Os Poderes Que Latem

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Sarah Hughes tem sido a oficial comandante e a mãe de facto da Força-Tarefa Móvel Tau-5 "Samsara" há cinco anos, mas cada visita a seus aposentos ainda aumentava sua pressão arterial. Parte disso era seu status como crianças grandes e sociopatas cibernéticos. Parte disso era a Fundação mantendo eles em desenvolvimento parado e longe de toda a cultura humana feita depois de 1998.

E parte disso era o pornô.

Pelo menos eles tinham bom gosto. Os quatro estavam amontoados ao redor da cama de Nanku, examinando uma Playboy desdobrável em suas mãos. Eles ergueram os olhos quando Sarah entrou na sala.

"Capitã Hughes," disse Irantu.

"Irantu," disse Hughes. "O que… o que cê tá lendo aí?"

Até eles podiam perceber seu tom casual tenso.

"Playboy!" disse Nanku. "É muito… sensual!"

"Entendo," disse Hughes. "Onde vocês arrumaram isso?"

"Encontramos ela," disse Munru.

"Onde?"

Os olhos de Munru, Nanku e Onru piscaram e direção a Irantu. Um momento se passou.

"Nas latrinas," disse Irantu. "Atrás de um ladrilho solto."

Hughes fez uma careta. Felizmente, ninguém com quem ela estava falando se importava.

"Por que você está lendo ela?"

Os quatro se entreolharam. Onru encolheu os ombros.

"Tentando descobrir o que é toda essa confusão sobre sexo!" disse Nanku. "Dirk Pitt sempre faz sexo com alguma… incendiária vivaz, mas não posso escrever sobre isso sem saber e o Sr. Cussler nunca explica como funciona o sexo."

Ensinar um grupo de Exterminadores sobre de onde vem os bebês ficava pouco abaixo de se alimentar para 682 na lista de afazeres de Hughes. Ela escolheu uma tática diferente.

"É o seguinte. Por que vocês não só… dão elas pra mim, e eu dou para vocês algo especial."

"Algo especial?" perguntou Irantu.

"Sim. Vou trocar essas revistas — todas as revistas que vocês têm — por um presente."

"O que é um presente?" perguntou Nanku.

"É algo muito bom de que vocês vão gostar muito!"

"E você tem certeza que vamos gostar?" disse Onru.

"Absoluta!" disse Hughes. "Então, por que vocês simplesmente não… me passam essas revistas e, hum, se esqueçam de tudo que viram nelas!"

A Tau-5 se entreolhou. Mais uma vez, Hughes viu três pares de olhos piscarem em direção a Irantu. Seu rosto se contraiu ligeiramente.

"Entendido," disse ele. Cada um deles se levantou e enfiou as mãos embaixo das camas. Irantu puxou três revistas. Das camas de Onru e Munru vieram duas cópias gastas e marcadas com dobras. Nanku recuperou um par ligeiramente pegajoso ao toque.

Hughes lutou para manter a bile dentro enquanto a pilha de revistas sujas era oferecida. "Obrigada… muito… mesmo!"

"Estou ansioso por esta surpresa," disse Onru.


Onru caminhava pelos corredores do sítio com facilidade nascida da familiaridade, seguindo um caminho há muito cimentado em sua mente. Com uma curva final, ela se aproximou do campo de tiro. Ele era seu santuário — sua única arma contra aquela besta chamada tédio. Contanto que ela pudesse passar pelo guardião do portão.

Ela tentou passar pelo balcão do arsenal, mas era tarde demais. Ela tinha sido avistada. "Oh, ei, Onru," chamou uma voz atrás do balcão. "É bom ver você hoje!"

Onru parou no lugar e girou para encará-lo. Ele estava radiante, parado atrás do balcão em uma camisa vermelha brilhante com um crachá que dizia "Benjy". Atrás dele havia fileiras de prateleiras abastecidas com os principais armamentos do Sítio-30, empilhados alto como uma biblioteca e iluminados por lâmpadas amarelas nuas. Servir como o principal ponto de entrada para este arsenal seria uma tarefa que Onru normalmente respeitaria, se não fosse pela imensa…. tenacidade de Benjy.

"Indo esfriar a cabeça, hein?" Benjy continuou. "Sempre feliz por ter um verdadeiro profissional mandando brasa lá dentro."

Onru estava completamente parada. "Sim."

"O que posso arrumar pra você?"

"Preciso de uma Heckler & Koch USP e 300 cartuchos de munição .45 ACP, assim como também uma cabine privada no campo." Onru colocou seu cartão de identificação no balcão e pressionou a mão contra um scanner avermelhado. Ele apitou suavemente.

"Você está verificada. Vou arrumar isso pra você agora mesmo." Benjy teve a audácia de piscar com um olho antes de se virar e correr para o arsenal. Onru conseguiu relaxar sua postura por um momento, antes do funcionário voltar mais uma vez.

"Aqui está," ele disse com um sorriso, colocando uma caixa no balcão. "A seção C está limpa para você. Tenha um bom trei-"

A porta se fechando atrás de Onru abafou o fim do sentimentalismo de Benjy. O campo era dela. De sua cabine privada, ela olhou para o campo: noventa metros de concreto derramado e espaço vazio, salpicado com as silhuetas cinzas de varias dezenas de alvos humanoides.

