Os Começos do Amor

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Capítulo I.V

Eu estremeci. Isso fora uma combinação de fatores; o ar ao meu redor não estava exatamente frio o suficiente para me fazer estremecer sozinho, embora eu tenha colocado minha jaqueta. Eu era uma ecsritora rápida. Fui a minha vida toda. Mas duas horas ainda eram duas horas.

No meio do ano, seis da tarde ainda estava claro, mas estava escurecendo. Os sapos estavam ficando mais barulhentos, os grilos estavam ansiosos para começar seu chilrear. Desliguei o tablet pela primeira vez desde que comecei e senti uma dor começando a se formar em meus pulsos. Com todo o meu tempo em uma mesa, eu já estava ameaçando ficar com síndrome do túnel do carpo, mas isso realmente era forçar a barra. Posso começar a ter de fazer pausas. Em algum lugar da minha mente, eu sabia que não iria. Bem, exceto por esta.

Tirei meu sanduíche — presunto, alface e maionese com trigo integral — do saco plástico e dei a primeira mordida. Enquanto comia, revi o que acabara de escrever. Tim como um bebê, depois uma criança, depois um jovem adolescente, depois um adolescente mais velho. Situação. Eu sabia por que escrevi isso e por que aproveitei a oportunidade para morder meu sanduíche. Eu não estava com fome, isso era certo.

Fechei os olhos e ouvi ao riacho. Eu não sabia o que me mantinha acordada, mas eu sabia que, apesar da minha exaustão, descansar os olhos não me afetaria. Tickle Creek. Esse é o nome deste riacho. Ele começa ao sul daqui, no meio da floresta em algum lugar, e então segue um longo, longo caminho até se fundir com Deep Creek um pouco a leste de Barton. Depois disso, Deep Creek continua para o oeste, absorvendo em si mesmo North Fork Deep Creek e Novyer Creek antes de dar de cara com o Clackamas River bem ao lado da rodovia, um pouco a oeste de Barton desta vez. Daí, o Clackamas River e a Rodovia de Clackamas são irmão e irmã por alguns quilômetros, mas se separam na parte sul de Happy Valley. O rio se junta com o South Clackamas River Drive, indo para o oeste, até se separarem pouco antes de o rio se perder para o Willametter em Gladstone, logo ao sul de Portland.

Era aí que meu conhecimento terminava, é claro. O Willamette River continuava além dos limites do condado de Clackamas, que recentemente absorvera e consumira minha vida. Quando aprendi tudo isso? Nunca me sentei com a tarefa de memorizar a bacia hidrográfica. Isso nunca fizera parte do meu trabalho. Estou viva há 46 anos, e menos de um quarto disso passei em Oregon, em Boring. Eu costumava conhecer Nova York tão bem quanto. Eu provavelmente ainda conhecia. Mesmo enquanto ouvia o riacho, podia sentir que algo estava faltando. E eu sabia o que era.

Os carros.

Ah, quanto tempo se passara desde que abri a janela do terceiro ou quarto andar de um prédio, coloquei a cabeça para fora, senti o vento nos ombros, o ar no rosto e apenas ouvi aos carros. Eram tantos que você não conseguia sentir os barulhos individuais que eles faziam. Em vez disso, havia um ronco. Nunca encontrei uma palavra para descrever perfeitamente o som de um automóvel passando por você. Um zum? Tipo uma forte rajada de vento? Aquele aumento rápido seguido pela diminuição repentina do volume. Isso, ampliado em mil vezes, misturado ao ar sibilando dos ônibus estacionando, às buzinas dos motoristas irritados e então ao resto dos sons da cidade; música distante, multidões murmurando, uma risada de vez em quando… ah, e os cheiros. E as luzes. E, desgraça, o resto. Tudo. Cada parte.

Portland ficava tão perto, mas eu quase nunca ia para lá. Pode ter se passado até um ano desde que passei lá, senti o esmagamento de uma população ambulante. As torres, o concreto, as vitrines, os shoppings, a gritaria, a correria, os corredores, os motociclistas, as pessoas de terno, pessoas em telefones, pessoas, pessoas, pessoas.

