Item nº: SCP-100-PT
Classe do Objeto: Apollyon
Procedimentos Especiais de Contenção: Devido a sua natureza interestelar, SCP-100-PT não pode ser contido. Esforços para encontrar maneiras de impedir o objeto estão sendo estabelecidos.
Constelação de Câncer, lugar de repouso de SCP-100-PT.
Descrição: SCP-100-PT consiste em uma entidade residente em 55 Cancri e. Suas características anômalas afetam diretamente a composição geológica da terra e o DNA de seus habitantes. O objeto tem se mostrado capaz de espalhar um patógeno contagioso denominado SCP-100-PT-A e subsequentemente suprimindo o atributo terrestre de prover vida.
SCP-100-PT-A modifica o DNA dos hospedeiros, fazendo-se uso de variações da estrutura molecular para a criação de cálculos de carbono. Os pequenos cristais se estabelecem prematuramente a partir do canal medular dos infectados. Conforme a infecção avança através da corrente sanguínea, protuberâncias começam a aparecer na composição interna. O trato urinário tende a ser completamente comprometido durante o processo.
Com o passar dos dias de infecção, os cascalhos sob a forma alotrópica do carbono começam a ocupar áreas externas do corpo dos indivíduos. Nesse estado já avançado os novos apêndices podem ser facilmente minerados, no entanto, tal prática é desencorajada por possíveis riscos de infecção. Sabe-se que os minerais formados não contém o patógeno. SCP-100-PT-A só consegue ser transmitido quando presente no corpo humano, sendo sua contaminação feita através do sangue.
Após aproximadamente 31 dias de contaminação, uma crosta constituída por carbonado será criada sob a epiderme do hospedeiro. A crosta começará a se expandir em direção ao centro terrestre, contaminando o solo e trazendo modificações geológicas. Cadeias inteiras de cristais de carbono são estabelecidas sobre a camada externa da terra, chegando a uma profundidade de 10.900 metros. As transformações ocasionadas por SCP-100-PT podem ser amenizadas fazendo o uso de mecanismos para a extração dos minerais formados, no entanto, essa prática é particularmente desencorajada.
SCP-100-PT tem aumentado a pressão média terrestre de forma exponencial em 97 n atm ao ano, tais números tornam-se preocupantes a longo prazo e suas consequências já podem ser percebidas em escalas microscópicas, como a morte prematura de protozoários e bactérias nas partes mais abissais do planeta terra. Aumento de pressão repentino é mais latente em profundidades acima dos 600 metros.
Os pesquisadores da Fundação acreditam que o objetivo ao longo prazo de SCP-100-PT é modificar a composição terráquea para uma nos moldes de seu planeta natal. Estimasse que até o ano de 2030, toda crosta terrestre estará envolta por derivados de carbono em sua forma pura. Não se entende ao certo as ambições de escala cósmica do objeto, no entanto, sabe-se que sua influencia foi estabelecida a pelo menos 3,3 bilhões de anos.
SCP-100-PT foi cultuado por diferentes civilizações ao longo da história, tendo o epicentro de sua crença na vila de Tshabong na atual Botswana. Uma tribo conhecida como Tenamaina tinha-o como divindade principal de sua seita. Após disputas territoriais entre os diferentes grupos étnicos na região, a tribo foi expulsa de seu território, levando consigo suas crenças.
Segundo relatos de exploradores britânicos, os Tenamaina eram considerados um grupo extremamente violento, possuindo ritos considerados exóticos por grande parte dos nativos. O culto a SCP-100-PT se deslocou para norte, havendo indícios de sua passagem por diversos postos da África Meridional, estabelecendo-se a 500 anos atrás no antigo Reino do Congo. Sabe-se que após o ano de 1530, houveram aparições do culto à SCP-100-PT em diferentes partes do mundo, como China, Tibete, América do Norte e Rússia, no entanto, nenhum, com exceção dos fiéis estabelecidos na cidade de Siboa, conseguiu sobreviver até a idade contemporânea.
