Um Tiro no Escuro - Parte I

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"Então… Quer me contar o que foi aquilo?" Mesmo mantendo a calma em sua voz, Roberto não parava de tremer sua perna direita, em um sinal de imenso nervosismo.

"Bom. A gente estava lá. Tranquilo, cuidando de tudo. Até que, de repente, uns…" Pedro tentou se explicar, até ser interrompido por seu superior.

"Tá. Vamos pular a história. Como vocês conseguiram deixar não um, não três, mas cinco deles entrarem na porra do meu galpão?"

"Olha. A gente fez tudo direitinho. Checamos a área, os seguranças ficaram na porta, só entrava quem tinha nome na lista. Chefe, tava tudo perfeito. Eu não sei como eles entraram, tô te falando."

"Olha…" Roberto disse, pausadamente, para tentar manter a calma. "Essa é no mínimo a terceira vez que você consegue foder uma coisa simples. Primeiro foi a entrega. Depois foi o Rogério."

"Ah… É verdade, tem o Rogério…"

"E agora você me vem com essa? Três dos nossos, não mortos, mas levados pela porra da Superintendência? Você tem que estar de brincadeira comigo. Se um deles falar qualquer coisa, eu juro que eu mesmo te mato. É incrível como você consegue causar mais problemas do que…"

Um buraco na estrada fez os dois homens balançarem para os lados. Roberto respirou fundo, olhando pela janela, para a imensa quantidade de montanhas verdes e planícies beges que se espalhavam pela paisagem. O homem passou a mão pelo cinto de sua calça, até encontrar seu frio revólver.

"Tá bom, Pedro, vamos fazer assim: essa foi sua última chance. Eu não sei por que diabos o Carlos gosta de você, mas você não vai se livrar dessa assim tão fácil. Se eu não arrancar o seu couro até a gente voltar, eu vou fazer questão de que ele o faça. Você tá me entendendo?"

"Sim, chefe… Entendi…" Respondeu Pedro, apertando suas mãos no volante do veículo.

"Sai daí logo." Disse Roberto, abrindo a porta do caminhão.

Indo para a parte traseira do veículo, Roberto destrancou o cadeado da porta e a abriu, revelando duas caixas de madeira, de tamanhos diferentes. Em poucos segundos, Pedro chegou ao lado de seu superior, para ajudar a retirar o carregamento.

"Anda. Vamos tirar a maior primeiro." Disse Roberto, entrando no veículo.

Ao baixar a última caixa do lado da porta do armazém, Roberto sentiu um pingo atingir sua testa. Ele olhou para o céu, vendo que nuvens quase pretas se aproximavam do complexo onde ele estava. "Vai chover." Disse a Pedro, enquanto retirava a chave da porta de seu bolso. "Vamos acabar logo com isso."

O armazém parecia maior por dentro do que por fora, chegando a ter uma plataforma suspensa, onde se encontravam algumas prateleiras e uma alavanca. Os homens levaram as caixas para o fundo do primeiro piso, tendo se esbarrado algumas vezes, dada a escuridão do lugar.

"Pedro. Sobe ali e liga essa luz, eu tenho que ver o relatório do carregamento aqui."

"Beleza, espera um pouco só."

Quando Pedro se virou de costas para Roberto, este retirou seu revólver da calça, esperando Pedro começar a subir a escada de mão. Quando o homem colocou sua mão na escada, Roberto lentamente começou a puxar o cão do revólver, até engatilhar a arma. "Ele não ouviu…" Pensou Roberto, enquanto apontava a arma na direção de seu funcionário.

Por uma fração de segundo, todo o local foi iluminado pelo clarão do disparo. Pedro se segurou por alguns segundos na escada, em silêncio, até finalmente cair de costas no chão. Roberto se aproximou de Pedro, para ter certeza de que o homem estava morto. "Que se foda." Pensou Roberto, dando mais alguns tiros na cabeça do corpo.

Roberto logo ligou a luz do local, revisou os documentos, saiu do armazém, trancou a porta e voltou para o caminhão. Antes de dar partida no veículo, ele baixou sua cabeça no volante, pensando no que seus superiores iriam dizer da situação. Olhando para seus pés, Roberto pode ver uma pequena mancha de sangue em seu sapato.