Mas aqui era calmo. Folhas farfalhavam, algo se mexendo em um arbusto próximo. Zumbido de insetos. E, claro, o degelo no riacho.

Terminei de comer meu sanduíche e respirei fundo novamente. Certo, então. Não há mais preparação. Pressionei a mão em minha testa e, em seguida, alisei meu cabelo para trás. Sem mais hesitações.

Comecei a digitar.




Papai se formou no colégio com a turma de 1974 e foi direto para a escola de veterinária. Tim nunca foi o melhor dos alunos, mas era bom o suficiente — ele passava com Cs nas matérias que não se importava muito e Bs e As nas que ele gostava. Ainda não tenho certeza de pôr que ele não deixou San Diego na primeira oportunidade, mas tenho minhas suspeitas. Primeiro, os habitantes locais sempre têm prioridade, então ele foi aceito na Escola de Veterinária da Universidade da Califórnia em oposição aos outros lugares em que se candidatou. Dois, ele vinha evitando arrumar um emprego e seus pais não estavam dispostos a pagar por seu estilo de vida se ele fosse para outro lugar. Três, não tenho certeza se Tim realmente sabia o que queria fazer.

Edna era veterinária, sim, e ele adorava animais, sim, mas não acho que ele estava interessado em fazer cirurgias neles. Acho que se ele fosse um pouco mais introspectivo na época, ele poderia ter encontrado mais paixão por uma licenciatura de ecologia ou zoologia. Isso certamente teria contribuído mais para sua trajetória de vida do que se tornar um veterinário.

Mas buscar um diploma que alguém de sua família já possui dá a você um mentor disposto ao seu alcance. Acho que isso realmente ajudou Tim a se concentrar e se destacar.

A maioria de seus amigos não ficou em San Diego, no entanto. A saúde do avô de Blake estava começando a piorar e sua família havia se mudado de volta para Nova Jersey para ajudá-lo. O primeiro ano de Eva na faculdade começou com ela estudando no exterior, na Grécia, se bem me lembro, e, quando ela voltou, ela se mudou para o interior do estado. Ricardo e Pablo permaneceram na cidade, enquanto Pablo terminava os estudos, mas isso durou apenas dois antes de Ricardo ganhar a tutela legal de Pablo e depois se mudar para Nevada, onde os imóveis eram baratos. Eles mantiveram contato por um tempo depois disso, mas eventualmente as cartas pararam de ser enviadas, e a vida dos irmãos Gutierrez se separou da de Tim.

Assim começou o período solitário da vida de Tim, por mais breve que tenha sido. Em, um círculo social inteiramente novo, Tim poderia rapidamente ter feito amigos se não fosse por seus estudos. Algo mudou dentro dele, e ele realmente queria deixar seus pais orgulhosos, porque ele não era um grande aluno antes e ainda não tinha um emprego. Ele também estava revigorado por finalmentepoder ir para a escola e aprender sobre animais o tempo todo. Biologia, manejo animal, comportamento animal, doenças de animais, tudo que há de bom. Não era de fato a área que ele queria — era mais para lidar com animais de estimação do que animais selvagens — mas, no primeiro ano, apenas o fato de que se tratava de animais foi o suficiente para mantê-lo envolvido. E, assim, Tim começou a estudar e tirar boas notas e, em geral, ir bem, mesmo nas aulas de educação geral que ele desprezava. Mas todo esse trabalho árduo veio às custas de sua vida social, então seria um milagre se ele encontrasse alguém.

Mas ele encontrou.


* * * * *


Em algum momento no início do ano, eles fizeram uma aula de laboratório. Não consigo imaginar que tenha sido outra coisa senão a primeira coisa que vem à sua mente: a dissecação de uma pobre criatura inocente. Talvez um sapo, ou um feto de porco. Algum ataque semelhante3 aos sentidos, no mínimo. E, dessa vez, eles precisavam de um parceiro.

