Segunda Exploração

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A curiosidade é a sabedoria dos tolos, mas bravos são aqueles que se arriscam ao desconhecido, desbravam novos mares e trazem a humanidade uma fagulha que seja de conhecimento que muitas vezes no futuro, trazem evolução para o desenvolvimento. E é em nome desta sede de conhecimento que aquele pequeno mundo, dentro daquela simples garrafinha, uma segunda vez foi explorado.

Após conhecimento parcial sobre a segurança do local contido dentro da garrafa térmica, o pesquisador que anteriormente foi capaz de observar [ARQUIVO EXPURGADO] dentro da garrafa, solicitou autorização para realizar uma segunda exploração.

O pedido foi negado por parte do conselho administrativo local, mas um apelo foi feito pelo agente subjugado durante o incidente 902, destacando a necessidade da aquisição de melhores informações para contenção do objeto.

Em uma segunda avaliação, foi concedido acesso ao objeto, desde que realizado sob escolta de ao menos um agente treinado. Caso a entrada de dois indivíduos não fosse possível, o experimento deveria ser suspenso. Dr Leandro Stenbuck concordou com os termos.

Funcionários convocados:

Funcionário selecionado Harry Lopes
Função Pesquisador de Campo
Histórico Barman por 9 anos em clube privado de Londres. Formou-se em engenharia e retornou ao Brasil em 1987 onde ingressou na Tectoy.

Funcionário selecionado Oliver Campos
Função Atirador com ampla experiência em serviços de escolta de objetos
Histórico Algumas Informações referentes a funcionários relacionados a operações de segurança e combate, requerem acesso ao [ARQUIVO EXPURGADO]. Órfão, Barman em “Clube de Cavalheiros” em São Bernado do Campo durante 4 anos. Membro da efetivada Força Tarefa “Alice”. Atualmente desaparecido.

Munidos de equipamento de proteção, pistola, rações de sobrevivência, câmera para gravação e transmissão de imagens, ambos se posicionaram ao lado do objeto durante alguns minutos. Após a leitura de [ARQUIVO EXPURGADO] contido dentro da garrafa, foi solicitada confirmação sobre os sintomas previstos na expedição anterior. Confirmação sobre montanhas e um cenário semelhante ao anterior foi vivenciado por ambos momentos antes de ambos desaparecerem da sala monitorada.

Tentativas de estabelecer a comunicação ou recebimento de imagens foram infrutíferas como previsto. Após período de 52 minutos, leituras anômalas foram detectadas ao redor do objeto e apenas o equipamento retornou, materializando-se próximo a SCP-XXX-PT. A apreciação de seu conteúdo foi solicitada com urgência após providenciado equipamento de proteção memética aos visualizadores selecionados.
Segue abaixo seu conteúdo.

02:00 - Ambos agentes exploram o local. É registrado casas em péssimo estado, em sua maioria, era possível observar todo interior das estruturas, já que grande parte das paredes estava ausente. Harry chega próximo a uma das paredes e coloca sua mão sobre uma delas que apresentava falhas na estrutura e declara para fins de registro na gravação ser restos carbonizados.

Dunas de areia circulavam o local, e um pequeno lago foi registrado nas imagens, quando Harry abaixou para coletar amostras da água. Oliver reclamou sobre um forte odor vindo do líquido, quando uma pequena voz é capitada pelo equipamento:
- Coletando ingredientes? Qual sua contribuição?
Oliver se vira, dando sinais para que Harry se afaste. Nenhuma confirmação de terceiro indivíduo é visualizada pela câmera. Após alguns minutos procurando, prosseguem com a expedição.

00:14

Os funcionários adentram uma das casas parcialmente deterioradas, mas em melhor estado de conservação. Foi registrado em vídeo, destroços de objetos datados de 1960 e um artigo em um jornal parcialmente carbonizado, onde se destacava como o surgimento da banda internacional “The Rolling Stones”. Não era possível identificar o nome do jornal, devido ao estado do material, mas havia certo anuncio na sessão de classificados que levava a crer que era de algum local brasileiro por volta de 1964.

