Um Bilhão de Cores Brilhantes e um Espírito Menos que Humano

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Num futuro distante, enterrado sob a terra e a sujeira e as plantas e as árvores e a dor de uma terra mais próxima do normal do que sua alma gostaria, você acorda em temperaturas baixíssimas. Seu corpo respira fundo, mas encontra muito pouco ar. Seu cérebro tenta dizer aos seus braços para se moverem, mas você só encontra agonia muscular abrasadora e uma lenta percepção de que você está contida. No brilho semi-reflexivo do vidro à sua frente, você vê olhos olhando fixamente. Você está apenas começando a se perguntar se eles são seus ou algo mais quando eles se movem para baixo e, antes que você perceba, seus braços e pernas estão soltos e você está caindo para braços abertos.

"Estável?"

"Veremos. Leve-a para o laboratório comigo."

A conversa se obscura indiscriminadamente enquanto você faz tudo quanto é tentativa consciente de acessar suas memórias - se é que tem alguma - mas você é rapidamente distraída pela dor em suas pernas. As duas pessoas de jaleco estão tentando ter segurar, mas você deve ser muito pesada para elas, e você arrasta seus pés rígidos, sem vida para perto dos pés energéticos e vivos deles enquanto vocês três andam por um corredor cegamente branco.

O que é 'branco?' ecoa em sua mente enquanto você tenta ficar de pé e andar. O que é 'peso?'

"Importante?"

"Não estaria aqui se não fosse. Todos eles são alguém importante." A pessoa com as mãos mais quentes te solta para usar um cartão de acesso. Você imediatamente se sente ansiosa para que ela toque em você novamente. Era o único ponto de calor que você já sentiu.

"Não entre em pânico. Shh. Está tudo bem," o outro diz.

Por que ele disse isto? Você está chateada? Você está chorando? Seria isto o fluído saindo de seus olhos? Se este fluído é chorar, então o que é o fluído saindo de seus ouvidos, ou de suas unhas, ou de entre suas pernas, ou- sangrar. Sim, você está sangrando. Você se lembra do contexto e definição de sangrar enquanto te levam para a sala de paredes brancas, mas enquanto eles te levam e te colocam na mesa de exames, você começa a se lembrar de vários outros subconjuntos de sangrar. Seriam eles subconjuntos? Seria este o mundo? Não, eles são… associações. Você tem memórias associadas com sangrar.

Os médicos conversam entre si em um jargão que sua mente ainda não aprendeu a processar enquanto você está deitada de costas, encarando o teto. Este tom de branco - é um de milhões, não é? Tem outras cores que você se lembra. Sim. A última cor que você viu era azul, nos olhos do doutor mais quente. Azul é uma cor fria, mas as mãos do doutor eram quentes. Isso significa que a pessoa é quente ou fria? Seria assim que diferenciação deveria funcionar?

"O que você tem?" uma voz não familiar pergunta. Esta voz é mais suave, e a pessoa tem cabelos mais compridos. Você não pode olhar para eles por muito tempo, porque seu pescoço não aguenta e sua cabeça logo cai de volta ao estofamento da mesa.

"Pouco dano. Provavelmente um dos mais saudáveis." Dedos sondam você, e você percebe que está contida novamente. Você quer perguntar a eles o porque, mas você não acha que suas cordas vocais funcionam ainda. Você engole uma golada de saliva extra e bolhas de ar, você não consegue sentir ela descendo sua garganta. De fato, você pode senti-lo sair da sua garganta. Você tenta pedir por ajuda, mas o pensamento vem à tona como um movimento de pânico contra suas algemas. O doutor de mãos quentes olha para você com preocupação em seus olhos frios azuis. "O que está errado? Consegue respirar? Consegue falar?"

Você balança a cabeça de um lado para o outro e engasga novamente. Algo está na sua garganta, e é molhado. Você abre sua boca, agora percebendo que seu braço seria totalmente capaz de se mover para o seu rosto se eles permitissem que ele o fizesse. O médico se inclina e segura a sua boca para que fique aberta. "Fique calma. Eu vou tirar pra você. Você vai ficar bem." Você engasga quando os dedos puxam algo viscoso do fundo de sua garganta. Esse algo pinga no queixo e no pescoço quando eles o jogam em uma panela ao lado da mesa.

