ULTRA SECRETO (PILAR DE JARDIM) — NÃO COPIAR — NÃO LEVAR A BORDO DE AERONAVES
ARQUIVO DE INTERROGATÓRIO - TENENTE DE VÔO ██████████████████████
Data da Entrevista: 29 DE JANEIRO DE 1963
Incidente: Incidente de reconhecimento aéreo registrado 13 de Fevereiro de 1962 — Operação PILAR DE JARDIM
Número de chamada do documento UNGOC 17u4.233
Oficial Testemunha ██████████████████
Estenógrafo ██████████████████
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:::COMEÇO DA ENTREVISTA — IDENTIFICAÇÕES TRUNCADAS:::
Em 1995, Kelly Johnson disse que ele venderia sua alma por mais seis polegadas de espaço no Lockheed U2, mas quando a Fundação ligou, eles adicionaram seis pés. Esses aviões são 90% motor e 10% câmera, mas os meninos da Skunkworks colocaram uma poltrona lá de qualquer maneira. É assim que é com eles. A Fundação, quero dizer. Você não pode trazer civis em missões que nunca aconteceram e, especialmente, não pode enfiar aquela grande câmera em um Dragon Lady de dois lugares. Mas, para a Fundação, a Força Aérea fez as duas coisas.
Eles emitiram os pássaros duplos para nós em 1962, quando fomos enviados para o Paquistão — estávamos no país há apenas quatro dias quando eles anunciaram que nossos voos estavam recebendo passageiros. Seis mulheres jovens em rotação, para ser mais específico. Claro, o peso extra deixava um pouco mais difícil de gerir, mas acho que aeromoças são exatamente o que nossos pássaros espiões precisavam. Claro que eles não nos disseram por quê.
Devo dizer que as garotas animaram o lugar — o Lady não foi feito para dois e a câmera completa, então os aposentos eram bonitos e apertados. Esses trajes de voo dificilmente são reveladores, mas quinze horas estacionado a dezoito polegadas de uma mulher de verdade é maravilhoso, mesmo se houver um assento ejetor no meio.
Mas estou divagando.
O programa foi rígido desde o início. Sobrevoando os russos a 70.000 pés, sem armas, sem ocultação e sem cavalaria vindo quando der merda - mas tínhamos conseguido na Coreia, Cuba e Edwards AFB. Essas instruções dificilmente nos incomodaram. Passar pela Rússia em uma lata de cem pés de largura, por que não? Leve consigo algumas para o exterior — Ainda melhor! Pode ter havido algumas opiniões divergentes sobre deixar mulheres trabalharem com a câmera Perkin-Elmer de um milhão de dólares, mas o bronze reprimiu tudo isso.
Elas não moravam, comiam ou falavam conosco. Era como voar por aí com um manequim de vitrine. Estritamente não houve nenhum bate-papo durante o voo, só algumas frases designadas — "Instância Novembro, comece a fotografar; Instância Oscar, prepare-se para a descida" e coisas assim. Ao final de cada missão, alguns espiões saiam em disparada com a garota com quem você voou em um helicóptero preto antes mesmo do motor esfriar.
Tudo muito silencioso, besteira de coisa ultra secreta — mais do que o resto do que os sacanas da CIA fazem. Mais do que o resto do programa do U2, aliás. Essas senhoras eram Especiais com E maiúsculo. Estou falando dos Talentos Especiais, da 388ª Companhia; da porra do Superman e da Capitã Marvel também, e de todas as outras ideias meio-cozidas da mesa de Jack Kirby. A equipe de combate paracientífica — os mesmos palhaços responsáveis pelo impasse em Yalu e por toda o desastre de Inchon.