"Porra. Caiu em mim. Nem morto você colabora."


Roberto se aproximava do imenso edifício da SERPRO, já pensando em seu discurso. O homem parou o veículo no estacionamento subterrâneo do local, saiu do caminhão, trancou a porta e se dirigiu ao elevador. Enquanto esperava, Roberto percebeu que suava frio, mesmo não se sentindo nervoso. "Filho de uma puta." Pensou. "Uma coisa que eu peço, só uma, e nem isso ele conseguia fazer. Quem vai se foder agora? Eu mesmo. Sempre sou eu."

As portas se abriram, Roberto apertou o botão do sexto andar e se encostou na parede. "Bom, chefe." Disse para si. "Eu tinha organizado tudo, os compradores estavam todos lá, os produtos já estavam no palco e tudo estava acontecendo exatamente do jeito que eu planejei. Só que, de repente, os desgraçados da Pra…" As portas se abriram novamente sem aviso, o que fez Roberto tomar um leve susto.

O homem saiu do elevador e se dirigiu à bancada da secretária.

"Boa tarde." Disse Roberto. "Estou aqui para ver o Carlos."

"E você é?" Questionou a secretária.

"Roberto. Roberto Gusmão. Eu vim aqui semana passada. E na semana antes. Eu venho aqui sempre, como você não se lembra da minha cara?" Disse Roberto, começando a levantar seu tom de voz.

"Só um momento, já vou avisar o senhor Dierick. Pode se sentar ali." Disse ela, apontando para o banco com uma mão e pegando o telefone com a outra.

Roberto suspirou e se sentou no banco, voltando a pensar no que iria dizer. "Praça. Aqueles merdas de farda. Eles chegaram de repente, chefe, quebrando tudo sem mais nem menos. Mas olha pelo lado bom, nós só perdemos…"

"Ele está pronto para recebe-lo, senhor Gusmão." Disse a secretária, interrompendo os pensamentos do homem.

"Muito obrigado." Disse Roberto, em um tom sarcástico, andando rapidamente em direção à sala.

Ele entrou no escritório e fechou a porta atrás de si, vendo seu chefe de pé no canto da sala, olhando pela janela para a paisagem do lado de fora. Ao ouvir a porta se fechando, Carlos se virou lentamente.

"Roberto! Ah, meu amigo, espero que você tenha ótimas notícias para mim, porque eu já ouvi algumas coisas não muito boas por aí."

"Bom, chefe. Você sabe, que como sempre, eu fui até lá, organizei tudo, deixei o Pedro no comando, como você me pediu, e voltei pra Casa Dois, como sempre né. Mas aí…"

"Roberto." Disse Carlos, interrompendo seu funcionário. "Você sabe que eu não gosto de ouvir 'mas', então eu vou só fazer as perguntas, tudo bem?"

"Sim, chefe."

"Ótimo." Carlos foi até sua mesa e tirou um copo e uma garrafa de uma das gavetas. "Vamos primeiro para a coisa que mais me chamou a atenção." Disse ele, enquanto enchia seu copo. "Cadê o Pedro?"

Roberto engoliu um seco.

"Bom… Ele meio que… Ele…"

"Tudo bem, Roberto." Carlos disse, antes de dar um gole em seu copo. "Você matou um dos meus empregados, de novo."

"Assim, chefe, não é…"

"Olha." Disse Carlos, interrompendo Roberto novamente. "Essa deve ser a quarta vez que você faz isso. E sinceramente, eu não ligo. Eu gostava do Pedro, sim, ele tinha o cérebro igual ao de um peixe, você mandava e ele fazia. Mas isso não é o mais importante, era só uma anotação que eu queria fazer na sua ficha, de todas as merdas que você já fez. Mas agora vem a pergunta mais importante, Roberto. Quantas?"

"Quantas?"

"Quantas caixas você perdeu?"

"Chefe, eu…"

"Responde a porra da minha pergunta!" Carlos disse em um grito, batendo seu copo na mesa.

"Quatro."

"E quantas foram vendidas?"

"Uma."

"E o resto está onde, Roberto?"

"Tá no Armazém Oito."

"Então você tá me dizendo que de uns novecentos milhões de cruzeiros em mercadoria, eu ganhei…"

"Quarenta e cinco."

Carlos respirou fundo e se sentou em sua cadeira.

