Créditos
Autor: L200
Imagem: Regnhlíf, no WikiMedia, sob CC0.
Hurricane Isabel, no WikiMedia, sob CC0.
1/141-PT NÍVEL 1/141-PTCONFIDENCIAL |
Item nº: SCP-141-PTClasse do Objeto: Seguro Euclídeo |
Nível de Ameaça: Amarelo Laranja
Procedimentos Especiais de Contenção: SCP-141-PT deve ser mantido em um cofre reforçado no Sítio PT19 com encanação para drenagem de fluídos produzidos por SCP-141-PT. Funcionários que desejarem conduzir testes envolvendo SCP-141-PT deverão ter nível de autorização 3 ou superior, e apresentar uma lista detalhando as condições e local do teste em questão.
Procedimentos Especiais de Contenção atualizados após Incidente-141-PT-03-A. SCP-141-PT deve ser mantido em um porta guarda-chuvas aberto em uma sala devidamente iluminada, devendo receber acompanhamento psicológico ao menos uma vez por semana, bem como ter seu próprio intérprete para traduzir sua fala para funcionários da Fundação. Conforme ordenado pelo Comitê de Ética a pedido do intérprete de SCP-141-PT, SCP-141-PT deve ser autorizado a ficar ao ar livre por pelo menos 1 hora ao dia, preferencialmente a tarde, com uma jovem adulta do sexo feminino.
Descrição: SCP-141-PT é um guarda-chuva de coloração preta da marca "Sonhos Lúcidos" com aproximadamente 100 cm de diâmetro e 90 cm de altura. As propriedades anômalas de SCP-141-PT consistem na capacidade de recriar qualquer fenômeno atmosférico existente, como por exemplo furacões e chuva ácida (Ver Incidente-141-PT-3-A), além de ser capaz de autorregenerar-se.
SCP-141-PT contém a mente de Ana Beatriz Santos, ex-moradora da cidade de ███ █████, que presume-se ter sido ligada ao objeto através de um livro anômalo não contido. SCP-141-PT alega ter trabalhado na fábrica Sonhos Lúcidos, hoje abandonada por 3 anos antes de vir a se tornar um objeto anômalo.
SCP-141-PT é capaz de comunicar-se com funcionários da Fundação através de código Morse utilizando suas propriedades anômalas para produzir gotas de chuva.
Adendo SCP-141-PT-1: SCP-141-PT foi encontrado em uma fábrica abandonada no estado de São Paulo, perto da cidade de ███ █████, próximo a um conjunto de outros itens anômalos, após investigações da Fundação envolvendo relatos de moradores locais que constantemente ouviam trovões, apesar de não haver nuvens. Após investigações, foi descoberto que SCP-141-PT esteve recriando diversos fenômenos atmosféricos após ter sido aberto por um homem identificado como ██████ ██████, encontrado morto presumidamente devido aos raios produzidos por SCP-141-PT.
Adendo SCP-141-PT-2: Durante novas investigações feitas para tentar identificar a origem de SCP-141-PT, foram recuperadas gravações de áudio no computador do dono da fábrica em sua casa, ligando o desaparecimento de Ana Beatriz Santos com SCP-141-PT, bem como ligando o desaparecimento de outros três moradores aos três objetos anômalos encontrados juntos de SCP-141-PT. Investigações continuam em andamento visando localizar o indivíduo que gravou esses arquivos de áudio. Quando questionado, SCP-141-PT, através de seu intérprete, confirmou a correlação.
Abaixo seguem as gravações de interesse para o caso de SCP-141-PT.
Nota nº 3, Fábrica Sonhos Lúcidos.
22 de Janeiro de 1996
Hoje entrevistei a mulher mais bonita que já vi: Ana. De longe a minha entrevista menos profissional de todas, mas de longe a que eu mais amei fazer.
…
Conversamos por pelo menos umas duas horas. Nós tinhamos tanto em comum, esse papo de sonhos e essas coisas. "Trabalhe duro o suficiente e um dia seu sonho se tornará realidade.", foi o que ela disse… Heh… "Trabalhe duro o suficiente e um dia seu sonho se tornará realidade."… Eu acho que gostei desse slogan.
Nota nº 5, Fábrica Sonhos Lúcidos.
2 de Fevereiro de 1996
Hoje eu, Ana e Marcos estávamos conversando sobre nossos sonhos. Ana disse que ela queria entrar no exército e o fez. Marcos disse que ele queria um dia ser um astrônomo. Ele está começando a estudar para isso. Tão fascinante.
Heh… Então eles perguntaram qual era o meu sonho…
Silêncio…
Eu disse que iria revolucionar o mercado um dia… Um dia… Eles riram… Haha… Até para os meus funcionários eu pareço ser uma piada…
Nota nº 6, Fábrica Sonhos Lúcidos.
4 de Fevereiro de 1996
Sabe… Estive pensando… Será que meus sonhos valem a pena? Todos me chamam de louco! Minha mãe! Meu pai! Até meus funcionários riem de meus sonhos!
Nota nº 9, Fábrica Sonhos Lúcidos.
20 de Fevereiro de 1996
Eu mal abri essa fábrica e já quero fechá-la… Mas ao mesmo tempo não quero fechá-la… Ela é o produto de uma vida de trabalho e eu não vou simplesmente largar essa fábrica!
"Trabalhe duro o suficiente e um dia seu sonho se tornará realidade."
Esse será nosso novo slogan! Vamos começar do zero! Vamos produzir nossos próprios produtos! Até agora nós produzíamos essas tranqueiras estrangeiras para serem vendidas por todo o país, mas agora, agora nós vamos produzir nossos próprios produtos, produtos da linha… Da linha… Sonhos Lúcidos! Isso! Sonhos Lúcidos! E venderemos nossos produtos por todo o país! Isso! Primeiro uma fábrica, logo uma empresa de renome estadual e, então nacional e por fim internacional! Meus sonhos não são uma piada, eles serão talhados em concreto sólido e mostrados ao mundo para que eles vejam que os verdadeiros loucos eram eles por não acreditar em mim!
Nota nº 10, Fábrica Sonhos Lúcidos.
5 de Março de 1996
Estava conversando com a Ana e com o Lucas e a Ana me perguntou sobre toda essa reestruturação da fábrica… Eu apenas respondi "sonhos", ela riu…
…
Vou mostrar para eles.
Nota nº 11, Fábrica Sonhos Lúcidos.
9 de Março de 1996
Sabe, recentemente estive pensando… Ana e eu temos nos encontrado mais e mais fora da fábrica. Ela disse que gostava de Mary Poppins… Ha… Dá para imaginar? Quem diria que uma mulher tão forte e independente gostaria de Mary Poppins? Eu não a culpo, nunca assisti ao filme, mas todos que conheço e que assistiram falam muito bem dele… Isso me dá algumas ideias… Mas… Como executá-las?
Nota nº 14, Fábrica Sonhos Lúcidos.