Onru pegou a arma e sentiu sua forma ao longo de seus dedos e palma. Ela deslizou o cartucho no lugar e lambeu os lábios ao clicar. Ela apontou a arma para um alvo, a 50 metros de distância, com uma cabeça tão tentadoramente ausente de chumbo. A arma era parte dela — uma extensão de sua carne, mais do que qualquer implante que os médicos pudessem enxertar nela.

Ela respirou fundo. Bang, bang, bang, bang. Quatro tiros diretamente na testa do alvo.

Ela girou quinze graus para a esquerda. Alvo dois, a 75 metros de distância. Implorando por dor. Bang, bang. Bem nos olhos.

Enquanto ela administrava o equilíbrio cuidadoso de metal e sangue que mantinha sua mira acertada, seus pensamentos se voltaram para o dia anterior, enquanto seus irmãos bajulavam a pornografia, como se ela fosse lhes proporcionar uma grande visão sobre "a experiência humana".

Onru viu um benefício, no entanto. Ela a disse onde está o ego. Bang, bang. A 90 metros de distância, dois tiros, disparados com extrema precisão na virilha do alvo.

Onru não sorriu.

Quarenta e cinco minutos depois, ela deslizou a caixa de armas de volta no balcão de Benjy.

"Você pegou eles?" Benjy sorriu.

"Sim."

"Eu gostaria que mais dos funcionários tivessem o tipo de consistência que você tem. É realmente impressionante."

Onru balançou a cabeça e, como de costume, levou exatamente dois segundos para processar o elogio. Satisfatório.

Benjy continuou. "Sabe, eu tenho como meta ir para o campo com frequência, mas eu não sou tão-"

Onru já havia desaparecido em torno do canto.


Pouco antes de Onru abrir a porta da sala de camas, ela fez uma pausa. Ela podia sentir uma quarta presença dentro da sala, mas seus sensores biométricos internos registravam uma massa menor que a de um humano. Ela parou por um momento, percebendo um zumbido desconhecido adicional. Então ela pegou sua faca de combate do bolso em sua perna e abriu a porta.

A faca voou para o estômago de Nanku, um pouco abaixo de seu rim. Isso não foi culpa de Onru. Nanku escolhera levantar a entidade misteriosa ao nível do rim na fração de segundo em que Onru jogou a faca.

A entidade latiu.

Nanku olhou para a faca em sua barriga. "Não se preocupe, Onru," disse ela. "Este não é um inimigo. É nosso presente!"

Irantu puxou a faca do estômago de Nanku e a jogou para Onru. "Nosso presente é um cachorro."

"Um cachorro?" Onru pegou a faca na lâmina e limpou ela no braço, fazendo uma nota mental para limpá-la adequadamente mais tarde. "O que é um cachorro?"

"Isso é!" disse Nanku. Ela ofereceu um quadrúpede peludo marrom com longas pernas de metal e um estômago que era inteiramente transparente em torno do meio, exibindo partes internas mais adequadas para um moedor de alimentos industrial do que um organismo vivo. Onru se arriscou mais perto, Nanku virou a criatura para encará-la. Ela possuía um dorso preto, orelhas pontudas e um focinho longo que se dividia em três partes, que exibia quando sua língua estava para fora. Dentro havia fileiras de dentes giratórios de metal que giravam com um som de zumbido. Ao a inspecionar, ela olhou para Onru com grandes olhos castanhos.

Onru semicerrou os olhos na boca do cachorro. Sua respiração ofegante estava quente em seu rosto. "Todos os cães são ciborgues?"

"Não," disse Irantu, "só este. A Capitã disse que era um cão pária indiano usado para recalibrar um cirurgião robótico. Ele estava programado para ser terminado, mas ela achou que poderia ser bom para nós. Para cuidar dele."

"Hmm," disse Onru. "Qual é a designação dele?"

"Capitã Hughes disse que poderíamos escolher uma," disse Munru. "Eu acho que deveríamos chamá-lo de Teeth."

"Acho que deveríamos chamá-lo de Aintu," disse Irantu.

"Acho que deveríamos chamá-lo de Eviscerate!" disse Nanku.

Eles todos olharam para Onru.

Ela franziu a testa. "Por que temos que cuidar dele? Ele era para ser terminado."

Nanku deixou o cachorro no chão enquanto seus olhos se arregalavam. "Não! Por favor, deixe a gente cuidar dele." O cachorro se aproximou de Onru, farejando suas pernas. Ela se afastou arrastando os pés.

"Cachorro! Vem aqui," disse Irantu. O cachorro se aproximou dele. Ele esfregou o focinho e passou o dedo pelas fileiras de dentes girando por dentro.

"Onru, cuidar desse cachorro nos tornará mais simpáticos," disse ele. "Suspeito, mas não tive a chance de confirmar, que Erica Kearney e seus colegas falaram sobre nossas interações com eles e nossa irmã."

Nanku e Onru levantaram a mão.