00:20

– Nenhum outro registro importante foi encontrado na estrutura e os agentes localizam após andar 200 metros ao norte, uma casa em ótimo estado. A câmera de Harry detecta algo parecido com um automóvel no horizonte. Ao se aproximar do local, SCP-XXX-PT-1 é identificado, girando uma placa anexada a porta com os dizeres “Fechado”. Sobre protestos, Oliver se afasta, e Harry inicia uma abordagem ao objeto.

- Olá. Saudações? – diz Harry incerto

- Oh, a casa está fechada. Dia movimentado. Você viu aquele Itamaraty? Não é todo dia que aparece um – diz SCP-XXX-PT-1 com certo sorriso quase encoberto por sua longa barba, enquanto aponta para o horizonte.

- Queríamos perguntar se…

- Todos perguntam e eu adoro ouvir. Mas, voltem outra hora estou fechando rapazes.

- Vamos embora Harry, fizemos algum progr… – diz Oliver antes de ser interrompido

- Harry? – Grita o Barman. - Harry Craddock?

- Eu acho que existe uma pequena conf… – Diz Harry assustado.

- Meu pai me falou muito sobre você. Venha vamos, hoje você será o Barman da casa!

O convite feito pelo objeto causou certo desconforto notado através das câmeras. A câmera de Harry mostra Oliver cautelosamente levando as mãos para sua arma ocultada pelo uniforme.

Harry recusa com educação, e SCP-XXX-PT-1 aparenta estar triste. Quando se viram para trás, a câmera registra sombras se deslocando entre as casas destruídas, algumas se movimentando em grande velocidade.

- Não liguem – diz o Barman – São cobradores. Devem estar em busca de alguém que pegou ingredientes e não pagou.

Harry coloca sua mão em um bolso e retira a amostra que coletou do estranho lago poluído e uma das sombras passa próximo a ele. Congelando a imagem, é possível visualizar apenas uma grande figura humanoide negra próxima a Harry. O movimento faz Harry cair, jogando sua amostra para cima, que foi recolhida pelo Barman antes de cair no chão.

A câmera mostra SCP-XXX-PT-1 despejando o conteúdo da amostra no pequeno tubo ao chão, que evapora instantaneamente. Nenhum sinal das sombras é detectado novamente pelas câmeras.

- É melhor aceitar meu convite mestre Harry. Alguns caçam por esporte, e não por dever. Tenho certeza que vão embora daqui antes da guerra do Vietnã acabar. Pretende voltar para a América? – diz o Barman

- A guerra do Vietnã acabou em 1973, quando o tratado de… – diz Harry antes de ser interrompido.

- Vai acabar em 73? – Exclama o Barman surpreso – Boas novas! Mais um motivo para brindarmos. Por favor entre mestre Harry, eu insisto, embora isso cause um grande flagelo em meus modos, esperei muito por isso. Logo os levarei de volta para casa, assim meu pai desejava.

Os agentes concedem e a câmera percorre por um corredor cheio de portas. Harry aponta sua câmera para uma delas e os dizeres “ARMAZÉM III” é perfeitamente identificado na parte superior.

00:43

Após um longo corredor, chegam até uma pequena sala, onde são convidados a se sentar. Oliver se recusa e fica em pé próximo a porta.

Barman então adquire de um armário de madeira uma garrafa de vinho não identificada, e a observa por um tempo. Então retira de uma das gavetas algo semelhante a um chaveiro, porém com um dedo humano preso em uma argola. Ele então aloja a unha contida no dedo do chaveiro dentro da rolha da garrafa e puxa, servindo três taças de vinho de bela qualidade.
Os três brindam e SCP-XXX-PT-1 inicia uma narrativa.

- Uma das coisas que mais me encantam neste ramo, é ouvir as histórias das pessoas que conhecemos na vida. Você olha para a porta do estabelecimento, e vê a pessoa entrar. Você pensa que talvez aquela é a primeira e última vez em que a verá na vida, então é importante desfrutar a companhia o máximo que puder. Sabe mestre Harry, meu pai foi um grande fan seu. Temos seu livro olhe…

Barman retira do armário, um livro intitulado “The Savoy Cocktail Book” e o deixa em cima do colo.

