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Entre a fursuit e o bastão mágico, Katherine Sinclair imaginou que o primeiro fosse muito mais provável de fazer com que ela fosse parada na alfândega. Mas quando a agente da TSA parou ela e citou a mala cheia de acônitos ao invés da cabeça de lobo, Sindair sentiu seu estômago cair em seus pés antes mesmo dela dizer as palavras 'foco taumico Classe-A'.
Em sua experiência, seu oficial de alfândega comum não conseguiria ter pronunciado a palavra 'taumico', muito menos distinguir uma unidade Everhart de um graveto particularmente afiado. Ainda assim, ela decidiu bancar a boba, ver se conseguia blefar para se livrar do pior que poderia acontecer.
"Isso?" ela perguntou, sacudindo a alça de couro da unidade onde ela estava envolta em tecido anti-estático. "Oh, isto é para minha irmã em Milwaukee — ela realmente é adepta daquilo de Nova Era, cristais mágicos, woo-woo de cura…"
Seus dedos pararam de se mexer em meio ao abano explicatório quando a agente a fitou com um olhar divertido, embora fulminante. "Skipper1, eu estou aqui há quatro horas e até eu posso dizer que seu sotaque é francamente atroz."
"Eu-" Sinclair imediatamente olhou por cima do ombro para a palavra 'Skipper' e imediatamente se xingou por isso. Ela tinha acabado de estourar qualquer chance de outro blefe pra fora d'água. Dito isso, porém, entre a atitude da agente da TSA e o sorriso amargo quando ela mencionou a Fundação, Sinclair imaginou que tinha um controle bastante bom sobre para quem ela estava fazendo fachada. "A Unidade geralmente deixa seus operativos discutirem taumaturgia na frente de civis, Agente?" ela sibilou.
Por um momento, o sorriso afetado quase se transformou em um sorriso sincero. "Acertou de primeira."
A testa de Sinclair franziu. "Perdão?"
"Deixa pra lá." Ela revirou os olhos e murmurou um sussurro baixo que levantou os pelos do pescoço e dos braços de Sinclair. "Pronto. Encantada. Feliz?"
"Não até que você me diga por que você me parou."
A agente fez uma carranca. "Você parece o último anartista soviético que parei em Portlands."
"Isso não é uma resposta."
"Tudo bem. Precisávamos de um toque local para este caso, e você foi o único contato que conseguimos a tempo."
"Então você está sequestrando uma taumaturga sênior da Fundação enquanto ela estava voltando para casa para um caso que você não contará a ela." Sinclair bufou. "Fico feliz em ver a Unidade tão profissional como sempre."
Foi como se ela nem tivesse ouvido o insulto. Ela simplesmente encolheu os ombros e casualmente pegou o bastão de Sinclair, girando-o com toda a seriedade de um major de banda bêbado. Imediatamente, Sinclair teve que lutar contra o desejo de arrancá-lo de suas mãos e acertá-la na cabeça com ele. "Tudo bem, não é meu problema se a Fundação acabou de ter um de seus relicários de Wisconsin saqueados por uma equipe de um homem só. Vou encantar e deixar você ir, basta dizer as palavras."
Um músculo na têmpora de Sinclair se contraiu. "Você poderia simplesmente ter conduzido com isso, Agente."
"E agora eu sei por que Spencer ama tanto fazer isso," ela riu baixinho. "Vamos, vamos deixar você informada."
A agente da TSA-barra-mais nova pessoa menos favorita de Sinclair se introduziu como Robin no caminho para a sala de reuniões improvisada. "Vou deixar meu sobrenome para você descobrir. Eu prefiro não arriscar que você tente me enfeitiçar ainda, sem ofensa."
Sinclair mal conseguiu cuspir as palavras 'nenhuma tomada' entre os dentes cerrados com força suficiente para chiar. Pelo menos Robin fez a decência de garantir que sua bagagem não passasse por nada pior do que um scanner VERITAS para segurança; por mais luxuoso que fosse o seguro da Fundação, ela tinha quase certeza de que não poderia ser reembolsada pelos danos causados a uma fursuit, por mais caro que custasse a comissão.
Depois de pelo menos seis curvas à direita, nenhum das quais levou elas de volta ao ponto de partida, Robin parou em uma porta pintada de branco indistinguível e bateu com força, estilo cachorrinho. "Ari! Pare de brincar com os guardanapos, nosso VIP está aqui."