NÃO COPIAR — NÃO LEVAR A BORDO DE AERONAVES
Costumávamos ouvir todo tipo de coisa lá de cima sobre como eles iriam ganhar a guerra esta semana — uma nova bomba, ou avião, ou supersoldado. Eles — o Pentágono — nos disseram que o Sidewinder era uma coisa certa contra o MiG também, mas um terço das coisas nem sequer lançavam. As pessoas diziam que o U2 voava alto demais para ser abatido, mas elas se esqueceram de avisar o tenente Powers. Então, quando se espalhou o boato de que essas garotas podiam passar por uma fotografia e tocar o outro lado, não fiquei tremendamente impressionado. Chame de cansado, cínico ou burro pra caralho — mais tarde eu gostaria de ter ouvido.
Às vezes, em voos longos, a 75.000 pés, onde eu não deveria ouvir precisamente nada, eu ouvia conversas em russo, bem ali na cabine. Às vezes eram alarmes, tiros ou maquinário girando. As senhoras tagarelavam ou resmungavam para si mesmas e você tinha que ignorar isso também. Eu apenas mantinha meus olhos nos mostradores e no avião no ar.
Ainda assim, toda vez que eu ouvia alguma coisa, toda vez que a coisa ficava estranha lá em cima, eu tinha uma sensação que não sentia desde Edwards AFB, quando estávamos levando o X-15 ao espaço. Quando seu motor o chuta nas calças com sessenta mil libras de empuxo, você sabe que está fazendo algo que a Mãe Natureza não pretendia que você fizesse! Lá em cima na Rússia com aquelas senhoras silenciosas, eu senti aquilo de novo. Como se eu tivesse espiado atrás de uma cortina — e alguma coisa grande e feia tivesse me notado do outro lado.
Ainda me lembro do último dia do programa, de cada momento dele. Treze milhas acima de Leningrado, ouço um pequeno estalo, como a abertura de uma jarra. Olho por cima do meu ombro e minha carga — Instância Setembro, sua designação — está com seu braço a meio caminho na abertura de carregamento da câmara principal, na altura do ombro no que é supostamente uma abertura de carregamento de seis polegadas. As ordens aqui são claras: ignore tudo, pilote o avião.
Algum russo está gritando bem atrás de mim, uma voz raivosa ecoando e distorcida. Ignore tudo. Finalmente, Setembro puxa seu braço para fora do espaço impossível com a porra de uma maleta em sua mão, os nós dos dedos arranhados pra caralho e brancos de tanto apertar. Um homem inferior poderia ter caído de puro choque — mas eu apenas disse a mim mesmo, ignore. Pilote o avião. A gritaria é cortada como se um interruptor tivesse sido acionado. Ela está rindo, sorrindo. Mil vezes mais expressiva do que nunca. Vi algum deles. Honestamente, meio que me abalou.
Pilote o avião. Ignore tudo. Não digo uma palavra enquanto voamos cinco horas de volta para casa. Nunca mais vi Setembro depois que pousamos; os espiões a levaram embora e ponto final. Sem mais garotas, sem mais voos, sem mais Paquistão ensolarado. Mas eu me lembro do que ela disse quando estávamos pousando, cada palavra daquilo. Você podia ouvir a loucura. Ouvir a perda.
Ela disse: "Eu me saí muito bem hoje. Eles não ficarão mais bravos. Eles vão me deixar ver minha Iris de novo." Muitas coisas assim.
Eu? Eu apenas ignorei. Continuei pilotando o avião. Havia algo em sua voz — é como se, em todos aqueles voos, eu estive empurrando o envelope, e isso já era ruim o suficiente. Mas Setembro, ela claramente vivia do outro lado.
Depois de mais alguns dias, embarcamos de volta para a Alemanha. Nunca soubemos onde nossos passageiros foram parar. Ainda não sei quem eram essas mulheres. Eu não quero saber. Nunca aprender seus nomes deixava tudo — mais fácil. Ainda assim, eu volto a isso de vez em quando. Quem quer que tenha sido, espero que tudo tenha corrido bem — para ela e para a Iris.
:::FIM DA TRANSCRIÇÃO:::
ARQUIVO Nº. ███████
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Oficial Receptor █████████████████████