Teste 01 - 24/01/1983
Indivíduo: D-39091 - Indivíduo é uma mulher asiática, 23 anos de idade. Indivíduo tem histórico de pequenos furtos e abuso de drogas.
Procedimento: O recipiente do SCP-2737 foi mostrado ao indivíduo.
Resultados: Nenhuma mudança de personalidade.
Análise: A anomalia aparenta estar enraizada no conteúdo do recipiente, não no recipiente em si.
Teste 02 - 01/25/1983
Indivíduo: D-39091
Procedimento: Foi solicitado que o indivíduo observasse o interior do recipiente do SCP-2737.
Resultados: Indivíduo aceitou as instruções; declara que o SCP-2737 aparenta ser “só um peixe morto”. Aproximadamente 5 minutos depois, indivíduo começa a choramingar. Uma série de perguntas é feitas ao indivíduo para que se mensure as mudanças de personalidade. Indivíduo declara estar incomodado com “falta de tempo” e declara que desperdiçou sua juventude. Indivíduo demonstra aumento de ansiedade com respeito à própria morte, apesar de ser jovem e de ausência de qualquer menção de “morte” durante o questionamento.
Análise: A lampreia morta definitivamente é o vetor de dano cognitivo. Pesquisa adicional é necessária. O recipiente é completamente não anômalo.
Teste 03 - 27/01/1983
Indivíduo: D-39211
Procedimento: Um pedaço de papel no qual está escrito a frase “A lampreia está morta” é dado ao indivíduo. A pessoa que escreveu estava ciente do SCP-2737.
Resultados: Indivíduo inicialmente aparenta confusão, mas começa a choramingar. É perguntado ao indivíduo sobre o que está pensando no momento. Indivíduo descreve a perda de seu pai ainda jovem e como o luto apropriado nunca foi demonstrado.
Análise: SCP-2737 comprovadamente demonstra ser um risco cognitivo e agente memético.
Teste 04 - 28/01/1983
Indivíduo: D-39214
Procedimento: Um pedaço de papel no qual está escrito a frase “A lampreia está morta” é dado ao indivíduo. A pessoa que escreveu não estava ciente do SCP-2737.
Resultados: Indivíduo não demonstra quaisquer reações anômalas.
Análise: A referência ao SCP-2737 demonstra necessitar ser intencional para acionar efeitos meméticos.
Dados supérfluos omitidos em nome de concisão. Todos os indivíduos Classe D demonstram mudanças de personalidade similar. Experimentos adicionais sugerem que tais mudanças podem ser reprimidas, possivelmente revertidas, através do uso de amnésicos.
Teste 32 - 19/03/1983
Indivíduo: D-39320 – Indivíduo é uma mulher caucasiana, 44 anos de idade. Indivíduo foi condenada por homicídio.
Procedimento: Indivíduo é exposto ao SCP-2737.
Resultados: Indivíduo começa a choramingar. Uma série de perguntas são feitas ao indivíduo para que se mensure as mudanças de personalidade.
Análise: Indivíduo demonstra discernimento incomum em questões relacionadas aos sintomas desenvolvidos. Ver registro de entrevista para detalhes adicionais.
Entrevistado: D-39320
Entrevistador: Dr. Calixto Narváez
Prefácio: Indivíduo receberá um teste de Rorschach; um fora feito anteriormente à exposição ao SCP-2737; resultados nada excepcionais, talvez sugerindo uma possível falta de criatividade.
<Iniciar Gravação>
Dr. Narváez: O que você vê? [segurando cartão de borrão de tinta]
D-39320: Um corpo.
Dr. Narváez: De novo. [segurando um segundo cartão]
D-39320: A cara deles.
Dr. Narváez: A cara de quem?
D-39320: Dói olhar. [fecha os olhos] E eu ainda tô vendo. Dá pra sentir a faca entrar. É fria. Eu lembro de segurar o cabo. Não sabia que era tão frio assim do outro lado.
Dr. Narváez: Você foi condenada por homicídio. Foi essa a sua vítima?
D-39320: É. Sei não porquê que eu fiz. Parecia que era certo, na hora. Que era justo. Mas é pior do que isso. Morrer é feio. Não lembrava que fosse tão feio. Vejo todos eles, meu pai e minha mãe. Minha irmã Jill. Tão tudo morto. Eu ficava contente que eles morreram limpo, mas isso não existe não. Não dá pra voltar e arrumar nada. Não tem como consertar. Devia de ter feito melhor, pra eles. Diminuir a dor. Deixar todo mundo orgulhoso.
Dr. Narváez: Ninguém vive pra sempre. Todo mundo more, um dia.
D-39320: Não tá certo. [chora] Não senti nada naquela hora. Não conseguia ver. Não que nem agora.
Dr. Narváez: Não conseguia ver? O que quer dizer?
D-39320: Se você dá uma volta pra qualquer lado, certo que vai pisar em algum bicho pelo caminho. Não matei eles de raiva, não. Só nunca via. Nem parava pra olhar. É. De descuido. Já parti coração demais. Cê acha que eu ainda tenho alguma chance?
Dr. Narváez: Chance de quê?
D-39320: As coisas estragam. Dessa vez, eu quero juntar os cacos. Tenho um irmão no Arizona. Não falo com ele tem 9 anos. Cê acha que eu consigo consertar as coisas?
Dr. Narváez: Eu não sei no seu caso, mas…nós sempre temos mais uma chance.
D-39320: Não tem não, doutor. Não tem não.
<Fim de Gravação>
Teste 44 - 08/04/1983
Indivíduo: Dra. Jing Yi
Procedimento: Indivíduo é exposto ao SCP-2737. Testando para averiguar diferenças de sintomas entre aqueles conscientes da anomalia e dos que passaram por treinamento antimemético.