"Matar ela é inútil porque ela já falou," disse Irantu.

Elas abaixaram as mãos.

"Agora," disse Irantu, "segundo a Capitã Hughes, para cuidar deste cachorro, devemos treinar e… nos relacionar com ele."

"Como nos relacionamos com ele?" Munru perguntou.

Irantu coçou o queixo pensativamente. Onru levantou a mão novamente.

"Onru, eu duvido que a Capitã Hughes aprovaria —"

"E que tal o que eu aprovo?" disse ela. "Eu não quero que gostem de mim. Eu não quero me importar com essa irritação."

O cachorro ganiu. Onru estreitou os olhos e rosnou. O cachorro ficou em silêncio, exceto pelo zumbido de seus dentes girando.

"Eu não quero ficar perto dele," ela continuou. "Ele é horrível. O focinho dele é gordo e inchado. Seu trato digestivo é deselegante e com engenharia excessiva. Ele faz aquele som irritante de rangido com os dentes —"

"Gnasher!" disse Nanku. "É isso! Essa é sua desig — esse é seu nome!"

"Eu gosto de Gnasher," disse Munru.

"Gnasher é… aceitável," disse Irantu.

"Vocês estão me ouvindo? disse Onru. "Eu não quero essa coisa. Eu não serei forçada a cuidar dela."

"Isso é irrelevante," disse Irantu bruscamente. "Devemos trabalhar para ser… abordáveis e amigáveis, para trabalhar com nossos colegas funcionários de maneira mais eficaz. É taticamente vantajoso cuidar do cão, e assim faremos. Isso é uma ordem."

As narinas de Onru dilataram-se. "Entendido."

Ela ofereceu uma saudação e saiu pisando forte da sala. Irantu, Munru e Nanku observaram a porta por alguns segundos, mas Onru não retornou.

"Ela vai se ajustar," disse Irantu com confiança. Ele olhou para o animal recém-batizado. "Agora, devemos cuidar de você."


Irantu estava sentado no chão da sala de treino, segurando Gnasher pelo meio. O cachorro não se incomodava com isso. Seus olhos estavam fixos um no outro com igual intensidade.

"Saudações, Gnasher," disse Irantu. "Minha designação é Irantu. Eu sou o líder do seu esquadrão."

Gnasher latiu.

"Eu não sei o que isso significa. Devemos estabelecer comunicações."

Gnasher estava em silêncio. Irantu pensou por um momento.

"Lata uma vez para não. Lata duas vezes para sim. Você me entende?"

Gnasher latiu duas vezes, espalhando saliva no rosto de Irantu. Ele piscou.

"Bom. Agora que estabelecemos uma base para comunicações, podemos começar seu treinamento."

Irantu colocou Gnasher no chão e limpou o rosto com a mão para tirar a saliva.

"A saber, Capitã Hughes me alertou sobre três melhorias cibernéticas primárias. Suas pernas protéticas podem se estender, sua boca pode se abrir ao meio e seu trato digestivo é um grande aparelho de trituração protegido por policarbonato. Estou me esquecendo de algo?"

Gnasher latiu duas vezes. Irantu pegou ele de novo.

"Ah, eu tinha esquecido. Sua boca está cheia de dentes rotatórios de metal."

Irantu contemplou essas melhorias. "Para o melhor da minha análise, você é uma máquina de comer. Suponho que seu conjunto de habilidades seja mais adequado para o descarte de resíduos."

Gnasher latiu.

"Não? Por que não?" disse Irantu.

Gnasher fungou e olhou para ele com olhos suplicantes.

"Reconheço que você seja um animal muito… esteticamente atraente. Gosto de seu pelo e de seus olhos, assim como Munru e Nanku. Talvez você possa ser nosso… mascote também."

A língua de Gnasher espalhou-se em seu rosto. Os cantos da boca de Irantu se levantaram. "Você também é um excelente negociador."


Na manhã seguinte, Onru estava ao pé de sua cama, afiando sua faca. O treinamento de combate a havia cegado mais do que ela gostaria, e cada milímetro de cegueira significava adicionar preciosos milissegundos de recuperação de facada que poderiam ser gastos esfaqueando.

Sobre o fio da faca, ela viu a forma sentada a seus pés, olhando para a faca.

"Cachorro," disse ela. Ele piscou.

Ela moveu a faca, e seus olhos seguiram. Ele se inclinou mais perto.

"Não toque na minha faca."

Ele não se intimidou.

"Cachorro. Se você tentar comer minha faca, vejo dois resultados possíveis: ou você destrói minha faca, ou ela perfura seu cérebro e o mata. Já que o primeiro iria me irritar, e o último iria irritar meus companheiros de equipe, não toque na minha faca."

Ele se inclinou mais perto. Onru observou com desinteresse clínico. Se esse fosse o caminho que Gnasher escolheria, ela deixaria ele enfrentar as consequências.

Gnasher aproximou o rosto do fio afiado da faca, mas parou a apenas alguns milímetros. Seu nariz preto e grosso se contraiu. Ele estava sentindo o cheiro. Seu nariz desceu pela lâmina, em direção ao cabo e na mão de Onru. Ela sentiu a umidade em sua pele.

