Item nº: SCP-097-PT
Nível de Ameaça: Laranja ●
Classe do Objeto: Euclídeo
Procedimentos Especiais de Contenção: SCP-097-PT está completamente isolado para interações com civis desde 197█, sendo considerado parte das Reservas Nacionais do Pantanal, da █████ ██ █████████ e da Mata Atlântica no Brasil, bem como área protegida nos países ███████ e Chile. Toda a extensão de SCP-097-PT deve ser monitorada a todos os momentos por agentes da Fundação infiltrados na Guarda Florestal, câmeras de monitoramento e por equipes de helicóptero às 11:00, 16:00 e 18:00 de todos os dias da semana.
Testes com SCP-097-PT estão descontinuados indefinidamente. Visitantes, caçadores, madeireiros ou quaisquer civis que trafeguem próximos da anomalia devem ser desencorajados a permanecer no local e afastados, dispondo-se o agente de total liberdade para garantir que não haja interação entre o visitante e SCP-097-PT.
Caso um ser humano consiga entrar em SCP-097-PT, o mesmo deve ser considerado como instância SCP-097-PT-1 e encaminhado para contenção, diagnóstico e acompanhamento. Levando-se em conta que os testes feitos provaram que não há risco de interação anômala entre SCP-097-PT e animais além dos humanos, animais que interagirem com este objeto não precisam mais ser coletados ou analisados.
Descrição: SCP-097-PT é um rio situado na América do Sul e de nome Derradeiro. Seu nome indígena original, Ro’y (inverno em tupi), foi usado brevemente em mapas do Brasil até que o rio fosse contido e retirado dos registros geográficos.
Os efeitos anômalos de SCP-097-PT chamaram a atenção da Fundação quando a agente J. Riquelme se encaminhava para uma aldeia Kadiwéu no estado do Mato Grosso do Sul para investigar um amuleto que reportadamente concedia milagres curativos e potencializava a destreza e habilidades físicas dos índios que o utilizavam.
Diário de campo de J. Riquelme, 06/04/197█:
[…]
Chegamos a um rio relativamente largo e muito interessante quando faltavam cerca de cinco (5) quilômetros para chegar na aldeia principal dos Kadiwéu. A água era muito bonita, quase cristalina, mesmo que o rio fosse um pouco fundo.
[…]
Percebemos que seria possível atravessá-lo a pé, visto que o tempo estava sereno, e a água do rio era calma. O primeiro a encostar na água foi Jorge, nosso guia de Campo Grande, e logo notei algo de interesse: os peixes que nadavam próximos ao local onde ele pisou não se assustaram. Era como se ninguém houvesse pisado ali.
Depois de Jorge, Túlio, um caçador da região e amigo do guia, entrou na água. Depois desci eu, seguida de Márcio, um cinegrafista, e o nosso correspondente da tribo, um senhor chamado Mbayá. Ele parecia um pouco preocupado, mas não hesitou em entrar no rio.
Sei que, assim que terminamos a travessia, minha memória começou a se embaralhar. Era como se eu tivesse tomado algum chá alucinógeno. Dentre as imagens de que me lembro desse primeiro momento, tive a distinta sensação de ver Túlio, o caçador, agonizando sem pernas e envolto por uma poça de sangue às margens do rio. Jorge andava em círculos e com as mãos estendidas para frente, como se não pudesse enxergar, mas não dizia nada.
Tenho a sensação de que um bom tempo passou entre uma memória e outra, mas suspeito que estava desacordada. Minha próxima lembrança é de Mbayá me conduzindo pelos ombros, e ele parecia puxar um saco com uma corda, quase como se fosse um trenó.
Acordei novamente dentro da oca, sobre uma cama de palha. Um incenso queimava ao meu lado, e outra pessoa estava deitada em uma cama como a minha do outro lado da oca. Posteriormente, descobri ser Márcio, o cinegrafista.
[…]
Com o depoimento da agente Riquelme, testes começaram a ser feitos no rio. Suas anotações e considerações nessa viagem, bem como o diálogo com outros membros da tribo, revelaram que, apesar do amuleto da tribo Kadiwéu não ser realmente anômalo, uma anomalia de fato existia na história daquele povo e na região: o rio Ro’y, que ataca das mais variadas formas seres humanos que hajam matado ou consumido animais anteriormente.
Com os testes, algumas particularidades foram constatadas. No teste A-Folha-1, um funcionário vegetariano Classe D foi alimentado com uma salada temperada com molho à base de caldo de carne bovina sem que soubesse, e depois convidado a atravessar o rio. Nesta ocasião, constatou-se que nem todos os carnívoros que atravessam SCP-097-PT morrem. Baixas quantidades de consumo de carne podem causar efeitos mais leves, como no caso desse Classe D, que teve queimaduras similares a alergias severas por duas semanas e depois recebeu alta.
No teste A-Carne-1, o funcionário D-17945, grande fã de churrascos e cuja carne preferida era fígado, atravessou o rio sem problemas. Três (3) minutos e quarenta e sete (47) segundos após sair de SCP-097-PT, a cobaia começou a urinar sangue e a pele começou a adquirir tom amarelado. Em sete (7) minutos e treze (13) segundos, D-17945 estava morto. Após autópsia, verificou-se a completa putrefação do fígado e dos rins do cadáver. O processo prosseguia em um ritmo muito mais rápido que o usual.