Um dos doutores se vira, abaixando sua prancheta. "Mas o que-"

"Fluído Preservativo. Nunca vi isto acontecer antes. Anote isso no caderno."

"F-f- o que?" você gagueja. Você imediatamente começa a tossir de novo. Falar parece uma centena de agulhas geladas espetando o interior de sua garganta e boca. Você engole. "V-você tem algo? Posso beber água?"

"Sim." Eles todos parecem ocupados com suas notas e leituras. Você mexe a cabeça, tentando olhar a sala. Há um texto ao lado da porta e um símbolo que você reconhece. Pontudo e duro, com três lanças. Olhá-lo fere sua mente, mas também traz cor e clareza ao ambiente. "O-o que é aquilo? Onde estou?" Suas palavras tremem assim como seus membros, e você se distrai tentando entender o porque de você estar tão fria. A temperatura do ar? "Eu não estou usando roupas," você diz em voz alta. "O-onde estão as minhas roupas-"

"Vindo. Apenas se acalme. Você saiu da estase fazem apenas seis minutos. Aclimatização total pode demorar até quarenta e oito horas. Você não precisa entrar em pânico."

"Por-porque estou amarrada-"

"Espasmos musculares. Dê trinta minutos. Caso contrário você pode chutar um de nós no rosto."

"Oh, oh, me- desculpe-" Você é interrompida por outro ataque de tosse, e decide que provavelmente se sentirá menos em pânico se fechar os olhos e deixá-los atendê-la.

"Certo. Quem é esta? Uma atrasada?" alguém pela porta disse depois de uma leve batida na porta.

"Oh, olá, Diretor. Sim, dois dias atrasada. Não acordava da preservação."

"Mesmo depois de drenar o fluído?"

"Correto. E na verdade tinha um pouco de fluído coagulado subindo seu esôfago. Está a salvo agora, mas estamos felizes que a pegamos a tempo."

"Hmm. Deve ter sido um efeito de estase estendida. Quem é ela?"

Você ouve papeis. "Deixe me ver," o doutor quente disse. "Uh… Teresa Ann Lockwood, Pesquisadora de Campo Nível 3, Sítio-81. Biologista."

Seus olhos se abrem. "Por favor me diga o porque de eu estar sangrando," você interpõe em sua voz trêmula e dois doutores se aproximam.

"Onde você sente o sangramento?" um diz.

"Na-nas minhas gengivas, minha u-unhas, minhas- entre minhas pernas- eu estou no meu período? Por favor me ajude-"

"West, você precisa nos ajudar com isso," aquele de jaleco azul-petróleo com cachos escuros de cabelos diz por cima do ombro. "Sangramento vaginal e retal, isso não é normal-"

"Ela não deve estar menstruando, não. Deve ser sangramento interno. Teresa, você sente dor abdominal?"

Você mexe a cabeça para dizer sim. Ser chamada assim faz seus olhos e seus ouvidos doerem. Você tem memórias de outras pessoas te chamando por este nome, mas elas parecem sonhos e fragmentadas, como você estivesse olhando para elas através de um vitral. Elas parecem falsas.

Você sente West empurrar um espéculo em você. Você estremece. Você ainda não tem muito do seu senso de toque, mas sente algo grande preso profundamente em você, pressionando dolorosamente, quase como se estivesse em seu estômago. Você treme e agarra as bordas da mesa.

"Merda, aquilo é mais daquele treco?" um deles murmura.

"Certamente é," West disse, puxando uma longa, e pesada linha de algo de você. "Sim, isso é ruim." Ele joga uma massa coagulada, azul, e viscosa em uma das panelas de aço inoxidável. "Veja os olhos dela e as narinas."