Sem pensar, ela estendeu a outra mão, com a palma para cima. Ele se virou para ela e colocou a cabeça em cima, apoiando seu peso ali.

Ela piscou.

Onru fechou os olhos, respirou fundo e retirou as mãos. Ela precisava atirar em algo. Ela deixou seus aposentos e deixou a porta bater atrás dela.

No outro lado do Sítio-30, Benjy estava esperando no balcão. "Onru! Prazer em ver você de novo. O que eu posso te arrumar?"

Ela acenou com a cabeça. "Heckler & Koch HK233 com empunhadura dianteira e um tambor de munição. 200 cartuchos de 5.56 NATO."

Benjy acenou com a cabeça e voltou para as prateleiras. Ele retornou um momento depois com sua caixa. "Agora desça o inferno neles."

Onru pegou a caixa e entrou no campo, direto para sua cabine de costume, privada como sempre. Ela acariciou o metal do rifle com prazer irreprimível. Em um único movimento, ela deslizou o tambor de munição no lugar e desligou a trava de segurança. Ela sentiu seu equilíbrio, a distribuição perfeita de seus mecanismos internos cuidadosamente trabalhados. Era a ferramenta perfeita. Nas mãos de um profissional, ela parecia mais leve que o ar.

Ela apontou para baixo, direto na cabeça de um alvo, a 75 metros de distância.

Bang, bang, bang… Os tiros continuaram acelerados. Havia uma linha reta entre Onru e seu alvo, um feixe invisível que agora estava cheio de chumbo em alta velocidade. Ela continuou atirando até que o último tiro saiu do cartucho.

Ela analisou o alvo. Cheio de buracos, mas não o suficiente. Ela viu novos pedaços de concreto no chão. Alguns de seus tiros erraram.

Ela colocou o tambor vazio sobre o balcão e rapidamente o substituiu.

Bang, bang, bang… De novo. Mais tiros disparando mais longe do que eles deveriam. Menos buracos no alvo. Ela apertou os olhos para o rifle. O campo estava correto, a zeragem estava perfeitamente ajustada, os punhos estavam nivelados.

Ela saiu do campo, caixa na mão. "Este rifle pode estar com defeito."

Benjy ergueu os olhos do livro. "Oh! Defeituoso como?"

Ela colocou a caixa no balcão. "Eu experimentei uma perda inexplicável de precisão."

"Ok. É preciso ter as melhores ferramentas para o trabalho, certo? Deixe aqui, vou dar uma olhada."

Onru acenou com a cabeça secamente. "Tenho certeza que você vai."


Gnasher olhava para cima para Munru com expectativa.

"Pra cima!" disse Munru.

Houve um som semelhante ao de uma persiana caindo. Um momento depois, Gnasher olhava para baixo para Munru com expectativa. Ele agora estava em pernas como de palafitas de prata com impressionantes três metros de altura.

"Pra frente!"

Gnasher cambaleou para frente com hesitação, e então mais rapidamente à medida que ficava mais confiante nas pernas de palafita.

"Pra baixo!"

Na hora, as pernas de Gnasher se abaixaram com o mesmo som de peitoril de janela. Ele deu um latido assustado e caiu no chão.

"Bom cachorro," disse Munru. "Você quer comida?"

Os olhos de Gnasher se arregalaram e ele começou a ofegar pesadamente.

"Me siga."

Alguns minutos depois, os dois estavam em frente às portas que davam para a cozinha do refeitório do Sítio-30.

"Ouça com atenção," disse Munru.

Gnasher olhava para ele com olhos arregalados.

"Vamos pegar lanches da cozinha," disse ele. "Captã Hughes não nos deixa beber Capri Sun. Ela diz que ele interfere com a… bioquímica de nossos motores tartotróficos. Estou cansado de ouvir o que posso e não posso comer. Eu quero Capri Sun. A festa de aniversário do técnico Barlow foi ontem. Portanto, ainda deve haver algum Capri Sun na cozinha. Você está acompanhando?"

Gnasher soltou um latido baixo.

"Excelente," disse Munru. "Isso é o que vai acontecer. Eu vou distrair os funcionários do refeitório. Você vai localizar o Capri Sun. Se escreve C-A-P-R-I-S-U-N. Localize e exfiltre para este lugar com as bebidas. Entendido?"

Gnasher latiu novamente.

"Bom. Vamos prosseguir com a operação."

Munru empurrou as portas duplas e entrou na cozinha. Os chefes pararam de andar e olharam para ele com surpresa. Gnasher trotou para a cozinha e começou a bisbilhotar.

"Não se assustem," disse Munru. "Estamos… investigando uma situação. Continuem com seu trabalho. Este é um assunto oficial da Força-Tarefa Móvel Tau-5. Não façam perguntas. Não… abandonem seus deveres."

Ele vagou pela sala brevemente, observando as brilhantes mesas cromadas, utensílios e os chefes que lutavam para cozinhar com o enorme ciborgue pairando sobre seus ombros.

