O Desaparecimento de Vincent Anderson

avaliação: 0+x

Vincent Anderson estava sentado imóvel em sua cela de contenção no Sítio-19, sua atenção concentrada nas buzinas de alarme à distância. Embora esses sons não fossem incomuns, o alerta atual havia sido iniciado quase três horas antes. Algo estava errado.

Anderson suspirou, e então seus olhos mecânicos se voltaram para a porta, que se abriu com um assobio abafado. Três figuras escuras em equipamentos táticos com cicatrizes de batalha entraram na cela. Cada uma usava uma máscara prateada inexpressiva. O líder levantou sua máscara para revelar olhos brancos de acrílico e uma pele de fibra de aramida preta.

"Peregrines 92, 46 e 34." Anderson examinou seus convidados com vaga curiosidade. "A que devo o prazer?"

"Certamente não estamos aqui para uma visita social, Sr. Anderson." A voz de Peregrine Nº92 era aguda e andrógina. "Você virá conosco, agora. O tempo é limitado."

O velho ciborgue sacudiu a cabeça.

"Certamente a Mão tem coisas mais valiosas para vocês roubarem da Fundação do que um velho quebrado. Salvem-se e me deixem morrer aqui em paz. Eu lutei e perdi, e agora vocês só estão perdendo seu tempo."

"Seu filho da puta egocêntrico. Não estamos aqui por sua causa," retrucou Peregrine Nº34. Sua voz era grave e feminina. Ele sacou sua pistola do coldre com um movimento fluido. Anderson tentou se levantar, mas logo foi coberto por três minúsculas esferas de eletricidade azul. O velho ciborgue sofreu convulsões violentas, um olhar de surpresa congelado em seu rosto. Peregrine Nº34 deu um aceno com a cabeça, e Peregrine Nº92 pegou Anderson e o jogou sobre o ombro.

"Voltem para a Via," disse Peregrine Nº34 calmamente.

Quando os três droides entraram no corredor, o som de gritos vindo do corredor encheu seus sensores auditivos.

"Os hostis estão na Ala de Alta Segurança!"

Balas encheram o ar. Os droides entraram na cela aberta do Anderson, se protegendo. Peregrine Nº46 puxou uma metralhadora de seu ombro e desativou a trava de segurança.

"Estimo que posso atrasá-los por talvez 10 minutos." A voz do Peregrine era a de um jovem, ansioso e determinado. "Mas eles vão me pegar. Então sejam rápidos e deem a volta pro elevador que discutimos no planejamento da operação."

Peregrine Nº34 acenou com a cabeça.

"Que WAN esteja com você."

"E com você também. Vejo vocês na Floresta."

Peregrine Nº46 soltou um zumbido baixo e montou sua arma em seu ombro. Soltando rajadas controladas após rajadas controladas, ele caminhou até o fogo que se aproximava, lentamente acumulando danos enquanto seus dois compatriotas escapavam pelo corredor.

Quando ele ficou sem munição, eles tiraram suas pernas debaixo dele com tiros. Peregrine Nº46 atingiu o chão com um baque monótono.


Mesmo para funcionários veteranos da Fundação operando em condições calmas, o interior labiríntico do Sítio-19 se provava difícil de navegar. Para dois androides fugindo de múltiplas forças-tarefa, o ato era quase hercúleo.

De escadas para corredores.

De corredores para poços de elevador.

De poços de elevador para túneis de manutenção.

Peregrines Nº92 e Nº34 carregavam o corpo paralisado de Vincent Anderson para cada vez mais perto da Via que os esperava, suas juntas mecânicas rangendo conforme eles corriam em alta velocidade. Ocasionalmente, uma bala perdida de seus perseguidores se cravava em uma parede próxima.

"Estamos chegando!" Gritou Peregrine Nº34 em um walkie-talkie. "Se preparem para selar a Via atrás da gente!"

"Câmbio," um sussurro rouco respondeu. "Vocês têm três minutos. Todas as outras equipes estão se retirando. Mal posso esperar para ver o que vocês trazem."

Peregrine Nº92 deu uma risada aliviada.

"Vamos conseguir."

"Parece mesmo! Só mais um pouco…" Respondeu Peregrine Nº34.

Quando os droides viraram a esquina, eles foram recebidos por uma torrente de tiros. Uma equipe de segurança à espera os havia cortado; a cobertura de uma porta próxima era a única defesa das balas.

"Santo WAN!" Gritou Peregrine Nº34 enquanto espiava para fora da cobertura. Eles estavam presos.

"Ele ainda consegue nos ouvir?" Peregrine Nº92 gesticulou para Anderson.

"Bem, sim," Retrucou Peregrine Nº34, "Ele está paralisado, não surdo. Isso é mesmo importante agora?"

Peregrine Nº92 pressionou o ciborgue nos braços de Nº34. Nº92 levantou o queixo de Anderson e o olhou nos olhos.

"Ganhe isso, seu idiota."

Ele então saiu em disparada, correndo a toda velocidade em direção ao bloqueio. Os agentes da Fundação cuidaram rápido do droide; suas pernas se quebrando e despedaçando, deixando seu impulso para carregá-lo aos pés deles.