Uma retorta que soou mais como um grito angustiado soou de dentro da sala, antes de seu ocupante tropeçar para fora, lenços enfiados no bolso do colete e um olhar culpado em seu rosto. Entre a expressão de 'pai desapontado' que Robin estava dando a ele e o penteado juvenil de cachos castanhos, ele parecia cinco anos muito jovem par ser um agente do FBI, muito menos alguém se passando por um funcionário grisalho da TSA.
Assim que ele fez contato visual com Sinclair, entretanto, parecia que a carranca havia caído de seu rosto pro chão. Se não fosse pelo alívio que ela sentiu apenas por sentir algum tipo de positividade, isso teria sido desconcertante. "Eu sou Ari. Prazer em conhecê-la. Você é a alquimista da Fundação, certo?"
Ele ofereceu uma mão para apertar, que Sinclair aceitou relutantemente. "…departamento diferente, mas você está perto o suficiente."
"Ah. Sim, veja, Th- Robin aqui é a feiticeira, eu sou apenas um idiota que a Unidade pegou em Chicago." Ari sorriu e sacudiu a cabeça, afastando a franja dos olhos. "É uma pena que vocês vão ficar presas comigo pelo resto deste caso; vocês duas provavelmente teriam gostado de…"
Os olhares que ele estava recebendo de ambas as magas acabaram com sua sentença. "…De qualquer forma. Nós provavelmente deveríamos entrar no informativo propriamente dito, certo?"
"Boa ideia," disse Robin secamente. "Vamos acabar com isso e por vocês dois no campo, vamos?"
Ela conduziu Sinclair para a sala de reuniões depois de alguns olhares cautelosos para verificar se ninguém estava olhando. Um bule de café com a cara desaprovadora de J. Edgar Hoover e um prato de biscoitos que parecia mais velho do que a própria Sinclair estavam na mesa de mogno vistosa no centro da sala.
"Bebidas?" Ari ofereceu, segurando um copo de papel de aparência empoeirada que ele puxou de algum lugar.
Sinclair torceu o nariz. "Estou bem, obrigada."
Ele encolheu os ombros de uma forma que dizia. 'fique à vontade' e se acomodou em sua cadeira. "Parece que estaremos pulando as gentilezas, então. Palpite aqui, mas eu acho que você sabe menos do que nós sobre a invasão que acabou de acontecer aqui, certo?"
Sinclair balançou a cabeça em confirmação, tamborilando os dedos na mesa. "Minha licença acabou de terminar hoje, eu nem chequei meu e-mail do trabalho."
"Nós sabemos," disse Robin com a boca cheia de noz-pecã envelhecida e choc-chip. A maga da Unidade estava devorando biscoitos em pilhas de três de cada vez; a rapidez com que ela estava comendo eles fez Sinclair suspeitar de que ela tinha um caso do que Monty carinhosamente apelidou de 'larica mágica'; "Darnell manda lembranças pelo treco do 'dakimakura', a propósito."
Ari suspirou, alheio à aparência de Sinclair que parecia que ela acabara de engolir um formigueiro. "Podemos ficar no tópico, por favor?"
Robin resmungou em concordância relutante enquanto Sinclair levava um momento para recuperar o suficiente de sua compostura para falar. "Pergunta: como vocês sabem mais do que eu sobre a cagada da Fundação?"
"Para resumir? Você podia literalmente cheirar a merda a uma milha de distância, Doutora." Ari enfiou a mão em um dos bolsos de seu colete e deslizou uma foto cuidadosamente dobrada para Sinclair. Desdobrando-a revelou um quadro sinistro de interiores humanos que se tornaram exteriores, fragmentos de tendão pingando das paredes do que parecia ser uma espécie de ala de contenção. "Se a filmagem de segurança foi precisa, isso é obra de um homem só. Taxa de cem por cento de casualidades."
Sinclair sentiu seu estômago subindo e apressadamente tentou sufocá-lo. "Eu- Certo. Isso é… um grande eufemismo, mas ainda não entendi o que a Unidade está fazendo nos negócios da Fundação. Podemos cuidar de nossos próprios negócios."
Em resposta, Ari ergueu a mão, que Robin interpretou como sua deixa para jogar pra ele uma sacola de evidências que ela havia tirado da jaqueta. "Engraçado, Doutora — alguns dias atrás, nós fomos chamados à Biblioteca do Passageiro porque alguém conseguiu roubar um gênero inteiro de livros."