"E no leilão, quantos foram pro saco?" Perguntou Carlos.

"Deles, três, dos nossos, quatro."

"Como é? Então como só você está aqui?"

"Bom, os outros três nossos, fora o Pedro, meio que foram levados pela…"

"Você deve estar brincando."

"Não, chefe, eles conseguiram levar três."

"Deixa eu ver se eu entendi." Disse Carlos, enquanto afrouxava sua gravata e dava mais um gole em seu copo. "Você não só me fez perder mais de seiscentos milhões de cruzeiros, como também morreram cinco dos meus homens e a Superintendência pegou três deles? É isso mesmo?"

"Sim, chefe."

"E tem duas caixas sobrando no Armazém?"

"Sim, chefe."

"Então que merda você está fazendo na minha frente ainda?" Carlos perguntou, novamente gritando. "Se os outros que levavam as caixas foram pro saco e só você que tem a porra da chave? Enquanto os milicos estão com os nossos na coleira?"

"Então quer que eu…"

"Claro que sim seu idiota! Pra hoje!"

"Mas quem vai…"

"Não sei, caralho." Disse Carlos, colocando sua mão na testa, tentando se acalmar. "O Arthur está lá embaixo, chama ele."

"Chefe, eu só quero dizer que…"

"Só sai da porra do meu escritório, Roberto, a gente vê isso depois."

"Sim, chefe." Disse Roberto, por fim.


Roberto parou o caminhão no centro do complexo, seguido de Arthur em um Corcel preto. Roberto saiu do veículo olhando para o céu, vendo que a chuva estava começando a ficar mais forte.

"Vamos, eu não quero ficar muito tempo por aqui." Disse Roberto, tirando seu revólver da calça, enquanto Arthur carregava uma 1911. "E fica atento, eles podem estar no armazém."

Os homens correram pela chuva, até chegar no armazém, onde Roberto viu que a porta da frente continuava trancada. "Talvez a gente tenha conseguido." Pensou ele, enquanto rapidamente tirava a chave de seu bolso, abrindo com pressa a porta.

"Merda!" Exclamou Roberto, andando pelo primeiro piso e vendo a porta traseira do local completamente aberta. "Filhos da puta!"

"Ei, o que é aquilo?" Perguntou Arthur, apontando para o corpo pálido de Pedro que estava sendo devorado por moscas.

"Não importa mais." Disse Roberto com frieza. "Vem, talvez ainda dê para alcançar eles."

Roberto fechou a porta retrátil dos fundos e trancou a porta principal do armazém, correndo com Arthur de volta para os veículos.

"Vamos pro carro." Disse Roberto.

"E o caminhão?" Perguntou Arthur.

"Foda-se o caminhão, só dá pra gente encontrar eles a tempo assim. Anda, pega um fuzil na mala e entra logo." Finalizou Roberto, colocando seu revólver na calça e assumindo o volante do veículo.


Cerca de uma hora havia se passado, os faróis do carro iluminavam a escura estrada enquanto Arthur tentava secar seu fuzil com a camisa.

"Finalmente." Disse Roberto, vendo a fraca luz do caminhão verde-oliva pouco à frente. Ele acelerou o carro, até chegar a cerca de três metros dos soldados, depois mantendo sua velocidade e a distância.

"E agora?" Perguntou Arthur.

"Esperamos. Em algum momento eles vão errar, e o quartel deles é bem longe. Eu não posso perder essas caixas."

Aproximadamente meia hora se passou, até que o caminhão buzinou.

"Opa! Pode passar!" O soldado dirigindo o veículo gritou.

"Se prepara, Arthur." Disse Roberto, posicionando seu revólver em sua mão esquerda, já mirando para o caminhão.

"Ei! Você tá me ouvindo? Eu disse que…" O soldado foi interrompido pelo disparo de Roberto, que acertou o retrovisor do caminhão.

"Merda." Disse Roberto. "Foda-se, começa a atirar. Eu vou tentar ficar do lado deles."


Chegando na periferia do município de Senador Canedo, para a surpresa de Roberto, o caminhão não entrou na cidade, pegando uma rua que levava à área industrial da região. Os dois homens no carro sabiam muito bem o que se encontrava naquele local, e eles sabiam muito bem que chegar perto da área seria suicídio.