Então ele ouviu um som como um moedor de café entupido. Gnasher havia se erguido até a altura da mesa e estava rasgando um peru assado maior do que ele. Seu focinho estava dividido em três segmentos e quase engolfou o pássaro cozido inteiro.

"Gnasher!" disse ele. "Cachorro mau!"

O som passou de moedor de café a picador de madeira conforme o peru desaparecia mais fundo na boca de Gnasher e as turbinas em sua barriga ganhavam vida. Munru o agarrou pelo abdômen e o puxou da mesa. Gnasher apertava a boca ao redor do pássaro por sua vida, arrastando-o mais fundo em seu maquinário infernal.

Munru deu duas batidas fortes no policarbonato de Gnasher. Ele imediatamente se abaixou pro chão, olhando para Munru com uma expressão lamentável. Isso era apenas parcialmente derrotado pelos restos do pássaro sendo sugados por sua goela como um ovo na garganta de uma píton.

"Isso não é Capri Sun," disse Munru.

Gnasher gemeu.

"Lhe foi dito para localizar o Capri Sun."

Gnasher gemeu de novo.

"Hmm. Você levantou um bom ponto."

Gnasher latiu.

"As similaridades são… inegáveis. Estou realmente agindo como a Capitã Hughes."

Gnasher latiu uma vez.

"Muito bem," disse Munru. "Peço desculpas. Eu deveria ter deixado você terminar o peru. Por favor, encontre meu Capri Sun e vou arrumar outro peru pra você."

Gnasher latiu duas vezes.

"Irantu estava certo. Você é um… excelente negociador."

Enquanto Gnasher se afastava, Munru olhava ao redor na cozinha. Os chefes estavam olhando para ele com descrença.

"Assunto oficial da Samsara. Esterilizem a cozinha conforme necessário. Vocês não vão falar deste evento. A segurança do mundo pode depender disso."


Naquela noite, Onru estava deitada na cama lendo uma cópia de Starship Troopers. Capitã Hughes disse que isso ajudaria ela a entender melhor a Fundação, mas ela achava tudo que não fosse atirar em alienígenas extremamente chato. Ela simplesmente pulava para as cenas de ação; Enquanto tentava imaginar como seria estar em outro planeta e obliterar insetos gigantes, ela sentiu um quadrúpede atarracado entrar na sala.

Onru abaixou ligeiramente o livro e observou Gnasher mover-se com dificuldade até seu beliche. Seus olhos castanhos redondos estavam focados nela, seu rabo estava balançando com a precisão de um relógio e sua língua estava para fora. Ele parou perto da escada do beliche e olhou para ela. Ela acenou com a cabeça para ele e voltou ao livro.

Ouviu-se um som semelhante ao de uma persiana abaixando. Onru sentiu, mas não reconheceu que Gnasher havia se erguido sobre as pernas de palafita para ficar ao nível dela. Ele deu alguns passos para mais perto do beliche. Então suas duas pernas dianteiras recuaram em seu corpo e ele tombou para a frente de modo que elas ficaram firmes no colchão de Onru. Ele se contorceu um pouco mais para a frente e então suas pernas traseiras se retraíram.

Gnasher era esperto, mas não o suficiente para entender centros de gravidade. O pequeno solavanco de suas pernas encurtando o fez começar a escorregar. Ele ganiu e lutou para ser apoiar nos lençóis. Por um momento de parar o coração, ele ficou suspenso no ar.

Então as mãos de Onru estavam em volta de seu estômago, puxando-o para a cama. Ela levou um momento para observar o quão suave era sua barriga. Ela era relaxante ao toque.

"Você é um cachorro muito estúpido," disse ela a ele. "Você tem sorte de Irantu… ter ordenado que cuidemos de você."

Gnasher lambeu seu rosto furiosamente, seu rabo abanando com intensidade alegre. Seu hálito era quente e úmido. Ela franziu o nariz e colocou ele no colchão, usando o livro para limpar o rosto.

O cachorro escalou a borda do colchão, sentando perto da cabeça de Onru. Ele olhava fixamente para o livro aberto dela.

"Você não consegue ler."

Ele pigarreou e se deitou.

"Você sabe que você não sabe ler?"

Ele olhou para ela com olhos suplicantes.

"Você quer fazer o que eu faço. É isso?"

Ele lambeu o rosto dela. Ela não piscou.

"Certo." Ela se sentou e agarrou a barriga dele. Ela o segurou ao ar livre, e ele nadou cachorrinho descontroladamente antes de estender as pernas e se firmar. Onru pulou de seu beliche e se abaixou até o nível do solo. "Eu vou te mostrar o que eu faço."

Ela saiu do quarto e foi pelo corredor. Gnasher a seguindo com alegria. Sua cauda balançava descontroladamente.

"Oh, oi!" Exclamou Benjy quando Onru se aproximou do balcão do campo de tiro. "É um prazer-"

"O de sempre," Onru interrompeu, antes que ele pudesse se lançar em alguma anedota banal.

Benjy balançou a cabeça, desaparecendo nas prateleiras e então voltando com uma caixa de metal. No instante em que a caixa tocou o balcão, Onru pegou ela e partiu em direção à entrada do campo de tiro, com o cachorro logo atrás.

