
"Garrafa de água idiota do caralho. Essa merda não consegue nem segurar água suficiente para durar uma hora." Mirage murmurava para si mesmo enquanto atravessava as areias. Cada passo era como se ele estivesse andando por pudim.
A areia ao redor de Lost Vegas tinha ficado rosa-claro, com pequenas bolhas subindo e estourando a cada 6 metros mais ou menos. Só Deus sabia o que jazia sob as ondas de grãos para causa isso. Mirage estava tomando cuidado para evitá-las de qualquer forma.
Os grasnidos distantes de curvos da cidade podiam ser ouvidos a essa distância. Claro que podiam. A Revelação fez com que os pássaros pudessem gritar seus miseráveis gritos por quilômetros. Se você estivesse perto o suficiente, às vezes isso faria seus ouvidos sangrarem.
Mas um deles estava mais perto. Mirage podia ver a sombra no chão à sua frente enquanto ele se arrastava pela areia. Ele apertou os olhos para tentar ver o que o bicho estava fazendo, olhando para cima.
O pássaro era grande. Obviamente, cerca de 6 metros de envergadura, com um corpo grande e gordo. Seu pescoço estava torcido em um ângulo estranho, com várias dobras na garganta. Ele estava ossudo e carecia de algumas penas.
Não era um corvo.
Mirage acelerou o passo, torcendo para que a coisas não o estivesse seguindo. Infelizmente, a sombra se movia com ele, mantendo o ritmo e circulando. Ele podia ver a sombra começando a aumentar, significando que a coisa estava se aproximando.
Quando a sombra começou a se aproximar, Mirage pegou seu pé-de-cabra. Uma vez que ele sentiu as asas batendo em suas costas, ele começou a esperar. Finalmente, ele sentiu as garras da coisa em suas costas, ele rapidamente balançou o pé-de-cabra atrás dele, acertando o pássaro no crânio com um som doentio. O pássaro rapidamente caiu no chão e começou a ter espasmos.
Mirage levantou seu pé-de-cabra e bateu a ponta na cabeça da coisa, esmagando seu crânio e espalhando seu cérebro na areia. O interior do crânio estava coberto de larvas, cada uma de uma cor verde néon com pontas vermelhas. Elas soltaram gritos estridentes ao serem expostas ao ar, rapidamente se enterrando no que restava do cérebro.
Mirage franziu levemente a testa e se afastou, virando as costas para o animal morto e continuando sua caminhada. Ao dar alguns passos, ele ouviu a areia atrás dele borbulhar e rosnar, fazendo-o virar a cabeça e olhar.
O chão ao redor do pássaro tremeu e cuspiu areia, jatos de grãos voando no ar antes de serem reabsorvidos no mar de areia. O chão começou a se abrir, a areia se derramou em um grande buraco no chão, deixando cair o cadáver no pássaro no buraco.
Tão rápido quanto ele se abriu, ele se fechou com um alto baque. Uma pequena nuvem vermelha de fumaça subia pela areia em direção ao céu, significando que tinha acabado.
Mirage sacudiu a cabeça, um tanto perturbado pela visão que acabara de ocorrer diante de seu rosto. Ele se voltou para a direção da Via e voltou a andar novamente.
Enquanto caminhava, a secura em sua garganta ficava cada vez pior. Restava pouca água em sua garrafa, e o sol não iria se pôr por mais algumas horas. Ele suspirou levemente e arrastou seu pé-de-cabra pela areia para limpar a sujeira sangrenta do pássaro da ferramenta.
Enquanto ele arrastava seu pé-de-cabra pela areia, ele de repente se prendeu em algo e, assim, foi arrancado de sua mão em uma velocidade rápida, fazendo Mirage soltar um grunhido. Ele virou a cabeça e olhou para o pé-de-cabra parado de pé na areia.
"Que porra que você tá fazendo?" Mirage perguntou ao pé-de-cabra. O pé-de-cabra não respondeu. Ele se aproximou dele e começou a puxá-lo. Ele não se mexia.
Ele franziu a testa e puxou com mais força, rangendo os dentes e praguejando. Quando ele puxou o mais forte que pôde, o pé-de-cabra cedeu, só que algo mais foi levantado com ele.
O pé-de-cabra tinha agarrado na camisa de uma pessoa. E com essa camisa, veio uma pilha de ossos quebrados. Um telefone Nokia caiu da camisa e em cima da pilha de ossos, fazendo Mirage franzir a testa. Fazia bastante tempo que ele não viu um desses. Ele se abaixou e pegou o telefone, limpando pedaços de osso e pó de osso do aparelho.

Ele apertou o botão de ligar e observou a tela acender. Nem mesmo um arranhão ou rachadura na coisa. Essas coisas realmente conseguiam sobreviver de tudo. Ele olhou pelo telefone para ver quantos anos tinha. Parecia ser o relançamento, visto que tinha uma sensação e uma tela gráfica diferentes do original. Ele estava no aplicativo do bloco de notas quando foi ligado.
'O pessoal da Parawatch disse que esse lugar tinha algum tipo de anomalia, mas tudo o que vejo é um lago e uma palmeira, ou vasculhar o lago e ver se encontro algo de interessante,' Dizia o bloco de notas. Não havia data ou hora, portanto, Mirage não conseguia ver quando isso acontecera.