Civilizações antigas denominam SCP-100-PT como Amlaid, o maciço. Etimologistas até o momento não foram capazes de captar a origem da palavra, contudo, sabe-se que ela não pertence a nenhuma das famílias linguísticas conhecidas. As cerimônias religiosas envolvendo a entidade são pautadas em sacrifícios humanos fazendo uso de [DADOS EXPURGADOS], o qual é denominado como a "Baba do Caranguejo", pelos cultistas. Os sacrificados são colocados em [DADOS EXPURGADOS], tendo seu corpo completamente tomado por [DADOS EXPURGADOS]. A origem da infecção de SCP-100-PT-A está diretamente relacionada aos rituais realizados em devoção a Amlaid. O ritual tinha como objetivo espalhar SCP-100-PT-A, contaminando as vítimas com o patógeno, esperando que elas entrassem em comunhão com o pleito terrestre.
O último polo remanescente dos devotos a SCP-100-PT era na cidade de Siboa em Angola, contudo, ele acabou por ser destruído em meados da década de 80 após o fim do apoio português ao culto. Seus membros foram exterminados pela FLEC, não havendo indícios conclusivos sobre novas células religiosas. Apesar do patógeno estar extinto devido a ausência de novos rituais, o número de cerimônias realizadas foi o suficiente para causar uma ignição da modificação terrestre. Estima-se que mais de 100000 pessoas serviram de combustível para a metamorfose do planeta.
Adendo de Descoberta: Os primeiros registros de SCP-100-PT são provenientes de exploradores portugueses na região de Cabinda, Angola, onde contavam sobre uma tribo isolada a qual praticava rituais exóticos. O famoso explorador português Lúcio Antonio Vila denomino-os como uma seita herética.
Formação geológica causada pela expansão mineral em Nganzi, República Democrática do Congo.
Após o término da Conferência de Berlim, com o estabelecimento português na África Ocidental, um maior embate aconteceu entre a seita e o governo colonial. Documentos oficiais descrevem que o grupo foi destruído em 1897, no entanto, após descobertas de registros pertencentes à Academia Científica do Anômalo, hoje sabe-se que tal informação é falsa. O governo português passou a investir recursos no coletivo religioso ao descobrir as lucrativas minas formadas através dos rituais. A parceria durou até a década de 80 quando o grupo foi extinto.
Devido a pressões da Academia, a Fundação foi incapaz de manter bases em territórios portugueses. Tal fato só mudou em 1992 com a criação da Fundação Lusófona. Notícias de terremotos e grandes fendas surgidas na fronteira nordeste de Angola com a República Democrática do Congo chamaram a atenção das autoridades. Ao reabrirem os arquivos da Academia, encontraram possíveis relações entre o culto e os atuais desastres naturais na região. Fora enviada uma equipe para o enclave de Cabinda. Perceberam posteriormente que a cidade de Siboa e seus arredores continham diversos túneis subterrâneos, tendo dentro desses quase 15 toneladas de diamante(80%), Lonsdaleíta(15%) e Putnisita(5%). O alto número chamou a atenção dos pesquisadores, pois o valor era 100 vezes maior que a produção de diamante no mundo naquele ano.
A quantidade declarada foi somente a presente nas minas, estima-se que quase 30% da rocha matriz da cidade seja constituída por derivados de carbono. De algum modo, os minerais presentes estão se expandindo para outras partes da África Ocidental, causando variações na composição do solo. Fazendo o uso de piezômetros, os cientistas descobriram que a pressão em áreas de alta concentração mineral era de 105 atm, o necessário para geração de pedras de alto valor. Os pesquisadores declararam que a longo prazo, a influência de SCP-100-PT seria suficiente para desestabilizar por completo a estrutura terrestre.
