eu só to supervisionando aqui, mas o pessoal sabe se virar muito bem sozinho. Não sei se é para fazer carros ou coisas para as plantações, também nem sei se alguém aqui sabe fazer isso, mas enfim.
Girassol: Ei! Pode ficar parado para mim, por favor?
Carretel: Tudo bem.
A câmera se abaixa, mostrando à direita as costas de Carretel, no centro a parte superior da obra e à esquerda a luminosidade vinda do corpo d'água que envolve a região. Essa posição é mantida pelos próximos dois minutos.
Girassol: Progresso.
A câmera se levanta, Carretel se vira para ela e acena, colocando seu quepe em sua cabeça e andando em direção à construção em seguida. A câmera é virada para trás, revelando o prédio administrativo paralelo ao fundo e o Pavilhão Paralelo 4 à sua frente. A câmera se abaixa centralizando uma passagem em meio a uma série de barracos de sucata, por onde começa a passar lentamente. Em poucos minutos, três crianças cruzam a passagem correndo atrás de galinhas, fazendo a câmera parar e acompanhar seu movimento pelo tempo que ficam em cena.
Girassol: Esperança.
Andando mais uma vez, a câmera passa pelo aglomerado de barracos, chegando em um gramado livre logo antes do pavilhão. É notável, nesse espaço, a presença de uma mesa de concreto e dois idosos sentados em sua volta. A câmera foca nos dois indivíduos e se aproxima lentamente, revelando que ambos estão jogando dominó. Ela se posiciona de forma que os lado dos dois fique centralizado. Notando sua presença, os idosos acenam para Girassol. Um dos indivíduos aparenta ter, no lugar de seu braço esquerdo, uma série de ramificações vegetais pendendo para baixo. A cena é mantida por cerca de quatro minutos enquanto os dois focam no jogo.
Girassol: União.
A câmera volta a focar no pavilhão, caminhando até passar por sua entrada principal, revelando cerca de trinta indivíduos organizando caixotes, montando barricadas e armazenando equipamentos, todos voltados para o portal de acesso de SCP-020-PT. Se virando para a parede onde o portal se encontra, a câmera atravessa o local lateralmente, parando no centro do pavilhão por cerca de cinco minutos.
Girassol: Segurança.
O mesmo movimento anterior é retomado, até chegar na porta oposta àquela por onde a câmera entrou na instalação, se virando para sair do local. Abrindo as portas, é revelado um campo com uma série de plantações. A cena se aproxima lentamente de uma mulher de joelhos em meio a um conjunto de pés de milho. Ela se levanta ao ver a câmera se aproximar.
Girassol: [Sussurrando.] Ybytu, pode colocar aquela enxada no ombro e ficar sorrindo, por favor?
A mulher atende ao pedido, ficando na mesma posição por seis minutos.
Girassol: Prosperidade.
O indivíduo em cena se despede, voltando sua atenção à plantação. A câmera é erguida, mostrando a extensão total dos campos de produção até a margem, com cerca de dez outros indivíduos trabalhando na terra. A cena é virada para a esquerda, focando no prédio administrativo paralelo, onde apenas uma sala do andar mais alto se encontra com as luzes acesas.
Girassol: Aqui, somos um povo, com um único objetivo: resistência. Não importa quem seja, você também pode ajudar na luta contra a injustiça, contra a opressão, contra a censura e…
Toledo: Sol!
A câmera se vira para trás, revelando Toledo se aproximando pela passagem entre o Pavilhão Paralelo 4 e a plantação, sendo abaixada logo em seguida. A câmera permanece pelo restante da gravação apontada para o chão.
Girassol: Amor, eu estava no meio da…
Toledo: É importante. O pessoal… encontrou algo no mar.
Girassol: No mar? Mas você disse que não tinha…
Toledo: Eu sei o que eu disse, é que… Eu não fui totalmente honesto. Acredite, tem algo lá que pode nos ajudar a…
Girassol: O que foi?
Toledo: Não aqui. Vamos para o prédio.
[Fim de Registro]
[Início de Registro]
A gravação mostra dezenas de indivíduos armados correndo em direção ao Pavilhão Paralelo 4, de onde podem ser ouvidos diversos disparos. A câmera se aproxima rapidamente da porta principal da instalação, até o movimento ser interrompido abruptamente por Toledo. A cena é virada para focar nele, mostrando parte de seu rosto e seu terno cobertos pelo que aparenta ser sangue, enquanto ele segura um revólver em sua mão direita.