A equipe de segurança cercou Peregrine Nº92, desarmando-o. O droide ergueu ambos os punhos e estendeu os dedos do meio.

"Contenham isso."

A explosão abalou toda a instalação.

Peregrine Nº34 olhava em choque.

"Módulo bombista…" disse ele em voz baixa. "Vejo você na Floresta, Nº92…"

Uma bala atingindo a parede próxima sacudiu Peregrine Nº34 de seu estupor. O droide solitário colocou Anderson em seu ombro e partiu pelo corredor.

Virando a esquina, ele conseguiu deslizar por um túnel fora de lugar cheio de teias de aranha que lentamente desapareceu da existência. Quando os agentes de segurança chegaram, eles encontraram apenas uma parede vazia.


Peregrine Nº46 lutava contra suas amarras. Ele havia sido transferido para uma mesa de exame dentro de uma cela de contenção logo após sua captura. Apesar da futilidade de suas ações na última hora, ele ainda continuava a se esforçar. O que mais havia para fazer?

O som da porta da cela abrindo fez o droide parar, sua cabeça virando para ver três agentes entrarem, cada um usando um sigilo retratando três setas descendo sobre um falcão.A agente líder aproximou-se da mesa. Ela era jovem, alta e pálida, com longos cabelos castanhos que ela usava para trás em um rabo de cavalo.

"Acho que você sabe quem eu sou," disse a agente.

"O próprio anjo da morte. Quantos você mandou para a Floresta este mês?"

"Idealmente menos do que no mês anterior," respondeu ela. "Pra onde você mandou o Anderson?"

Peregrine Nº46 desviou os olhos para o teto.

A agente revirou os olhos.

"Não temos tempo para essa palhaçada. Você já deve saber que posso extrair a informação diretamente de sua memória. Tudo o que você está fazendo é morrer por seu orgulho."

O droide girou a mão e estendeu o dedo do meio.

"Assim seja. Zeke?"

A agente estendeu a mão, um de seus colegas pressionou um dispositivo em forma de caneta nela. Ao pressionar um botão em sua ponta, uma agulha grossa se estendeu de sua base. Ela então espetou o dispositivo diretamente na testa do droide.

Peregrine Nº46 deu um grito agudo, seu corpo convulsionando por alguns momentos antes de ficar parado. Uma luz indicadora no dispositivo começou a brilhar em verde. A agente o removeu com cuidado e clicou no botão novamente. Ela examinou os resultados cuidadosamente.

"Ordens, Jessie?"

A agente interrompeu seus pensamentos e voltou-se para seus colegas.

"Quero que isso seja analisado pela DAIA o mais rápido possível. Assim que soubermos onde Anderson está, podemos voltar ao Sítio-64 e reunir as tropas. Vamos arquivos os relatórios no voo de volta."

Ela entregou o aparelho. Seus colegas se movendo para cumprir suas novas diretivas.

"E alguém notifique a Diretora Merlo," gritou a agente. Sua voz ficando baixa ao ser deixada sozinha com os restos do droide. "Minha mãe vai querer lidar com isso pessoalmente."


Na Costa do Oregon, um homem e uma mulher estavam sentados dentro dos limites de seu chalé, enrolados juntos em uma cama sob as camadas quentes de uma grande colcha. Ambos seguravam canecas de chá enquanto seus olhos olhavam através da porta de vidro do pátio em direção às tempestades distantes no horizonte. Uma névoa silenciosa se caiu, levada por uma brisa suave.

A mulher bocejou e descansou a cabeça no ombro do marido. Ele deu a ela um sorriso amigável, afastando uma mecha de cabelo moreno grisalho de seus olhos enquanto sua mão percorria a parte de trás de sua cabeça. Ela sorriu de volta, e sentiu-se começar a cair em um sono confortável e quente.

Bzzzzzzzzzzzt

O som de um telefone celular soou, imediatamente tirando a paz do momento. A mulher deu ao marido um sorriso de desculpas. Em troca, ele deu um aceno compreensivo com a cabeça. Com um suspiro, ela se levantou e foi atender a chamada.

"Merlo aqui."

"Entendo…"

"Estarei aí o mais rápido possível."

Diretora Sasha Merlo desligou o telefone e suspirou mais uma vez.

"Ele escapou," respondeu Sasha. O sorriso de Gabe desapareceu.

"Entendo."

"Vou te compensar quando voltar." Sasha já estava pegando seu casaco e as chaves.

"Faça ele sofrer." Gabe a acompanhou até a porta. Quando ele abriu, uma equipe de segurança de três homens estava esperando. Ele se afastou.

"Estarei aqui quando você voltar."

Sasha deu a ele um aceno de cabeça e um sorriso triste.

"Eu te amo." Ela logo estava sendo escoltada de volta ao Sítio-64, suas tão esperadas férias interrompidas.


Salvo indicação em contrário, o conteúdo desta página é licenciado sob Creative Commons Attribution-ShareAlike 3.0 License