30 de Março de 1996
Ana e Lucas estavam conversando sobre o que queriam fazer no futuro. Ana? Já falei, talvez não nas minhas gravações, não me lembro. Lucas? Ele queria ser um arquiteto, ele está juntando dinheiro pra universidade. Eu? Ha… Ha… Só uma piada. Tudo que quero é ver meus produtos em cada prateleira de cada loja deste mundo.
Ana me disse que eu tenho andado meio obcecado. Eu digo se eu estou obcecado, eu digo, ok?
Nota nº 16, Fábrica Sonhos Lúcidos.
5 de Abril de 1996
Encontrei um livro1 enterrado enquanto ajudava em algumas reformas no estacionamento da fábrica… Tudo que sei sobre esse livro é que… Que… Tem alguns símbolos estranhos nele… Moacir disse reconhecer esses símbolos como sendo de origem indígena, mas… Eu não sei… Pra que raios serve esse livro?
Nota nº 17, Fábrica Sonhos Lúcidos.
8 de Abril de 1996
Desde que mostrei esse livro para meus funcionários… Eu tenho tido sonhos… Sonhos me dizendo que é melhor manter o livro em segredo… Por algum motivo eu concordo… Quase como se eu… Não. É bobeira.
Nota nº 18, Fábrica Sonhos Lúcidos.
9 de Abril de 1996
Eu tive um sonho muito estranho hoje, ontem… Tanto faz. Eu tive um sonho muito estranho… Me avisando para não mostrar o livro para os especialistas… Eu vi… No sonho… Símbolos… Indígenas… Conspiração… Parecia uma brisa daquelas que só se arruma depois de fumar maconha pesada, mas não, aqui estamos e tenho certeza de que não fumei.
No sonho eu vi homens em roupas estranhas invadindo minha casa e eles tentaram levar o livro… Eu senti como se eles estivessem arrancando uma parte de mim ao arrancar o livro de minhas mãos… Senti como se eu estivesse me esquecendo que esse livro sequer existia… Gente, mas o que isso significa? Estou surtando, sou louco. Estou surtando, sou louco, estou surtando, sou louco, não estou surtando, eu não sou louco! Esse livro não é normal!
Melhor eu guardar esse livro na minha estante junto com todos os outros antes que eu surte de vez…
Nota nº 23, Fábrica Sonhos Lúcidos.
15 de Abril de 1996
Recentemente eu tenho sentido dores de cabeça fortes e nenhum remédio que tomo parece conseguir melhorá-la, talvez eu esteja me esforçando demais no novo produto que será lançado no final de maio. A Ana continua falando que estou um pouco obcecado, e acho que estou começando a concordar com ela…
Por mais que eu queira que meu sonho se torne uma realidade, eu não sei se estou seguindo o curso correto de ações, só sei que nós conseguimos atrair nosso primeiro investidor, um jovem empresário do Rio de Janeiro. Amanhã nós vamos discutir um pouco mais sobre nossas estratégias e produtos, ele vai adorar.
Nota nº 27, Fábrica Sonhos Lúcidos.
29 de Abril de 1996
Fechamos um negócio excelente! Eu devo admitir que estava despreparado, se não fosse pela Ana se intrometendo, nós teríamos perdido um cliente valioso e agora não sei como agradecer a ela…
Argh… Aaah… Argh…
Desculpe, as dores de cabeça só parecem piorar e já não tenho conseguido dormir direito, continuo tendo sonhos estranhos e eles não me deixam dormir direito… Sonhos com símbolos… Sonhos com espíritos… Só sei que um desses sonhos me deu a inspiração perfeita para uma estampa! Onde colocar essa estampa, eu não faço ideia, mas eu vou arrumar um canto para enfiar essa estampa!
Nota nº 35, Fábrica Sonhos Lúcidos.
15 de Maio de 1996
Decidi ler um pouco mais do livro estranho que eu havia encontrado… A porcaria parece estar escrita em algum tipo de língua indígena que eu não faço ideia de como traduzir! Tudo que digo é que cada página parece arte moderna de tão abstrata que parece! Especialmente com as ilustrações estranhas que tem em cada página!
Pelo lado bom, minha dor de cabeça passou finalmente, nada como os remédios mais fortes que o dinheiro pode comprar e algumas sacolas de gelo, haha! Ha! Ha… Ha… Ao menos agora posso voltar a focar no meu trabalho, faltam menos de duas semanas para o grande lançamento do nosso novo produto!
Nota nº 40, Fábrica Sonhos Lúcidos.
27 de Maio de 1996
É hoje! É hoje! Mal posso esperar! Hoje é o grande dia! Eu até dei o dia de folga para os meus funcionários de tão feliz que estou hoje!
Foda-se essas malditas dores de cabeça que parecem chulé e voltam toda hora, foda-se tudo! O importante é esse lançamento! Nosso primeiro grande lançamento! Vai ser um sucesso! Isso eu sei!
Nota nº 50, Fábrica Sonhos Lúcidos.
9 de Julho de 1996
Ana tem tentado me consolar ultimamente… O produto não vendeu tanto quanto o esperado…
… [Soluços podem ser ouvidos]
Eu ouvi pela porta o investidor falando que estava incerto sobre continuar conosco…
Nota nº 53, Fábrica Sonhos Lúcidos.
16 de Julho de 1996
Incrível, não é? Não acreditamos em um poder superior ou coisa assim até o desespero bater em nossas portas… Eu tenho recorrido a tudo quanto é culto em busca de consolação… Até que eu me deparei com ele…
Ele cativa com suas palavras… Ele é um verdadeiro pescador de homens, ele nos faz sentir especial…
…
Se eu busco respostas para os problemas em minha vida, talvez eu precise recorrer ao que eu costumava chamar de "superstições bestas"… Quem sabe tenha sim algum tipo de deus que cuide de mim e me permita ir atrás de meus sonhos…
Nota nº 54, Fábrica Sonhos Lúcidos.
23 de Julho de 1996
Estava conversando mais e mais com o Kauê, nunca imaginei que as palavras de um homem como o Kauê me fariam me sentir tão… Esperançoso… Tão… Potente. Como se uma divindade falasse através de Kauê e fizesse seu trabalho místico em minha alma para que eu não me sinta só…
Nota nº 68, Fábrica Sonhos Lúcidos.
28 de Setembro de 1996
Ontem eu tive um sonho… Era o altar do culto… Dois homens no altar… O cocar2 do Kauê no pedestal… Eles levaram o cocar do Kauê… Colocaram em uma van branca… E fugiram…
Algo me diz que eu devo avisar ao Kauê sobre isso…
Nota nº 69, Fábrica Sonhos Lúcidos.
29 de Setembro de 1996
Eu estava certo! Hoje de manhã o Kauê me ligou falando que o lugar do culto parecia revirado! Quase como se alguém estivesse procurando algo e o mais estranho é que nada foi roubado!
Uma câmera no lado de fora viu a van branca, e dois homens saindo dela… E entrando no lugar do culto… Kauê disse que de agora em diante não vai deixar seu cocar no altar.
Nota nº 74, Fábrica Sonhos Lúcidos.