"Espera, esse cachorro é seu?" Benjy gritou atrás dela. "Você está levando um cachorro para o campo de tiro?"

"Não é meu cachorro," Onru gritou de volta. A porta se fachou atrás de ambos.

Onru colocou a caixa no banco e pegou sua arma. Gnasher observava atentamente de seus pés.

"Isso," disse ela enquanto aparafusava um supressor, "é uma Heckler & Koch USP Compact: pistola auto-carregável universal. Ela é utilizada por várias agências policiais para manter a paz. Eu uso ela para atirar na cabeça de combatentes inimigos e, ocasionalmente, em outros lugares. Isso mata os combatentes."

Gnasher tremulamente escalou para cima do banco, onde ele se sentou. Onru balançou a cabeça e se virou para seus alvos. Ela ergueu as mãos, travou em torno do cabo, dedo sobre o gatilho.

Ela fechou um olho e mirou no alvo humanoide, à frente, 50 metros.

Bang, bang, bang – uma bela linha de buracos de bala traçada no estômago do alvo até o pescoço. Ela ergueu o cano uma fração de grau, pronta para o tiro mortal. Ela puxou o gatilho.

A cabeça do alvo estava ilesa. Ela atirou de novo: nada. As balas se espalharam. Onru atirou duas, três vezes mais, ainda sem acertar o alvo. Suas mãos estavam tremendo. Por que elas estavam tremendo? Milímetros de movimento desnecessário significavam metros de precisão perdida em longas distâncias. Permitindo que o inimigo sobrevivesse por segundos inteiros a mais, dando a eles ampla oportunidade de matá-la.

Ela atirou de novo, e denovo, esvaziando o cartucho no ar ao redor de seu alvo sem pensar. Ela ouviu Gnasher ganir miseravelmente atrás dela e sentiu um puxão na perna da calça.

Ela se virou. "O que? O que você quer?" ela latiu.

Gnasher soltou a perna e sentou-se na frente dela, olhando para cima com as orelhas achatadas e olhos escuros trêmulos.

Onru se abaixou e acariciou ele na cabeça. Ele choramingou e pressionou o rosto contra a mão dela. Ela sentiu sua garganta se apertar.

"Vamos. Vamos levá-lo de volta aos quartos."


Nanku estava deitada em sua cama, encostada no rodapé, com caneta e caderno nas mãos. Gnasher estava deitado em seu colo, olhos fechados e roncando como uma serra elétrica parada;

"Estava conversando com a Dra. Cheng sobre isso semana passada, quando ela estava instalando o radar no meu cérebro e ela chamou isso de fridging! É quando as mulheres na ficção são consistentemente feridas ou mortas sem um bom motivo. Eu adoro Dirk Pitt, mas também adoro Summer Moran, e ela foi fridgeada!"

Os olhos de Gnasher se abriram. Ele cheirou.

"Eu não— sei lá. Eu gosto de Summer, mas não como Sr. Cussier a escreve. Eu realmente não gosto do romance dela com Dirk, não gosto de romance em geral. Como você ama alguém assim? Eu amo meus irmãos, eu acho. Eu confio neles com minha vida. Mas eu conheço eles as minhas vidas todas. Eu nunca beijaria eles. Isso só é estranho. Sexo também. Eu acho que já tentamos fazer sexo antes, mas não conseguimos descobrir e, de qualquer forma, só foi estranho. De longe não foi tão divertido quanto matar pessoas."

Gnasher torceu o nariz. Nanku esfregou a cabeça dele e ele lambeu a mão dela.

"O que você acha de tudo isso? Por que você acha que sexo e romance e fridging são tão importantes na escrita?"

Nanku passou as mãos pelos dentes de Gnasher. Ele gentilmente os mordiscou, lambendo o sangue derramado.

"Não consigo entender," disse ela, frustrada. "Eu tento ser como eles. Eu me chamo de Power Ranger e bebo cerveja e leio livros assim como eles, mas eu ainda não sou um deles. Só porque gosto de matar pessoas e me sentir maneira enquanto faço isso. Eles não gostam disso em mim, isso… me irrita."

Gnasher gemeu e arrancou a ponta do dedo anelar dela com uma mordida. Nanku balançou gentilmente o resto da mão dela para fora da boca.

"Você é um cachorro muito inteligente. Você se importaria de dar uma olhada no meu rascunho atual? É o primeiro capítulo da minha reescrita do Pacific Vortex! da… perspectiva de Summer."

Ela ofereceu o caderno para Gnasher. Ele cheirou a primeira página com cuidado, molhando-a. Então ela a mordeu e picou.

"Tão ruim assim?"

Gnasher latiu.

"Acho que você está certo. Eu estava planejando reescrever o capítulo de qualquer maneira. Aqui, deixe-me ajudar," disse Nanku. Ela arrancou mais vinte páginas e alimentou metade delas para Gnasher. A outra metade foi para sua própria boca.