Toledo: O que você está fazendo?
Girassol: Eu… eu pensei em…
Toledo: Sol… isso não é uma boa hora. Eu te pedi para ficar no…
Toledo é interrompido por um projétil que perfura a parede do pavilhão, continuando sua trajetória até atingir o prédio administrativo paralelo. Nota-se que não há nenhuma detonação no interior do edifício. A câmera volta a focar em Toledo.
Toledo: Não tem como ficar aqui! Eles… eles vieram antes do esperado. A gente precisa ir para o…
Girassol: Não! Essa não era a ideia! Você não me falou que era isso que iria acontecer. Não foi o que me prometeu quando…
Uma série de explosões vindas do interior da construção ao lado da cena interrompem a conversa. A câmera se vira para a porta, de onde uma série de integrantes da ADEP saem, disparando contra o interior do pavilhão. Alguns são atingidos enquanto outros indivíduos formam barricadas improvisadas ao redor da passagem. A câmera é apontada para o chão.
Girassol: Olha para isso. São seus companheiros. São nossos amigos. É isso que você quer fazer? Fugir?
Toledo: Eu não posso arriscar perder tudo que construímos assim. Você… você sabe que não temos chance aqui. Vamos para…
Girassol: Não! Não. Nós vamos segurar eles, nós vamos ficar aqui e vamos sair dessa. Nós temos que con…
Uma detonação ocorre a poucos metros da cena, fazendo a câmera ser lançada ao chão. É possível ver Toledo lentamente se levantando e tentando se aproximar de Girassol, agora visível à esquerda da cena. Contudo, sua trajetória é interrompida pela saída de diversos guerrilheiros disparando contra o interior do pavilhão. Muitos deles são abatidos por uma segunda explosão próxima do mesmo local. Após a dissipação da fumaça, Toledo pode ser visto tentando se aproximar novamente, mas ele logo abaixa sua arma e corre na direção oposta. Girassol permanece no chão por aproximadamente três minutos, até se levantar e pegar a câmera.
A cena foca na destruição causada ao pavilhão pelas explosões, revelando uma série de indivíduos ainda tentando conter o avanço dos integrantes do Exército Brasileiro, que começam a tomar vantagem numérica no interior da instalação. Ainda mantendo o local em cena, a câmera começa a se afastar por mais alguns metros, até se virar rapidamente na direção de um conglomerado de barracos. Seguindo um caminho entre eles, a cena logo se vira para a esquerda em uma passagem principal, acelerando na mesma direção enquanto Girassol corre.
Após alguns minutos, a cena registra um grupo de cinco pessoas cruzando a passagem, que param seu movimento ao ver Girassol. Porém, antes que pudessem dizer algo, todas as fontes de luz da área e, presumidamente, de toda a região são desativadas ou sobrecarregam e explodem, como é o caso dos postes de iluminação da passagem em cena. A cena permanece em quase completa escuridão por alguns segundos, até que um feixe de luz seguido por uma série de disparos atingem as pessoas à frente. Em seguida, quatro soldados se aproximam dos cadáveres, realizando mais disparos contra os corpos.
A partir desse momento, a câmera é apontada para o chão, enquanto a respiração ofegante de Girassol pode ser ouvida a todo momento. A cena rapidamente mostra o interior de um barraco, até passar para uma janela e algum pátio da região. O movimento continua ininterrupto por cerca de quinze minutos, até que uma leve iluminação esverdeada passa a se intensificar. A câmera é levantada, revelando um armazém improvisado em meio a outras construções. A cena passa a focar no corpo d'água ao redor da região, onde é possível ver uma embarcação mediana se afastando à distância. A câmera é largada enquanto Girassol chora por alguns minutos, com apenas seus pés e a edificação à frente visíveis em cena.
Do interior do armazém, Carretel sai e se aproxima de Girassol, com uma pistola em sua mão direita.
Girassol: Por que? Por que eu… Eu não acredito que ele nos…
Quando Carretel chega ao lado de Girassol, de forma que apenas seus pés podem ser vistos, uma batida é ouvida enquanto ela cai em frente à câmera. Carretel amarra os punhos de Girassol em suas costas, arrastando-a logo após até que ambos saiam de cena. Apenas o cenário permanece visível sem alterações pelos minutos restantes da gravação.
[Fim de Registro]