7 de Outubro de 1996
[Barulhos de choro misturados com soluços podem ser audíveis.] Nosso investidor foi embora… Será que existe mesmo um poder superior? Ou será que isso é apenas um teste de nosso senhor para testar os limites de seu seguidor?
Nota nº 75, Fábrica Sonhos Lúcidos.
8 de Outubro de 1996
Tive outro sonho… Dessa vez eu estava em um completo vazio… Olhei para a esquerda, nada… Olhei para a direita, nada… Para cima? Para baixo? Nada… De repente… Uma luz se acendeu na minha frente… Uma voz falava comigo, me consolando, me parabenizando… Eu me sentia… Completo. Uma entidade obscura saiu da luz que cegava meus olhos e então consumiu aquela luz e se tornou a própria luz. Ela usava o cocar de Kauê e tinha 6 braços…
Me chame de maluco, mas quanto mais eu olhava para essa entidade, mais eu me sentia em profunda euforia… De repente essas palavras saíram de seu rosto feito de luz: "Meu filho terrestre, alegrai-te pois eu lhe trago a resposta para suas perguntas.", e eu perguntei do que ele estava falando…
Silêncio…
A mão de luz encostou em meu ombro direito, e ele me disse: "O Todo-Poderoso já não sabe o que faz, mas a minha luz guiará aqueles que o Todo-Poderoso não guias. Eu sou o novo deus que vós adoras, eu não sou o Todo-Poderoso, mas em nome do Todo-Poderoso, eu deixarei minha marca entre vós que me adorais. Eu sou [DADOS EXPURGADOS] e entrego-lhe a chave de meu livro sagrado ao qual vossa alma estarás eternamente ligada. Vosso tempo conosco acabais, mas não deixeis que este seja o fim: Ao vigésimo quarto dia, ainda neste ano solar, quando a Lua estiver em seu auge e a brilhar em toda a sua glória vós mostrareis meu livro a Kauê."
Nota nº 76, Fábrica Sonhos Lúcidos.
8 de Outubro de 1996
Eu não sei o que pensar desse sonho… O Iluminado falou mesmo comigo? Ou estou ficando louco como todos falam?
Nota nº 100, Fábrica Sonhos Lúcidos.
24 de Dezembro de 1996
É hoje.
Nota nº 101, Fábrica Sonhos Lúcidos.
24 de Dezembro de 1996
Eu subi ao altar, lá estava Kauê. Eu apresentei a Kauê o livro, seus olhos imediatamente se arregalharam e ele caiu de joelhos ao chão. Ele estava chorando… Seu cocar, brilhando.
"Mas… como?", disse Kauê. Ele tomou o livro de minhas mãos e correu para o centro do altar e, lá, ergueu o livro à Lua.
Me chame de maluco, mas as cores do cocar sumiram, brilhando branco e o livro brilhou à luz da Lua… O livro flutuou sobre o pedestal do altar, e as penas do cocar de Kauê, uma a uma, saíram de seu cocar e se posicionaram ao redor do livro.
Ha… Eu ainda não consigo acreditar no que meus olhos me mostraram… Kauê me disse que haviam histórias sobre escrituras… Escrituras de seu povo feitas ao longo de séculos enquanto eram perseguidos pelos portugueses… Escrituras capazes de "quebrar a barreira entre nosso mundo e o mundo do Iluminado"… Eu não sei o que ele quis dizer com esse última frase.
Nota nº 109, Fábrica Sonhos Lúcidos.
19 de Janeiro de 1997
Kauê me disse que a tradução e decodificação do livro vão demorar mais tempo do que o esperado, mas, segundo ele, o livro aparentemente tem propriedades especiais ou coisa assim. Estou um pouco cético, mas vamos ver aonde isso tudo vai, especialmente depois de tudo que já vi.
Nota nº 115, Fábrica Sonhos Lúcidos.
2 de Fevereiro de 1997
Ana tem adquirido um interesse por meteorologia… Estávamos conversando na cafeteria da fábrica e do nada o esse tópico veio e ela mencionou estar estudando em seu tempo vago…
Heh… Daqui a pouco ela vai estar falando que vai querer entrar no ramo da meteorologia um dia. Incrível como a gente adquire um novo sonho quando a gente cumpre nosso sonho anterior, quase como se a gente buscasse um objetivo para nossas vidas… Eu me pergunto qual seria meu próximo objetivo nessa vida curta.
Nota nº 119, Fábrica Sonhos Lúcidos.
15 de Fevereiro de 1997
Você já viu um livro criar um olho e olhar diretamente para você? Não? Eu já.
Haha… Ha…
Esse livro definitivamente não é normal. Ou isso ou então eu estou ficando maluco, especialmente considerando que o Kauê disse não ter visto nada. Eu juro pelo Iluminado que aquele livro olhou diretamente para mim! Senti como se ele estivesse encarando minha alma e um calafrio desceu pelo meu corpo.
Ha… Haha…
Nota nº 122, Fábrica Sonhos Lúcidos.
20 de Fevereiro de 1997
Você já teve a sensação de estar sendo observado? Ha! Eu nunca mais deixei de sentir isso depois que aquele livro criou um olho e olhou para mim… Me sinto observado o tempo todo… Todo o tempo… Constantemente… Como em algum tipo de reality show… Mas… Ao mesmo tempo… Essa sensação é reconfortante… Como se uma mão se estendesse para mim nos meus momentos de angustia, tristeza, raiva… Seja lá o que for e segurasse meu ombro e falasse: "Está tudo bem, você está bem, eu estou aqui."
Nota nº 126, Fábrica Sonhos Lúcidos.
10 de Março de 1997
Sabe, eu me pergunto o porque de eu estar fazendo essas gravações… Não sei o porquê, mas sinto como se essas gravações fossem ser úteis para alguém no futuro, talvez para eu não ser totalmente esquecido… Caso… Caso… Caso meus produtos não atinjam o auge que eu tanto sonho…
Ha… Ha… Ha… Boa piada.
…
Eu verei meus produtos em cada prateleira deste mundo a todo custo! Mesmo que eu precise matar um homem para isso eu o farei se isso significar ver meus produtos dando voltas ao redor do globo!
Nota nº 130, Fábrica Sonhos Lúcidos.
27 de Março de 1997
Sabe aqueles truques de mágica que nossos tios nos mostram quando somos crianças? Tão divertidos… Tão mágicos… Tão… Falsos… Mas o Kauê hoje me mostrou um truque de mágica legal… Legal pois ele não é de faz de conta! Eu vi com meus próprios olhos! Eu vi as penas do cocar de Kauê brilhando e uma lata de lixo próxima desaparecendo! Simples assim! Uma hora a lata de lixo estava ali, na outra já não estava mais! Eu até senti uma leve brisa do ar correndo para preencher o vazio do espaço uma vez ocupado pela lata de lixo!
Kauê disse que isso foi a primeira página traduzida… Me pergunto o que esse livro tem a mostrar ainda…
Nota nº 138, Fábrica Sonhos Lúcidos.