De forma típica, todo mundo que não conhecesse ninguém começou a formar par com aqueles mais próximos a eles, e à esquerda de Tim estava uma garota bonita de aparência latina. O que fez do nome dela, quando se apresentaram, ainda mais desconcertante.

"Audrey Fuchs?"

"Sim," disse ela.

"Esse nome não é, o quê, alemão?"

"O que quê tem?"

Tim deu a ela um sorriso incrédulo. "Não imaginei que você fosse alemã, só isso."

"Ah, o que você estava esperando? Maria Rodriguez?"

O sorriso de Tim cresceu e ele encolheu os ombros. "Talvez algo um pouco mais próximo disso, sim."

A conversa foi interrompida assim que as instruções foram dadas ao laboratório. Era aqui que eles deveriam fazer incisões, aqui estavam os órgãos que precisaram identificar. Pontos bônus para aqueles que descobrirem uma enfermidade, mas sem crédito extra para aqueles com carcaças saudáveis não se sentirem injustiçados. As ferramentas necessárias já estavam em cada estação, então foi três, dois, um, vai.

A turma começou a murmurar e se misturar, pegando bisturis, papel, pinças, lápis e todos os outros materiais necessários para abrir o roedor, ou anfíbio, ou seja, lá o que mais poderia ter sido. Mas antes de qualquer coisa, Tim colocou uma máscara cirúrgica.

Audrey deu uma risadinha. "Onde você arrumou isso?"

"Isso? Minha mãe é veterinária e eu não suporto o cheiro de animais mortos."

"É mesmo é?"

"O que você quer dizer com 'é mesmo é?' Claro que sim, estou usando ela, não estou?"

"É que achei que rapazes tendiam a fingir que nada os afetava."

Tim revirou os olhos. "Rapazes não fingem nada, talvez a gente só seja mais casca-grossa."

mesmo é."

"Sim, eu realmente acho que sim. Agora, você poderia me passar aquele bisturi?"

Audrey passou o bisturi, mas nõ sem lançara Tim um olhar inquisitivo, mais do que levemente crítico. Tim o pegou e o pressionou contra a barriga da fera depois que Audrey pontilhou uma linha com um marcador. Tim ainda não entendera que não precisava ser duro com garotas. Fazer isso o ajudara a terminar o ensino médio, não? Isso e sua recente falta de socialização o deixaram mal preparado para forjar um novo relacionamento de qualquer tipo. Mas, felizmente, ele tinha se encurralado.

"Você não vai abri-lo?"

Tim voltou à realidade e percebeu que estivera parado diante da cena infeliz por quase vinte segundo.s. Ele fez contato visual confuso com Audrey, e então olhou de volta para o animal. Os olhos dele estavam abertos, olhando diretamente para cima, diretamente nos de Tim sempre que ele ia pra cortá-lo. Olhos inocentes. Olhos suplicantes.

Ele pôs o bisturi na mesa e esfregou a mão na testa, empurrando o cabelo para trás. "E se você cuidar disso?'

"Eu?"

"Sim, eu posso fazer as anotações, você pode abri-lo."

"Certeza?"

Ela o desafiou com seu olhar, as sobrancelhas levantadas. Ele percebeu, de repente percebendo que havia comprometido sua posição. Ele calculou. Será que valeria a pena? Manter uma imagem, ou… ou…

A decisão não demorou muito. Ele colocou o cabo do bisturi na mão dela.

"Sim, tenho certeza."

Audrey não disse nada, mas continuou a olhar para ele enquanto ele vasculhava sua mochila em busca de seu caderno que ele ainda não pegara. Assim que ele o colocou sobre a mesa, ele notou a estagnação dela.

"B-bem? Vamos nessa, estou pronto para fazer anotações quando quiser."

Audrey encolheu os ombros e abriu o animal com rapidez. Seu estômago cedeu e, felizmente, poucos vapores saíram devido à sua preservação nos freezers da universidade.