"Atira com tudo, Arthur!" Exclamou Roberto, que disparava seu revólver sem nem ao menos mirar em algum ponto específico do caminhão.

Os postes começavam a iluminar a rua, quando um dos soldados conseguiu acertar um disparo no para-brisa do carro.

"Filho da puta!" Gritou Roberto, largando seu revólver no chão e cobrindo sua orelha direita com a mão. Percebendo que não seria mais possível continuar o confronto, ele desacelerou o veículo, e virou em uma rua qualquer para entrar na área residencial da cidade. O carro continuou descendo a rua, até parar na beira da calçada.

Arthur suspirou aliviado, agarrando seu fuzil com firmeza, enquanto Roberto apertava o que sobrou de sua orelha, seu sangue manchando toda sua camisa e o assento do carro. As luzes alaranjadas dos postes iluminavam a rua vazia, enquanto o único som que podia ser ouvido eram os latidos dos cães ao redor da cidade.

Roberto alcançou seu revólver, puxou o cão novamente, e lentamente apontou a arma para Arthur.

"Por que? Por que você não acertou eles?"

Arthur ficou em silêncio, observando o estado deplorável daquele homem.

"Me responde, porra!" Gritou Roberto, colando o cano do revólver na testa de Arthur.

"Eu não faria isso se eu fosse você."

"Me dá um motivo pra não fazer. Era só ter acertado eles. Você tá com um fuzil na mão, caralho, era só ter acertado eles."

"O Carlos me mandou com você por um motivo."

Roberto arregalou os olhos, percebendo o erro que havia cometido, enquanto lentamente abaixou sua arma, com as mãos trêmulas.

"Olha, não se preocupa, a gente pode acabar com isso aqui mesmo. Mas sim, foi sua última chance, e você falhou." Disse Arthur com frieza. "O Carlos já estava sabendo da questão do leilão muito antes de você ter ido lá falar com ele."

"Mas eu… Eu não…"

"Olha, Roberto, você sabe tão bem quanto eu as opções. Como você de fato ajudou muito, eu estou te dando a chance de acabar com isso aqui e agora, em um segundo. Eu te conheço, e acho que você merece uma saída digna, ou será que você prefere voltar para ouvir o que o Carlos tem para dizer?"

Roberto ficou parado por alguns minutos, sem dizer nada, até soltar o revólver e abrir a porta do carro, se dirigindo à calçada. Ele se sentou no chão, se encostando no lado do veículo, enquanto o sangue que caía de sua orelha manchava o concreto. Arthur saiu pouco depois, com seu fuzil em mãos.

"É, sinto muito e tudo mais. Se importa de ficar na mala? Meio que poupa meu trabalho."

Roberto se levantou, abriu o compartimento e se encolheu dentro daquele apertado espaço, sem dizer uma palavra.


Arthur se aproximava do imenso edifício da SERPRO, já planejando seu discurso. O homem parou o veículo no terreno baldio atrás do local, saiu do carro, trancou a porta e se dirigiu ao prédio. Enquanto esperava o elevador, Arthur começou a pensar no que iria dizer. "Bom, chefe, infelizmente não conseguimos chegar nas caixas a tempo, mas sabemos onde elas estão. O Roberto foi morto durante o confronto com os soldados, então nem precisamos nos preocupar em todo o processo de 'demissão' dele. Enfim, se me permite fazer uma sugestão, acho que seria prudente agirmos o quanto antes para…"

As portas se abriram, e Carlos saiu do elevador, com uma grande maleta preta em sua mão direita.

"Ah, Arthur. Vem comigo."

Os dois homens saíram do prédio, e se dirigiram ao terreno baldio, para entrar no carro que Arthur havia usado para chegar no local. Carlos se sentou no assento de passageiro, deixando sua maleta no piso do veículo, enquanto retirava sua gravata.

"Vamos para a Casa Dois. Agora me conta, Arthur, onde está o nosso amigo? Digo, eu realmente duvido que você tenha acabado com ele por conta própria, ainda mais quando eu te pedi para trazê-lo de volta. Eu realmente queria me despedir formalmente."

"Bom, chefe, ele acabou com um furo na testa por causa do confronto com os soldados. Me desculpe."

"E eu posso ter alguma garantia disso?"