Onru apertou o gatilho de novo e de novo. À sua frente estavam alvos marcados apenas por evidências de pura sorte e fraco treinamento com armas. Ela tirou o cartucho de seu rifle e o deixou cair no chão com os outros. Com a mesma rapidez, ela o substituiu e disparou outra rajada de tiros que não tiveram sorte. Seu peito arfou. Seus braços tremeram.

Esta arma não era uma extensão de seu ser. Não era sua ferramenta. Não era nada para ela. Apenas chumbo morto.

Onru levou o braço para trás e atirou a arma pro outro lado do campo com o máximo de força que conseguia reunir. O barulho foi inaudível sob um grito de frustração.

Ela saiu do campo, com a caixa embaixo de um braço.

"Uh, como foi?" Benjy perguntou, com trepidação audível.

"Mal," cuspiu Onru. Ela largou a caixa no balcão com um baque.

"Eu não me preocuparia muito com isso," disse Benjy com uma carranca simpatética. "Eu tive dias ruins no campo. Tipo, teve essa vez, eu trouxe meu namorado…"

Onru apenas ficou lá. Ela estendeu as mãos, cerrando e abrindo os punhos enquanto as palavras de Benjy passavam por ela. Ela observava enquanto as mãos respondiam às intruções de seu cérebro. Eram elas sequer dela, se elas não podiam matar?

"… então foi uma parada toda. Nós nunca encontramos aquele peixe," concluiu Benjy com solene certeza.

"Sim," disse Onru, quieta. "Certo. Eu deveria estar indo."

"Oh, bem, até a próxima," Benjy gritou enquanto ela virava a esquina.

Onru pegou a porta de seus aposentos e abriu. Seus irmãos haviam partido, provavelmente para o refeitório. Ela deixou a porta bater atrás dela e se sentou no chão, os braços caindo para os lados.

Um gemido curioso veio do final da sala. Gnasher rastejou para fora de debaixo da cama de Irantu. Ele trotou na direção dela.

"Cachorro. Se você lamber meu rosto, eu vou te tacar na parede."

Ele continuou, mais devagar. Ele não foi em direção ao rosto dela. Em vez disso, ele se sentou contra a coxa dela, e então se deitou ao lado de sua perna. Ele estava parado.

Onru o considerou cuidadosamente. Lentamente, ela estendeu a mão e colocou ela em sua coluna. Ela se deixou passar a mão ao longo dela, sentindo o pelo contra a pele. Eles estavam em silêncio juntos.

Onru sentiu uma profunda sensação de paz.

Ela piscou. Paz. Algo se encaixou em sua mente, uma epifania borbulhando na superfície de sua consciência.

Ela se levantou rapidamente, quase pulando. Gnasher ergueu a cabeça e soltou um latido abafado. Ela não deu atenção a ele, caminhando de volta para o corredor e direto para o campo de armas.

Benjy ergueu os olhos do balcão quando Onru se aproximou. "Oh, oi, Onru! Não esperava-"

"Benjy," Onru colocou ambas as mãos no balcão. "Eu preciso de alvos menores."

Benjy recuou. "Uh… huh. Quão pequeno?"

"Você tem alguma coisa…" Onru fingiu ponderação. "Com tamanho de cachorro?"


Onru abaixou sua arma. O ar estava cheio de suor e pólvora queimada. Ela olhou para o outro lado do campo, em direção ao alvo de treino quadrúpede atarracado a oitenta metros de distância.

Sua superfície plana estava cheia de balas. Nem um único tiro errado.

A arma era parte dela novamente. Tudo que antes estava saindo do controle havia agora se dobrado sobre si mesmo. A vida não era mais complicada.

Onru se permitiu sorrir, só desta vez.


Exatamente às 2 da manhã, Onru parou de fingir que dormia.

Ela saiu de seu beliche e girou em uma aterrissagem de três pontos no chão. Seus amortecedores apagando qualquer barulho. Seus irmãos estavam dormindo.

Ela caminhou até a coleção de travesseiros e espuma de colchão cuidadosamente aninhados no canto. Gnasher estava enrolado em cima, respirando quietamente. Onru cutucou o lado dele com a ponta da bota.

Ele ergueu a cabeça para olhar para ela, então se sacudiu para acordar.

"Vamos," ela sussurrou. "Vamos lá.

Ela segurou a porta para ele, e então fechou ela cuidadosamente atrás de si. Os corredores estavam silenciosos e quase totalmente escuros, mas suas pernas sabiam para onde ir.

A entrada para o campo de tiro estava desprotegida e o balcão do arsenal estava sem funcionário. Assim como ela esperava. Ela agarrou a maçaneta da porta e puxou bruscamente para cima. Os pistões em suas pernas se alinharam e as dobradiças da ponta lentamente perderam a forma, o suficiente para a fechadura se desengatar completamente. Ela entrou. Gnasher seguindo.

Direto para sua cabine de costume. Direto para a arma que ela havia escondido lá. Ela ergueu a arma e sentiu o peso da munição dentro dela.

Onru agarrou as laterais da cabine e se puxou para cima e por cima da barreira que separava a posição do atirador dos alvos. As pernas de Gnasher se levantaram e ele a seguiu. Ela caminhou ao longo do campo, passando por alvos frescos e destruídos, até a parede.