No teste B-Folha-1, o diretor de pesquisas da anomalia decidiu por testar um funcionário Classe D que era vegetariano, mas havia matado seu gato quando criança. Neste teste, D-05444 não chegou a sair da água. Sangue começou a borbulhar de suas narinas, seus olhos voltaram-se para dentro da cabeça e o indivíduo desfaleceu no meio do caminho até a outra margem. Após autópsia, constatou-se hemorragia cerebral devido a uma concussão grave. Analisado o histórico do Classe D utilizado, descobriu-se que ele matou seu gato jogando-o contra o chão, onde o animal bateu com a cabeça. Concluiu-se, com este teste, que SCP-097-PT é mais letal com pessoas que mataram animais diretamente do que com pessoas que só os consomem.
Novos testes foram ajudando, cada vez mais, a entender a seletividade do rio Derradeiro. Em A-Carne-2, um Classe D que consome carne, mas não gosta muito (e, portanto, quase sempre opta por não incluir carne nos pratos normalmente), teve queimaduras de terceiro grau significativas nas pernas e nos braços, e perdeu dois dedos da mão esquerda. Depois de seis (6) meses e vinte e três (23) dias, o indivíduo estava completamente recuperado, salvo a perda dos dedos.
Com A-Folha-2, dois Classes D vegetarianos foram utilizados; um deles nunca consumiu carne, e o outro já era vegetariano há 10 anos, tempo próximo ao caso da agente Riquelme. D-37822, que nunca havia consumido carne alguma por motivos culturais e religiosos, atravessou o rio sem apresentar nenhum tipo de sintoma. D-37851, que já abstinha de carne há mais de uma década, apresentou problemas neurológicos similares aos da agente que descobriu a anomalia, perdendo a fala e a coordenação logo depois de sair da água. O indivíduo desmaiou e acordou doze (12) horas depois com lapsos na memória. Conclui-se que a abstenção prolongada de carne pode eventualmente permitir que uma pessoa atravesse SCP-097-PT sem danos maiores à saúde.
Os testes foram interrompidos após uma decisão do diretor de pesquisa de permitir que um caçador veterano entrasse no rio em 09 de agosto de 197█ ao invés de ser conduzido para longe do objeto. O diretor, com interesse em registrar os efeitos da anomalia para um ser humano que matou vários animais, não orientou os agentes a desviarem o trajeto do caçador. Três (3) agentes esconderam-se na mata próxima ao local do incidente, com duas câmeras filmadoras e alguns equipamentos de análise. A filmagem da câmera J517, feita pelo agente ████████, pode ser visitada no arquivo do Sítio. Pelo que pode ser constatado na gravação, o caçador entra no rio e prossegue com três passos. Em seguida, todos os seus membros ficam rígidos e eretos, e o caçador passa a olhar para cima. Alguns segundos se passam até que um gemido de dor passa a ser audível. Seu abdômen parece palpitar, similar a um balão com ar entrando e saindo aceleradamente. Após o início dos movimentos, em oito (8) segundos, o caçador explode.
Os agentes presentes recolheram algumas partes do corpo do indivíduo. Não foi encontrada pólvora ou qualquer outro material explosivo, e não havia nenhum vestígio de qualquer gás que pudesse ter desencadeado a explosão.
Após inquérito e investigação da equipe pesquisadora de SCP-097-PT, descobriu-se que o diretor de pesquisas tinha desavenças pessoais com o caçador falecido, e que isso poderia ter motivado o diretor a permitir que o civil adentrasse nas águas do rio R’oy mesmo que fosse de conhecimento da Fundação que o ingresso de alguém que já havia matado animais pudesse ser fatal.
Após o fim dos testes empíricos, uma equipe de pesquisadores da Fundação foi até a aldeia Kadiwéu para tentar descobrir algo sobre o início da anomalia e sua natureza. Segundo as informações cedidas por membros da tribo, SCP-097-PT tornou-se uma barreira natural para o desenvolvimento do grupo, já que a carne era essencial para sua alimentação, mas que um (1) a cada cinco (5) nascidos na tribo, independentemente do gênero, era escolhido para nunca alimentar-se de carne e servir de representante, explorador e guarda do restante da tribo nas terras além do rio. Por mais de duas (2) décadas, SCP-097-PT também serviu à tribo Kadiwéu como uma arma natural contra grileiros, madeireiros e todo tipo de invasor às terras.
Por conta da tribo não manter registros escritos, ninguém foi capaz de informar à equipe da Fundação há quanto tempo os efeitos anômalos se fazem presentes. No entanto, pode-se estimar que tenham mais de 87 anos de permanência, considerando-se o relato de um dos anciões da tribo. Segundo o mesmo, o efeito vem de um amuleto jogado no rio por um grande guerreiro Kadiwéu há mais de duzentos (200) anos. Desde então, a Fundação faz buscas pelo amuleto, sem ter obtido sucesso até aqui.
SCP-097-PT tem sido isolado para evitar que assassinatos possam ser acobertados com os efeitos anômalos do rio Derradeiro, evitar que viajantes desavisados sejam vítima dos mecanismos do corpo d’água, e para preservar o ambiente local até que a divisão de Pesquisa e Desenvolvimento da Fundação tenha decidido pelo fim da pesquisa por aplicações para o objeto ou inicie um projeto de exploração das propriedades anômalas em interesse da Fundação.