10 de Abril de 1997
Pedi ao Kauê para me deixar ver o livro ao menos uma vez por semana… Não sei o porquê, mas eu me sinto… Incompleto… Vazio… Sem o livro… Quase como se… Se… Ele fosse uma parte de meu ser…
Ha…
Isso parece bobeira, eu sei, mas é verdade… Eu mal consigo dormir depois de um mês sem ver o livro! Será que o Iluminado estava falando a verdade? Será que o livro é mesmo parte de meu ser agora?
Nota nº 140, Fábrica Sonhos Lúcidos.
27 de Abril de 1997
Três… Três dias… Três dias sem ver o livro… Estou piorando… Preciso ver o livro quase que diariamente para manter minha sanidade… E cada vez que vejo o livro eu tenho… Alucinações… Visões… Tem horas que o livro cria um olho e olha para mim… Tem horas que vejo tentáculos saindo do livro enquanto aquele grande olho me encara…
Ha… Haha… Hahahahaha…
Desculpe, não consigo me conter! Isso tudo parece uma piada, mas é tudo real! Tem horas que eu tenho visões do que parecem ser… Vidas… Passadas… Não tenho certeza… Vidas… Futuras? Quem sabe? Só sei que tinham vezes em que a tecnologia que eu via ao meu redor… O ambiente em si, não parecia ser dos dias atuais… Teve uma vez em que eu estava… No fundo do oceano… Em roupas laranjas… Um, acho que, cientista, me mostrou fotografias… De um cara pálido e magrelo... Assustador. Caralho, teve até mesmo uma em que eu vi um carro voando!
Nota nº 147, Fábrica Sonhos Lúcidos.
10 de Maio de 1997
Eu tenho ouvido vozes em minha cabeça… Vozes de consolação… Vozes de ambição… Vozes que parecem estar tentando me guiar para algo mas não conseguem pois estão uma falando sobre a outra… Mas não, não é toda hora, não, não… Não é toda hora… É apenas quando eu estou sozinho… Quando paro para pensar no livro…
Uma vez tentei responder a uma dessas vozes e elas simplesmente pararam! Eu tenho tentado anotar oque elas estão falando mas… Mas… É tudo fala sem sentido! Pelo menos com uma voz sobrepondo a outra…
Nota nº 148, Fábrica Sonhos Lúcidos.
11 de Maio de 1997
[REDIGIDO]
Nota nº 150, Fábrica Sonhos Lúcidos.
19 de Maio de 1997
"Você não é louco!"
"Você não é louco!"
"Você não é louco!"
"Você não é louco!"
"Você não é louco!"
"Você não é louco!"
"Você não é louco!"
"Você não é louco!"
"Você não é louco!"
"Você não é louco!"
"Você não é louco!"
"Você não é louco!"
"Você não é louco!"
Nota nº 155, Fábrica Sonhos Lúcidos.
7 de Junho de 1997
Meus funcionários estão preocupados comigo… Ana está preocupada comigo… "Não tenho falado muito com meus funcionários"… "Não tenho saído muito de meu escritório"… "Tenho falado comigo mesmo"…
…
Kauê diz que o conhecimento do Iluminado penetra minha mente e me faz sentir loucura… Loucura de tanto conhecimento… Loucura pois uma simples mente terrestre tem dificuldade para compreender a verdade… .
Nota nº 168, Fábrica Sonhos Lúcidos.
5 de Julho de 1997
A verdade… A VERDADE… ARGH!
Eu sou as escrituras e as escrituras são eu. Nós somos as escrituras. Todos são as escrituras… O livro apenas é a manifestação física das escrituras, mas a verdade é que todos nós somos as escrituras do Iluminado! Abra sua mente! Fortaleça seu coração! Livre sua mente do falso profeta!
… [Nada é audível pelos próximos 5 minutos da gravação.]
Sobre o que eu estava falando?…
Nota nº 174, Fábrica Sonhos Lúcidos.
25 de Julho de 1997
Sabe… Se lembra daquela ideia que eu mencionei ano passado… Eu acho? Pois então… Me chame de maluco, mas o Iluminado me deu a ideia perfeita! Uma máquina capaz de alterar o clima! Isso! Uma máquina portátil e capaz de controlar o clima!
Imagina só! Todos iriam querer uma máquina dessas! Afim de economizar água? Que tal produzir sua própria chuva e assim economizar na conta de água? Plantações estão morrendo com a falta de chuva? Produza sua própria chuva! É perfeito! Isso seria capaz de revolucionar o mundo! Imagina! As possibilidades são infinitas! Usar chuva pesada para combater incêndios florestais! Produzir uma nevasca onde é quente demais para nevar! Diversão para toda a família! Isso! E esse livro deve ser a resposta para isso!
Nota nº 175, Fábrica Sonhos Lúcidos.
1 de Agosto de 1997
Conversei com o Kauê e ele acha a ideia de uma máquina climática interessante, mas ele ainda precisa traduzir todo o livro para saber se ele tornaria esse conceito possível.
Nota nº 183, Fábrica Sonhos Lúcidos.
20 de Agosto de 1997
Nós… Digo, eu estava pensando… Qual seria o próximo passo?… O produto perfeito vem antes ou depois da expansão? O negócio se expande antes de sua obra-prima ou se expande com sua obra-prima? Seria a obra-prima fruto do sucesso, ou o sucesso que seria fruto da obra-prima?
Nota nº 189, Fábrica Sonhos Lúcidos.
1 de Setembro de 1997
Após alguns dias pensando… Eu acredito que a obra-prima venha antes do sucesso. A obra-prima que trará o sucesso! Isso! Preciso de uma obra-prima!
Nota nº 195, Fábrica Sonhos Lúcidos.
23 de Setembro de 1997
O Kauê já traduziu metade do livro e até agora nada para a máquina climática, mas, em contrapartida, tem outras coisas bem interessantes…
… [Assume-se que, neste momento, o sujeito esteja sofrendo alucinações.]
Como assim não posso contar nada?
…
Certo…
Nota nº 201, Fábrica Sonhos Lúcidos.
10 de Outubro de 1997
Sabe, eu e o Kauê decidimos aplicar um dos rituais do livro a uma máquina quebrada… Um ritual de autorreparo… Adivinhe o que aconteceu.
Não, a máquina não se autorreparou… Mas o ritual funcionou. Como eu sei? Simples, eu estava removendo a ferrugem em um dos tubos da máquina e eu vi com meus próprios olhos a ferrugem crescendo novamente! Fascinante! O ritual funcionou, mas ele faz a máquina se "autorreparar" de volta para o estado em que ela estava quando o ritual foi aplicado! Para confirmar a tese eu decidi pegar um martelo e bater com toda minha força em alguma parte oca da máquina… Abri um puta buraco enorme na máquina e adivinha! A máquina começou a fechar o buraco! Mais fascinante ainda!
Nota nº 212, Fábrica Sonhos Lúcidos.