Palmeira e uma lagoa. Por que isso soava familiar?
De repente, tudo se encaixou. Sua arte. Esta era sua arte. A miragem. Ele rapidamente olhou de um lado para o outro para ver onde estava. A que distância esse pobre otário tinha pousado?
Finalmente, ele viu. Um lago com vários tufos de grama verde frondosos saindo dele, com uma grande palmeira saindo da areia ao lado. Ele estava a cerca de 24 metros de distância, o que significava que ele estava na zona segura. Se ele tivesse andando mais uns 2 metros, ele teria virado pó. Ou, pelo menos, seus ossos teriam.
Mirage olhou para o esqueleto. Ele podia ver as rachaduras nos ossos e onde ele fora atingido. O impacto obviamente foi fatal assim que o esqueleto foi atingido. Não havia chance de ajudar quem quer que fosse, mesmo que alguém estivesse por perto.
Ele cavou na areia até sentir um par de jeans, puxando-os para fora. Eles tinham manchas de sangue neles, com o osso do fêmur na perna direita fazendo um buraco na perna da calça. Ele procurou uma carteira.
No bolso esquerdo havia um smartphone quebrado e uma carteira. Ele largou a calça jeans e abriu o recipiente de couro dobrável, vendo a foto de… algum garoto. Ele não devia ter mais de 17 anos. Ele tinha um sorriso brilhante em seu rosto pálido, com cabelo loiro dourado bagunçado e olhos azuis brilhantes. Ele tinha sardas pontilhando seu rosto com um espaço entre os dois dentes da frente.
A foto estava na carteira de motorista, que Mirage puxou para ver em sua totalidade. A data de nascimento era 19/07/2096. O nome era Michael Whitman. Doador de órgãos.
Mirage voltou sua atenção para a miragem. Sua arte tinha matado alguém. Ele foi o responsável por isso. Ele sacudiu a cabeça. Não. Este era apenas um garoto idiota que foi morto por sua arte. A culpa era do garoto. Certo. Certo? Não. Sim. Tinha que ser.
Ele olhou para a miragem por um momento, admirado com seu talento. Porra, ele era bom. Ele não voltou sua atenção para o esqueleto. Esse garoto tinha visto a miragem e foi enganado por ela. Ele se sentia orgulhoso de si mesmo… mas havia algo mais lá. Uma emoção que ele não sentia há muito, muito tempo. Ele teria que desligar a arte.
Por quê? Por que ele estava pensando em desligá-la? Ela obviamente funcionava. Ela atraiu pessoas e elas foram enganadas por ela. Não era culpa dele que as pessoas eram enganadas por ela. Apesar disso, ele se viu caindo de bruços e rastejando em direção ao monólito no centro.
Enquanto rastejava, ele sentiu o vento nas costas da velocidade da miragem acima dele. Ele tentou se lembrar de quantos braços a coisa tinha. 3? 5? 4. Eram 4. Eles giravam a uma forte velocidade, uma que ele não conseguia se lembrar. Os braços eram tão rápidos que quebrariam os ossos de qualquer coisa que tocassem, mas não rápidos o suficiente para se desalojarem do monólito.
Ele logo se aproximou do monólito, a miragem começando a desaparecer, e ele conseguia vero que a miragem realmente era. Ele conseguia ver o bloco de pedra marrom que servia de base e, se ele se concentrasse o suficiente, conseguia ver os prismas que compunham a miragem enquanto giravam rapidamente. Ele estendeu a mão e tocou o monólito marrom, rangendo os dentes com o calor que começou a irradiar em sua mão.
O calor começou a aumentar, os primas começaram a desacelerar, suas cores desbotando suavemente à medida que a velocidade diminuía. Quando a velocidade finalmente parou, os primas caíram no chão com um alto baque, se enterrando pela metade na areia rosa.
Mirage soltou um suspiro de alívio e se levantou, enfiando a mão na areia por um momento para deixá-la esfriar. Ele observou a areia borbulhar antes de puxar a mão. Ele limpou os grãos de areia de sua mão usando a capa.
Ele então continuou sua caminhada em direção à cidade de Adelanto.

A cidade há muito fora coberta pela vegetação, palmeiras altas e carvalhos imponentes, bétulas floridas e pinheiros eriçados. Videiras penduradas ao longo dos exteriores das árvores, entrelaçadas com a casca, com arbustos e mudas ao longo das partes inferiores. Os antigos edifícios mal eram visíveis pela vida vegetal, mas estava claro que ainda estavam lá. A vista era de tirar o fôlego.
Talvez não fosse ser tão ruim. A selva era muito melhor do que os infinitos grãos de areia que cobriam cada centímetro do deserto. Talvez ele finalmente conseguiria alguma sombra e um pouco de água, considerando a precipitação das plantas. É assim que isso se chama, né? Mirage deu de ombros, sem saber, nem se importando. Ele só queria a vegetação.
Assim que Mirage chegou na rua que conectava na cidade, ele foi forçado a ficar de joelhos, e o metal frio de uma arma de fogo foi colocado contra sua cabeça. Seu coração parou.