No ano de 1998, pesquisadores pertencentes a Fundação encontraram um antigo templo no interior das minas de Siboa. O lugar parecia estar conservado, havia diversos escritos em baixo relevo na parede do templo. Todos os registros estavam dispostos em uma língua indeterminada. O templo está esculpido em duas camadas, a primeira formada por diamantes incolores, a segunda por grafite. Em torno das escadarias que levavam ao meio, havia obeliscos antigos com a figura de um gecarcinídeo em grande proporção. Um buraco de 4 metros de raio estava presente no centro da caverna, nele haviam cristais de carbono que se estendiam a quase 1 Km de profundidade. Nenhuma das sondas enviadas conseguiu explorar mais que 15 metros do abismo devido as suas altas temperaturas e pressão constante.
Tentativa |
Modo de Contenção |
Resultados |
01 |
Uma equipe de mineradores foi enviada para coletar os materiais gerados por SCP-100-PT. Utilizaram das antigas minas da cidade de Siboa para fazer a extração. |
Falho: A extração fez aumentar a pressão dentro dos túneis em 75%. Parte da equipe de mineradores foi influenciada por SCP-100-PT, causando estados de demência e psicose. A atividade serviu para expandir a quantidade de diamantes no solo. |
02 |
Utilizaram-se de máquinas autônomas para fazer a extração dos minérios. |
Falho: Apesar de no primeiro momento a extração tenha sido um sucesso, após um total de três meses de mineração, a pressão e temperatura dentro dos túneis começou a aumentar exponencialmente, causando a destruição dos mecanismos enviados pela Fundação. |
03 |
Foi jogado aos pontos mais profundos de Siboa uma sonda radioativa aquecida em 3000 °C, feita de tungstênio e cobalto. A esfera de alta densidade teria como objetivo derreter os minerais presentes, a alta pressão do local somado a um desbalanceamento de temperatura teria como objetivo alterar a estrutura molecular do carbono, de modo que os minerais reduziriam sua rigidez, passando de Diamante para Grafite. |
Falho: A sonda gerou um túnel de 14000 metros até desaparecer por meios desconhecidos. A descompressão resultante foi suficiente para liberar uma nuvem de grafite na troposfera, espalhando o composto por vilas, devastando a flora e fauna local. Os habitantes foram evacuados e transferidos para cidades próximas. |
04 |
Cercaram os pontos de expansão por meio de canais fluviais como medida para impedir o contato dos minerais com ambientes sólidos, bloqueando a proliferação dos minérios. |
Falho: Os minerais permaneceram sem se expandir por um total de 9 meses. Após um aumento constante da temperatura dos canais por influência de SCP-100-PT, a água entrou em estado de ebulição. O vapor do gás junto a pressões altíssimas foram responsáveis por destruir todo complexo de bombeamento de água. |
05 |
Um dispositivo nuclear denominado Muraenidae foi criado pela Fundação com o intuito de destruir o planeta natal de SCP-100-PT. Muraenidae quando ativado libera uma explosão 500 megatons, sendo a maior bomba nuclear já produzida pelo homem. 100 cópias do dispositivo foram colocadas na sonda Quelônia-A e enviadas para 55 Cancri e. A estimativa era que a sonda chegasse a seu destino em 2022. |
Falho: No dia 15 de novembro de 2018, um satélite natural começou a se formar a partir da superfície de 55 Cancri e. O satélite, agora denominado CnC/2018 M 1, começou a se mover em direção a sonda. Quando Quelônia-A estava perto do planeta Galileu, CnC/2018 M 1 foi de encontro a sonda. O impacto ativou Muraenidae causando uma explosão planetária antes do previsto. |
ACADEMIA CIENTÍFICA DO ANÓMALO – ESTADO DA ÁFRICA OCIDENTAL
PROJETO DIXE
RELATÓRIO DE FORMALIZAÇÃO.
Data: 13/01/1897
Local: Siboa, Cabinda, Reino do Congo
Desde de o estabelecimento do nosso reino ao norte de Cabinda. Tensões entre o governo português e o culto a Amlaid tornaram-se frequentes. Notícias de colonos sendo assassinados por nativos e transformados em cristais chegavam aos ouvidos da população lusitana e um caos foi instaurado nas colônias próximas. O medo de ser capturado pelos servos do Diabo estava presente no dialeto popular dos nativos. Pressões advindas do alto clero indicavam que a situação na costa africana estava insustentável.