29 de Outubro de 1997
Em breve estaremos produzindo sonhos! Em meus sonhos eu vejo tudo! Eu vejo perfeitamente que o Iluminado ilumina meu caminho com sua luz divina! Kauê disse que, ao final do ano, a tradução estará quase completa e, isso, é um sonho se tornando realidade. O conhecimento do Iluminado enriquece nossas mentes e fortalece nossos corações! Nos preparando para o fim do Todo-Poderoso!
Você não vê? Nós vemos! Toda a humanidade é controlada pelo Todo-Poderoso! Mas o Iluminado nos guia para nos libertarmos desse controle e finalmente estarmos livres das garras que o Todo-Poderoso tem em nossa mente coletiva! Na mente coletiva de todo ser humano que existiu, existe e existirá!
Acorde de seu sonho eterno e viva o sonho! Enriqueça sua mente! Fortaleça seu coração! Nós somos o Iluminado e revolucionaremos o mundo!
Nota nº 219, Fábrica Sonhos Lúcidos.
10 de Novembro de 1997
Mais um sonho… Novamente eu estava no vazio… Nada além de escuridão era visível para todos os lados… De repente a luz novamente apareceu… Ela emitia pulsos rítmicos doces ao ouvido… A luz então se fechou, como um olho, abrindo-se no formato de um e logo olhou para mim… A luz que saía do olho me permitia ver uma silhueta retangular ao redor do olho e uma cidade em ruínas com estátuas sem olhos espalhadas pelas ruas… Enquanto eu olhava para elas nada aconteceu… Mas… Quando eu virava minhas costas… Elas pareciam se mexer…
Jornais velhos voavam com o vento, não dava para ler o que estava nos jornais… Algo sobre… "Extermínio da humanidade..." Eu olhei ao meu redor… Eu não sabia se eu estava vendo o futuro… Ou algo assim… Eu… Estava com medo…
As sombras cresceram de dentro do meu coração e começaram a consumir o cenário ao meu redor, me circundando, se fortalecendo de meu medo, ao meu redor já não havia nada além das sombras de meu coração…
Olhei para cima e, o olho de luz, ele olhava para mim… De repente, tentáculos emergiram da silhueta retangular e vieram em minha direção… Quando se aproximaram de mim eles se desaceleraram e fizeram como se quisessem fazer contato… Eu levantei minha mão em resposta, aproximando-a do tentáculo… E, quando nós nos encostamos, eu acordei… O livro estava no meu colo.
Nota nº 235, Fábrica Sonhos Lúcidos.
14 de Dezembro de 1997
Era noite… Eu… Eu olhei para cima e a Lua era um olho… Kauê via o mesmo. O livro brilhava em todo seu poder. Eu e Kauê tentamos o ritual do olho tradutor, capaz de ler qualquer código, qualquer língua, como se fosse sua própria.
O ritual falhou. E a Lua cheia já não estava mais no topo do céu…
Nota nº 235, Fábrica Sonhos Lúcidos.
26 de Dezembro de 1997
A cada dia que passa eu perco mais e mais de mim mesmo… minha sanidade se deteriora e minha mente colapsa… A cada dia eu perco mais de mim mesmo, mas o que posso fazer? Eu estou mudando, mudar é natural. Para construir uma nova casa precisamos demolir a casa velha e assim funciona o homem! Assim eu funciono! Meus funcionários estão errados sobre tudo! Somente eu sei sobre mim mesmo!
Nota nº 235, Fábrica Sonhos Lúcidos.
12 de Janeiro de 1998
A luz da Lua descia sobre o altar do culto… O livro brilhava e belíssimas flores nativas da Amazônia cresciam ao seu redor… O altar estava em paz…
As mentes daqueles que circundavam o altar estavam em paz…
Eram mais de vinte pessoas louvando e glorificando a palavra do Iluminado… Eu não podia estar mais feliz quando vi Kauê indo em direção ao altar…
Kauê colocou o cocar em sua cabeça e recitou as primeiras páginas do livro, que contavam histórias de antigos guerreiros indígenas, histórias de bravura, histórias de perseverança… O culto louvou à palavra do Iluminado.
O livro começou a voar em direção ao cocar e, ao chegar ao cocar ele [DADOS EXPURGADOS], o culto deu glórias ao Iluminado e o ritual deu-se início. O cocar foi apresentado diante do livro e o livro brilhou, o culto deu glórias ao Iluminado. As penas do cocar ficaram pálidas e brilharam um forte branco… Elas voaram em direção ao cocar e [DADOS EXPURGADOS]… Todos os eletrônicos no prédio do culto, bem como de toda a cidade de ███ █████ se apagaram.
O ritual fracassou.
Nota nº 246, Fábrica Sonhos Lúcidos.
30 de Janeiro de 1998
Hoje anunciei aos meus funcionários nosso próximo grande produto! Uma máquina capaz de desafiar a mãe natureza! Uma máquina capaz de produzir clima! A máquina que irá revolucionar nossa sociedade!
Alguns riram, outros começaram a me chamar de louco… Outros só continuaram trabalhando como se nada estivesse acontecendo. Um dos nossos investidores ouviu meu anúncio e decidiu largar a fábrica. Pelo menos uns três decidiram se demitir.
Durante a hora do almoço, Ana veio ao meu escritório com um livro, abriu ele e começou a me dar uma aula sobre evapotranspiração, correntes marítimas, massas de ar, tudo que se tem direito em uma aula sobre climatologia.
…
Estão todos céticos em relação a esse projeto.
Nota nº 250, Fábrica Sonhos Lúcidos.
18 de Fevereiro de 1998
"Louco!"
"Louco!"
"Louco!"
"Louco!"
"Louco!"
"Louco!"
"Louco!"
Nota nº 256, Fábrica Sonhos Lúcidos.
1 de Março de 1998
Quem sou eu? Uma pergunta fascinante, não é? Eu não sabia a resposta desta pergunta, ninguém sabia a resposta desta pergunta… Mas então, o Iluminado iluminou a mente de um guerreiro de uma tribo indígena e o guiou… O Iluminado iluminou uma mente antes cercada de escuridão e morte, guiando-a na criação das primeiras escrituras… Escrituras que foram passadas adiante durante séculos! Iluminando as mentes perdidas de séculos e séculos!
Você não vê? Claro que não, sua mente é tocada pelo Todo-Poderoso. Liberte-se do Todo-Poderoso e sinta a luz do Iluminado! O Iluminado guiará você, o Iluminado protegerá você, o Iluminado irá mostrar-lhe o significado de sua vida!
Você me pergunta o significado de minha vida? O significado de minha vida é produzir! Eu produzirei aquilo que você estará comprando amanhã! Eu produzirei seu futuro objeto de desejo! Esse é meu sonho! Esse é meu significado! Mudar o mundo! O Iluminado encosta sua mão radiante em minha mente e me ilumina! As trevas do mundo se vão e nós nos tornamos um único ser!
Nota nº 263, Fábrica Sonhos Lúcidos.