- Meu pai pegou até mesmo sua assinatura neste exemplar! Você lembra?

Harry já havia notado que estava sendo confundido por outra pessoa, e resolveu assumir o papel para adquirir informações. Oliver por sua vez, devido a suas experiências lidando com anomalias, sabia muito bem as consequências de se realizar semelhante manobra. Ficou boa parte do tempo a observar o local, não se sabe se seu objetivo era registrar o máximo de dados possível ou se apenas procurava rotas de fuga alternativas.

- Não lembro. Quem era seu pai? – Continuou Harry.

- Espantoso você não se lembrar. Ele conheceu bem o senhor, mas eu estou tendo os primeiros contatos agora. Impostores vieram para cá em seu nome no passado, mas não deixei macularem seu nome. É fácil mentir com as palavras, mas impossível produzir uma bebida digna de seu legado. Meu pai lembrava de todas 730 receitas disponíveis no livro, inclusive algumas que não estão disponíveis aqui. E é destas que estou atrás.

Oliver e Harry se entreolham. SCP-XXX-PT-1 continua:

- Quando a lei seca veio na américa, você foi embora e nos deixou para trás. Não foi proposital claro, meu pai apenas o admirava por trás do vidro da janela onde você exercia a profissão sem nem ao menos se apresentar. Garotos buscavam outras profissões, mas meu pai… era apaixonado pelo nosso ofício. Quando ouviu boatos de que você tinha ido trabalhar em algum hotel de Londres, ele embarcou clandestinamente em um navio, abandonando a mim e minha mãe para ir atrás do seu sonho de se tornar seu aprendiz.

O Barman olha rapidamente para Harry.

- Não se preocupe – diz o Barman rindo – Não tem história triste aqui, mamãe e eu tínhamos boa vida, meu pai era apenas um amante secreto, que se negou várias vezes a vida boa que lhe era oferecida, por que tinha medo de ficar envolvido demais com finanças e desviar do seu caminho como Barman.

Papai mandava cartas direto. Disse que havia te encontrado e estava aprendendo o ofício. Parecia muito feliz. Não sei como lhe agradecer. Acabei pegando paixão por causa das narrativas dele e quis me tornar um Barman também. Nem preciso dizer o quanto isso afetou minha mãe.

Ai sim a história se torna dramática. Ela dizia que eu tinha sangue de vagabundo como meu pai. Brigamos muito. Não dava mais certo. Ela nunca aceitou as decisões do meu velho. – Barman interrompe brevemente sua história, enchendo novamente seu copo com sua bebida.

- A coisa só piorou daí em diante. Ela arrumou outro cara, um mafioso italiano qualquer. E diversas vezes ouvia boatos de que ela queria se livrar de mim. Eu era para ela, a última lembrança de meu pai na vida dela. Ela ainda gostava muito do meu velho e isso a torturou bastante.

Jamais deixei de gostar de minha mãe. Você sabe, família é importante… assim como um bom vinho envelhecido, ela me carregou 9 meses na barriga. É claro que o mesmo não se aplica a meu padrasto. Ele faria tudo por ela. Algumas noites eu nem dormi, com medo dos boatos chegassem a seus ouvidos. Trancava a janela, mas era bom não facilitar

- Você ouvia boatos de quem? – Perguntou Harry.

- Ah…. “Amigos”. Desde aquela época eu já via os cobradores. Eles me ensinavam muitas coisas, diziam me proteger, mas na época eu tinha medo deles.

- Você conheceu eles aonde?

- Não me lembro com precisão mas vi o primeiro uns 8 meses depois que meu pai foi embora para Londres. Havia coisas na época a me preocupar mais…

- Por favor, prossiga amigo.

- Reiterando, o meu “padrasto” novo, era mafioso… veio da Itália. A Lei Seca foi uma grande oportunidade para eles fazerem dinheiro, trazendo bebidas alcóolicas. A fortuna da minha mãe estava acabando, então ela se engraçou com o mafioso para sustentar a vida que jamais gostaria de abrir mão.