O Manicongo Henrique IV pediu as autoridades portuguesas para que fossem tomadas providências sobre o culto, não só pela péssima fama que a seita trazia para a região, como também, como forma de explorar suas técnicas de produção de diamante. Já há muito tempo sabido que o grupo possui o domínio na arte da joalharia. Os poucos relatos presentes indicam que no interior de suas minas existem estátuas antropomórficas de crustáceos. O comércio de diamantes não só seria uma boa forma de controle monetário como seria um modo de adquirir prestígio após a falha da implementação do mapa cor-de-rosa.
Com o intuito de adquirir o conhecimento do culto e exterminar seus membros, uma equipe de soldados e mineradores foi formada. No dia 14 de setembro de 1896, o major Serpa Pinto junto a uma totalidade de 2000 homens invadiu os interiores de Cabinda. No primeiro momento os nativos recusaram-se a negociar conosco, tendo executado nosso diplomata. Um conflito imediato foi travado entre os membros do culto e as nossas forças armadas. Apesar de estarem em menor número, os cultistas possuíam amplo domínio da região e suas armas feitas de diamantes eram capazes de destruir a mais moderna artilharia do homem europeu.
Após 1 mês de batalhas, mais 2000 homens foram enviados para combater o culto. As tropas foram instruídas a incendiar a densa selva como forma de encontrar as entradas para o subterrâneo. As minas no interior estavam repletas de armadilhas arcaicas. A falta de um conhecimento prévio do território inimigo mostrou-se deveras danoso para nós. 1200 homens perderam a vida tentando adentrar no coração de Siboa. Até onde foi possível saber, todos os túneis pertencentes a cidade levavam a um antigo templo.
Nenhum dos homens que retornaram do interior do templo ousam falar sobre o que viram dentro do local. Há indícios de soldados que tiraram a própria vida após entrarem em contato com, o que os próprios chamarem de "o maciço". Alguns meses após o evento, Serpa Pinto retorna, trazendo consigo 1 quintalejo de diamantes. O major disse que o problema com o culto foi resolvido e que um posto avançado do Reino de Portugal seria colocado na cidade de Siboa.
Apesar dos lucros, Serpa Pinto recusava-se a dar mais detalhes sobre o que havia ocorrido no local. A alta especulação chegou a irritar os membros mais notórios da academia que solicitou o envio imediato de uma equipe expedicionária ao interior do templo. A expedição, no entanto, foi impedida de atuar por ordens diretas de Nossa Majestade o Rei Carlos I.
O rei junto a parte da nobreza portuguesa vê que a missão já fora concluída, o número de diamantes retirados é mais que o suficiente para sustentar o império colonial português. Uma campanha de desinformação será gerada, dizendo que o culto satânico em África foi exterminado, assim acalmando o clero e a população de nativos.
Atendendo a pedidos, do agora promovido, Coronel Serpa Pinto, uma prisão será construída na cidade de Siboa. Cerca de 15% de todos os criminosos de Portugal devem ser enviados para a cidade como forma de suprir a demanda por matéria prima.
~ Guilherme Augusto de Brito Capelo, Comissário Régio de Angola
Entrevista 100.1
Entrevistado: Geraldo Alcantara
Entrevistador: Doutor Alessandro Orsi
Prefácio: Após a tentativa contenção 01 os funcionários envolvidos no processo de extração dos minérios de Siboa saíram com severos danos colaterais. 30% da equipe cometeu suicídio, 50% demonstraram comportamento delirante e psicótico e 20% mantiveram a estabilidade das funções mentais. Os funcionários foram realocados para a Classe-E e postos em quarentena. Geraldo Alcântara foi um dos afetados por SCP-100-PT, tendo passado cerca de um mês dentro das minas. O objetivo da entrevista é interroga-lo sobre os efeitos adversos ocasionados pelo local.
<Iniciar Registro, 12:07>
Dr. Orsi: Olá, senhor Alcântara, por favor sente-se.
Geraldo Alcântara: Com licença.