Pelos próximos minutos, você recua os mais profundo quanto é possível para dentro de sua mente enquanto mais mãos do que você pode contar tiram massa após massa de fluído preservativo de cada orifício concebível que seu corpo tem a oferecer. Depois que eles acabam, eles removem suas restrições e levam para uma sala, onde pelo menos três deles perguntam pelo menos cinco vezes individuais se você se sente segura ficando no chuveiro sozinha. Você insiste que sim, mesmo que apenas para faze-los deixa-la sozinha. Você fica de pé em pernas trêmulas e esfrega sua pele até ela ficar vermelha, substituindo o azul artificial do fluído preservativo que antes cobria seus poros por tanto tempo e o assiste correndo em riachos em direção ao dreno central. Quando você termina, você se enxuga e fica deitada sob a água até os médicos entrarem e te arrastarem para fora.

"Você realmente acha isso?"

"Mas faz sentido! O que mais poderia ter feito isso?"

"Qual é, o lagarto? Fez isso? Você tem que estar de brincadeira, Ketson. Eu acho que você está superestimando ele.

"Superestimando? Sobre o fim do mundo? Ha! Eu já… Eu já… vi melhores piadas!"

Seus colegas riem, porém com um atraso desconfortante de dois segundos. Você engole e encara seu purê de batatas pálido. Tem muitas coisas sobre este lugar e estas pessoas que te incomodam, mas os padrões de fala reestruturados de seus colegas de trabalho nunca param de enviar arrepios em sua espinha. O humor antinatural, a sintaxe para trás, a falta de contexto para as afirmações que vem do nada, tudo. Tudo parece tão forçado. Não apenas forçado, você lembra a si mesma; artificial. Você estremece e muda o foco dos seus olhos para o outro lado da cafeteria.

Várias horas depois, em seus aposentos, você encara para as suas próximas instruções. Uma cidade não estruturada socialmente nos arredores do parque, construída com madeira cortada, caça a veados e determinação de uma família de dobradores da realidade. Suas árvores geneticamente - ou potencialmente anomalamente, como estava anotado na documentação - modificadas estão vazando algum tipo de substância combustível não-identificada tanto nos sistemas de aquíferos como potencialmente nos de gêiseres e suprimento de água do Sítio se você não os parar a tempo. E por alguma razão eles querem que uma bióloga faça isto. Imagine só.

Você tira esses pensamentos da sua cabeça e começa a preparar sua mochila de campo.


Tem uma mira laser no seu peito, ou pelo menos parece. Você suspira e olha para as árvores. "Por favor não atire," você grita, segurando seu cartão de identificação e documentação acima da sua cabeça conforme analisa as árvores procurando pelo sniper. "Eu não estou aqui para causar problemas. Eu estou aqui seguindo os interesses da-"

"Eu sei dar onde você é, estranha! Eu reconheço esse sotarque da Fundação de quarquer lurgar! Você vai se virar e tirar esta sua bunda da minha propriedade e talvez nós não iremos descarregar uma 308 nessa cabeça de bunda sua, mmm? Varza!"

Você morde seus lábios, finalmente localizando o atirador. É uma pessoa mais velha em roupas de camuflagem com cabelo facial despenteado e um rifle bronzeado, sentado em um poleiro de caça à sua esquerda. Bem o que você esperava. "Por favor, nós precisamos falar. Nós não vamos levar ninguém, ou nada, nós só precisamos falar sobre suas árvores."

"Suar árvores? Digo- Digo- mias árvores? Por que você está atrás de mias árvores, skipper? Tem narda de errardo com elas-"

"Elas estão vazando uma substância tóxica-" Você para e gentilmente sacode sua documentação, tentando indicar que você precisa ler dela sem tomar um tiro por mover seu braço. Você gentilmente a coloca em frente ao seu rosto e limpa sua garganta. "As árvores- essas daqui, com as… er…gavinhas? Elas são um problema, primeiro de tudo, elas demonstram comportamento senciente e parecem gostar de pegar pessoas. Nós perdemos oito agentes no mês passado devido a estrangulamento-"

"Naum ér mia curpa se cês tudo estão estrangulando uns aos outros!"

"…N-não nós, senhor, as árvores-"

"Oh, oh! Ardivinha o que! Naum ér meu probrema também! Agora shoo, skip!"

"Você me deixaria finalizar? Elas vão envenenar os aquíferos! Isso será prejudicial para a sua cidade também!"

"Cai fora!"