Um dia, estava na frente do velho bar agora abandonado, onde meu pai geralmente ia para ver o barman trabalhar, e minha mãe parecia preocupada. Me pegou a força e disse que tínhamos que fugir. Foi muito de repente, não queria sair assim, sem despedir dos poucos amigos que tinha, mas os cobradores me disseram que se ficasse era morte certa.

Minha mãe me levou até o cais, e tive a maior surpresa da minha vida. Meu pai estava lá.
Ele acenava e minha mãe disparou correndo ao encontro dele, me deixando para trás.

01:28

A câmera de Oliver mostra certo movimento em seu braço, indicando que estava a tentar observar seu relógio de pulso.
Harry aparece ao lado, aparentando estar com bastante interesse no diálogo. Oliver solta um pequeno pigarro e Harry pede ao Barman para prosseguir.

- Os cavalheiros tem algum compromisso marcado? – Diz o Barman.

- Não. Você pode continuar – disse Harry durante um breve momento onde ele se virou e a câmera apontou para a janela, mostrando ainda algumas entidades negras sobrevoando o exterior da janela.

- Então… – resumiu o Barman – A viagem foi tranquila. Chegamos a Londres. Aprendi o ofício com meu pai. Ele tinha um ditado onde dizia muito a seus clientes e era o lema da casa. “Se não gostar da bebida, é por que não tem sede suficiente! ”. Ele confiava em suas habilidades, por que era discípulo do melhor no ramo. Jamais admitiria críticas negativas a seu trabalho.

Vivemos anos incríveis em um bairro bem humilde. Mamãe surtou a princípio, pois aquela não era a vida que ela estava acostumada a ter, mas a premissa de ter sempre a presença de meu pai, a deixava calma. Fora as joias que ele trazia de presente para ela. Nunca te vi pessoalmente senhor Harry. Pelo menos até agora. Meu pai me prometia que me levaria a ti um dia, mas isso nunca acontecia. Ele saia de casa e não explicava nem a minha mãe, todos primeiros domingos do mês e só voltava na terça.

Mamãe uma vez perguntou a meu pai o que tanto fazia, e ele disse que era apenas aulas do ofício com você. Com o tempo, o ciúme venceu e minha mãe pensava que ele estava a traindo e o seguiu certo domingo. Foi a última vez que vi ela.

- Não teve notícias dela mais? – Disse Harry.

- Ela ligou na segunda de manhã. Apenas perguntou se eu estava bem e disse que me amava muito. Eu não lembro detalhadamente da ligação, mas estava com muito medo. Havia um barulho de gotas caindo no fundo… e o barulho que nunca saiu de minha cabeça. Os sons que nós fazemos ao agitar bebidas, misturado a…. chicotadas…?

Meu pai só voltou este dia na quarta-feira. Trouxe um presente para mim. Um medalhão com uma estrela no meio, algo assim. Se recusava a comentar sobre minha mãe, evadia muito sobre o assunto. Disse que ela logo retornaria mas parecia até estar mais preocupado com o medalhão que me deu do que em saber onde mamãe estava. Disse que não podia perde-lo em hipótese alguma.

Ele saiu do emprego. Passou a beber bastante nos próximos dias. Me pareceu preocupado.
No sábado, ele me disse que íamos mudar. Eu me recusei, pois, mamãe ainda não tinha retornado. Ele me disse que o propósito desta viagem era justamente ir até ela.

Embarcamos mais uma vez… na minha passagem estava escrito que nosso destino era algum lugar do Brasil.
Meu pai estava sempre aparentando muita preocupação, perguntei a ele muitas vezes o que estava acontecendo. Ele me disse que estava sendo perseguido por uma importante família da máfia Italiana, o que dado nosso histórico, era compreensível.

Uma noite ele me perguntou se ainda portava o medalhão. Eu mostrei a ele e pela primeira vez em tantos dias, o vi aliviado. Então ele botou suas mãos em meus ombros, e disse algo que me deu calafrios. Perguntou se eu já vi os cobradores.