Dr. Orsi: Como está se sentindo no dia de hoje?
Geraldo Alcântara: Não muito bem, estou tendo problemas para dormir.
Dr. Orsi: Posso pedir a organização para receitar alguns remédios para o senhor.
Geraldo Alcântara: Não, na verdade. O problema não é para pegar no sono em si. O problema é quando eu durmo.
Dr. Orsi: Como assim?
Geraldo Alcântara: Sempre que pego no sono eu tenho um sonho pesado. Eu não consigo me lembrar do que era, só sei que acordo com um medo e desespero que nunca senti antes.
Dr. Orsi: Isso acontece sempre que você tenta dormir?
Geraldo Alcântara: Sim.
Dr. Orsi: Os outros rapazes relataram coisas similares?
Geraldo Alcântara: Alguns na verdade. Oswaldo queixava-se bastante disso antes de adoecer.
Dr. Orsi: Ele dizia alguma coisa antes de perder a sanidade?
Geraldo Alcântara: Sim, algumas vezes relatava que via um ser dentro de sua mente uma espécie de baleia gigante, mas com patas.
Dr. Orsi: Patas de que exatamente?
Geraldo Alcântara: Não sei, acho que de caranguejos. Só isso que sei, doutor.
Dr. Orsi: Tudo bem, vou pedir para que administrem remédios para impedir uma maior oscilação na sua mente.
Geraldo Alcântara: Muito bem, tomara que melhore.
<Fim de Registro, 12:17)>
Declaração de Encerramento: O paciente possui ataques de pânico noturno. Aparentemente SCP-100-PT possuí habilidades oníricas e possivelmente influência suas vítimas através das galerias de cristais.
Entrevista 100.2
Entrevistado: Geraldo Alcântara
Entrevistador: Doutor Alessandro Orsi
Prefácio: O objetivo dessa entrevista é tentar descobrir os acontecimentos dentro da mina e quando Geraldo Alcântara começou a ter seus pesadelos.
<Iniciar Registro, 18:00>
Dr. Orsi: Bom dia, senhor Alcântara. Espero que tenha tido uma boa noite de sono.
Geraldo Alcântara: Na verdade o mais do mesmo, a diferença é que por conta dos remédios eu não fui capaz de acordar.
Dr. Orsi: Você conseguiu se lembrar do sonho?
Geraldo Alcântara: Ainda não, foi como nas noites anteriores, mas tudo somado de uma vez só. Acordei suando frio e com o corpo todo dolorido.
Dr. Orsi: Segundo o relatório dos vigias, você se debateu muito durante a noite.
Geraldo Alcântara: Isso explica muita coisa.
Dr. Orsi: Eu gostaria de saber sobre o seu tempo na mina. Teve algo de diferente do trabalho habitual de minerador?
Geraldo Alcântara: Tirando o fato que as minas estavam repletas de diamante maciço nada de muito impressionante. Talvez o ar.
Dr. Orsi: Como assim o ar?
Geraldo Alcântara: O ar estava mais pesado que o habitual. O engenheiro chefe disse que era por conta da pressão, mas eu sei que tinha uma coisa a mais naquele local.
Dr. Orsi: O que exatamente?
Geraldo Alcântara: Acho que a coisa principal eram os sussurros.
Dr. Orsi: Quando enviamos as sondas nenhuma voz foi ouvida.
Geraldo Alcântara: Não, era diferente de um som. É como se viesse de nossa própria cabeça.
Dr. Orsi: Isso acontecia em algum lugar específico?
Geraldo Alcântara: Sei que quando passávamos perto dos diamantes ouvíamos quase como se viesse de dentro de nossa cabeça.
Dr. Orsi: E o que eles diziam?
Geraldo Alcântara: Não sei dizer, eu ouvi poucas vezes na verdade. O falecido Oswaldo é que os escutava com frequência. Dizia ele que as pedras saudavam alguém. Não consegui captar o nome.
Dr. Orsi: Seria Amlaid?
Geraldo Alcântara: Am… Am…
Dr. Orsi: Enfermeira! Rápido! O Classe-E está tendo um derrame!