"Ah, sim, tá na mala."

"Tudo?"

"Sim."

"Ótimo, mas coloca na banheira da casa depois, não quero o cheiro de defunto por aí."

"Pode deixar, chefe."

"Enfim, pelo que eu estou vendo eles continuam com as caixas, certo?"

"Sim, chefe."

"Puta merda. É a terceira ou quarta vez só nesse mês."

"Bom, chefe, sobre isso, eu tenho uma sugestão."

"Diga."

"Acho que se juntarmos o pessoal logo, nós podemos ir até a fábrica de uma vez só, e podemos só tirar as caixas e sair rápido o suficiente para não ter nenhum problema maior."

"Pode até ser. Mas eu tenho que pensar. Por um lado os milicos têm nos dado muito trabalho, e nós precisamos daquela mercadoria, mas do outro nós podemos só irritar mais eles, o que nos daria ainda mais trabalho no futuro. Não sei, Arthur, quando chegarmos na casa eu vou perguntar para os outros."

"Em outro ponto, chefe, eu gostaria de pedir…"

"Pode parar por aí, Arthur. Me mostra o corpo primeiro e depois a gente conversa."

"Sim, chefe."


O pequeno apartamento do prédio de três andares aparentava ser capaz de abrigar no máximo duas pessoas, mas mesmo assim seis homens moravam ali. Havia uma pequena sala com uma mesa no meio, um sofá e uma pequena televisão. A sala se estendia em um balcão e um fogão, no que deveria ser uma cozinha, enquanto um pequeno corredor levava a um quarto e um banheiro. O local era mal iluminado e o cheiro de mofo podia ser sentido em cada cômodo. Carlos estava acabando de pedir quatro cadeiras de plástico verdes da loja Tula Móveis, enquanto Arthur acabava de se livrar do corpo que ele havia trazido para o local.

"Então?" Perguntou Carlos, enquanto enganchava o telefone e guardava os documentos que ele havia retirado de sua maleta.

"Já está lá, chefe, tudo pronto." Respondeu Arthur, limpando o sangue de suas mãos com um pano.

"Ótimo. Todo mundo, vem aqui." Carlos esperou alguns segundos, até que todos os seis outros homens se posicionaram ao redor da mesa. "Como vocês sabem, estamos tendo muitos problemas com nossos amigos fardados ultimamente. Estamos perdendo gente todo dia, e a questão da mercadoria fode tudo ainda mais. Enfim, o pessoal acima de mim quer que eu faça alguma coisa, e é isso que eu vou fazer. Em alguns dias vocês vão invadir a fábrica, pegar tudo que puderem e vão dar o fora. Só isso."

"Como assim 'só isso'?" Um dos homens perguntou. "Você quer que a gente dê as caras numa fábrica com pelo menos trinta milicos dentro? Digo, com todo respeito, chefe, isso parece impossível pra mim."

"Não se preocupem, eu nunca mandaria vocês de mãos abanando para morrer. A questão é que não podemos simplesmente chegar e explodir o lugar ou matar todos eles, isso sim seria suicídio, vamos ter que tentar é roubar as coisas sem que eles percebam. Simples assim."

"Como que eles não vão perceber, chefe?" Perguntou Arthur.

"É lógico que eles vão perceber o roubo, eles só não precisam perceber que fomos nós."

"E como vai funcionar isso?" Perguntou Arthur novamente.

"Eu vou dar os detalhes depois. Por enquanto basta vocês se prepararem. É isso. Arthur, vem comigo. E consertem o carro logo, depois de amanhã voltarei aqui." Disse Carlos, por fim, enquanto descia as escadas para chegar à calçada.

"Para onde vamos agora, chefe?" Perguntou Arthur, enquanto fechava a porta principal do pequeno prédio.

"Falar com alguns conhecidos nossos. Eles vão facilitar muito essa operação, mas o preço vai ser alto." Respondeu Carlos, enquanto esperava algum táxi aparecer na rua. "Por isso que precisamos tirar o máximo possível da fábrica, para cobrir todas as nossas dívidas."

"E quem que vai ajudar a gente com isso?" Questionou Arthur, vendo um táxi se aproximar de onde os dois homens estavam.

"Nada mais que um belo par de olhos." Finalizou Carlos, abrindo a porta do veículo.

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