13 de Março de 1998
Contei até 157, contei até 20, contei até 1, contei até 78. Era noite de Lua cheia, a luz da Lua tomou forma de um ser humanoide quando o cocar veio ao encontro do livro.
Era uma noite de Lua cheia, o Iluminado se apresentou diante de seus fiéis em meio ao ritual da Lua cheia.
…
O Iluminado olhou para mim. O Iluminado apontou para mim. O Iluminado olhou para cada uma das 21 pessoas presentes no culto. O Iluminado apontou para cada uma das 21 pessoas presentes no culto e, então… Na última pessoa… Ele flutuou em direção à última pessoa… A pessoa entrou em pânico e começou a correr… O Iluminado entrou dentro desta pessoa3 e ela brilhou… E então… Sumiu.
Nota nº 275, Fábrica Sonhos Lúcidos.
16 de Abril de 1998
Eu e Kauê estivemos testando rituais em máquinas velhas que eu comprei, os resultados foram fascinantes. Uma máquina de costura que de alguma forma funciona sem estar conectada na eletricidade e sem estar com tipo, 40% da máquina… Uma máquina de lavar roupa que, assim que começou a girar, produziu algum tipo de portal… Ha… Eu e o Kauê ficamos desesperados tentando quebrar a máquina assim que um tentáculo saiu da máquina e pegou a máquina de costura e levou ela para sabe-se lá onde… Por fim, decidimos testar um ritual estranho e eureca! O alvo era um computador velho, mas no último segundo do ritual o vento soprou um guarda-chuva velho na nossa frente e o ritual atingiu o guarda-chuva ao invés do computador… O ritual pegou o guarda-chuva e… Quando eu e Kauê pensamos que o ritual deu bosta… Começou a cair gotas de água de dentro do guarda-chuva… De repente KABOOM! Ouvimos um forte estrondo e uma luz branca invadiu nossos olhos! Era um raio!
Eu e Kauê olhamos um para o outro e então nos aproximamos do guarda-chuva lentamente… Eu peguei o guarda-chuva e parecia estar chovendo dentro do guarda-chuva! Eureca! Mas… Tinha um pequeno problema… Cade os botões nessa joça? Como determinar o que queremos?
Eu comecei a sentir um vento forte e fechei o guarda-chuva… Decidimos testar novamente o mesmo ritual, só que no computador… Nada mudou nele… Daí decidimos ligar ele na tomada… E então… Acidentalmente cortamos o fornecimento de energia da cidade!
Precisamos estudar esse ritual.
Nota nº 277, Fábrica Sonhos Lúcidos.
30 de Abril de 1998
Kauê esteve tentando traduzir o restante da página daquele ritual e o treco é estranho… Alguma merda poética que não me lembro. Eu diria que é mais fácil traduzir de seja lá qual língua aquela for para português do que traduzir linguagem poética para português.
Pelo que entendi o ritual pega um aspecto de um objeto e o amplifica ao seu potencial máximo… Seja lá o que isso quer dizer, precisamos investigar mais isso.
Nota nº 283, Fábrica Sonhos Lúcidos.
5 de Maio de 1998
Eu não durmo já faz alguns dias… Meus sonhos tem ficado cada vez mais bizarros, eu tenho acordado no meio da noite, suando… Tremendo…
No meu último sonho eu sonhei que estava em alguma cidade… O céu estava vermelho e a Lua era um único grande olho com tentáculos... A cidade estava em ruínas, mas, por algum motivo, os eletrônicos ainda funcionavam… Eu andei… Eu corri… Eu estava em Nova Iorque, como eu sei? Eu estava na Times Square. Fácil de reconhecer depois de assistir tantos filmes americanos.
Todas as telas da Times Square estavam mostrando estática e não havia uma única pessoa nas ruas… Haviam carros, mas estavam todos parados, acidentados, virados de cabeça para baixo, cortados ao meio… De repente, todas as telas da Times Square mostravam uma única imagem… Eu.
Eu olhei ao meu redor, mas não haviam câmeras visíveis. Eu corri, mas as telas ainda mostravam uma única imagem… Eu.
Eu corri, corri… Até que ouvi um barulho… Milhares de pessoas marchavam pelas ruas… Eu corri para dentro de um prédio… Subi as escadas… E… Quando cheguei em algum andar eu olhei por uma das várias janelas que haviam no prédio… Eram milhares de pessoas marchando pelas ruas de Nova Iorque… Igual um exército… Mas não eram um exército… Eram pessoas normais, mas exceto por alguns detalhes… Elas estavam desnutridas… Seus olhos brilhavam… Elas faziam barulhos de agonia… Mas continuavam marchando! Todas olhavam para frente… Então eu vi! Eu vi o livro!
Um senhor segurava o livro com suas mãos secas e desnutridas aos céus… O senhor usava o cocar do Kauê… E uma figura de luz flutuava acima do senhor… Não dava para ver nada da figura de luz: Sua luz cegava meus olhos.
De repente, a figura de luz olhou para mim… Seu rosto se apagou… Dava para ver olhos vazios como um poço sem fundo… Olhando diretamente para mim… A figura emitiu um forte grito e apontava para mim! A multidão parou e, então, todos apontaram seus dedos desnutridos em minha direção, começaram a gritar em uma linguagem estranha e começaram a escalar o prédio!
Enquanto eles escalavam o prédio a figura de luz olhava para mim, com sua face desnutrida… Uma imagem horripilante. Por fim, a figura de luz gritou meu nome e eu acordei…
Acho que não vou mais dormir por um tempo.
Nota nº 287, Fábrica Sonhos Lúcidos.
25 de Maio de 1998
Descobri que não preciso dormir… Por fora eu pareço horrível, mas… De alguma forma… Não sinto sono… Talvez tenha algo a ver com o livro?
Nota nº 289, Fábrica Sonhos Lúcidos.
2 de Junho de 1998
Nunca imaginei que criar uma máquina fosse ser tão difícil! Especialmente quando esta precisa ser adequada para algum tipo de ritual estranho para que ela funcione como queremos!
Mas após um mês de trabalho ela estava finalmente pronta… Porém, ao testar o ritual na máquina, nada mudou… Então ligamos a máquina e [DADOS EXPURGADOS].
A máquina foi um fiasco.
Nota nº 295, Fábrica Sonhos Lúcidos.
2 de Junho de 1998
Eu decidi dar uma olhada no guarda-chuva de antes para ver se ele ainda estava produzindo chuva depois de mais de um mês trancado em uma caixa… Parece que sim, mas ao mesmo tempo não.
A caixa estava apodrecendo de dentro para fora com a água acumulada, isso sem contar o tanto de água escapando dela! Então era por isso que meus funcionários estavam reclamando de goteiras!
Eu, meio exitante, abri o guarda-chuva… Para a minha surpresa começou a sair uma brisa agradável de dentro do guarda-chuva, huh…
Se não der para fazer uma máquina capaz de fazer o mesmo que o guarda-chuva, será que seria possível uma máquina se apropriar do poder do guarda-chuva? Ou então até mesmo controlá-lo? O principal problema com esse guarda-chuva é que não podemos controlar o que ele faz!