"Isso foi mesmo tão…"

Ela viu que Tim estava com a cabeça virada a 180 graus na direção oposta e ligeiramente para cima em direção ao teto, tentando captar o mínimo possível do que estav acontecendo.

"Isso te enoja tanto?"

Sua cabeça se voltou ligeiramente para ela.

"Se você está tão desconfortável com isso, não sei por que está estudando veterinária."

"Ah, haha," foi tudo o que Tim conseguiu dizer em um curto espaço de tempo.

Audrey riu um pouco. "Você tem que olhar par ele para fazer anotações."

Tim se virou um pouco mais pra ela e para a criatura, mas não o suficiente para fazer contato visual. Audrey esperou pacientemente por toda a sua atenção, mas os segundos se passavam. Pouco antes de ela dizer algo, Tim falou.

"Ele olha para mim."

Sua sobrancelha se franziu. "Ahn?"

"É só que… ele está olhando para mim."

Ela riu um pouco, mas parou quando Tim se virou o suficiente de modo que ela pudesse finalmente ver seus olhos. Ele não ia chorar, não. Mas ele estava estremecendo. Qualquer aborrecimento que ele tinha estava mais ou menos escondido de sua voz, e a máscara cirúrgica cobria as partes mais reveladoras de sua expressão, mas seus olhos diziam tudo. O ângulo de suas sobrancelhas, apontando para o centro do rosto, e o olhar triste, como se suas bochechas estivessem tentando impedi-lo de ver o dano… Audrey se calou por completo.

Tim se virou novamente e tentou se enterrar no caderno.

"Só relate as coisas para mim e farei boas anotações."

Houve uma pausa.

"Tudo bem," disse Audrey, e o resto correu bem.

Uma noite, antes de algum teste estressante, Audrey e Tim estavam estudando no quarto dele. Elliot e Edna tinham saído (uma jogada sorrateira que Tim soube ao encontrar um bilhete no balcão da cozinha na manhã seguinte) para dar aos dois um pouco de privacidade, o que acabou sendo um investimento frutífero. É preciso dizer como uma longa noite de leitura e teste lentamente se transformou em brincadeiras e risadas? Talvez não. Mas eu vou de qualquer maneira.

A seguir está o poema que Audrey leu para Tim naquela noite:

"Cachorro à estrada
bota calçada
neve no seu nariz
correndo pela neve

Brilhantes olhos negros
céus cinzas tempestuosos
pose elegante
ao nascer do sol

Manhã de peludo
confuso amor complicado
Vejo uma rosa
faz ronronar meu coração"

Se isso requer mais explicações, não tenho certeza se você tem salvação. Sinto que os eventos a seguir são uma progressão natural de tal noite.

Eles foram mergulhar juntos, subiram de helicóptero juntos e, num verão, fizeram uma viagem de carro juntos. Eles foram para o norte para ver as florestas de sequoias. Essa foi a primeira vez que Tim saiu ao ar livre, e Audrey me disse que Tim chorou. Realmente chorou. Seu coração o fez mal conseguir sair do carro de tão feliz. Audrey se perguntava se ela algum dia conseguiria fazer o Tim tão feliz. Audrey me disse que o beijo que ela e Tim compartilharam naquela floresta for a forma mais apaixonada de amor que ela já experimentou, e saiu na forma de um abraço apertado e um beijo nos lábios. Tim me disse que foi uma chatice convencê-lo a ir embora e, no caminho de volta para casa, ele sorriu o caminho todo.

Não acho que Tim teria passado do segundo ano se não fosse por Audrey… mas ele não foi muito além disso.


* * * * *


Audrey entrou no carro e encarou Tim. Tim tentava o seu melhor para fingir que não fazia ideia do que se tratava.

"Então," começou Audrey. "Sua mãe me disse que você tinha algo a me contar. Acho que sei o que é."

"Você sbe?" Perguntou Tim.

"Você tá largando a faculdade."

Tim estalou o dedo. "Você me pegou."