<Fim de Registro, 18:15)>
Declaração de Encerramento: Geraldo Alcântara desmaiou devido ao alto estresse. O fato de mencionar o nome de SCP-100-PT causar extremo pavor ao paciente indica que ele sabe mais da entidade do que demonstra.
Entrevista 100.3
Entrevistado: Geraldo Alcântara
Entrevistador: Doutor Alessandro Orsi
Prefácio: Geraldo Alcântara permaneceu em coma durante 1 semana, após cerca de 12 dias de recuperação, o Classe-E novamente foi posto sobre interrogatório.
<Iniciar Registro, 20:00>
Dr. Orsi: Boa noite, senhor Alcântara, espero que tenha conseguido descansar nessas últimas semanas.
Geraldo Alcântara: Eu tentei. Os pesadelos continuam, a medicação ajuda, mas não é o suficiente. Eu apaguei depois de ouvir aquela palavra. Por que isso aconteceu, doutor?
Dr. Orsi: Talvez seu cérebro tenha criado algum tipo de bloqueio a esse nome, talvez advindo de um medo primitivo. A palavra significa alguma coisa para você?
Geraldo Alcântara: Não nada, porém, quando escuto ela, soa quase como um palavrão. Ao mesmo tempo que é sujo e proibido, torna-se bastante libertador. Será que eu sei de algo além?
Dr. Orsi: É isso que vamos descobrir hoje. Por favor, deite-se no divã. Relaxe. Hoje eu irei usar de hipnose regressiva para descobrir o fruto de sua angustia e o seu medo com a palavra. Vamos começar?
Geraldo Alcântara: Sem problemas. Não vai doer doutor?
Dr. Orsi: Não, hipnose é apenas foco. No momento em que se sentir desconfortável é só pedir para parar.
Geraldo Alcântara: Certo, eu confio no senhor.
Dr. Orsi: Pois bem. Primeiro preciso que você respire e solte o ar. Certo, muito bem. Agora tente relaxar, use todo seu foco em meu dedo, isso, muito bem. Relaxe, relaxe, relaxe. Você está entrando dentro de sua cabeça. O que você vê?
Geraldo Alcântara: Vejo um túnel, com diamantes dentro.
Dr. Orsi: Quando você passa por esses diamantes, o que você sente?
Geraldo Alcântara: Medo.
Dr. Orsi: Por que medo?
Geraldo Alcântara: Porque eles sussurram coisas.
Dr. Orsi: Que tipo de coisas.
Geraldo Alcântara: Não sei, tenho medo de dar atenção.
Dr. Orsi: Por favor, escute eles.
Silencio de 30 segundos.
Geraldo Alcântara: Y' zxx as gioy ymg' nwngluii
Dr. Orsi: Senhor Alcântara?
Geraldo Alcântara: Eles estão sussurrando, estão sussurrando. Não, eu não quero!
Dr. Orsi: Senhor Alcântara!
Geraldo Alcântara: Ele virá, trará a ruína para todos nós. Sobre nossos cadáveres ele construirá um reino.
Dr. Orsi: Enfermeira! Rápido!
Geraldo Alcântara: Uyx ah geb? Yaya gof'n. Y' ymg' ephailllln'gha corehjs. Meu Deus! Meu Deus!
<Fim de Registro, 20:30)>
Declaração de Encerramento: O paciente começou a falar em uma língua incompreensível. Após alguns minutos de interação, Geraldo Alcântara entrou em uma crise de pânico precisando ser sedado logo após tentar bater sua cabeça contra a parede. SCP-100-PT está presente na mente de todos aqueles que passaram tempo considerável no túnel. Recomenda-se que os demais funcionários sejam interrogados como forma de descobrir mais sobre a entidade.
Entrevista 100.4
Entrevistado: Geraldo Alcantara
Entrevistador: Doutor Alessandro Orsi
Prefácio: Após a sessão passada de hipnose o paciente começou a ter alucinações, seu terror noturno tornou-se mais violento. Apesar de estar com o corpo e cérebro abatidos, o Classe-E é ainda capaz de se comunicar.