"Por favor, se você cooperar, nós não precisaremos enviar mais ninguém-"

"AHA! Air está a porra da ameaça! Eu sarbia que estava vindo! Tudo que cês fazem é mentir, mentir, mentir, e entãn as ameaças! Sempre!

Você pula assim que um disparo atinge a terra ao lado do seu pé. "Olha, posso pelo menos levar uma amostra?"

"Se ocê conseguir pegar em trintar segundo!"

Você suspira e corre para uma das árvores, escolhendo só arrancar uma das gavinhas e extrair a substância depois. Ela se contorce em sua mão e então envolve seu pulso. Você se estremece e dá uma última olhada no homem, que está mirando seu rifle na sua direção novamente.

"Sim! Isso mermo! Cai fora dar qui, skipper! Whoooo-hoooo-"

A voz dele lentamente desaparece conforme você anda apressadamente na direção de onde você veio.


"Como se saiu?"

"Sem sucesso. O guarda da cidade sabia o que eu queria fazer e meteu bala."

"Sinto muito em ouvir isto. Nós enviaremos mais agentes na próxima vez."

Você balança a cabeça solenemente e espera seu supervisor te dar a próxima tarefa, mas nenhum papel aparece. Você olha para ele com expectativa.

Seu supervisor ri. "A Fundação aprecia o quão ansiosa você está para servi-la, mas não tenho outra tarefa no momento. Retorne para seus aposentos até você ser chamada."

"…Oh. Ok." Você dá um "obrigada" desanimado e lentamente sai pela porta, tentando não mostrar o quanto você sente falta do lado de fora já. Você para. "Uh… Diretor?"

"Sim?"

Você respira profundamente. "Hum… me perdoe se isto for… muito pessoal, mas…"

Você esperava uma objeção, mas ao invés disto recebe um olhar expectante. Você continua. "Mas, uh… você estava lá no dia em que eu… hum…" Você para. "O que eu quero dizer é, eu deveria me lembrar daquilo? Daquele dia?"

"Todos os funcionários podem se voluntariar para amnesticização da primeira semana após a remoção da estase para estabilidade emocional."

"Eu… uh… onde está, hum, Doutor West?"

O Diretor levanta uma sobrancelha. "Ele está fazendo o mesmo trabalho que sempre fez, se é o que você pergunta. Eu não vou para-la de falar com ele, mas não teria motivo para isso. Por que você o procura?"

Você encara o chão até sua visão se borrar, e você continuar olhando por um tempo depois disto. "Eu suponho que eu não tenha uma razão válida."

"Muito bem. Se você não tem mais perguntas, eu peço que você saía."

"Você balança a cabeça, murmura outro "obrigada," e sai. Você não olha para cima enquanto você anda as centenas e centenas de metros de corredores de paredes brancas e elevadores de paredes cinzas de volta para os seus aposentos. É apenas quando você está prestes a colocar seu cartão de acesso na fechadura da porta que você percebe que não é ali que você quer ficar. Você passa por corredor após corredor por horas - dias, como você se sentia - até que você encontrou o que procurava.


"Doutor West."

Ele pula, mão batendo em uma xícara de café na mesa do laboratório. "Desculpe, aparentemente estou um pouco no limite hoje," ele suspira. "Hum, sim, com o que posso lhe ajudar?"

Você se prolonga pela porta, incerta se ele quer que você entre ou não. "Eu, hum… não tenho certeza se você se lembra de mim." Você acha que iria finalizar sua sentença, mas você fica lá com sua boca aberta. "Eu era, uh, a bloomer atrasada. Sabe."

Ele olha fixadamente.

"Aquela com pedaços daquele treco azul seco na minha va-"

"Oh, oh! Claro, sim. Desculpe. Eu vejo tantos sujeitos que eles se misturam depois de um tempo. De qualquer forma, er, você precisa de amnesticização? Normalmente isto é feito mais cedo, parando para pensar, você não deveria- se lembrar-"

"Nunca me ofereceram isto de início, se é o que você quer dizer."

"Bem, isto ainda pode ser feito. Por favor, por favor, entre, sente-se-"

"Eu, uh, eu tenho uma reunião em 30 minutos," você mente, segurando a moldura da porta até suas juntas ficarem brancas. "Olhe, você sabe porque eu estava dois dias atrasada?"