"Isso é sério, Tim. O que você está fazendo? Eu sabia que você estava pensando em ir para outra área, mas desistir?"

"É um verdadeiro enigma, não é?"

"Tim."

Tim só deu uma risadinha.

"Certo." Audrey abriu a porta e se virou para sair.

"Ah, Audrey…"

"Não. Se você não vai levar isso a sério, não estou com vontade de ter essa conversa."

"Audrey—"

"Mas ela já tinha fechado a porta e começado a andar., Tim rapidamente ligou o carro e começou a seguir o passo dela na lateral da estrada. Audrey fingiu não notar, mas ficou difícil quando Tim abriu a janela do passageiro e se inclinou para se aproximar.

"Audrey, me desculpe! Não achei que você iria ficar tão mal." Ela apenas continuou andando. "Tem mais! Eu não estou só largando a faculdade. Eu tenho um plano e você é parte dele. Acho que usei o tom errado, mas, isso é algo bom! Juro para você, eu—"

Audrey se virou e começou a andar na outra direção.

"Ah, qual é, isso não é justo!" Tim estacionou o carro em um local não tão legal, deixou-o ligado e saiu para persegui-la. Infelizmente, seu coração começou a ameaçá-lo e ele desacelerou para um trote vigoroso. Demorou muito para alcançá-la.

"Hoo, ho, você anda rápido, sabia disso? Haah, xish. Mas, haa, falando sério, eu, não, estou inventando coisa. Estou trabalhando em algo. Eu tenho, hoo, feito aulas de mergulho."

Isso a fez parar e se virar.

"Aulas de mergulho!?"

"Eu, sim! E—"

Ela deu um tapa nele. "Então você largou a faculdade e está guardando segredo e está gastando seu dinheiro em aulas! Você não está economizando? Você não está investindo no futuro? Você é muito irresponsável, Tim. Isso está começando a te pegar."

"Não, eu…"

Ela se virou novamente e começou a andar mais rápido. Tim teve que se esforçar muito mais para acompanhar.

"Audrey, isso, hhh, isso não é, justo! Eu tô, eu, haa, não consigo, acompanhar? Por favor, vá devagar, eu, hoo, hha, eu tenho, algo, para! Falar!"

Ela não diminuiu o passo.

"Eu, , investindo no meu, meu futuro, você não tá, me dando, tempo, hhhhaaaa, haaa, hoo, pra, exp, uhh, meu Deus, eu…"

"Cristo amado, Tim." Tim, curvado, não percebeu que ela se virara para encará-lo. Sua mão direita estava pressionada contra o peito, tentando monitorar sua frequência cardíaca. "Só, pare. Você vai desmaiar."

"Eu vou, haa," ele sorriu, e tentou erguer os olhos, "Eu vou desmaiar se eu, precisar, heheh, haa, hha."

Audrey franziu a testa. "Por favor, não faça isso."

"Então me escute!"

Audrey se aproximou e o ajudou a se endireitar. Depois de mais do que alguns suspiros profundos, ele começou a se acalmar e recuperar a compostura. "Certo," ele começou, mas então parou novamente. Para dentro e para fora. "Certo."

"Tudo bem, estou ouvindo." O tom de Audrey tinha se acalmado bastante.

"Eu estava… tentando fazer uma surpresa… achei que seria… emocionante, desculpe… não ter te contado antes."

Audrey sentiu que era muito cedo para aceitar o pedido de desculpas, mas também não o impediu.

"Tenho feito aulas de mergulho… não para fazer tours, mas… tirei minha licença, recentemente, e… tenho uma oportunidade boa, com… um dos instrutores de mergulho."

"Do que você está falando?"

Tim sorriu, embora seus olhos ainda estivessem cerrados com o esforço. "Bem, o que estou dizendo é… estou investindo no meu futuro… vou arrumar um emprego com… os instrutores de mergulho! Vou… dar passeios de mergulho…"

"Meu deus. Com seu coração? Você não acha que isso é perigoso?"