<Iniciar Registro, 23:00>
Dr. Orsi: Faz algum tempo que não nos falamos.
Geraldo Alcântara: Sim.
Dr. Orsi: Os vigias dizem que você constantemente olha para o céu, por quê?
Geraldo Alcântara: Estou estou esperando a chegada dele.
Dr. Orsi: Da entidade? Fizemos os cálculos e sabe-se que seu olhar se direciona a constelação de Câncer. Esse é o objetivo de Amlaid? Tomar o planeta para si.
Geraldo Alcântara: Você não entende o propósito do maciço. Tudo mudou e é graças a você doutor.
Dr. Orsi: Por quê?
Geraldo Alcântara: Porque pela primeira vez eu consegui ouvi-los. Depois de nosso último encontro eu pude lembrar do sonho.
Dr. Orsi: E isso foi bom para você?
Geraldo Alcântara: Sim, trouxe-me clareza. O sonho começou com meu corpo sendo levado as minas de Siboa. Carregado como o estrume que eu era, frágil, um filho do carbono mal feito, ainda impuro.
Dr. Orsi: Como assim impuro?
Geraldo Alcântara: Nós somos impuros. Nós temos a dádiva do maciço, mas nossas impurezas corrompem. O ar dentro de nós, a água, o ferro. Nós somos fracos e mortais.
Dr. Orsi: Onde você quer chegar?
Geraldo Alcântara: Quero dizer que no sonho eu ainda era como você, impuro.
Dr. Orsi: Continue o sonho.
Geraldo Alcântara: Homens com semblantes vazios levaram-me ao interior do templo. Eu vi as rudimentares representações do antigo, elas apenas podiam vislumbrar um pouco do seu brilho. No centro do temblo havia um buraco, estava repleto de pedras preciosas com um calor quase insuportável. Eles me puseram sobre o altar e entoaram palavras estranhas, sei todas de cabeça. Posso cantar o refrão: Ya r'luhhor ah Amlaid. Xy jiw'xy wiz us'dafiz. R'luh ot mgepogor hails ymg' Jiaz i kulaçi zx'kjyx zx puy'á jyxz'xsdx. Aquele coro era tão lindo, poderia jurar que minha mente seria rasgada em dois.
Dr. Orsi: O que essas palavras significam?
Geraldo Alcântara: O poder dos antigos saúda a sua vitória sobre o mundo mortal. Pois o maciço sempre se fará presente.
Dr. Orsi: Foi nesse momento que você enlouqueceu?
Geraldo Alcântara: O que você chama de loucura, eu chamo de revelação. Os homens despejaram um líquido brilhante sobre minhas costas. De lá pude sentir que aos poucos eu me tornava um com a entidade, transformando-me em algo resistente e puro. Brilhante e divino. Caro e logo abundante.
Dr. Orsi: O que seria isso?
Geraldo Alcântara: Um diamante. Você pode não entender, o maciço não quer nos destruir. Ele quer que sejamos eternos. Como seus servos, temos que servir de piso para sua chegada. Nada pode impedir sua vinda. A terra impura logo terá o brilho da pedra lisa do espaço. Logo todos seremos resistentes.
Dr. Orsi: Você parece bem frágil visto daqui.
Geraldo Alcântara: Eu estou preso na forma imunda do carbono para servir meu mestre. Meu sacrifício é apenas um aviso. Aviso de que para ser eterno você precisa escutar.
Dr. Orsi: Escutar?
Geraldo Alcântara: Sim. Vá até Siboa e ouça os sussurros. Só assim você poderá se tornar um com o maciço.
<Fim de Registro, 23:30)>
Declaração de Encerramento: Após a conversa, o Classe-E foi enviado para sua cela. Alguns dias depois Geraldo Alcântara foi encontrado morto, proveniente da perda de sangue ao cortar sua própria língua. Uma pesquisa deve ser feita para localizar todos que tiveram contato prévio com a mina de Siboa.