Ele colocou a sacola na mesa. Dentro havia uma peça de xadrez despretensiosa: uma rainha negra pelo que parecia. "E agora outra pessoa entra e sai de um sítio da Fundação com o equivalente mágico de uma ogiva nuclear e consegue liquefazer todos os homens no local. Você está começando a ver aonde estou chegando, certo?"
"Você acha que eles são o mesmo cara."
"Mais como torcendo," Robin interrompeu. "Informação completa, nós não temos uma ligação sólida, mas a coincidência parece um pouco improvável. Um raio de tremer a Máscara atingindo duas vezes e tudo mais."
Sinclair afundou em sua cadeira, as sobrancelhas franzidas enquanto ela refletia sobre o que acabara de ouvir. "Tudo bem. Certo, por que não. Você tem esse palpite, mas por que você precisa me trazer para isso?"
Robin e Ari trocaram um olhar, antes de Ari falar novamente. "Minha parceira fez uma pequena pesquisa na Biblioteca. Acontece que o perpetrador que deixou isso—" Ele bateu na peça de xadrez através do plástico da sacola. "—esta não é sua primeira vez. E se nossas fontes estiverem corretas, nós temos um problema que é perfeito para o pessoal no Fosso."
"…Certo." Sinclair balançou a cabeça em dúvida. "Posso perguntar quem?"
"Vocês vieram ao lugar certo," Trintan Bailey sorriu.
Essa época do ano era uma das poucas em que os escritórios da Multi-I pareciam perto de apresentáveis. As várias peças de EPI de feriado público foram guardadas em seus armários, para não saírem por outro mês pelo menos, e pela primeira vez os irmãos Bailey se deram ao trabalho de jogar fora os montes de detritos de papel que enchiam suas mesas.
Tristan era o trigêmeo de plantão quando Sinclair e sua comitiva do FBI entraram no Sítio, e ele cumprimentou os recém-chegados como se fossem quaisquer outros agentes da Fundação. Tecnicamente, os passes que Sinclair arrumou para Robin e Ari significavam que eles eram Skippers a propósitos de papelada, mas ainda não significava que ela estava disposta a deixá-los sair de vista.
"Então, o que trás vocês aqui?" Ele girava preguiçosamente em sua cadeira enquanto sua estação de trabalho era ligada. "Tem uma pessoa desaparecida em outro universo, acidentalmente irritou outra Fundação, queria a resposta para o velho 'é sexo ou—'"
Sinclair tossiu forte em sua mão. "Tristan, nossos… novos amigos… têm alguém que querem rastrear."
"Oh? Bem, nós fazemos um pouco de tudo aqui, e isso não parece muito difícil." O irmão Baileu parou a cadeira com o pé e lançou ao grupo um sorriso vencedor. "Alguma coisa que vocês tenham pra gente se basear?"
Em resposta, Ari largou a sacola na mesa. Os olhos de Tristan se estreitaram enquanto ele examinava a peça de xadrez, antes de olhar para cima para olhar para os dois agentes com leve suspeita. "…Entendo."
"Entende o que?" Sinclair cruzou os braços, claramente não entendendo e não gostando disso.
"A Rainha Negra," disse Tristan. As palavras foram pronunciadas em um tom de voz levemente desagradável que indicava que era um Substantivo Próprio; As expressões de Ari e Robin indicavam que não era para foder com ele.
"Ainda não estou entendendo você."
"Um bando de alguéns em todo o multiverso que são a mesma pessoa." Ele se virou para seu terminal e começou a digitar nele. "Acontece que encontrar um dublê de corpo em um universo alternativo é estranho o suficiente, mas encontrar um para quase todos os universos onde a Fundação existe é simplesmente- é realmente muito estranho, para dizer o mínimo."
Robin balançou a cabeça. "Essa foi a essência que entendi. A Biblioteca tem muitas informações sobre o que ela é, mas nenhuma palavra sobre quem ou onde ela está."
"Acho que podemos resolver esse problema," disse Tristan. "Que tal uma troca? Nós damos a vocês o que sabemos sobre qualquer Rainha neste universo, e se vocês puderem pegá-la com isso, vocês a enviam diretamente para nós."
"Troca de favores," Robin murmurou para si mesma. "Vai demorar um pouco para convencer Cora, mas acho que podemos fazer com que ela permita."