Tim riu, o melhor que pôde sem fôlego. "Tive de nadar 200 metros para conseguir… a licença. Não havia limite de tempo. Consegui. Nadei 200 metros. Foi… muito lento, mas consegui. Estou bem para estar na água. E como você viu em nossa viagem… lá pra floresta de sequoias, mesmo quando eu fico muito animado, consigo me monitorar. E… a exposição ao oceano vai ficar cada vez menos emocionante, vou parar de ter palpitações cardíacas e eu já… estive no oceano, tirando minha licença, entende? Já planejei tudo, só tenho que… heheheh, só tenho que lidar com o fato de que vou nadar mais devagar do que todo mundo."

Audrey esfregou as costas dele, embora ainda estivesse sob a influência de uma raiva residual, e tentou processar.

"Então você largou a faculdade. Para dar passeios de mergulho."

"Sim, sim."

"E isso é… por que isso seria uma boa notícia para mim? Vou te ver menos, vamos parar de ter aulas juntos. Não podemos estudar juntos, nós… teremos vidas separadas."

"É aí, veja, é aí que você se engana. Dar passeios de mergulho paga muito bem e, não terei que continuar pagando a faculdade, entende? É um ganho líquido, em fundos. E, eu estava pensando que, com esses fundos, e uh, talvez um pouco de apoio de alguns pais enquanto ainda estamos nos entendendo, achei que poderíamos, humm…"

Tim parou e respirou fundo algumas vezes, desta vez não porque estivesse lutando para colocar algo em seus pulmões.

"Vá em frente, desembucha."

"Bem, achei que seria difícil começar uma família se nenhum de nós dois tivesse renda, sabe?"

Tim olhou para Audrey e não conseguiu decifrar sua expressão. Sua boca não traia nenhuma emoção. Seus olhos estavam alertas, mas… feliz? Nervosa? Chateada? Ilegível. Seu coração começou a bater mais rápido.

"E… estava pensando que poderíamos… humm… conseguir um apartamento juntos e, descobrir o que vamos fazer, daí… e…"

Nada ainda.

"Eu, eu sinto muito, por jogar isso em você, achei, que seria uma boa surpresa, e que tudo simplesmente daria certo, e, você está certa, por estar brava, e eu só—!"

Tim foi interrompido com um abraço apertado e um beijo profundo e apaixonado. Quando Audrey se afastou, os começos de lágrimas cobriam seus olhos.

"Seu idiota! Não estou com raiva!" Ela o puxou para outro beijo. Desta vez, ele estava preparado e retribuiu o beijo. "Eu não estou com raiva, não estou brava. Só estou surpresa. Mas," ela olhou diretamente nos olhos dele. "Não… estou com raiva."

Tim olhou para ela e passou a mão afetuosamente pelo cabelo dela. Ele se aproximou e disse, em uma voz muito ofegante: "Ah, graças a deus. Acho que estava prestes a desmaiar."

Esse estilo de vida estava muito mais próximo do que Tim queria. Finalmente, ele saía regularmente com a vida selvagem local, e seu carisma natural e entusiasmo genuíno atraíram muitos mergulhadores. Ele era, em suma, um guia turístico muito bom. Ele também estava muito feliz pro não ter que fazer mais dissecações na universidade. Depois de alguns meses trabalhando como guia turístico, ele secretamente economizou dinheiro suficiente para comprar um anel.

E logo depois disso, sob os fogos de artifício do 4 de julho, Tim fez de Audrey uma mulher muito feliz.

Audrey e Tim se casaram quando ele tinha 21 anos e ela 22. Eles conseguiram seu próprio apartamento, o mais próximo possível do Balboa Park sem se destruir com o aluguel. Os pais de Audrey ainda a sustentavam financeiramente para que ela pudesse se concentrar na faculdade, mas qualquer coisa que faltava era fornecida pelo Tim. A garota de colegial e o homem trabalhador.

Mas isso não ia durar muito.

Porque foi aí que eu nasci.




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