Ela respirou fundo, engatilhou a arma e se virou. Gnasher estava sentado aos pés dela.

"Vamos acabar com isso, podemos?"

Gnasher inclinou a cabeça, cauda erguida em antecipação.

"Primeiro, vamos esclarecer nossas histórias. Eu estava no campo de tiro para treinar tarde da noite. Você escapou de nossos aposentos e me seguiu até aqui sem meu conhecimento. Você invadiu e vagou para baixo. Confundindo você com uma anomalia escapada, atirei em você e você foi morto."

Os olhos do cachorro se arregalaram só um pouco.

"Esta é uma explicação especialmente verossímil?" Onru encolheu os ombros. "Talvez não. Mas em quem a Fundação vai acreditar?"

"Em mim," disse ela, "ou no seu cadáver?"

Ela ergueu a arma, o cano a apenas algumas polegadas da cabeça de Gnasher.

Ele se levantou, o rabo preso firmemente entre as pernas. Seus olhos estavam fixos nos de Onru.

"Você não me engana. Eu sei o que você tem feito."

Ele não se mexeu.

"Você está sabotando minha eficiência operacional. A fundação depende da minha capacidade de realizar tarefas conforme as instruções, sem erros. Minhas falhas no treinamento colocam vidas em risco. Elas colocam meu propósito em risco. Então por que você não reage? Por que você comemora meu fracasso?"

Sua voz ecoou pelo campo vazio. Gnasher gemeu baixinho.

"Você me dá paz quando eu devo me preparar para a guerra. Você me faz calma quando devo estar furiosa comigo mesma. Essa raiva me alimenta. Ela sou eu."

Suas mãos tremiam.

"Por que você me olha assim?" disse ela. "O que você vê em mim que o deixa tão desesperado para estar ao meu lado? O que eu já fiz por você que vale a pena? que faz de mim valer a pena?"

Ele apenas ficou lá. Tudo exceto Onru perfeitamente imóvel.

"E por que você ainda está de pé aqui? Você sabe o que isso faz." Ela acenou com a cabeça para a arma em suas mãos. "Você sabe o que vai acontecer. Por que você não corre?" Seu dedo pairava sobre o gatilho.

A coluna de Gnasher estava reta. Ele olhou para ela com seus olhos inabaláveis, castanhos profundos, reconhecíveis mesmo no escuro. Seu nariz úmido se contraia no ar frio. Suas orelhas estavam para trás, coladas à cabeça.

Ele olhou para baixo. Movendo-se com cautela, ele se deitou no concreto, se enrolou e fechou os olhos.

Onru fechou os olhos com força. Suas pernas se sentiam fracas, sua cabeça estava leve. Ela respirou fundo e se ajoelhou no chão.

Ela sacudiu a cabeça lentamente, murmurando enquanto a arma escorregava de seus dedos. "Um cachorro tão estúpido."


Onru se mexia sob suas cobertas. Ela apertou os olhos. Algo a estava chamando, tirando-a do sono. Vozes, ficando mais altas — e um som de zumbido. Ela abriu os olhos.

Seus irmãos estavam de pé ao lado de seu beliche, falando um com o outro, esticando o pescoço para olhar para ela.

"O que?" disse Onru. Ela olhou para o estômago e viu pelos. Gnasher estava enrolado contra seu corpo, e seu braço estava envolto em torno dele. Ele estava roncando como uma faca elétrica.

Onru piscou. Ela olhou para seus irmãos. "Não interpretem isso errado."

"Mas vocês são tão fofos juntos!" disse Nanku. "Precisamos tirar uma foto."

"Vocês precisam nos deixar em paz," disse Onru. Ela cuidadosamente dobrou a perna para evitar acordar Gnasher e pegou a faca. Ela gentilmente a deslizou de sua bainha e apontou para Nanku.

"Nos?" disse Irantu. "Você disse explicitamente: 'Eu não quero estar perto disso.'"

Onru olhou para Gnasher e depois para Irantu. "Você disse explicitamente que o que eu quero é irrelevante. Então o que nós dois queremos é ser deixados em paz."

Munru levantou uma sobrancelha. Quando ele abriu a boca para falar, a faca de Onru entrou em seu estômago logo abaixo do rim. Ele ergueu as mãos em sinal de rendição simulada. "Entendi."

Onru fez um gesto com a mão livre. "Deixe-nos em paz."

Munru foi o último a sair pela porta. Ele parou na soleira, a lâmina ainda enterrada em sua barriga. "Vocês dois formam… uma dupla pitoresca."

Gnasher fungou uma vez em reconhecimento e ergueu a cabeça. Onru olhou para ele. "Você está acordado?"

Ele fungou de novo e bocejou, e então balançou a cabeça para frente de forma que a parte de trás de sua cabeça ficasse logo abaixo do queixo dela. Onru pensou em se levantar e ir para o campo de tiro. Ela queria colocar alguns tiros em alvos do tamanho de um homem novamente. E então Gnasher lambeu o rosto dela, deitou a cabeça e fechou os olhos.

Ela decidiu ficar na cama.

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