Seu rosto fica pálido, mãos cruzadas na frente dele. "Eu temo que não."

"Você parece que está mentindo." As palavras escapam de sua boca antes que você tenha tempo para pensar, e você xinga a si mesma. "Digo-" Você coloca sua cabeça em sua mão. "Na verdade, esquece. Me desculpe por te incomodar. Tenha uma boa noite, doutor." Você se vira mais lentamente do que queria e o pega olhando para você com uma expressão de preocupação. Conforme você anda, você ouve ele te chamando de novo, mas você não olha para trás.

"Certo. Obrigada."

"Disponha."

Você pega o frasco do pesquisador e faz moção para que os dois guardas entrem. Entre seus braços está uma classe-D surpreendentemente complacente; claro, você tem que se lembrar de que a Fundação fixou o aspecto de "surpreendentemente" algumas décadas atrás treinando todos eles a serem submissivos logo de início, mas este não é o tipo de coisa que você gosta de pensar sobre. Afinal, você não é nada além das memórias falsamente implantadas de-

"Lockwood? Você precisa de assistência?"

Você está olhando para a porta do armário, você percebe. Você se toca e vira para o guarda que estava falando. "Oh. Não. Você pode deixá-la aqui comigo, está tudo bem."

"Certo. Nós estaremos na sala adjacente se você precisar de nós."

"Obrigada. Não vai demorar muito."

"Suba na mesa, por favor," você diz à classe-D. "Isso não vai demorar muito. É apenas uma injeção." Você coloca as luvas e começa a encher a seringa.

Você se vira e começa a andar para a mesa. "Certo, me mostre o seu braço-"

Você congela, e a seringa imediatamente cai no chão. Olhando para você da mesa está uma imagem de si mesma.

Você pisca várias vezes e dá alguns passos para trás. Você está entre pedir à classe-D para que se levante e tentar cobrir a sua reação o quanto for possível para que possa chamar os guardas com segurança, mas vocês já fizeram contato visual.

"Tem algo de errado?" ela pergunta.

"Você- uh-"

"Você está bem?"

Puta merda, por que ela se importa, você pensa, mas pânico rapidamente substitui sua frustração.

"…Estou fazendo algo de errado?" ela diz usando sua voz.

Você gagueja. "N-não, só- deus, pare de falar," você suspira enquanto você corre para a porta. Você já se esqueceu dos nomes dos dois guardas. Eles todos parecem e agem da mesma forma de qualquer jeito. "Uh- ajudem," você diz em um tom que você interpreta como lamentável. Eles imediatamente vem correndo. Você levanta suas mãos e para eles fora da porta, falando em um sussurro em pânico. "Vocês não viram o rosto dela? Vocês olharam o seu- ela-"

"A classe-D?" o mais volumoso deles disse. "O que tem? Ela fez algo?"

"Ela sou eu!"

"O que?"

"Espere, o que ela está falando sobre-"

"Ela não é você. Você deve estar sob a influência de algo. Vamos chamar a equipe apropriada-"

"Calado!" você grita. Ele arregala os olhos e faz uma cara. "Porra- olhe para ela!" Você puxa ele pelo braço para a porta. "Olhe para a gente," você diz à classe-D. Ela olha para cima. "Olhe para ela!" você diz ao guarda, chiando. Você gesticula para si mesma. "Olhe para mim! Ela é mais magra do que eu e ela é careca, mas olhe para a porra dos nossos rostos!" Sua voz falha. "Eles são o mesmo!" Você coloca sua cabeça em suas mãos e se apoia na porta, mas a imagem de seu nariz afiado e olhos cinzentos tristes permanece em sua mente como se estivesse marcada lá. Você cai para seus joelhos contra a parede e encara o piso através de suas lágrimas enquanto os dois guardas levam seu clone pelo corredor para fora de vista.

"É um golpe de sorte. Nada mais"

"Você está me dizendo que isto é a porra de um glitch que uma de- mim- deste- corpo acabou nos ranques de classe-D? Você está falando sério?"

"Permaneça calma. Isso foi um erro. Você pode ser amnesticizada."