A princípio eu fiquei confuso, mas sua pergunta me causou uma sensação ruim. Perguntei a ele o que era cobradores, então ele passou a falar um pouco mais baixo.
Papai me contou que você a princípio não gostava de suas bebidas, então um dia em Savory, eles caminhavam por um corredor do hotel e meu pai estava sendo carregado por você, pois estava totalmente bêbado. Como era um dia de festa no hotel, o corredor estava vazio.

Naquela noite… meu pai viu um cobrador. Enquanto Harry esperava meu pai do lado de fora, meu velho colocou uma garrafa em que estava bebendo em cima de uma pia, e começou a vomitar. Quando se virou, o cobrador estava lá… encarando ele.

- Você quando diz cobradores, se refere a aquelas coisas negras lá fora que vimos?

- Sim Harry. Você não viu aquele dia mas… eles existem, meu pai não lhe contou sobre eles?

- Olha, é a primeira vez que ouço sobre.
- Continuando. - disse o Barman - Meu pai estava embriagado e não pensou muito. Achou que estava delirando, vendo a sombra negra flutuando no ar. Ele disse que algo começou a sair da sombra então ele gritou por Harry, mas não teve nenhuma resposta. Tentou varias vezes até que Harry respondeu "Vamos logo, não me dê mais trabalho" do lado de fora. A sombra sumiu e deu lugar, de acordo com meu pai, a um pequeno menino, coberto por um pano velho e encardido marrom claro, e uma pequena parte de seu rosto, era a única coisa de seu corpo que a vestimenta permitia ser visualizado.

Até hoje ainda não sei tudo que aconteceu. Meu pai escondeu muitos segredos de mim, mas o que sei é que os cobradores estavam interessados em alguém para recrutar, mas meu pai já era "velho demais” para o ofício. Então eles barganharam. A bebida perfeita que iria arrancar um sorriso de Harry, em troca de mim.

Então deram a ele o tal pingente importante e disseram que ele deveria dar a seu filho que deveria usá-lo até o dia em que iam me buscar.

Prometeram várias coisas para convencer meu pai. Disseram que eu seria imortal, que seria melhor para mim, qual pai sustentaria resistência ao saber que garantiria que seu filho jamais iria sofrer o enfermo da morte? Até que ele aceitou. O cobrador então se liquefez e entrou na garrafa que meu pai usou.

Ele foi instruído a fazer coquetéis com o líquido daquela garrafa, e que deveria ir me buscar antes do fim da lei seca. Disseram para meu velho que a facção da máfia pela qual minha mãe fazia parte, iria desmoronar com a perca de seu sustento, e seria eliminada, obviamente incluindo eu e minha mãe.

Como parte da promessa, os cobradores ficaram a cuidar de mim até meu pai conseguir me buscar. A sua nova bebida fez sucesso, Harry aprovou. Meu pai começou a juntar dinheiro. Ele disse que quando a garrafa esgotava, um papel com pedido de coisas aparecia em cima, ele providenciava e colocava dentro da garrafa e assim, a garrafa voltava a se preencher com seu conteúdo.

Ele me mostrou sua garrafa, estava vazia. Me mostrou um papel do último pedido que recebeu. Estavam pedindo para meu pai, um pedaço do coração de Harry. Ele não poderia fazer isso.
Ele me disse que mamãe teve sede por causa disso. E que teríamos também se não fugisse para o Brasil. Então ele entrou no seu quarto e me disse pra dormir mais cedo. Levou consigo sua garrafa misteriosa, e minha garrafa térmica.

Após uma breve pausa, Barman solicita aos convidados que o siga. A câmera mostra mais alguns corredores, e Harry alega sentir um forte odor de enxofre. Parte do cenário aparenta ser confeccionado com um estranho material pulsante, a visualização apenas não permite uma análise concreta.

