Informações
Uma Tempestada Mais Terrível, Uma Terra Menos Justa
Autor: stormbreath
Tradutor: L200
Sequência direta de Uma Tempestade Terrível em uma Terra Justa
Parte do Cânone da Guerra em Todas as Frontes.
Parte dos itens da Equipe Mikasa para o Concurso Doomsday 2018, juntamente com:
- SCP-3534 escrito por DrCaroll
- Aceitando os Anjos escrito por stormbreath
- Projeto Sensuikan escrito por stallmantic
- O Mar dos Kaiju escrito por DrChandra
O último Rei de Hy-Brasil estava nas docas de seu reino, que havia sido reduzido a nada mais do que uma aldeia. Uma tempestade havia chegado a Hy-Brasil, trovões e relâmpagos como a fúria de um deus. Delbáeth era um homem humilde, que queria que seu legado fosse um renascimento gradual para uma terra que teve seu próprio coração arrancado dela. Essa tinha sido sua esperança, o foco de todo o seu reinado.
Mas diante dele estava o monstro que matou seu pai, seu tio, seu primo e sua casa. Ele tinha morrido cinco anos atrás, e aqui estava ele de novo, com o dobro do tamanho do passado. A coisa era tão alta que sua cabeça estava nas nuvens de tempestade, fora de vista. Ela era uma coisa feia - braços demais e tentáculos insuficientes, um desgraçado de partes que pertenciam por direito a uma miríade de feras.
Por todos os meios, um mundo justo não permitiria que aquilo vivesse, e mesmo assim aqui estava a criatura, desprovida de razão e sem direito.
Ele estava fora de Hy-Brasil quando a primeira perdição de Hy-Brasil destruiu a ilha - foi assim que ele sobreviveu - mas ele estava aqui agora, pronto para morrer com seu povo. O Resto do mundo já havia colapsado em chamas e ruína, causado por krakens miseráveis que saíram de algum sítio da Fundação no Japão. Hy-Brasil teve sorte, pois evitou a maioria das feras, mas mesmo os maiores dos lugares vão cair com o tempo.
O monstro era grande demais para nadar no oceano, então ele caiu sobre os tentáculos e estava rastejando em direção à cidade. Ele estava fazendo um caminho que o faria passar direto por Delbáeth, enquanto ele observava o progresso do titã com nojo. Nada sobre ele estava certo, e seu terceiro olho gritava em sua cabeça o quão horrível o titã era. Ele fez o possível para ignorar os gritos, para que pudesse assistir à morte de sua terra natal.
A fera rastejava bem ao lado dele, e Delbáeth a olhava bem em um de seus cinco olhos, tentando fitar profundamente a alma. Seu terceiro olho perfurou a mente da fera e não encontrou nada. O kraken - todos os krakens - era nada mais do que um animal, uma criatura de hábitos e uma fera irracional. Nada além do instinto dirigia essa abominação. O Armagedom nada mais era do que um estilo de vida para ela.
Haviam várias proteções mágicas em Hy-Brasil, demais até. Elas não fizeram nada além de tornar a ilha um alvo para a primeira fera, e agora o bando de sucessores seguiria o exemplo. Eles caçavam com magia e confundiam a magia com uma fonte de alimento. Talvez fosse? Talvez eles se alimentassem da própria magia? Coisas mais estranhas já aconteceram. Mas, de qualquer modo, eles viriam para Hy-Brasil e não encontrariam nada para matar, apenas uma cidade para destruir.
Em outro mundo, talvez, isso não estaria acontecendo. Em outro mundo, Delbáeth pode ter tido mais sorte. Ele pode ter sido capaz de fazer um pacto para proteger o mundo contra monstros como este, e ele pode ter tido a chance de reconstruir as ruínas de Hy-Brasil. Mas não é prudente se deixar distrair com os destinos de outros mundos, pois aquele existe é tudo o que importa. Neste mundo, este mundo miserável, havia milhares de monstros e não havia homens suficientes para matá-los.
O resto do mundo dificilmente estava se saindo melhor, caindo perante as feras quando elas saíram do mar. A América havia condenado a si mesma com seus próprios mísseis nucleares. Verdade, a única maneira de destruir uma das feras era com armamento nuclear, mas os idiotas apontaram suas armas para si mesmos e puxaram o gatilho. Sim, seu fogo atômico vaporizou o monstro que estava atacando nova York, mas o que aconteceu com Nova York no processo?
Outras nações - aquelas com opção, pelo menos - ficaram então com a escolha do diabo. Elas queriam morrer nas cinco mãos de abominações que não pertenciam a este mundo, ou pelos velhos medos familiares que elas sempre acharam que seriam o seu fim? Elas justificaram sua escolha dizendo que não estavam ativamente se matando, apenas permitindo que o fim as consumisse.
Delbáeth agarrou a lança em suas mãos com mais força, enquanto a fera se arrastava em direção ao coração de Hy-Brasil. Ele arrancou a espada da bainha e ela começou a brilhar com uma luz brilhante. Juntas, elas eram metade dos Quatro Tesouros dos Tuatha Dé Danann, os últimos resquícios da cultura de seu povo. A lança pertencera a Lug e a espada a Nuada Airgetlám I, homônimo do tio de Delbáeth, rei antes dele.