"Isto ainda não corrige isso!" você diz, de pé e empurrando sua cadeira de debaixo de você. Você vê o Diretor gesticulando para que os dois guardas entrem. Você não se importa. "Você não vê o quão fodido é isto? Não? Você realmente olha para aquilo e acha que não é perturbador?"

"Diretor."

Você vira o máximo que o aperto dos guardas nos seus braços permite. É Dr. West. Você diz o nome dele sem pensar, torcendo para que isso seja o suficiente para faze-lo falar com você. Ele te ignora e continua em direção á mesa. "Diretor," ele repete, largando uma pasta de papel pardo com uma leve batida, "Eu que sou o culpado por isso."

O Diretor olha para ele. "Bem? Fale, então."

West se mexe nervosamente e limpa sua garganta. "O sujeito - Teresa Lockwood. Foi removido da estase dois dias depois de seu lote."

"E por que isto é relevante?"

West respira profundamente e olha para seus pés antes de olhar de volta para o Diretor. "Porque seu arquivo não foi olhado com cuidado na segunda rodada de pesquisa de funcionários. A Teresa Lockwood original foi rebaixada de sua posição como uma Pesquisadora de Campo Nível 3 para o ranque de Classe D em 30 de Setembro, 2021."

Sua boca fica aberta enquanto seu pulso acelera no peito e na garganta.

"Por tanto, Teresa Lockwood não deveria estar nos arquivos de funcionários para operativos de campo. Ela deveria estar nos arquivos dos ranques de classe-D. O fato de que seus arquivos apareceram em ambas as localidades e por tanto carregadas nas cobaias de ambos os lotes de funcionários foi um-"

"Um golpe de sorte," o Diretor termina com um tom perturbadoramente indiferente enquanto começa a ler a pasta de papel pardo. "Hmm. E me diga, West, por que a instância de operativo de campo de Teresa Lockwood não foi imediatamente eliminada quando esta informação foi descoberta?"

West engole. "Foi culpa minha, senhor, e eu aceitarei rebaixamento ou quaisquer outras formas de punição como meu trabalho para a Fundação," ele recita monotonamente. "Eu agi por compaixão e emoção ao invés de lógica e política estabelecida."

"E esta situação?" O Diretor gesticula para você com sua caneta, olhando sobre seus óculos para você.

"Elas duas se encontrarem foi uma coincidência. Um golpe de sorte."

Você sente lágrimas brotando nos seus olhos novamente.

"Entendo. Bem, erros acontecem nesta organização," ele diz. Ele encara sua mesa por vários segundos conforme a passagem do tempo pressiona sua cabeça e ombros e coração com o mesmo peso das milhas de terra acima de você. "Ou elimine ou amnesticize por completo Lockwood e remova seus arquivos do banco de dados para que isto não ocorra de novo por acidente em ciclos de produção futuros. Já sobre você, West, você pode se sentar comigo. Nós temos que conversar."

Os guardas começam a te levar em direção à porta. Você tenta resistir a eles e olha para West. "West," você diz com uma voz surpreendentemente estável apesar de seus soluços de pânico.

"O que?" ele diz, seu lábio superior tremendo enquanto ele se vira em sua cadeira.

Você abre sua boca, mas a fecha de novo.

"Vamos lá," um dos guardas diz.

"West," você repete. "Seus olhos olhando para os meus foram a primeira coisa que vi neste mundo."

Seus olhos se arregalam, lentamente. Enquanto os guardas colocam a bolsa preta na sua cabeça e começam a te levar, o rosto de West é a última imagem persistente em sua mente.

E enquanto eles te levam por corredor após corredor, andando em silêncio, você percebe que você poderia ser qualquer um. Você não é nada além de um arquivo em um computador colocado em um humano vázio; uma forma falsa tomando o nome de alguém há muito morta.

E conforme você é colocada sobre uma mesa fria não diferente daquela sobre a qual você estava segundos após nascer, meros meses atrás, seu último pensamento consciente conforme a agulha penetra sua veia é do céu azul milhas acima de você e a perspectiva de um mundo sem a Fundação.

E quando você fecha os olhos e a vida e as memórias drenam do seu corpo, este é o abraço mais quente que sua alma já sentiu.

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