A câmera cessa seu movimento em uma cozinha. Barman retira alguns recipientes de sua geladeira, os coloca a mesa e diz:

- Eu peço desculpas pela terrível grosseria, mas poderia fazer uma bebida para nós? A anos escuto histórias, agora gostaria de sentir em primeira mão. Por favor mestre Harry…

A câmera mostra Harry olhando para Oliver, ambos aparentando pânico. Oliver põem novamente a mão em sua cintura, mas é impedido por Harry, que concede o favor, e começa a observar os materiais na mesa.

O Barman ergue uma de suas sobrancelhas e observa Harry trabalhando. Oliver olha para uma janela e observa as sombras próximas a casa. O Barman se dirige até Oliver e bate a janela com certa força, trancando-a em seguida. Então volta sua atenção a Harry.

Harry prepara sua especialidade. Uma bebida brasileira, denominada "Capirinha". Então oferece o drinque ao Barman. Ele ingere o conteúdo e a gravação permanece em silêncio por vários minutos. Então Barman se levanta e vai até uma sala aos fundos e pede para que o aguardem retornar.

Harry e Oliver se entreolham. Uma das janelas da estrutura se estilhaça e uma das sombras entra no local. Os funcionários recuam e correm pelos corredores pulsantes com certa dificuldade devido à instabilidade do terreno. A entidade aparenta persegui-los, então Oliver diz para Harry abrir as portas no caminho enquanto realiza disparos aleatórios no corredor vazio por onde passam. No salão principal da casa, Harry reconhece a porta de onde vieram, e investem em grande velocidade para a mesma.

Ao chegar na porta, Oliver bate com sua mão 3 vezes nas costas de Harry, como um sinal para que ele vá. Harry olha para trás e observa algumas pequenas entidades flutuando. As imagens revelam cinco mantos aparentemente velhos e encardidos. Em todos, é possível visualizar um longo tentáculo saindo de dentro de seu interior, onde um deles estava esticado e segurando a perna de Oliver.

Oliver empurra Harry para fora e é derrubado ao chão, enquanto realiza mais disparos no tentáculo que prendera sua perna até o romper. Oliver se levanta, mas a porta se fecha, separando Oliver de Harry. Harry corre pelo cenário desértico enquanto Oliver corre por alguns corredores, olhando várias salas antes de bater de frente com Barman. Realiza alguns disparos antes de pular por um pequeno muro na sala e o vídeo é cortado.

O vídeo de Harry continua por mais alguns minutos, correndo entre as construções até chegar a passagem de volta. Subitamente, por algum motivo, ele para próximo ao portal e a gravação o mostra recuando lentamente da passagem. A câmera treme e cai ao chão, ficando cerca de 22 minutos com imagem estática mostrando apenas o portal. Então a câmera é coletada do chão, revelando Oliver em perfil na imagem, dizendo que irá retornar para resgatar Harry, mas que iria assegurar as informações coletadas até então. Então ele arremessa ambas as câmeras no portal e os registros terminam com as câmeras a registrar em vídeo, as instalações de contenção da Fundação.

Alguns dias depois, a Fundação Lusófona recebe uma ligação através de uma linha particular de Londres. Sujeito se identificou como Harry e solicitou extração.
Após agentes enviados confirmarem a identidade do funcionário, o mesmo retornou munido apenas de uma velha garrafa que continha apenas uma nota.

Harry, meu amigo.
Desde o começo eu já sabia que você não era mestre Harry Craddock. Sempre soube em todos que vieram para cá se passando por ele.
Mas sua bebida tinha um forte sabor brasileiro. Eu não sei se foi uma coincidência, mas lembrei de certas coisas que me aconteceram ao chegar no Brasil com meu pai. Eu agradeço sua deliciosa bebida, lhe devolvendo de volta a sua casa, mas seu amigo machucou alguns dos meus e convenhamos, ele nunca foi um bom barman, ao contrário de você que tanta atenção foi dispensada a minha história.

O melhor ensinamento a ti passo. Suas bebidas possuem sua alma e são magníficas. Quando as pessoas não apreciarem, dê sede a elas, e garanto que vão mudar de opinião.
Se tiver filhos, apareça novamente, podemos fazer negócios.

Barman

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