Elas eram armas envoltas em mitos e mistério. Era dito que nenhuma batalha travada com a lança seria perdida, e que nenhum inimigo conseguiria escapar da espada. Se as lendas fossem verdadeiras, Delbáeth, tendo-se armado com ambas, seria imparável na costa rochosa de Hy-Brasil. Em suas mãos estavam as armas mais poderosas já forjadas, armas de grande e terrível poder.
Rei Delbáeth, Senhor dos Tuatha Dé Danann, Soberano do Reino de Hy-Brasil, Mestre do Povo das Fadas, segurando as armas usadas para ungi-lo como realeza, parado diante de um kraken, sentia como se ele fosse nada mais do que uma criança fingindo ser da realeza.
Pelo que ele entendeu, a espada e a lança foram empunhadas durante o primeiro ataque a Hy-Brasil. A primeira perdição de Hy-Brasil havia caído naquela batalha, o que falava bem pelo poder da espada, mas o tolo que agarrou a lança para luta com ela havia morrido também. A fera havia tacado por mais uma hora, e durante aquela hora o coração de Hy-Brasil foi arrancado.
Delbáeth ergueu os olhos para o céu tempestuoso, deixando que a chuva batesse em seu rosto. As proteções que controlavam o clima de Hy-Brasil haviam se quebrado quando o resto da ilha morreu, e ela estava sujeita à mesma atmosfera que o resto do mundo. Ele havia sido criado em uma bela terra de sorte e luz, e agora era sua hora de morrer em uma terra destruída de escuridão e decadência.
A Coalizão havia chegado com força total antes, bombardeando e atacando a primeira fera. Mas não havia sinal deles dessa vez. Delbáeth não sabia se eles estavam ocupados em outro lugar, tentando salvar os últimos resquícios de civilização que ainda existiam, ou se já haviam caído com o resto do mundo. Mas a razão pela qual eles não estavam aqui não tinha importância, apenas sua ausência tinha. Eles não estavam aqui, e nada iria mudar isso.
O último rei de Hy-Brasil virou-se para a besta. Ele pensou em seu tio, em seu pai e em toda sua família que havia morrido em Hy-Brasil anos atrás. Eles também morreram na chuva, mas eles não esperavam por isso. Ele, entretanto, estava pronto. Ele se preparou para o que viria a seguir e voltou seu olhar para o monstro devorando sua cidade.
Delbáeth gritou. Muitas das mulheres em sua linhagem se tornaram almas penadas depois que faleceram, e ele as canalizou para fazer de sua voz um coro. Ele chorava pela morte de seu reino, pela morte de seu legado, pela morte de seu povo, pela morte do mundo. O lamento ecoou por toda a cidade, o último grito de Hy-Brasil.
Com lágrimas escorrendo pelo rosto, Delbáeth olhou para suas armas e percebeu o quão inúteis elas realmente eram. Os Tuatha Dé Danann eram um povo literal e sua magia seguia o exemplo. Se não fossem usados exatamente como pretendido, os encantamentos nas armas não teriam efeito. Ela encontraria qualquer brecha e a exploraria.
A espada impedia a fuga, e de que ajuda isso seria? Qualquer golpe da espada não seria nada mais do que uma picada para a fera, uma que se curaria em segundos. Ela não queria fugir da espada e, portanto, a espada não teria utilidade alguma. Essa magia era forte contra homens mortais enfrentado invasores do Povo das Fadas, mas este ataque não teria nenhuma semelhança àqueles. A espada matava homens, não monstros.
A lança seria igualmente inútil. Uma mosca ousando morder um deus não é uma batalha e mal chegaria a ser um ataque. O ataque da Coalizão ao kraken foi uma batalha, pois eles trouxeram armas que rivalizavam com o pode da fera. Mas a Coalizão não estava em canto algum e as únicas armas que Delbáeth tinha em seu nome eram dois artefatos inúteis que ele mal fora treinado para empunhar. A Coalizão caçava deuses e Delbáeth caçava veados.
O kraken se ergueu no chão e sua cabeça voltou para as nuvens por um momento, antes de voltar para liberar um dilúvio de chamas. A cidade entrou em ignição, assim como antes, mas desta ver não haveria libertação. Esses incêndios eram definitivos, pois todos os homens valentes no resto do mundo já haviam morrido, e os últimos resquícios de Hy-Brasil já haviam partido.
Agora era a hora de agir, fosse para fugir ou para lutar. Ele tinha os recursos para tentar encontrar um dos últimos vestígios da humanidade ou fugir deste mundo para outro plano, como a Biblioteca do Viajante. Este não seria o fim, a menos que ele quisesse que fosse. Mas enquanto ele observava o dragão aquático queimar sua cidade, um fogo próprio começou a arder, bem no fundo.
Ele colocou a espada de volta na bainha e segurou a lança com as duas mãos. Ele conhecia alguns feitiços e os conjurou ao seu redor, preenchendo os vazios com a magia natural de seu povo. Ele não estava preparado para a batalha, mas ele nunca estaria. Ele estava, no entanto, preparado para fazer uma declaração. Ninguém estava por perto para ouvir, mas não era importante. Ele não estava a fazendo para ninguém além de si mesmo.
Delbáeth partiu para cima.