Nota nº 299, Fábrica Sonhos Lúcidos.
12 de Junho de 1998
HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA… [Gargalhadas são audíveis pelos próximos 5 minutos.]
EU OUVI A MELHOR PIADA DO NOSSO INVESTIDOR! ELE DISSE… HAHA! ELE DISSE QUE UMA MÁQUINA CLIMÁTICA É IMPOSSÍVEL! ESPERE SÓ ELE VER! HAHAHAHAHAHA!
Nota nº 309, Fábrica Sonhos Lúcidos.
1 de Julho de 1998
Ha… Sabe o que Kauê finalmente descobriu sobre esse ritual? Ou melhor, a conclusão a que nós dois chegamos em relação a esse ritual? A conclusão é a seguinte: A PORRA do ritual afeta cada objeto de uma maneira única!
Perfeito! Simplesmente perfeito! AAAAAAAAAAAAAAAAAH! Vontade de quebrar alguma coisa!
Nota nº 310, Fábrica Sonhos Lúcidos.
1 de Julho de 1998
Kauê esteve tentando me acalmar… Ele disse que talvez tenha uma forma de controlar o guarda-chuva… Um ritual… que infunde uma mente a um objeto…
Se nós não podemos controlar o objeto em si… Podemos infundir nele uma mente que poderia controlá-lo… Sim… Sim! Mas não pode ser qualquer mente! Não, não… Precisaria ser uma mente humana!
Ouço você me perguntando o porquê, e eu respondo que Kauê explicou que uma mente infundida a um objeto continua sendo… uma mente! Se infundirmos a mente de um porco a uma cadeira, aquela cadeira ainda teria a mente de um porco! Se aquela cadeira pudesse se mover como um animal, ela o faria com a mente de um porco! Precisamos de uma mente humana, uma mente capaz de controlar as habilidades do guarda-chuva de maneira racional, não irracional! Uma mente que saiba o que faz! Uma mente que conheça os mecanismos por trás do funcionamento do clima! Uma mente como… Como… Ana…
Nota nº 311, Fábrica Sonhos Lúcidos.
2 de Julho de 1998
Eu e Kauê estávamos pensando… Antes de tomarmos decisões drásticas iremos esperar até a próxima Lua cheia e veremos o que o Iluminado nos dirá… O Iluminado saberá se essa é a coisa certa a se fazer!
Nesse meio tempo nós devemos planejar como fazer isso! Especialmente o que faríamos com o corpo sem vida de Ana depois…
Nota nº 318, Fábrica Sonhos Lúcidos.
9 de Julho de 1998
É hoje.
Nota nº 319, Fábrica Sonhos Lúcidos.
10 de Julho de 1998
Ha… Era meia noite em ponto… Eu e Kauê trouxemos o cocar ao encontro do livro, que brilhava à luz da Lua, enquanto o cocar tinha suas penas brilhando em um profundo branco ao se encontrar com o livro.
O Iluminado apareceu.
O culto prosseguiu como normal, até que Kauê colocou o cocar sobre sua cabeça e conversou com o Iluminado por pensamento. Por fim, Kauê anunciou ao culto a palavra de amor do Iluminado e encerrou o encontro por hoje.
O Iluminado aprovou o nosso plano. É pelo bem maior. É pelo bem maior! É PELO BEM MAIOR! Imagine quantas vidas serão salvas com uma máquina capaz de produzir clima! Imagine quantas vidas serão mudadas para o melhor com uma máquina capaz de produzir clima! IMAGINE! ESSE É O MEU SONHO! O MUNDO SERÁ MUDADO PARA SEMPRE!
Nota nº 325, Fábrica Sonhos Lúcidos.
1 de Agosto de 1998
Eu tenho ido em encontros com a Ana, fortalecendo nossa relação… Sabe… Nosso plano precisa que ela tenha confiança em mim para conseguirmos aplicar o ritual a ela.
Ela realmente é uma mulher inteligente, ela sabe tanto sobre o clima… Ela é tão bonita… Não! Foco!
Nota nº 327, Fábrica Sonhos Lúcidos.
4 de Agosto de 1998
Isso é tão improfissional! O dono saindo em encontros com um de seus funcionários! Mas aqui estamos! É pelo bem maior!
O Iluminado diz que estou me saindo bem! Eu ouço as vozes me falando que esse é o caminho para o sucesso! Eu ouço as vozes me falando que esse é o caminho para o meu sonho! Para o objetivo do Iluminado!
Nota nº 340, Fábrica Sonhos Lúcidos.
20 de Agosto de 1998
Para Ana eu simplesmente me confessei para ela, mas é tudo parte de um plano perfeitamente arquitetado por nós! Sim! SIM! Nós temos nosso plano praticamente em efeito! Nós temos até mesmo aquele primeiro ritual traduzido pelo Kauê para sumir com o corpo… Literalmente! Hahaha! Sacou? Sumir com o corpo? Ha! Sou hilário!
Nota nº 343, Fábrica Sonhos Lúcidos.
7 de Setembro de 1998
Sabe… O que será que fortalece mais laços entre pessoas do que uma viagem para algum lugar de cartão postal? As memórias dessas viagens! Sim! Talvez eu devesse levar Ana para uma viagem ao Rio de Janeiro!
Assim eu mato dois coelhos numa cajadada só! Eu fortaleço meus laços com a Ana e ainda posso visitar um de nossos investidores para discutir negócios! Imagina só! Eu! No Rio de Janeiro! A cidade maravilhosa! Haha!
Nota nº 349, Fábrica Sonhos Lúcidos.
15 de Setembro de 1998
Pronto. Nossa viagem está programada para o próximo mês! Temos tudo incluso! Hotel… Restaurante 5 estrelas… Visita ao Cristo Redentor… Tudo!
A viagem deve durar uma semana, mas deve ser o suficiente para valer o investimento! Kauê disse que vai cuidar do livro por mim enquanto estou fora e que vai me manter por dentro do que está acontecendo na fábrica, tudo nos conformes.
Nota nº 353, Fábrica Sonhos Lúcidos.
30 de Setembro de 1998
Estarei partindo amanhã para o Rio de Janeiro, acho que já tenho tudo arrumado nas minhas malas. Então acho que é isso, saindo do estado de São Paulo pela primeira vez! Haha! Mal posso esperar! Eu estou mesmo precisando de um Solzinho, estou tão pálido que eu pareço uma assombração! Haha!
Nota nº 354, Fábrica Sonhos Lúcidos.
8 de Outubro de 1998
No meio da viagem Ana começou a me questionar sobre o fato de eu ficar acordado a noite inteira, eu apenas disse que estava acostumado a ficar longas noites em claro… Ela insistiu que eu dormisse e eu acabei o fazendo… Foi tão bom ter dormido pela primeira vez em meses! Eu acordei um homem renovado!
…
Mas… Acho que nós dois sabemos o que significa eu ter voltado a dormir, correto? Os sonhos! OS SONHOS! Ó ILUMINADO! OS SONHOS! Ha… Haha… HA HA HA!