"Então é um acordo."
Dois dias e um vôo expresso de Wisconsin para Oregon depois, Ari se encontrou com seu namorado na fila para a partida de exibição mensal do Dérbi Em Todo Lugar. Os céus perenemente sombrios de Três Portlands haviam sido iluminados por cabos azuis luminescentes amarrados nos prédios próximos, que serviam tanto como iluminação ambiente quanto como um guarda-chuva mágico do tamanho de um acre para a multidão de espectadores reunidos ao redor da arena improvisada.
Um golem de aparência entediada com um semáforo no lugar da cabeça estendeu a mão para Ari assim que eles chegaram na frente da fila de ingressos. "Dinheiro, crédito ou improvisação?"
"Não posso fazer esquetes, desculpe. Origami serve?"
"Hm." O semáforo piscou amarelo no que Ari presumiu ser uma expressão cautelosa. "É melhor que não seja uma garça ou vou deixá-los para os seguranças."
"O que você acha que eu sou, um iniciante?" Ari sorriu e tirou um quadrado de papel vermelho do bolso do terno. Vale aqui, montanha ali, belisque aqui e torça os cantos um no outro assim e como num passe de mágica, uma garça tomou farma na palma de sua mão.
A luz piscou vermelho. "Isso é uma piada?"
"Não, é um cisne."
Bem na hora, a escultura de papel de Ari de repente torceu suas asas e grasnou para o golem, que emitiu um ganido metálico e quase caiu para trás sobre um de seus colegas. Endireitando-se, ele relutantemente entregou a ele um par de ingressos (na verdade, apenas ingressos de cinema velhos reciclados para economizar no papel) e acenou para os dois agentes entrarem na arena propriamente dita.
Uma vez que eles estavam fora do alcance da audição, Landen cutucou Ari levemente com o ombro. "Isso nunca fica velho?"
Ari bufou, o que foi resposta o suficiente. "Esta é uma viagem de negócios, Landen, mantenha o foco."
"Espertinho."
Os dois se dirigiram para as arquibancadas cada vez mais lotadas, um conjunto de assentos de aço gigantes doados pela Faculdade dos Veados que quase definitivamente não foram feitos para tantas pessoas. Em alguns instantes, a maioria da multidão havia se sentado e os agentes da Unidade eram apenas mais dois rostos na multidão.
Quando as luzes diminuíram e a música começou a sacudir o estádio, Landen bateu em um ponto logo abaixo de sua garganta. "Noemi?"
"Estou te ouvindo," respondeu Noemi. Ela estava no outro lado do estádio com um sistema COLLICULUS pesado para tirar fotos kirlian dos participantes; se as informações da Fundação estiverem no ponto, o ladrão se destacaria como uma chama de magnésio em um mar de lâmpadas. "Só esperando a deixa."
A voz do locutor gritou pelo interfone antes que Landen pudesse responder. "Robôs, sacos de carne, todo mundo no meio! A Dérbi Em Todo Lugar tem o orgulho de apresentar a vocês uma partida muito especial de duas equipes muito especiais, exatamente nenhuma das quais seria legal em qualquer outra competição!"
A sobrancelha de Ari franziu enquanto ele examinava o cartaz. "Os Browns de Cleveland, eu entendo, mas pensei que os Eresianos eram legais nas ruas?"
"Esta noite, trazemos para vocês: Os Browns de Cleveland de 1964!" Os aplausos sacudiram as arquibancadas enquanto o time de futebol multiclasse acenava e jogava mercadorias antiquadas para seus aparentes fãs. "E seus desafiadores…"
Os olhos de Landen se arregalaram quando a segunda equipe subiu ao palco. "Você está brincando comigo."
"…em uma remarcação chocante, nós temos a líder da Legião de Dérbi Dinâmico e sua… segunda legião de apoio de si mesma."
Seu cérebro demorou um momento para conectar a mulher- mulheres? seria plural se fossem todas a mesma pessoa?- no rinque com a imagem que ele vira no dossiê.
Quando Alliot Chao — Rainha Negra e nunca-campeã da cena de dérbi de patins de Portlands — entrou no rinque com quatro dublês voando em formação V, a multidão ao redor de Landen pareceu morrer em um rugido maçante.
Ela encontrou os olhos dele por um momento, sorriu e lançou-lhe uma saudação simulada.
E então a arena explodiu.
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