Resultados: Indivíduo começa a chorar mas demonstra mais controle do que outros. Uma série de perguntas são feitas ao indivíduo para que se mensure as mudanças de personalidade.
Análise: Sintomas se manifestam de uma forma mais grave. Ver registro de entrevista para detalhes adicionais.
Entrevistada: Dra. Jing Yi
Entrevistador: Dr. Albert Cronenberg
Prefácio: Indivíduo receberá um teste de Rorschach; um fora feito anteriormente à exposição ao SCP-2737; resultados normais para integrantes da Fundação. O Dr. Narváez não pode conduzir o experimento devido a um mal estar e o Dr. Cronenberg o substituiu..
<Iniciar Gravação>
Dr. Cronenberg: Me diga o que vê. [segurando um cartão de borrão de tinta]
Dra. Yi: Um homem insensível.
Dr. Cronenberg Ah… certo, agora, me dig-
Dra. Yi: Eu consigo sentir, sabe. Cada um deles.
Dr. Cronenberg: A senhora pode ser mais especí-
Dra. Yi: [interrompendo] Só seguindo ordens, não é? Só mais material novo pra trabalhar. Quantos deles você estripou pra achar o que precisava?
Dr. Cronenberg: A entrevista acabou. Controle-se ou vou chamar os seguranças.
Dra. Yi: Quantos você matou, ein? Seu filho da puta! Você destruiu eles – um pedaço por vez! O que você esperava achar através do sofrimento deles? Tomara que você morra, Cronenberg – do mesmo jeito que as suas cobaias, tomara que você seja estripado.
<Fim de Gravação>
Declaração Final: Amnésicos foram administrados e o indivíduo não se recorda nem do experimento ou de seu surto. Este ainda é o único caso onde um indivíduo infectado pelo SCP-2737 demonstrou agressão. Mesmo sujeitos com histórico de violência eram normalmente acalmados pela exposição ao SCP-2737.
Teste 50 - 15/06/1983
Indivíduo: Dr. Calixto Narváez
Procedimento: Amnésicos para memórias recentes foram administrados anteriormente à exposição ao SCP-2737. Indivíduo possui treinamento antimemético extensivo..
Resultados: Lábios do sujeito começaram a tremer. Teste de Rorschach, embora não revelara mudanças óbvias de personalidade, resultou numa preocupação única com morte.
Análise: Ver registro de entrevista para detalhes adicionais.
Entrevistado: Dr. Calixto Narváez
Entrevistador: Dra. Jing Yi
Prefácio: Indivíduo receberá um teste de Rorschach; um fora feito anteriormente à exposição ao SCP2737; resultados normais para integrantes da Fundação. Memórias associadas ao SCP-2737 foram reprimidas.
<Iniciar Gravação>
Dr. Narváez: Pode começar, Jing. Não vou ficar mais pronto que isso.
Dra. Yi: Há uma lampreia morta naquele recipiente. [aponta para o recipiente do SCP-2737] Por favor, observe-a por um instante.
Dr. Narváez: Se você diz.
Dra. Yi: O que você vê? [segurando um cartão de borrão de tinta]
Dr. Narváez: Um castelo antigo.
Dra. Yi: [levanta um segundo cartão]
Dr. Narváez: Um pântano no inverno congelante.
Dra. Yi: [segura um terceiro cartão]
Dr. Narváez: Eu… lembro de quando ainda tinha fé, e falava pra mim mesmo que tudo acontecia por um motivo. Que tragédias ensinavam alguma coisa – faziam de nós pessoas melhores. Tem coisas terríveis que acontecem sem ninguém saber, das quais ninguém aprende nada. Uma criança, abandonada num poço que nunca será encontrada. Um andarilho, sem amigos ou família, afogado no lamaçal. A morte não é amiga de ninguém.
E num estalo, eu me encontro lá, novamente. Não quero me lembrar disso. Eu fiz tudo pra nunca mais voltar pra lá.
Ele morreu. Sempre esteve morto. Meu pai. Lembro vividamente. Tinha uma força de vontade enorme – mas a doença era maior ainda. Os médicos tiveram que amputar – retalhando ele num esforço de salvar o resto. Um pé, uma mão, nada adiantou. Braços e pernas, e mesmo assim continuava se espalhando. Os olhos dele, a língua – eles também tiraram fora.
Eu contava as histórias que um dia ele me ensinou, querendo mais que tudo que ele entendesse as minhas palavras. Eu rezava sobre o corpo amarelado dele – chamando por todo santo que eu conhecia, alguns que eu tinha até inventado. Será que ele estava acordado? Eu não sei. Ele se mexia, às vezes gritava, como se tivesse num pesadelo sem fim. O quarto ficava cheio de travessas de merda, mijo e sangue. Drogaram ele – o suficiente pra amortecer a realidade. Eu não queria que ele sofresse, eu só queria… queria poder ter falado com ele uma última vez. A gente nunca teve a chance de dizer adeus.
No meu esforço de esquecer daqueles meses horríveis, eu perdi o que havia de bom também. Apagando-o da minha mente. Eu lembro das viagens pra praia. Nossas visitas à Alhambra. Noites cheias de calor e cantigas. E, enquanto a doença dele ainda estava mansa, a primeira vez que tomei vinho.
Eu vou ser forçado a esquecer disso tudo. Voltar a me recusar de lembrar dele. Mas valeu a pena! Tanto. [começa a chorar profusamente, ainda sorrindo] Protocolo – meu antigo inimigo, nos encontramos de novo – mas eu nunca te odiei tanto quanto odeio agora. [gargalha ainda chorando]
<Fim de Gravação>
Declaração Final: Amnésicos foram administrados ao indivíduo que permanece sem memórias do experimento.