O MEU SONHO! O MEU SONHO ERA APENAS AQUELE SER DE LUZ DO MEU ÚLTIMO SONHO! OLHANDO PARA MIM COM SEUS OLHOS VAZIOS! OLHANDO PARA MIM COM SUA FACE DESNUTRIDA! HAHAHAHAHA! PARECE QUE PASSARAM MESES MAS NA VERDADE FORAM MERAS HORAS! HAHAHA!
…
Desculpe, desculpe, me exaltei um pouco, não?
Nota nº 359, Fábrica Sonhos Lúcidos.
13 de Outubro de 1998
Nós estamos nos aproximando do dia em que Bela Ana será parte de nossa linha Sonhos Lúcidos! Eu vejo nos olhos da Ana que ela está se apaixonando por mim! Ana está mordendo a isca perfeitamente!
Nós precisamos nos preparar para a próxima Lua cheia! O ritual de infusão mental só se aplica a mentes humanas em uma Lua cheia, ou pelo menos foi o que Kauê disse, enfim, precisamos nos preparar para a próxima fase do plano!
Nota nº 363, Fábrica Sonhos Lúcidos.
19 de Outubro de 1998
Estamos quase prontos… Eu convidei Bela Ana para vir comigo ao culto na próxima Lua cheia… Ela aceitou.
Está tudo indo nos conformes.
Nota nº 371, Fábrica Sonhos Lúcidos.
3 de Dezembro de 1998
É hoje.
Nota nº 372, Fábrica Sonhos Lúcidos.
4 de Dezembro de 1998
Eram onze e cinquenta e nove, todas as 22 pessoas no culto estavam dando glórias ao Iluminado.
O cocar foi levado ao altar, a Lua cheia da meia noite brilhou sobre o altar e o cocar brilhou um branco profundo. Todos deram glórias ao Iluminado e Ana já não sabia o que falar. O cocar foi levado ao encontro do livro e o Iluminado apareceu. Ele olhou para mim, ele apontou para mim. Ele olhou para cada uma das 22 pessoas no culto, ele apontou para cada uma das 22 pessoas no culto. Ana foi a última.
Ele começou a flutuar na direção de Ana. Ana estava em pânico e tentou correr, mas as pessoas a barraram.
O Iluminado se aproximou de Ana e o guarda-chuva foi apresentado ao altar, na mesma hora o Iluminado olhou para o altar, então para Ana, por fim, ele olhou para Kauê e Kauê balançou a cabeça para cima e para baixo.
O Iluminado olhou para Ana, ele encostou-a na testa, e puxou uma luz de sua cabeça. Ana caiu pálida no chão.
O ritual funcionou.
Amanhã Kauê me entregará o guarda-chuva.
Nota nº 373, Fábrica Sonhos Lúcidos.
4 de Dezembro de 1998
É hoje! É HOJE! Mal posso esperar pelo fruto de nosso trabalho! SONHOS SE TORNAM REALIDADE! GLÓRIAS AO ILUMINADO! SONHE MEU AMIGO! SONHE!
Nota nº 374, Fábrica Sonhos Lúcidos.
4 de Dezembro de 1998
Sonhe, sonhe e sonhe! Um dia seus sonhos se tornaram realidade! Precisa de exemplos? Olhe para mim! Hoje é um dia de comemoração em nossa fábrica! Ao menos para mim, é claro. Bela Ana se ofereceu para nossa mais nova linha de produtos, talvez não voluntariamente, mas ela se ofereceu! Uma linha que irá revolucionar o mercado como nunca antes visto!
Eu ouço você perguntar: "Mas como você planeja revolucionar o mercado?" e eu lhe apresento nosso novo guarda-chuva da linha Sonhos Lúcidos! Um guarda-chuva com uma única mente por trás de todo seu funcionamento, literalmente! Tudo que preciso é terminar de traduzir o ritual que me permitirá construir a máquina que abrirá caminho para a produção em larga escala desse item e em seguida concluir o ritual de controle e todos vão querer um! Já imaginou? Um guarda-chuva da linha Sonhos Lúcidos em cada casa, em cada comércio, em cada canto desse planeta?
"Louco!, Louco!", foi o que me disseram. Mas eu os provarei errados! Bela Ana os provará errados! Não é, Bela Ana? Não é? Eu sei que você pode me ouvir, eu sei que você está aí dentro, agora abra suas asas e mostre ao mundo o seu brilho!
Adendo SCP-141-PT-3: Incidente-141-PT-03-A.
Às ██:██ horas, em ██/██/██, foi detectado que o sistema de encanação do cofre de SCP-141-PT cessou funcionamento devido à corrosão por ácidos produzidos por SCP-141-PT.
Uma equipe de manutenção foi enviada para verificar a situação levando consigo um cofre temporário para conter SCP-141-PT enquanto seu cofre é analisado.
Durante a transferência de SCP-141-PT para seu novo cofre assume-se que SCP-141-PT tenha produzido um raio de aproximadamente ██.███.███ Volts, matando o assistente de manutenção que o segurava na hora. Imediatamente após ter morrido o assistente de manutenção soltou SCP-141-PT e esse se abriu por conta própria, capacidade a qual era desconhecida para a Fundação até o momento.
Após ter se aberto, SCP-141-PT produziu um tornado com ventos atingido velocidades de ███km/h com duração de aproximadamente 5 minutos, causando danos severos ao sítio e escapando da contenção. Após se afastar do Sítio PT19, passou a produzir um furacão com um diâmetro de █km e ventos superiores a ██km/h com duração de ██ dias. Como resultado da brecha de contenção a população das cidades no caminho projetado de SCP-141-PT foram ordenadas a evacuar. Dano resultante do furacão e tornado combinados ultrapassou os ███ milhões de dólares e deixou mais de █████ pessoas desabrigadas.
Após o furacão de SCP-141-PT ter se dissipado, equipes da Fundação foram enviadas ao final do caminho do furacão para localizar SCP-141-PT.
Após ██ dias, SCP-141-PT foi localizado flutuando no lago de ███ ████████ com sua abertura voltada para baixo. Tentativas de capturar SCP-141-PT a barco fracassaram devido à acidez resultante de SCP-141-PT produzindo chuva ácida constante no lago. Após ██ tentativas fracassadas, SCP-141-PT foi levado à margem do lago utilizando um helicóptero. Tentativas de remover SCP-141-PT da água resultaram em ██ casualidades após SCP-141-PT produzir raios de aproximadamente ██.███.███ Volts enquanto segurado e também enquanto tentava novamente produzir um furacão. A tentativa de SCP-141-PT de produzir um furacão foi interrompida pelo agente ███████ ██████ fazendo uso de um explosivo para danificar SCP-141-PT ao ponto de inabilitá-lo temporariamente. Reclassificação de SCP-141-PT para "Neutralizado" foi cancelada ao descobrir-se as capacidades regenerativas de SCP-141-PT, que se recuperou por completo após o incidente com nenhuma sequela visível.
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